quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Mar



No silêncio das ondas se espraiando
No silêncio do grito das gaivotas
No silêncio de estar só
Ali frente ao mar
Ao universo
À fonte de vida de onde um dia talvez tenha submergido
Para num outro dia mais tarde
Quem sabe se para lá voltará

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Somos da 2ªC. Caç



Dia em que os do norte e os do sul rumaram à cidade de Coimbra para confraternizarem a Amizade que há quarenta e sete anos entre disciplina militar e muitos sacrifícios souberam criar nos matos das terras angolanas. Sempre se recordam historias passadas e sofridas sem graduações pois hoje temos todos o mesmo grau hierárquico, somos todos antigos combatentes da muy digna 2 Companhia de Caçadores 5010 originária do antigo BC10 na bonita cidade de Chaves.
Angola faz parte do nosso passado. Em todos existe a nostalgia de podermos lá voltar se para tal tivéssemos condições monetárias para podermos dar de novo um abraço amigo e irmão às gentes do Mumbué. Sonhos de realização quase impossível mas que nos une num sentimento que não nos podem roubar.
Fomos carne para canhão quando tão jovens nos mandaram para a frente de combate na defesa de um Império que nunca existiu na verdade. Hoje na fase de grisalhos para velhos somos ignorados pelos novos ocupantes dos palácios do poder democrático. Mas felizmente nada queremos de quem não sabe respeitar os antigos combatentes, de quem sempre se recusou a dar uma mão às famílias onde persiste o pós trauma de guerra. Há verbas no SNS para ajudar a deixarem de fumar, a financiar operações estéticas, mas nunca souberam olhar para os antigos combatentes, nunca existiu folga para acudir às doenças psiquiátricas daqueles que ainda hoje passados tantos anos sofrem com a malvada guerra para onde o país os mandou.
Hoje em Coimbra soubemos celebrar a Amizade, recordar os que já se foram desta viagem e dizer aos novos donos dos mesmos palácios de então que soubemos honrar as palavras de ordem do batalhão a que pertencemos "Nós Somos Capazes" ontem, como hoje, como amanhã...

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Conversas íntimas


No caminho entre a casa e o comboio os seus dois “eu” vão dialogando ora em harmonia ora em diálogo mais ríspido. Pudesse e soubesse ele armazenar os dados processados entre os dois enquanto caminha e escreveria um livro, soubesse ele...
A “Sombra” é sempre mais crítica no falar e nas acções do “Eu”, funcionando como a voz da consciência em auto-critica.
Os dois (estará bem dito?) coabitam, nasceram no mesmo momento, no final de uma noite longa de inverno quando o dia receberia os primeiros raios de luz. Cresceram e desenvolveram-se em sintonia. Quando tomaram consciência das coisas da astrologia viveram de mãos dadas pensando enquadrarem-se no signo Capricórnio, não dando muita importância ao facto assumiam-se como tal. No inicio da curva descendente da vida ficaram a saber que tal não era assim, afinal eram do signo de Sagitário, zangaram-se. Agora vivem os dois, quando o “Eu” é Sagitário a “Sombra” é Capricórnio, quando o “Eu” está Capricórnio a “Sombra” procura estar em Sagitário. Imagem dos conflitos internos que protagonizam entre o viver no correr dos dias e, nos momentos de reflexão ou de meditação quando vagueia pelas ruas e campos sem destino.
Ambos têm consciência dos conflitos que vivem, ambos têm consciência que são inseparáveis enquanto durar esta viagem. O passado os moldou, o presente é dos dois, o futuro por enquanto não existe. Às vezes a “Sombra” vai na frente, noutras ocasiões deixa-se ficar para trás mas entram juntos no comboio. 
Se o “Eu” é o emocional a “Sombra” é o racional e vice-versa. Se o “Eu” é o intuitivo a “Sombra” é o factual e vice-versa. Pelo modelo ocidental ou são um ou são o outro e quase nunca os dois. Se o “Eu” é o positivo a “Sombra será o negativo ou o neutro. Os dois “Eu” e “Sombra” são o orgânico.
Quem comanda a escrita, o “Eu” ou a “Sombra”? Não sabe! Mas os dois estão de acordo com o rascunho que ele vai escrevendo no papel.
Um dia ao passar em trabalho na zona de Cascais-Sintra queria lembrar-se do nome do director financeiro daquela empresa de telecomunicações, que um dia em Mafra ajudou a passar aos serviços auxiliares quando estavam no serviço militar e o "Sistema" de então queria todos os jovens aptos para a defesa da soberania em África, mesmo quando tais jovens eram doentes de asma como era o caso. Era difícil sair de Mafra para a consulta externa no Hospital Militar Principal ali para os lados da Estrela em Lisboa, mas ele conseguiu que o amigo saísse embora nunca mais se tivessem visto enquanto militares; ajudou-o e o outro nunca mais o procurou para pelo menos lhe dar um abraço de agradecimento. Agora sentado ao lado do condutor procurava na memória armazenada o nome dele e não o encontrava nos arquivos. Quanto mais se esforçava mais vazia sentia a memória, olhava o azul do mar na estrada do Guincho e enervava-se. Na manhã seguinte ainda era noite quando debaixo do chuveiro o nome que tanto buscava no dia anterior como que saiu das moléculas de água quente que lhe batiam na pele do rosto e se postou ali em frente com todas as letras J R (João Ribeiro). De novo outra questão se lhe colocou. Quem encontrou o J R no arquivo morto da memória, o “Eu” ou a “Sombra”?

Sombra: - Repara,... Já antes de te casares sofrias a acusação de não seres nem fazeres nenhum esforço para seres romântico
Eu: - O meu universo era a luta pela igualdade, pela fraternidade e solidariedade, na minha dialética homem e mulher eram seres iguais que viviam...
Sombra: - Pois... então porque te casaste?
Eu: - Pois... sei lá. Karma, caminho a percorrer? Nada acontece por acaso? Pois... Só sei que não sei. Gostava dela a meu modo amava-a...
Sombra: - O amor é sempre subjectivo
Eu: - Tenho fotos desse tempo que se as publicasse, diriam hoje serem um exemplo do meu ser romantico, mas...
Sombra: - eu sei o que vais dizer, esqueces que estava lá quando a olhavas e guardavas num clik o momento e o sentimento?
Eu: - é... coisas do passado que não constituem saudades, apenas memórias

Seguiam naquela manhã  com este conversar quando chegaram à estação. Gostava de chegar em cima do horário para não ter que esperar muito tempo pelo comboio.

domingo, 6 de outubro de 2019

Eleições


Levantei-me aos primeiros raios da aurora. Votei manhã cedo. Depois vivi o dia normalmente sem dar atenção aos órgãos de comunicação. Ganhe quem ganhar, amanhã o sol irá aparecer a leste, terá o seu ocaso la para o final da tarde a oeste. Nos tempos mais próximos os ventos e as chuvas continuarão a ser influenciados pela localização do nosso conhecido anticiclone dos Açores.
Nesta noite ao serem conhecidos os resultados eleitorais uns cantarão vitória, os outros tentarão a todo o custo justificar a não vitória da sua mensagem. É a política felizmente.
Os cobardes abstencionistas irão justificar a sua opção egoísta dizendo que os políticos são todos farinha do mesmo saco, acusando-os de corruptos e ladrões. Fazem-no desconhecendo que isso é a própria imagem do seu carácter. Coitados. Recusam-se a olharem-se ao espelho, daí o culparem os políticos sem outras provas que não seja o bate boca de alguns jornalistas especializados em sensacionalismos justiceiros, antes da própria justiça se pronunciar de facto em sentença transitada em julgado.
Depois de arrumados os deputados eleitos, de escolhido o líder para o próximo Governo iremos saber das medidas concretas que irão influenciar a nossa vida quer privada quer colectiva. Mantendo-se de antemão o peso da dívida pública continuaremos a ter em cima das nossas cabeças o machado pesado e cortante da mesma; que o novo "var" do BCE estará atento à menor falta para demonstrar que o caminho para melhorar as condições de vida dos portugueses é altamente perigoso e lesivo dos interesses da elite neoliberal que controla pelo poder financeiro a nossa economia.
O novo arranjo de poder nos órgãos de comunicação social a concretizar-se irá contribuir para o afundar ainda mais da qualidade televisiva, levando a alienação a níveis de profunda depressão para todos aqueles que têm na televisão a sua companhia de todas as horas.
O ambiente irá continuar negro. As meias mentiras irão sobrepor-se às meias verdades. Tentarão convencer-nos a mudarmos hábitos de consumo dentro de parâmetros bem definidos pelos tais poderosos da finança de modo a continuarmos a viver felizes e contentes com a desgraça dos outros. O que se passa no Ártico e na Antártida continuará a ser servido como imagens espectaculares só possíveis pelo avanço tecnológico, nada como sendo consequência da exploração desenfreada e gananciosa da Natureza.
Os lobbies maçónicos, religiosos e gays continuarão a sua luta de poder fora dos nossos olhos. Eu que não sou gay, visto calças e não uso nem saias nem aventais continuarei pela outra margem atento aquilo que não nos contam mas está nas entrelinhas.
Por fim:
- Que os vencedores saibam honrar a oportunidade que os cidadãos votantes e interessados lhes proporcionaram para bem servirem o país.