sábado, 29 de outubro de 2022

22.06.14

Pela quarta vez foi levantar o cartão de cidadão. A tempo e horas pagou o custo da renovação. Por desencontro de um dia quando o carteiro bateu à porta já estava a caminho do seu canto. Como na carta de aviso da renovação lhe diziam que o mesmo, caso não fosse entregue ao próximo, seria enviado para levantamento na delegação da Conservatória em Alverca, não se preocupou.

A primeira vez que se dirigiu à delegação da Conservatória, estavam duas pessoas a ser atendidas e uma à espera. Ao procurar tirar uma senha foi informado que teria de proceder ao agendamento, só assim seria atendido. Antes de sair olhou mais uma vez para a sala onde secretárias com ecrãs de computadores são mais do triplo dos funcionários que as ocupam, mas o que mais lhe chamou a atenção foi um relógio pendurado no teto por cima do balcão de atendimento. Ligado, indicava: «22:24 MAN 28 Dec»

Coisa estranha pensou. Ninguém se dá ao trabalho de desligar aquela inutilidade.

Das vezes seguintes, ou porque não levava a carta da renovação, ou porque a carta com o cartão ainda andava em viagem, sempre foi atendido por uma funcionária que lhe falava alto. Uma funcionária autoritária e com muita falta de paciência. Calado, já não respondia à senhora, apenas a olhava até que se levantava e se vinha embora.

À quarta vez, terceira com agendamento, tirou a senha na máquina à entrada e aguardou. Foi atendido pela outra funcionária do serviço "Cartão de cidadão". Uma jovem com ar cansado. Eram 09H40 quando chegou e antes das 10H00 ao ver a jovem olhar para ele com ar de o questionar, aproximou-se do guiché, colocou a senha e a carta de renovação do cartão de cidadão. A funcionária olhou, levantou-se e com o seu ar de cansada foi buscar o cartão. Quando começou a preencher algo no seu computador, percebi de onde poderia vir o seu ar de cansaço, o programa informático que a obrigava aos procedimentos que ia fazendo estava mais lento do que um caracol em marcha atrás. Por fim assinei um documento, rubriquei outro e lá me deu o novo cartão de cidadão válido até 2031. Será que irei lá chegar?

22.06.12

 

Domingo. O calor aperta. A manhã já se levantou. O sol brilha no azul de céu nublado. O silêncio domina. Só o zumbido dos seus ouvidos lhe diz que já se levantou. Sente-se cansado de estar fechado em casa. Não sente nada de anormal. Não tosse. Não tem febre. Não lhe dói o corpo. Perdeu algum olfato, mas não todo. Vai à rua de fugida com a Sacha. Mas, o cansaço psicológico começa a pesar. Fez novo auto teste que confirmou a presença do bicho. Os ombros baixaram. O desânimo bateu à porta.

25 de Abril de 1991 - Gazeta do Interior

Numa entrevista efetuada por dois jornalista a Salgueiro Maia e Otelo Saraiva de Carvalho, pode-se ler:

"Maia: Quem fez o 25 de Abril foram os homens da Guiné, onde nós próprios nos conhecemos. Depois das negociações do Spínola com o Sengor e o Marcelo Caetano ter respondido com «vitória ou morte, até ao último homem», a guerra para nós perdera qualquer sentido. E a ditadura cai porque acima de nós só havia Deus. O regime pega em nós, jovens com vinte e tal anos, e dá-nos responsabilidades que hoje os generais não assumem. Por isso é que nos era indiferente mais Marcelo, ou menos Marcelo. A segunda razão do sucesso é que tivemos a comunicação social connosco. "

Noutro momento da entrevista Salgueiro Maia diz:

" Cada vez que me pediam para falar nesta altura das comemorações, a Instituição Militar dizia que tinha de fazer um requerimento. Até que, já farto, me decidi a fazer um requerimento para saber em que termos legais tinha que fazer um requerimento a pedir para falar. Até hoje. Claro que a partir daí limito-me a dizer, por consideração, que dei uma entrevista ao jornal tal e tal. A primeira entrevista que dei a sério foi ao Assis Pacheco, e aí fui mesmo chamado ao comando militar da região, porque alguns generais tinham reclamado que aquilo era uma provocação. É que eu dizia que quando tinha partido para a guerra, convencido de que ia defender a fé e o império, afinal concluiria que a fé era pouca, e o Império não existia, aquilo era de meia dúzia, por outro lado, o inimigo que eu tinha que combater eram indivíduos conscientes, em luta pela sua liberdade e independência, como nós já o fizemos em 1144 e 1640. Depois conto dois casos de quando comandei uma companhia de Comandos. De uma vez fizemos dois prisioneiros, e um é morto com uma facada à frente do outro, que é ameaçado de lhe acontecer o mesmo se não falar, e é ele que diz para o matarmos. De uma outra vez atingimos um gajo com um tiro nas costas e seguimo-lo, convencido que nos levava para o acampamento e ele foge em sentido contrário com as tripas nas mãos. Aqueles homens não podiam estar errados. Claro que guardo comigo as ordens e os relatórios de operações onde se dizem coisas comprometedoras. Por isso, como esclareci na altura, não disse praticamente nada na entrevista"

E algumas outras coisas disseram os dois militares de Abril, naquele entrevista em 1991, cujas folhas do jornal Gazeta do Interior encontrei entre os papéis do meu pai.

Hoje já há várias obras que relatam os fatos ocorridos logo após a confirmação da vitória no 25 de Abril até à chamada normalização da vida democrática imposta pelo 25 de Novembro, onde o embaixador Carlucci tem sempre lugar pelas ligações estabelecidas com vista à implementação de um modelo de sociedade que agradasse aos E.U.A..

A pouco e pouco vão-se conhecendo fatos e nem todos serão abonatórios para algumas personagens da nossa política.

Para terminar e voltando às afirmações de Salgueiro Maia na referida entrevista, diz o mesmo: "Eu próprio, só não fui preso porque nunca me candidatei à Presidência da República. Porque se de alguma maneira me tivesse perfilado no horizonte como alternativa, arranjavam-me uma logo implicação qualquer para me levarem dentro" .

A vida é uma moeda muito mais complicada que aquilo com que nos enchem os ouvidos ou nos contam os vencedores, há sempre outras histórias na outra face da moeda.

(Foto da net)

 

22.06.11

Ri. Chora. Sorri. Grita. Não dança. Não canta. Vive em busca da Paz. Amores teve. Amor ainda tem. Sorri. Ri e chora mas não dança. A vida nunca foi um salão de festas, nunca foi convidado para a festa. Nunca pagou bilhete. Viveu sempre na beira da margem. Ali aprendeu a rir, a chorar, a sorrir, a jogar os jogos da vida e a gritar, ainda chegou a cantar mas nunca dançou. Caminhando, pedalando pela margem, estudou, aprendeu ciências com professores em livros. Aprendeu a amar. Amou. Olhou a vida e revoltou-se. Deixou o amor e foi à luta. Ganhou filhas. Perdeu o resto.

Sem revolta caminha na outra margem. Na vida não há perguntas, apenas respostas. Olha as águas do rio que correm para montante quando o mar entra nele, enchendo-o de esperanças renovadas mas sempre adiadas. Caminha serenamente para a foz, nas águas do rio que é a sua vida.

É no silêncio do seu canto, ouvindo os cânticos das aves, que levita e, flutuando deixa-se ir pelas veredas da sua paz inconformada. O definitivo é uma miragem que não existe em si. Sabe, que nunca é o mesmo, ao longo dos seus próprios instantes. Tudo está sempre em perfeita mutação, transformando continuamente o próprio ser. No seu canto, quase fora do mundo, deixa-se ir no flutuar da voz silenciosa das árvores, para que possa ouvir a sinfonia do cântico das aves a cada manhã. Ali, longe de quase tudo, sente-se ele mesmo. Aquela pequena casa, o seu canto, guarda silêncios de gente, de antepassados, de tempos que passaram, mesmo antes dela ser erguida, onde se sente a presença do passado simbolizado nas suas oliveiras de muitos anos. Tantos, que nem ele sabe o tempo que elas ali estão, guardando o futuro. 

 

22.06.08

 

Era quarta-feira véspera de uma "ponte" de feriados na cidade de Lisboa. Por uma conjugação de feriados, com o 9 de Junho Corpo de Deus, o 10 de Junho Dia de Portugal, a antecederem o fim de semana, e, o 13 de Junho Santo António feriado em Lisboa a proceder o mesmo.

Os funcionários do Estado, incluindo médicos obstetras, enfermeiros e muitos trabalhadores, só voltariam ao trabalho na próxima terça-feira, dia 14 de Junho. Foi por isso, aquela quarta-feira, 8 de Junho de 1977, o dia "D" para o jovem casal.

Naquele tempo, a tecnologia ao serviço da saúde, não permitia saber o desenvolvimento do feto, apenas, recorrendo ao milenar saber da classe médica, calculavam o momento previsível do nascimento.

No dia anterior, o jovem casal foi à Maternidade Alfredo da Costa, onde a futura jovem mãe ficou internada. Segundo o parecer médico que acompanhou a gravidez, o tempo para o bebé nascer tinha terminado e iam forçar o seu nascimento.

Naquele tempo, nos hospitais públicos, não era normal o pai assistir ao nascimento. Embora o pudesse ter feito, pois havia a tia Umilta que lá trabalhava. Ele não quis assistir ao parto.

Depois de ter deixado a sua companheira internada foi trabalhar.

Voltou cedo para casa, aguardando que o telefone fixo tocasse para informar do nascimento, e, se era menina ou menino. Não existia ainda a tecnologia dos telefones de bolso ou telemóveis.

Sem notícias da Maternidade, no final da tarde, foi com o amigo Necas festejar o dia de aniversário deste, jantando os dois na Cervejaria Trindade em Lisboa. Já a noite ia alta quando regressaram a casa. Se bem comidos, melhor bebidos, mas conscientes. O amigo dormiu na sua casa. Logo de manhã, ele, levantou-se, tomou banho, deu à ignição do seu "Fiat 127" e foi para a Maternidade em busca de notícias. Não havia notícias. A jovem mãe não fazia dilatação aguardando o parecer da visita do médico da manhã. Por lá ficou aguardando com ansiedade. O tempo andava no seu modo constante, porém, a ausência de notícias era também uma constante. Por volta do meio-dia chamaram-no ao corredor. Lá vinha a tia como uma enfermeira que muito felizes lhe mostravam que era pai de uma menina. Bem quis olhar a carinha do seu bebé, mas elas só lhe mostravam o sexo dizendo que era menina e que a mãe estava a recuperar no recobro pois tinha sido um parto por cesariana.

Quando a levaram para dentro, ele antes de se meter no carro, telefonou de uma cabine pública, aos pais para os informar do nascimento de mais uma neta Catarina. Pouco tempo antes, a 29 de Abril, o seu irmão em Coimbra, também tinha sido pai de uma menina, a Inês.

Meteu-se no carro e foi almoçar a casa dos pais aos Olivais. Os pais todos felizes logo se prepararam para ir ver a nova neta na visita da tarde. Ele ficou a descansar. Só voltaria lá, na visita das sete da tarde, para estando só, poder olhar a sua linda menina e procurar saber do estado de saúde da sua companheira e mãe daquela preciosidade.

Sabia que os seus pais desejavam ter netas pois só lhes nasceram rapazes. Ele sendo o mais novo dos dois rapazes foi desejado menina, mas nasceu menino.

Descansando sozinho na tarde daquele dia, recordou a segunda vez em que veio da guerra em gozo das merecidas férias. Estando em trânsito da guerra do Leste de Angola para a casa de seus pais nos Olivais em Lisboa, ao sair do Hotel Kate Kero, no Largo Serpa Pinto em Luanda, olhou o céu azul e disse para a sua sombra, - se um dia vier a ter uma filha, o nome dela será Catarina.

Ainda nem namorava, mas aquela data sempre o tocou pela simbologia que tinha na luta pela Liberdade, contra o sistema de ditadura fascisante, a que os portugueses tinham estado submetidos. Foi no dia 19 de Maio de 1974 que gravou na sua memória o seu desejo. A 8 de Junho de 1977 pode concretizá-lo já em Liberdade.

Tinha o jovem casal decidido, que se fosse menino era a mãe que escolhia o nome, se fosse menina era ele que escolhia o nome. Nome que ele guardava desde aquela tarde na cidade de Luanda. Ainda tentaram que não fosse apenas e só Catarina, mas a todas as solicitações, fez ouvidos moucos. A sua menina iria chamar-se Catarina Pernes Andrade.

Uma história de vida que hoje celebra os seus quarenta e cinco anos, com foto de uns anos bem atrás.

22.06.07

 

Acordou ainda o dia era anunciava a claridade, a manhã estava para chegar. Tomou consciência de ter dormido de um sono só. Será que tossiu durante o sono? O corpo deu sinal. Ao sentar-se na beira da cama sentiu-se fresco, como se os dias anteriores não tivessem existido.

Por precaução decidiu sair mais cedo a passear a Sacha. Não utiliza o elevador. Em vez de uma leva duas máscaras postas. Usa luvas. Abre a luz e a porta da rua com o chaveiro metálico que desinfetou com gel antes de fechar a porta do seu apartamento. Os outros não têm culpa.

Passava das 06H30 quando saiu a porta do prédio. Não viu vivalma na rua. Pensou em passar para o outro lado da linha férrea. Com sorte podia soltar a Sacha, para ela exercitar os músculos e o corpo. Assim fez. Só que no trilho chamado da Estação já havia gente a caminhar e a correr. Lá encontrou o espaço tempo para a soltar. Sente que ela não fará mal a nenhum dos, como ele, caminhantes madrugadores, mas lá diz o ditado que, o seguro morreu de velho ou vale mais precaver do que se arrepender. Solta-a quando sente em si a confiança de que os outros não o criticam com os seus olhares, quantos deles parametrizadas pelo pensamento dominante. É a Sacha, uma pastora alemã, recusando-se, ele, a usar açaime nela. Nenhum dos seus cães precisou de açaime. Defende a teoria de que os cães são de certo modo a imagem do dono. Ele, dono, considera-se um pacifista que ao participar como operacional, quando jovem, na guerra em Angola se tornou no pós-guerra ainda muito mais pacifista. Hoje, em pleno século XXI, qualquer guerra é o expoente máximo da crueldade humana. Na guerra só há uma moral, ou seja, há que matar o outro para que o outro não o mate. É essa a moral ética e única da crueldade da guerra qualquer que ela seja nos dias deste século. O ser Homo Sapiens é tão inteligente e ao mesmo tempo tão estúpido, tão burro, sem querer ofender os animais.

Deixando-se de pensamentos, regressaram a casa. Subiram as escadas até ao terceiro andar. A Sacha ao entrar logo se sentou aguardando que ele se despache e lhe limpe as suas patas. Um ritual de todas as manhãs. Ele, depois de limpar as patas da Sacha, sentou-se a descansar, mediu o oxigénio no sangue, olhou o batimento cardíaco e foi escrevendo as suas coisas.

Depois, do pequeno almoço com a respetiva medicação tomada, foi até à pequena varanda conversar com as suas plantas, flores, aromáticas e tomateiros cherry. Gosta de conversar com as suas plantas, de atender aos seus pedidos de ajuda face às pragas de cochonilha-branca e piolho preto. Tudo na Natureza gosta e precisa de carinho. Como alguém escreveu, ele leu e tomou nota, «para ter de comer, é preciso, antes, que se dê de comer. E dar de comer nem sempre é fácil».

Cumprido mais esse ritual, sentou-se, revendo o que tinha escrito e feito desde que acordou. Pelo meio enviou mensagens de "Bom dia" às filhas e a uma desconhecida amiga que desde que se cruzaram nestas redes sociais de feixes eletrónicos, assim fazem dia a dia, exceto quando a desconhecida amiga por alguma razão tem as suas birras ausentando-se.

O dia de hoje é dia de aniversário de um amigo. Amigo que há quarenta e cinco anos regressou na sua “Diane” do norte do país, indo depois os dois jantar à Cervejaria Trindade. Se melhor comeram, melhor beberam e já bem aviados remataram o jantar de aniversário a fumarem Gauloise sem filtro. Chegaram a sua casa e dormiram que ele logo de manhã tinha de ir para a Maternidade Alfredo da Costa onde estava a sua companheira internada aguardando o nascimento do seu primeiro ser.

22-06.06

Dias diferentes os últimos. Na passada sexta-feira, ao regressar da Consolação sentiu um leve arranhar de garganta. Chegado a casa, depois de jantar uns caracóis, recorreu à gaveta onde guarda os medicamentos ditos «sos». Chupou umas pastilhas de mebocaína e ao deitar fez gargarejo com Tamtun verde, que noutras alturas o tem livrado do incómodo de acordar com a dor de garganta assanhada.

Levantou-se quando a manhã ainda não era manhã, tão só claridade. À hora mais ou menos certa saiu para a rua com a sua amiga Sacha para o rotineiro passear de todas as manhãs. Ao pequeno almoço, tomou os habituais comprimidos para a pressão arterial e no final uma Aspirina efervescente. Gosta mais da Aspirina do que do Ben-u-ron ou do Brufen. Saiu para ir levantar uns livros à Bertrand em Vila Franca de Xira, aproveitando para olhar os supermercados ALDI e Lidl. Em todo e qualquer lugar onde entra, coloca sempre a máscara. E, a garganta continuava a arranhar, mesmo com o chupar das pastilhas de Mebocaína a coisa não melhorava, embora não se sentisse mal. Só aquele incómodo na garganta, pois não havia qualquer sintoma de rinite.

A tarde passou-se normalmente com mais ou menos pastilha. Ao chegar da noite sentiu o corpo como se tivesse febre, embora as suas mãos não estivessem frias. Recorreu aos dois termómetros que tem em casa. Quer um quer o outro, por métodos diferentes, não passavam dos 36 e décimas.

Na manhã de domingo o passeio com a Sacha foi até mais curto do que normalmente costuma ser. Não a escovou e cruzou-se apenas com duas senhoras, também elas habituais caminhantes de fim de semana daquele circuito.

Ao pequeno almoço em vez de tomar a normal Aspirina optou pelo Brufen. A manhã passou serena, só a sensação da febre que os termómetros recusaram e algum cansaço físico, coisa leve. A meio da tarde sentiu-se pior. Depois de ver o jogo da seleção portuguesa contra a seleção suíça, voltou a ler, para fazer tempo de tomar novo comprimido. Cerca da meia noite resolveu fazer um auto teste ao malvado covid. Foi fácil e não havia que enganar, deu positivo. O bicho apanhou-o, mesmo com todo o cuidado que vinha tendo. Aí começou a cabeça numa roda viva refazendo todos os itinerários e as pessoas amigas com quem se tinha cruzado e falado. Que fazer? Ligar para a linha do SNS ou ficar quietinho em casa, tratando-se e reservando-se? E a Sacha? Tem de ir à rua com ela. Tem de escolher horário e itinerários onde não se cruze com ninguém. As soluções exigem paciência.

Ao final da tarde chegou a certeza da febre. O corpo aqueceu e as mãos esfriaram. 37,5 indicaram os termómetros. Após o jantar tomou um Ben-u-ron. Sentou no sofá para ver o Croácia-França e de seguida entre cabeçadas de sono o Áustria-Dinamarca. Sentia o corpo a suar. Era perto da uma da manhã quando acordou no sofá para se deitar na cama. A roupa húmida do suor. Dormiu de um sono só. 

(foto da net)

 

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

22.06.03

 

Continua longe da política caseira e da guerra por terras eslavas. Situação essa a que junta as reportagens televisivas sobre as festas que os ingleses promovem à sua velha rainha e que por cá os patrões que controlam a comunicação social promovem ininterruptamente de modo que até parece que a malvada da guerra passou para segundo plano na divulgação das mentiras difundidas pelo pensamento único oficial.

Como Republicano não dá um minuto de atenção a tanto desperdício. Nunca gostou da velha. Nunca se saberá a verdade sobre muitos factos da sua vida. Que papel teve na morte de Diana? É um desses factos. Como Republicano não perde tempo com desperdícios monárquicos. Conheceu pessoalmente o príncipe e futuro rei Carlos III e a princesa Diana na festa de inauguração da então filial do Banco Lloyds na Avenida da Liberdade em Lisboa. Foi convidado pela direção do banco, acompanhando o Diretor Geral da empresa farmacêutica francesa onde desempenhava as funções de diretor administrativo e financeiro.

É na leitura e na musica que encontra o seu refúgio. Quando era novo raramente ia ao cinema ver um filme pela publicidade que o mesmo tinha. Ia porque o título do cartaz lhe despertava curiosidade. O mesmo se passou e continua com os livros ou mesmo com os cd’s de musica embora agora use mais o YouTube.

Recorda-se de no dia do seu vigésimo aniversário depois de almoçar em casa o almoço melhorado que sua mãe lhes fez, apanhou o comboio no Apeadeiro de Cabo Ruivo e foi com um amigo até à Baixa Lisboeta. Era a altura do Natal. Não havia Centros Comerciais. O país vivia sob a ditadura chefiada por Marcelo Caetano e seus ortodoxos defensores do “Deus, Pátria e Família”. Nesse tempo de escuridão era a Baixa de Lisboa o maior centro comercial para as tradicionais compras natalícias. As ruas apinhadas de pessoas que entravam e saiam das lojas, também elas cheias de potenciais clientes. Andaram por várias dessas ruas espreitando as lojas. Quando desciam a Rua do Carmo entraram os dois na Livraria Portugal que estava apinhada de potenciais clientes que viam, liam e remexiam nos livros expostos nas várias bancadas existentes em busca da melhor oferta para a noite de Natal presentearem algum familiar ou amigo. Estavam no rés do chão da livraria quando viram um senhor de bom aspeto com alguma idade a escolher livros, a colocá-los dentro de uma pasta que ao estar cheia fechou-a e calmamente saiu para a rua sem passar pelo caixa a pagar. Os dois olharam-se incrédulos para de imediato cada um colocar um pequeno livro debaixo do braço por dentro do casaco e saírem sem o pagar. O seu primeiro grande roubo foi consumado. O livro, "A História Me Absolverá", o autor "Fidel Castro" custava 20 escudos. Ainda hoje tem esse pequeno livro consigo embora nunca o tenha lido integralmente. Nunca se sentiu «castrista». Solidário com o povo cubano no cerco imposto pelo imperialismo americano à Ilha mas sempre com um pé atrás no que toca ao modo como o poder foi exercido. Nunca sentiu interesse em visitar a Ilha como turista.

Neste tempo de agora a sua caminhada está dia a dia mais solitária. As posições fanáticas sobre a guerra, a cegueira do pensamento único ocidental fizeram-no fechar-se ainda mais sobre si próprio. Pouco se importa com o que os outros possam dizer de si. Procura a sua paz, só essa lhe interessa e o motiva. Não está fácil, mas não poderá desistir se quer realmente viver o resto do seu tempo de vida de bem consigo próprio. Reconhece que ao longo da sua caminhada cometeu erros. O bem que fez e terá feito, não o incomoda, fez o que tinha de fazer. Contudo dos erros cometidos e do mal que causou sabe que não há solução nem remédio, mas há um que com o passar dos anos não só se mantém presente como se vai tornando mais pesado. Um erro que cometeu mas que depois de ter vivido o que viveu, se vem tornando mais pesado na sua consciência, incomodando-o silenciosamente, como que a mostrar-lhe o que não deveria ter feito mas agora é tarde porque o passado ao não voltar não lhe permite emendar o mal que fez.


sexta-feira, 21 de outubro de 2022

22.06.01

 

Novo mês num tempo em que a novidade é o contínuo aumento do custo de vida, principalmente para os mais desfavorecidos da sorte. Tudo o resto se mantém nas rotinas rotineiras normais de todos os dias, quando a Esperança vai viajando para o reino da utopia.

A Esperança de um mundo melhor foi guardada num cofre e perderam a chave do segredo.

Como dispensaram o trabalhador que fazia a manutenção, sabendo pela sua vivência com vários governos, como recuperar a chave do segredo, já que, sempre depois das eleições, os governantes esquecem a chave do segredo do cofre onde se guarda a Esperança que prometeram. Sem o pobre do trabalhador que tinha ali o sustento da sua família, com a mulher desempregada e dois filhos a estudarem, os que governam contrataram para sua substituição, em prestação de serviço por quatro anos, uma empresa de consultoria de renome internacional no mercado das ideias liberais parametrizantes, para que estudem o momento adequado de mandarem abrir o cofre onde a Esperança vai envelhecendo de tristeza face à indiferença com que ao longo dos anos a têm tratado governos eleitos democraticamente. Só se lembram dela quando necessitam de a venderem como uma medida estruturante para o futuro dos desgraçados cidadãos deste país que um dia lá pelo século XII se formou à beira-mar na ponta sudoeste do designado continente europeu.

Lê num dos livros que vai lendo e estudando que, «o valor e o poder de um homem mede-se não pelo fardo da gratidão e do servilismo que coloca sobre os ombros dos outros homens, mas, pelo contrário, pela sua capacidade de tornar dignas e livres todas as pessoas» (Fazedor de Cercas, de Floro Freitas de Andrade)


Vive e sobrevive na outra margem da vida, com a sua teimosia, alimentando-se com a pequena flor da Esperança que teima em manter viva dentro do seu jardim imaterial. Com o passar do tempo está sendo cada vez mais difícil manter a flor viçosa. Só a sua teimosia, não a deixa morrer no seu jardim.

Já não é só o caminho que se faz caminhando, também a luta pela manutenção viva da Esperança, se faz caminhando passo a passo, sem pressa, que as minas e as armadilhas que colocaram nos caminhos, trilhos e veredas são muitas. Há até quem diga que já são mais que as mães.

Não se imagina, ele que caminha na outra margem da vida, a viver sem a pequena flor da Esperança.

A Esperança é a força invisível que brota mantendo vivo o sonho da utopia, que o acompanha desde os seus dezoito, dezanove anos. O sonho de um mundo melhor, uma sociedade mais decente, onde os ricos possam ser ricos e os pobres cada vez menos pobres. Exatamente o contrário do caminho que os que mandam no mundo estão a fazer, obrigando o rebanho a seguir no sentido do pensamento único, imposto e aceite sem discussão como o modelo ideal de democracia onde os grandes ricos não param de enriquecer e todos os outros, pequenos ricos, remediados e pobres, vão sentindo mais e mais dificuldades em viverem e em sobreviverem. Daí a sua opção de ser um tresmalhado, andando na outra margem da vida na travessia do deserto consciente do seu lugar. O mundo não está conspirando contra ele. É ele que se recusa a seguir o considerado normal modo de vida imposto pelos mandantes sem rosto que comandam, com cordelinhos tóxicos, os governantes de falas redondas, quantas vezes inúteis.

As notícias da guerra não param, repetem dia após dia, noticiário após noticiário, as mesmas imagens, as mesmas notícias acusatórias. Eles estão no lado certo da história, como tal, eles são dos bons. Os outros, os que não pensam assim, mesmo que estejam em oposição ao lado invasor, como não pensam como eles, então estão do lado errado da história, e, como tal, eles são dos maus. Que merda de pensamento este que vai dominando a sociedade em fanatismo crescente. 


Vive e sobrevive na outra margem da vida, com a sua teimosia, alimentando-se com a pequena flor da Esperança que teima em manter viva dentro do seu jardim imaterial. Com o passar do tempo está sendo cada vez mais difícil manter a flor viçosa. Só a sua teimosia, não a deixa morrer no seu jardim.

Já não é só o caminho que se faz caminhando, também a luta pela manutenção viva da Esperança, se faz caminhando passo a passo, sem pressa, que as minas e as armadilhas que colocaram nos caminhos, trilhos e veredas são muitas. Há até quem diga que já são mais que as mães.

Não se imagina, ele que caminha na outra margem da vida, a viver sem a pequena flor da Esperança.

A Esperança é a força invisível que brota mantendo vivo o sonho da utopia, que o acompanha desde os seus dezoito, dezanove anos. O sonho de um mundo melhor, uma sociedade mais decente, onde os ricos possam ser ricos e os pobres cada vez menos pobres. Exatamente o contrário do caminho que os que mandam no mundo estão a fazer, obrigando o rebanho a seguir no sentido do pensamento único, imposto e aceite sem discussão como o modelo ideal de democracia onde os grandes ricos não param de enriquecer e todos os outros, pequenos ricos, remediados e pobres, vão sentindo mais e mais dificuldades em viverem e em sobreviverem. Daí a sua opção de ser um tresmalhado, andando na outra margem da vida na travessia do deserto consciente do seu lugar. O mundo não está conspirando contra ele. É ele que se recusa a seguir o considerado normal modo de vida imposto pelos mandantes sem rosto que comandam, com cordelinhos tóxicos, os governantes de falas redondas, quantas vezes inúteis.


As notícias da guerra não param, repetem dia após dia, noticiário após noticiário, as mesmas imagens, as mesmas notícias acusatórias. Eles estão no lado certo da história, como tal, eles são dos bons. Os outros, os que não pensam assim, mesmo que estejam em oposição ao lado invasor, como não pensam como eles, então estão do lado errado da história, e, como tal, eles são dos maus. Que merda de pensamento este que vai dominando a sociedade em fanatismo crescente.


22.05.31

 Chega ao fim mais um mês de Maio.

A guerra lá pela Ucrânia continua sem sinal de Paz à vista num horizonte perdido em ódios e rancores. Aquela guerra não é sua. Não toma partido por nenhum dos envolvidos direta ou indiretamente no conflito. É solidário com todos os desertores do lado russo e do lado ucraniano.

Contudo, sente e sofre com a cegueira de ódio que campeia na comunicação social, onde já não há um órgão sequer independente quanto mais de esquerda, que fale e informe a verdade-possível já que numa guerra nunca os beligerantes falam a verdade, usando cada um do seu jeito e modo a dita ação psicológica.

22.05.29

Deitou-se cedo como vem sendo hábito nos últimos tempos.

Foi paulatinamente ao longo dos últimos anos perdendo o interesse pela televisão. Não sente curiosidade nem interesse em ouvir tanto especialista que nas televisões botam “faladura” sobre todas as coisas. Falam com ares de sabichões, opinando da forma e do modo que o "chefe pagante'' gosta, que eles opinem, sabichões que tudo sabem e pouco dizem.

De novelas não gosta simplesmente. Basta-lhe a novela real da sua própria vida. Já nem se lembra qual foi a última que viu. Tantos são os anos que entretanto passaram.

Podia ver um filme ou outro, mas nem isso lhe puxa a atenção.

Ler livros, ouvir musica, é o seu refúgio. Se no tempo em que vivia desafogado os seus vícios se limitavam à compra de discos em vinil e depois cd's, assim como colecionar garrafas de bons vinhos, hoje o vício virou-se para os livros. Sempre gostou de ler, continuando a desconhecer as regras gramaticais.

Para a música tem a alternativa do YouTube. Quanto aos vinhos, deixou-se de loucuras. O rendimento disponível exige gestão rigorosa. Procura nos supermercados vinhos baratos mas produzidos em Portugal de apenas castas nacionais. Foge dos embalados que referenciam, vinho da UE. Por vezes consegue encontrar bons vinhos. O vinho virou negócio de industria florescente onde o poder do marketing se impõe à qualidade intrínseca dos mesmos. Gosta mais dos vinhos da região do Douro, seguindo-se os vinhos da região de Setúbal, de Lisboa, do Dão e do Ribatejo. Também gosta dos vinhos da sua Beira interior que pela fraca dimensão dos seus produtores ainda preservam algumas das características antigas. Dispensa os das castas syrah ou merlot assim como já antes dispensava o cabernet sauvignon; nos brancos gosta deles frutados preferindo a casta fernão pires à casta arinto.

(foto da net) 

 

22.05.26

 


Acordou cedo como é o seu costume de todos os dias de há muitos anos. Tantos que já perdeu o conto ao tempo.

Acordou e despachou-se da casa de banho porque o seu aparelho de comunicação e também de escrita dos seus rascunhos, estava com a bateria quase em baixo. Precisou de o pôr a carregar enquanto passeou com a Sacha pelas ruas da urbe.

Pelos arrabaldes da cidade grande raras são as árvores que entre elas fazem nascer silêncios, pois quase não se ouve o chilrear da passarada. Tudo o que se ouve é a correria dos seres humanos num desafinar de tons, fechados nas suas gaiolas de desejos, preocupadas com o seu prazer, vão correndo no bulício próprio das cidades grandes, onde as multidões se deixam parametrizar de acordo com as falsas modas que o mercado lhes dita para que alegremente levem a vida na ilusão do «ter». O «ter» que as faz consumir consumindo, criando desperdícios que a Natureza não só não aprecia como não gosta e rejeita.

As saudades do seu canto avolumam-se. Já no dia anterior ao regresso à cidade arrabalde da cidade grande sentia saudades do seu canto, da atmosfera simples que nele existe e o rodeia. Atmosfera que, por mais que procure outra idêntica não a encontra na cidade grande, nem na sua vizinhança, nem tão pouco o mar já lhe dá um sentir de emoções semelhantes.

Contudo, gosta daquele mar que o viu crescer, fazer-se homem e para onde um dia voltou com a família no mês de férias que as leis do mercado lhe concediam anualmente na ilusória conquista da felicidade. Gosta de ouvir a sinfonia das ondas arrebentando na areia. Ondas quanto maiores, quanto mais força têm na rebentação mais o cativam, lhe fazem renascer o sentimento de uma calma que há muito o abandonou, também ele parametrizado pelos objetivos invisíveis do mercado onde trabalhou que nem galego para dar condições de futuro às suas filhas, nascidas sem serem ouvidas do ato de amor em que foram geradas. Não sabia ele que a preocupação com o prazer criado pelas leis ocultas do mercado lhe cortavam o sonho da felicidade sonhada. Quando jovem desafiava aquelas ondas grandes, ora mergulhando, introduzindo-se nelas, ora escalando-as para depois sentir a sensação ilusória do vazio ao descê-las, aguardando pela onda seguinte. Tudo sempre sob os olhos atentos do velho banheiro daquela praia, cujo nome é em si uma Consolação. Recordações, lembranças de um tempo em que os jovens respeitavam aprendendo atentamente as instruções dadas pelo velho banheiro, conhecedor dos segredos e dos encantos daquele mar tão grande e belo, homem de grande sabedoria na sua transcendência, no seu ensinar.

Agora, ao ter entrado na reta final que um dia fará soar o sinal da meta, dia em que a água secará no seu corpo para o mesmo ser reduzido a pó, em que a sua dualidade se separa definitivamente selando o fim desta caminhada terrena, caminhando na outra margem da vida na travessia do deserto, aprende a aprender com as coisas simples, com pessoas simples de vida pouco importantes, que um dia também a elas a vida lhes ensinou o aprender aprendendo fora dos livros, nas lutas diárias da sobrevivência, com os mais velhos de então, quantas vezes analfabetos à luz do pensamento dominante. É lá, no interior esquecido há muito pelos vários poderes, onde possui seu canto que se relembrou a reaprender o sabor do simples viver vivendo. Lá, onde tudo o que é tem uma luz própria, até as velhas oliveiras, que já viram outras vidas humanas terminarem a sua caminhada, lhe ensinam a escutar as falas dos ventos anunciando os abençoados pingos de chuva. Naquelas terras de sequeiro onde as estações quase se resumem a duas, a do frio gelado e a de forno quando o calor aperta, muita coisa vai aprendendo de forma graciosa, com as gentes simples que teimam em resistir, vivendo com o que a Natureza lhes permite obter daquelas terras pobres de água.

Sentado à sombra das árvores no jardim da cidade arrabalde da cidade grande nem os pássaros se ouvem nos seus trinados no seu chilrear, fecha os olhos e deixa o pensamento voar de novo para onde a brisa se aquieta aguardando a chegada da noite, numa paz colorida com o chilrear dos pardais em coro.