quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Perdido neste caminhar



 Não sei se vou por este rio acima ou se vou rio abaixo.
O caminho nas margens deste rio por onde navego está cada vez mais estreito, cheio de lameiros e areias movediças, dizendo-me contudo que não estou só, neste caminhar solitário.
Olho em frente e vejo só nevoeiro cerrado. Olho para trás e vejo as nuvens negras de poeira tóxicas puxadas pelo vento estarem cada dia mais próximas.
Caminha a meu lado uma multidão de solitários e desiludidos silenciosos como eu.
Na outra margem desfilam multidões usando bandeiras ao vento e largas tarjas com palavras de ordem que não entendo na totalidade, gritam em coro palavras de ordem inteligíveis e ruidosas na minha margem, seguem em festa colorida, mas nada que se compare à célebre manifestação de 7 de Março do século passado, quando a utopia não era ainda um sonho no horizonte.
Recolho-me no meu casulo, tapo os olhos às notícias que canais de propaganda nos dão de forma repetitiva.
A propensão genética para ouvir mal, ajude-me.
Contam-me de que os robots em teste de inteligência artificial, lá por S Bento, impõem a taxa reduzida para o espectáculo(?) das touradas, enquanto que electricidade, paga a taxa máxima.
Duvido pois da programação daqueles seres que me dizem serem inteligentes.
Mas mais me fecho quando me dizem que aqueles seres em S. Bento aprovaram químicos que servem para vacinas, sem que os organismos competentes da Saúde do Estado tenham emitido a sua opinião, ficando no ar o poder lobista da industria junto de tais seres.
Espreito para fora do meu casulo, vejo o rio ora de margens estreitas ora se espraiando entre margens, correr cheio de águas negras e poluídas, cadáveres de peixes, aves e animais vão mortos na corrente apressada, desejosa de entregar tudo aquilo ao mar que a jusante espera, também ele cheio de materiais pesados e não bio-degradáveis.
Por onde vamos não sei, mas não vamos por um bom caminho de futuro, os seres de inteligência artificial com o titulo de deputados, aprovam constantemente leis que visam a liberalização das leis do trabalho, quando eles próprios são um mau exemplo de assiduidade e de verdade, para os cidadãos que têm de trabalhar para garantirem quer o posto de trabalho, quer a sua subsistência, porque a quem trabalha o patrão não pode perdoar tais faltas.
Ao meu lado, de cabeça ora levantada, ora no chão farejando tudo, segue a minha amiga indiferente a tudo, quer viver, brincar e saltar indiferente ao mundo dos humanos. Olho-a e penso nos mais novos, naqueles que andam na escola, nos infantários, nos berçários, nos que estão para nascer e não sei se vou por este rio acima ou por este rio abaixo, sendo certo que, «as águas do rio que tudo arrasta se dizem violentas, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem» (B.B. seu autor)


281118


E se os canais televisivos que transmitem e publicam partes de interrogatórios em pretenso segredo de justiça se dedicassem a transmitir e publicar excertos dos interrogatórios feitos antes de 25 de Abril na Rua António Maria Cardoso, isto para não falar nos interrogatórios dos Tribunais Plenários de então. Talvez pudéssemos comparar, fazer algumas comparações entre os juízes de então com os juízes de hoje. Pelo que vamos lendo, ouvindo e vendo, o Medo esta a bater-nos à porta.
É certo que hoje «as paredes não têm ouvidos», mas parece-me que há uma classe profissional importante num regime democrático que considera os interrogados, como sub-cidadãos ou cidadãos de segunda, e não pode ser assim. Alguém tem de por um ponto de ordem ao exercício dessa profissão, dessa importante função independente sim, do poder político, mas com a dignidade que a figura da Justiça requer junto dos cidadãos.
Os mitos mais do que as lendas, estão criando um clima, uma ideia, de Liberdade e de Igualdade, que não é verdadeira, pelo que vamos vivendo de falsas verdades. Como se hoje a vida nos seus vários conceitos fosse ela uma simples ideia de mercado, ficando desse modo sujeita ao marketing do mais forte. Vamos assim na política, no desporto com o futebol à frente, e na justiça, talvez por isso, mesmo que os números dos rácios não o demonstrem, estamos cada vez mais perto do carro vassoura do primeiro pelotão do dito primeiro mundo.
A vida não é apenas e só, arranjos ou permutações de números e conceitos contabilísticos submissos aos interesses financeiros vigentes, é muito mais abrangente, com conceitos imateriais difíceis e impossíveis de quantificar ou traduzir em números, mas que podem e devem ser uma fonte de direito a respeitar por quem exerce a profissão e a função de juiz numa sociedade democrática.

Lá longe um dia


Na tua ausência, fico a sonhar como tudo poderia ser diferente.
Há muito que perdi teus passos
Comigo continua a bofetada que me deste como retribuição do beijo que te tentei dar e tu rejeitaste
Como tudo poderia ter sido diferente
Hoje, cada um de nós tem o seu mundo
Nada sei do teu, e pouco sei do meu
De ti, guardo o teu sorriso, o teu perfume
Mas já deixei de sonhar
A vida não é o que sonhamos mas sim o que vivenciamos.

261118


Esta noite, estava eu a acabar de jantar, quando ao mudar de canal televisivo, apanhei um valente susto, pois vi uma burra a falar na televisão.
Quando me recompus do susto vi que afinal não era uma burra mas sim um “robot-feminino” já fora de prazo, pois toda a palha que vomitava pertencia a um cd já gasto e conhecido, embora muito apreciado pelos telespectadores do referido canal.
Fiquei mais descansado, mesmo sendo aquele canal o último da minha preferência.

Desiludido


Nunca vi tanta televisão como neste tempo em que me sinto preso aos incómodos das dores.
Se a minha relação com a caixa que mudou a vida no planeta não era famosa, com esta sobre-dose não melhorou um infinitésimo.

191118


Aquando do “big bang” nasceu “a princípio era o verbo”. Este desenvolveu-se por milhões de anos até se fazer gente “homem sapiens”, que da costa oriental de África se espalharam e desenvolveram pelas sete partidas do Planeta Terra. Uns em busca do “graal”, outros em busca de nada e, outros em busca do poder. Buscassem o tudo ou o nada o certo é que os “homem sapiens” de hoje continuam de certa forma a saga de serem o maior predador da Natureza.
Na evolução criada pelo Homem, o que ontem era normal e culturalmente aceite por todos, depois pela maioria, é hoje equacionado e posto em causa por largos sectores, que podem ser neste tempo de vida uma própria maioria.
Eu próprio quando era jovem gostava de às quintas feiras à noite assistir na televisão a preto e branco, às transmissões das touradas. É certo que gostava mais do toureio a pé à portuguesa, o homem com o capote e capa frente ao touro em pontas, era para mim uma luta mais igualitária do que o toureio a cavalo. A minha primeira noite sem dormir foi passada na Zebreira aquando da festa de Setembro à espera da chegada dos touros para a garraiada do dia seguinte. Depois quando vi, já a cores, touradas em Espanha onde o toureio a pé tem uma importância que em Portugal nunca teve, comecei a ter outro olhar sobre o toureio.
Nunca fui ver uma tourada a uma praça de touros, já nem me lembro há quantos anos não vejo uma tourada na televisão.
Quero dizer que para esse peditório não dou de minha livre e espontânea vontade.
Entre os aplausos e a contestação, sigo o meu caminho, com a sensação de que mais ano menos ano o espectáculo das touradas acabará, e nem as palavras de ditos intelectuais (diz-me do que te gabas, dir-te-ei o que te falta) chegarão para a sua continuação.

Por outro lado na evolução da espécie em sociedade com todos os mitos, ficções e lendas, os Estados criaram um imposto que faz jus à própria sociedade de consumo, ou seja, o tal de IVA (imposto sobre o valor acrescentado, na sua essência quase perfeito). Como os Estados aderentes têm desenvolvimentos económicos diferenciados, cada um criou as suas taxas sobre os produtos e bens criados e consumidos no seu espaço económico. Inicialmente fazendo jus ao espírito do imposto, criaram-se actividades isentas e abrangeram-se determinados bens, ditos essenciais a uma taxa reduzida, havendo depois mais duas taxas consoante os bens.
É difícil ao nosso Estado arrecadar receitas que cubram as despesas totais do mesmo. Assim usando o poder discricionário aceite e referendado em eleições por todos nós, ano após ano o último grito da gestão pública é mexer nos impostos sobre o rendimento de trabalho e de consumo, pelo agravamento de taxas, reclassificações de bens e criação de novas taxas e impostos.
Todos os anos se levantam vozes concordantes e discordantes, sem que umas e outras apresentem medidas ou soluções alternativas concretas para transformar a “manta” das receitas, já que se a puxamos para cima ficamos com os pés à mostra, mas se tapamos os pés ficamos com o peito a descoberto. É uma dificuldade sem solução à vista.

Goste-se ou não das touradas, quem é que de boa fé pode compreender que o consumidor das mesmas pague uma taxa de IVA reduzida 6% (os tais bens essenciais) quando todos, eles e nós pagamos 23% na electricidade e nas comunicações?
Para mim que não me oponho à existência de touradas com touros, quem quer gosta, pode e vai, quem não gosta não vai e reclama, acho que a taxa de IVA mais adequada às mesmas seria os 23% em vez dos 6 ou dos 13%.
Comparar a taxa de IVA de uma tourada a uma peça de teatro, a uma ópera, a uma entrada num museu, a um espectáculo de música, de fado ou mesmo de desporto é coisa que eu tenho sérias dificuldades a enxergar de forma nítida, nem sou capaz de engolir a seco.

Cenas tristes


151118
Cansado de tanto ouvir falar num tipo que há muito risquei do meu dicionário, não percebo o espaço televisivo que lhe é dedicado, ou talvez perceba mas não queira acreditar…

Outro processo corre na justiça que também envolve gente do futebol acusada de “corrupção activa e passiva” mas as notícias sobre este processo passam entre os pingos do silêncio, com os jornalistas a darem mostras de terem até medo em noticiarem o caso.

Mas isto são “fait divers”, Setúbal e as OGMA são bem mais importantes para o país, infelizmente de forma negativa.
Não vou discutir a justeza da luta dos estivadores do Porto de Setúbal, que esta coisa de serem eternamente precários não pode agradar a quem trabalha ou trabalhou sempre por conta de outrem. O Governo acordou tarde para o problema, aflito talvez por ter verificado que as viaturas no cais não contam para os números das exportações. FOB é no navio não no cais. Mas o que se passa no Porto de Setúbal é mais um exemplo da falta de visão estratégica dos diversos governos. Ouvi entrevistas radiofónicas do anterior director geral da Autoeuropa, onde ele falava da necessidade urgente da empresa ter acesso à ferrovia não só para escoamento das viaturas acabadas como também para o fornecimento das peças necessárias ao seu funcionamento. E Sines fica ali tão perto… sem problemas de assoreamento como o Rio Sado apresenta...
Mas os nossos políticos governantes não gostam do comboio, tem alergia à ferrovia, gostam mais do betão e de acudirem aos presumíveis ladrões da alta finança.

Já as OGMA enquanto empresa pública, foram sempre um Centro de excelência na manutenção de aeronaves. Muitos dos operários especializados que deram nome à Manutenção da TAP ali se formaram e aprenderam o ofício. Mas, sempre tivemos ministros interessados em desmantelar o erário público. Uns mais activos outros mais passivos, foram estrangulado a actividade da empresa até que lá apareceu “o milagre” da privatização. No passado domingo vivemos o filme de terror de um avião da Air Astana a andar no céu descontrolado, depois de o mesmo ter sido submetido a revisão rigorosa na empresa. Felizmente com a ajuda preciosa dos pilotos da Força Aérea o filme acabou sem danos pessoais. Hoje a empresa é acusada de ser a responsável pelo que aconteceu ao avião, que parece não poder voltar a voar face aos danos sofridos, coisa impensável não há muitos anos quando as OGMA eram uma entidade publica.
Que futuro guardará o accionista Embraer para as OGMA depois deste incidente?

Por fim uma palavra de apreço para a capacidade demonstrada pelos pilotos da Força Aérea.

sábado, 10 de novembro de 2018

Tancos versus Citius


0911
Tancos no vira, no corridinho, no malhão.
Tancos é tema para todos os noticiários, dando origem a Comissão Parlamentar de Inquérito, que ainda não iniciou ou trabalhos mas alguns comentadores já sabem o que por lá se passou e disseram.
Em Tancos presumivelmente roubaram armamento, que mais tarde foi recuperado ou negociado, cabendo à Justiça averiguar e verdade e sentenciar o que houver para tal.
Falando com os meus botões não percebo porque tanto ruído, barulho e gritaria por causa de umas granadas ofensivas e foguete, fora da acção da investigação e segredo de justiça.

Diz-me um dos meus botões com ar de gozo, se o presumível roubo ao “paiol” do Ministério da Justiça, não em Tancos mas no Citius, não é tão ou mais gravoso para a segurança do cidadão e do país que o raio das armas. Sobre o assunto, a Ministra da Justiça e o Governo assobiaram para o lado, os senhores deputados ignoraram quase a cem por cento, pois nenhum solicitou Comissão Parlamentar de Inquérito, ao facto de como é possível um cidadão funcionário judicial, aceder e parece que alterar processos em segredo de justiça. Onde está e como está a segurança da e na Justiça?

O que é mais importante para a nossa segurança individual e colectiva, Tancos ou Citius?

Que interesses escondem o rombo nestes dois paióis, Tancos (militar) e Citius (justiça)?

Porque é que num caso se faz tanto barulho e no outro tanto silêncio em S. Bento e comunicação social?

Assim não


0811
São as viagens fictícias
São as moradas falsas
São as assinaturas de presença por fantasmas
E a tudo isto o Presidente da Assembleia da República responde de forma redonda sem ponta de desconforto.

Assim não senhores deputados. Não brinquem com coisas demasiado sérias. Com estas condutas os senhores estão lentamente a criar pequenos tumores no corpo da nossa Democracia. Tumores esses que podem degenerar.

Imagino como do outro lado da vida, o “António das botas” e o “Tomáz corta-fitas” se devem estar a rir de gozo, por causa do vosso triste exemplo de conduta cívica e disciplina no Parlamento.

Os senhores enchem-nos os ouvidos que estão mal pagos, que a política paga mal. Ora a política antes de mais deveria ser uma missão, remunerada sim, mas de acordo com a realidade do próprio país. Hoje, os senhores usufruem mordomias que o comum dos cidadãos não têm, por isso tenham vergonha, façam a vossa própria autocrítica e se não são capazes de cumprir com as obrigações de deputado, saiam da política e tratem de trabalhar, sem nos incomodaram e indisporem.
A Democracia precisa de um poder Legislativo forte, incomodativo e acima de tudo exemplar na sua conduta cívica e política.

Vazio


0711
Olho o vazio que me rodeia, o ruído das notícias que me chegam não me animam, adensando o nevoeiro que paira sobre a minha cabeça.
Uma jovem guarda prisional morre por ser atingida no peito por uma bala disparada por um formador. Caberá agora à Justiça averiguar e julgar o sucedido, na certeza de que não irão devolver a vida àquela jovem.
Sou um crítico muito crítico da forma como se formam os tais “Formadores”, embora o formador em causa até possa ser um especialista profissional da área.

Não tenho dados sobre o sucesso dos cursos ministrados pelos IEFP’s, mas não sou crente dessa instituição. Também eu obtive o diploma de “formador”, pelo que sei como os mesmos se obtinham, participando em dois cursos(?) de formação como formador.
Há muito que penso no porque das verbas destinadas à formação dita profissional, não serem destinadas às escolas profissionais com estas a terem cursos diurnos e nocturnos, onde pela certa em vez de formadores teríamos professores com experiência pedagógica e prática.
Não sou adepto dos produtos de aviário.

Eram jovens


0711
Eram jovens saídos da puberdade. Andavam na mesma escola secundária, desde sempre na mesma turma, que por coincidência era mista nas aulas, com recreios separados por um muro real e imaginário que uns e outros não podiam pisar nem ultrapassar.
Ele olhava para fora da turma, gostava de uma moça lá da sua aldeia. Mas ele sabia que ela, a sua colega desde o primeiro ano, gostava dele naquele último ano em que estudaram juntos naquela escola. Ela era uma excelente aluna, sempre com notas altas, já ele era um bom aluno com as notas suficientes para passar os anos sem sobressaltos de maior.
Chegados ao quinto ano de então, duas alternativas havia, ou começavam a trabalhar, que naquele tempo não se conhecia esta coisa de “desemprego” nem de “subsídios”, ou continuavam a estudar.
Quis o destino que ele e o irmão, filhos de funcionário público, pudessem continuar a estudar. Ela com o pai ligado às lides do mar por lá ficou, fazendo o percurso normal dos jovens de então, trabalhar, casar para constituir nova família.
Ele continuou os estudos, mas por força das condições económicas de seus pais voltaram para a cidade grande, de onde tinha saído aos oito anos. Para trás ficaram alguns amigos, amigas e amores de juventude. Novos amigos, novos amores com namoro, outros horizontes, novos mundos, com a vida a ficar suspensa com a mobilização para a guerra em África. Sobrevivente dessa guerra inglória, logo no regresso casou constituindo nova família. Os anos passaram, apenas nas férias a sua família fazia férias na praia de juventude onde cresceu e aprendeu a conhecer o mar, a ouvir Neptuno e a respeitá-lo.
Um dia já ele estava divorciado, ao passar numa das ruas da cidade por onde tantas vezes passou em jovem viu a antiga colega de turma. Os anos passavam, há mais de cinquenta anos que não se falavam, até que um ano tomou coragem, entrou na loja, a empregada perguntou-lhe o que ele desejava, apontando ele que desejava falar com a pessoa que estava a atender outra pessoa. Esperou uns momentos olhando os artigos expostos até sentir que as pessoas já tinham saído. Olharam-se, sorriram e ela diz-lhe o nome completo dele, ao que ele retorquiu dizendo-lhe o nome completo dela de solteira. Agora, ele sempre que passa pela rua, entra na loja para a cumprimentar e desejar-lhe o melhor que a vida tem para dar à sua família.
Eram jovens e hoje são grisalhos com caminhos distintos.

Produtos de aviário


0711
Não sou adepto dos produtos de aviário, que a sociedade de consumo nos impinge como saudáveis.
Cresci e criei-me com o leite da teta das vacas leiteiras que os vizinhos possuíam e nós comprávamos indo buscá-lo em leiteiras de alumínio.
Os frangos, galo e galinhas eram criados no quintal à solta. Comiam farelo, hortaliças migadas finamente, as cascas das melancias e dos melões eram cortados finamente para juntar ao farelo.
O mesmo para os patos que uma vez por ano a minha mãe aproveitava o choco de uma coquicha e deitava os ovos de pata, atendendo aos quartos de Lua por forma a que nascesse todos sem problemas.
Os coelhos alimentavam-se de ervas que depois das aulas íamos buscar ao campo, após o meu pai ter falado com os donos das terras. Nunca se comia uma coelha sem esta ir visitar o coelho, minha mãe era malandreca e dizia que assim morria sabendo o que é bom, não se comiam virgens.
Perus nunca foram por nós criados. Era coisa para rico comprar no Natal.
As verduras, a batata vinham do campo, da horta, criados sem estes modernos adubos, a que agora chamam de nutrientes. Modernices.
O pão feito com farinha de trigo em fornos de lenha.
A água para beber de uma fonte, que a da rede era demasiado ferrosa.
O vinho e a água-pé de adegas dos vizinhos, que elaboração para consumo próprio.
Recordo-me de um dia num monte alentejano na zona de Castro Verde, onde viviam os pais de um amigo, tudo o que estava na mesa para comermos era feito, elaborado por seus pais e em especial por sua mãe; até o petisco no final da tarde com carne de burro de um monte vizinho estava divino.
Hoje, as multinacionais tomaram conta da nossa alimentação, e na sua busca de mais e mais receitas financeiras criam ideias e mitos sobre o que nos faz bem, o que devemos comer e não comer.
O leite tem de ser em pacote e no supermercado depois de submetido a não sei quantos processos químicos não naturais. Aquela nata de gordura da qual a minha tia fazia um bolo divinal, hoje não é possível, é perigosa para a saúde, dizem-me.
Os frangos, os perus, os patos e os coelhos, nascem e morrem sem comer uma verdura, sem picarem, sem esgravatar a terra na busca de uma larva qualquer. São injectados com hormonas de crescimento rápido e não podem ultrapassar aquele peso que um “especialista da bolsa de valores” calculou como o mais rentável. Rentável não saudável, ficando a função de mistificar essas noções ao cuidado das agências do marketing, especialistas em criar, ideias, mitos e prováveis mas remotas verdades...
Até as carnes ditas vermelhas à venda nos supermercados estão cada dia mais cor-de-rosa claro, quando a verdade é que a carne do gado bovino na pastagem, comendo pasto verde, é de cor vermelha escura.
A gordura animal faz mal, mas as gorduras hidrogenadas serão mais saudáveis do que as de origem animal? Alguma gordura hidrogenada, vulgo margarina, produz mais sabor na confecção de uma refeição do que o azeite ou a banha de porco?
Quem não esquece a campanha publicitária das margarinas, apoiada por um cardiologista famoso da nossa praça, em detrimento da utilização do azeite, sou eu. Uma mentira corroborada por esse senhor que tinha e tem fama de grande cardiologista, um charlatão que com essa campanha televisiva e radiofónica enriqueceu em detrimento do consumo do azeite, a melhor gordura natural. As margarinas eram produzidas por uma multinacional poderosa ainda hoje, mas o dinheiro não tem moral nem ética.
Hoje, os senhores de Bruxelas e os cá do burgo, estão subordinados aos interesses da finança e das grandes multinacionais do agro-alimentar-industrial. Eles controlam as sementes híbridas, os adubos agora nutrientes, os pesticidas para as pragas fomentadas por eles, controlam as ditas condições de higiene, os químicos conservantes, no fundo a alimentação do mundo animal incluindo os humanos. Por fim tem interesses muito fortes na saúde, cercando os políticos com a sua sede de receitas financeiras.
Não é possível viver fora deste cerco, mas podemos infringir regras e normas, é o que faço sempre que posso, não ganho a guerra mas a revolta alimenta-me as forças e os neurónios insubmissos e radicais face à maioria silenciosa e crente dos mitos que lhe são vendidos sem vontade de pensarem nos porquês.

Cabo Magalhães


0411
Depois da emoção dos militares em parada, como homenagem aos antigos combatentes que lutaram na primeira grande guerra ao lado das forças aliadas contra as forças dos impérios alemão e austro-húngaro, sobem à memória acontecimentos passados em Angola nas quase terras do fim do mundo, sem rancores, nem ódios, apenas alguma revolta comigo mesmo, que me acompanha há uns anos bons. Por vezes guardo-a e fecho-a numa das gavetas do cérebro, outras a gaveta abre-se por si dando lugar a este sentimento triste de revolta.
Era eu um jovem de vinte e um anos, a quem o sistema político de então, contra minha vontade e sem consultar os meus pais, me mobilizou para a guerra em Angola com o posto de alferes de infantaria e me responsabilizou pela vida de outros trinta jovens, sem que para tal nos dessem qualquer seguro de acidentes de trabalho.
No próximo almoço com o antigo capitão da companhia vou ver se não me esqueço de lhe perguntar, o porquê de acumular oficiosamente a função de oficial da polícia judiciária militar da companhia, cuja principal função era a elaboração dos autos, quer de corpo delito, quer de outros mais simples.
Ao fim de poucos meses de estarmos no Mumbué, o cabo Magalhães sofria de tromboflebite que não só o incapacitava, como o impedia de participar nas operações do meu grupo de combate. Não foi fácil a luta para que pudesse ser evacuado para a Metrópole a fim de ser tratado, já que as indicações surdas e mudas do Comandante de Batalhão era evitar evacuações na nossa companhia (o homem não gostava de nós; andámos por Chaves e Viana do Castelo mas quando a Companhia passou no Chitembo a caminho do Mumbué o senhor não sabia quem eu era felizmente). O cabo Magalhães foi evacuado. A Companhia depois de rodar do leste para o norte acabou por regressar sem outras baixas.
Passados uns anos telefonam do Quartel General para casa de meus pais à minha procura. Minha mãe ia morrendo de susto. Lá fui ao QG em S. Sebastião da Pedreira. Entrei acompanhado por um senhor Coronel da PJM e fiquei a saber que o auto que tinha elaborado no mato em Angola ainda estava aberto, passando eu de relator a testemunha por ter elaborado inicialmente o auto e ter sido o comandante do grupo de combate a que o Magalhães pertenceu. Respondi aos quesitos com a consciência de ter dito a verdade. Em causa estava uma diferença de 200 escudos na pensão de invalidez.
A revolta que me castiga e não me abandona é o facto de ter conhecimento que figura menor da nossa política, já depois do 25 de Abril partiu o pé em Moçambique e esse facto proporcionou-lhe uma reconfortante pensão de invalidez, e eu por falar verdade privei o cabo Magalhães de uns míseros 200 escudos (1 euro). Esta vai comigo até ao fim.

Foi bonita a festa


0411
Foi bonita a festa pá
Até que enfim porra! Foram precisos 100 anos para o país fazer uma homenagem simples mas digna aos antigos combatentes que lutaram na Primeira Grande Guerra Mundial.
Talvez o ataque, o achincalhar das Forças Armadas, por causa de Tancos, por parte de forças políticas e canais televisivos que não perdoam o facto do 25 de Abril, ter sido levado a cabo por militares possa estar na origem desta bonita manifestação. Gente mesquinha mas perigosa aquela que diariamente se alimenta de Tancos.

A homenagem simples mostrou o que de melhor as nossas Forças Armadas tiveram sempre ao longo da nossa história, a valentia e a coragem dos seus militares (hoje homens e mulheres). De Aljubarrota ao fim da guerra em Goa, Damão e Diu na Índia, Angola, Guiné e Moçambique, passando pelas quase esquecidas Invasões Francesas, pela Primeira Grande Guerra (batalha de La Lys) foi sempre a componente humana das suas praças, sargentos e oficiais de baixa patente, a sua grande força, o seu maior equipamento.

Eu, que já várias vezes o critiquei Sr. Presidente, hoje digo-lhe, Bem haja Sr. Comandante Chefe das Forças Armadas por esta bonita homenagem aos Antigos Combatentes da Primeira Grande Guerra.

Foi bonita a festa que me trouxe por várias vezes as lágrimas aos olhos. Agora há que num 25 de Abril próximo fazer a homenagem aos Antigos Combatentes que lutaram, tombaram e ficaram inválidos nas antigas Goa, Damão e Diu na Índia, Angola, Guiné e Moçambique, porque ainda são muitos os vivos que sobreviveram e não esquecem os seus camaradas que morreram ou ficaram inválidos nessas guerras inglórias.

Estive atento pela TV, mas gostaria de poder ter« estado na Av. da Liberdade. Na televisão notei a presença dos Antigos Comandantes Chefes das Forças Armadas, Ramalho Eanes e Jorge Sampaio, não visualizando o outro, Aníbal Silva. Fui eu que não o enxerguei ou não esteve presente por hoje não ser quinta-feira?

Coisas da politica


0311
Há vinte anos o partido da extrema direita Austríaco chegou ao poder. Os políticos em Bruxelas em reação estabeleceram penalidades à Áustria. Agora o mesmo partido está de novo no poder mas os políticos de Bruxelas aos costumes disseram nada.
O mundo político tradicional está em crise, dando oportunidade aos pensamentos e ideias que conduziram os povos aos conflitos das grandes guerras mundiais, voltem a ouvir-se nos parlamentos num número cada vez maior de países.
Falar mal, dizer mal da figura A ou B, são faits divers. Pensar livremente, sem amarras clubísticas (partidárias) nos porquês desta nova ordem crescente, é o dever de todos os que defendem a velha ordem democrática do Estado Social Europeu, que nos proporcionou chegarmos aqui sem grandes guerras no horizonte há mais de setenta anos, com um desenvolvimento económico e social nunca antes alcançado.

As ideias anti emigração, homofóbicas, racistas, etc. estão colhendo simpatizantes, porque? A culpa não pode ser imputada ao cidadão eleitor. Ele adere por descontentamento com a situação que vive, na sua comunidade, no seu país.
Há que pensar, repensar, reformular todas as políticas económicas e sociais, para isso precisamos de políticos que não tenham medo do poder financeiro que hoje nos controla a vida, políticos que recuperem o bem estar social colectivo em detrimento do bem estar social individual, que não tenham medo de serem também nacionalistas.

Somos um país pequeno na ordem mundial, mas já éramos pequenos quando sem capital estrangeiro, nos financiamos para nos lançarmos na aventura marítima de dar novos mundo ao mundo, criando também a base ou ideia da rede global em que hoje vivemos.

A Terra tremeu


0111
Num tempo bastante próximo por duas vezes a terra tremeu ao largo de Peniche.
Antigamente aprendíamos que toda aquela costa era vulcânica, assim como Lisboa estaria situada na boca de um vulcão muito antigo, daí as pedras de basalto estarem presentes em quase todas as ruas da cidade de então.
Hoje, não sei se ainda é assim, ou se o desenvolvimento das ciências mostra outras vertentes, ou talvez os professores mais novos já não tenham destes saberes antigos.
O Planeta Terra, nossa casa neste Universo em expansão, já passou por muitas fases ambientais pois a sua idade é de vários milhões de anos. Mesmo a nossa espécie de seres humanos têm muitos milhares de anos. Foi num dos ciclos de degelo (aquecimento) que os “Sapiens” que habitavam as terras frias do Ártico conseguiram passar para o continente Americano pelo estreito do Alaska.
Hoje, para lá dos próprios ciclos ambientais da Natureza, estamos perante uma nova fase devastadora da mesma, levada a cabo pelos líderes políticos e financeiros que dominam e controlam as mais diversas comunidades de “Sapiens” que habitam o Planeta. Continuamos a saga de sermos o animal mais devastador que o Planeta conheceu nos seus muitos milhares de anos.
A ânsia de poder, a usura, o egoísmo, o querer mais sem olhar a meios, tudo em nome de uma sociedade cada dia mais consumista, onde o bem estar social e colectivo deixa lentamente de ser um objectivo político, sendo substituído habilmente pelo “bem estar individual”, não permitindo que possamos parar a vida para pensarmos, o que fomos, o que somos é o que nos espera no futuro próximo.
O bem estar individual é conseguido quase sempre às custas das própria feridas da Natureza, que depois da segunda grande guerra mundial o Homem Sapiens foi criando e agravando a uma velocidade sempre crescente.
Tiraram as populações do campo para as cidades com a promessa de melhoria de condições de vida, o que em parte foi verdadeiro. Mas, as cidades cresceram viraram metrópoles e os campos foram ficando velhos, improdutivos e saudosos da azáfama que neles se produzia. As Metrópoles tornaram-se impessoais, egoístas e individualistas, onde todos correm sem tempo para parar e cumprimentar o vizinho, o amigo, o outro familiar que mora perto mas faz tempo que nem se vêm nem se falam. Já nem há tempo para pensar em ir ao cinema com os amigos.
Venderam-se campos e casas onde existiam raízes muito antigas, para trocar por um bem de consumo, para comprar uma habitação na cidade onde as raízes não se desenvolvem, criando novas gerações de citadinos indiferenciados sem histórias de antepassados, mas perfeitas máquinas humanas consumistas, tudo a bem da nação.
Nasci na cidade mas em casa. Cresci junto ao mar no concelho de Peniche,lá onde a Atlântico é mais mar. Mas é nas terras raianas de Idanha a Nova, que reencontro a paz e as raízes. Talvez um dia não muito longe se de o regresso aos campos, pois o desenvolvimento da sociedade consumista está gerando novas contradições, as metrópoles citadinas sem mercado de trabalho são fontes naturais da violência fácil, impessoal mas destrutiva. Quando esse tempo chegar nem é preciso a Terra tremer ao largo de Peniche.

Bruxas Santos e Finados


0111
É assim este meu caminhar indiferente às bruxas, aos santos e finados.
Desta altura do ano recordo num passado já distante o “Pão por Deus” que depois da missa os jovens do Lugar da Estrada fazíamos pelas casas e adegas da aldeia, em busca de pevides, tremoços e agua-pé sendo que algumas vezes esta tinha de ser bebida em canecas de barro das Caldas com o respectivo símbolo no fundo da caneca. Para que conste foi num dia assim de “Pão por Deus” a primeira bebedeira com 13 ou 14 anos de idade.

O tempo passa e nas grandes cidades tudo se dilui, até o negócio das flores junto dos cemitérios deixou o dia de finados e transferiu-se a custo zero para o dia de todos os santos. Os finados continuarão a sua caminhada em busca, uns da luz e outros de atormentarem os sonhos de alguns que por cá ainda viajam.
Santos, que este ano aos poupados nas férias dão mais uma boa “ponte” para viajarem e fugirem do stress citadino. As igrejas enchem-se dos visitantes mas os santos na sua maioria vão continuar sozinhos no imaginário dos crentes com fé na sua existência.
Quanto às bruxas e bruxos, há muitas e muitos, invisíveis e visíveis, todos os dias e não só quando os senhores da sociedade de consumo querem. Das visíveis com certificado e acções, lembro-me da “Merreca” em Ferrel, vivíamos na mesma rua. Contudo, as piores são aquelas que visíveis, não apresentam certificado como ela, mas nos tramam a vida. Destas há muitas por todo o lado, algumas até apresentadas como “santinhas”. Quando as sinto logo a mão entra no bolso fazendo figas, como minha mãe me ensinou um dia. Quanto às bruxas e bruxos invisíveis ainda não me cruzei com elas e eles, por isso que continuem as suas danças no pinhal do rei que não me incomodam de todo.
Vou-me calar não vá alguma bruxa zangar-se e dar-me um puxão na algália, logo hoje que a terra voltou a tremer, fazendo os agoireiros saírem dos seus casulos e nos encherem de notícias sobre as desgraças do terramoto de há 263 anos atrás, que estará de novo para acontecer, já que os grandes terramotos que Lisboa conheceu no passado tinham um intervalo de mais ou menos 200 anos.

Ou um ou o Outro


2810
Ou um ou outro,
Alguns comentadores políticos do centro direita, entre um e o outro escolhem o mal menor na sua opinião.
Como não sou leitor do jornal Observador, nem leio nada cuja fonte venha desse jornal, não sei nem me interesso pelas opiniões que criam e destilam. Quando aqui vejo encaminhamentos ou opiniões de amigos sobre notícias difundidas por esse órgão de comunicação, passo à frente raramente as leio.
Mas nestes dias de alguma invalidez voltei a ser um espectador televisivo, e foi com algum espanto que tomei nota das palavras da dirigente do CDS, a senhora Assunção Cristas.
Ora o CDS Centro Democrático e Social, foi fundado em 1974 como um partido de ideologia democrata-cristã. É certo que depois evoluiu para se caracterizar como CDS-PP, ou seja, um partido popular, um partido onde cabem todas as ideias liberais e populistas, não deixando de ser um partido político importante no nosso regime democrático, onde já desempenhou funções governativas em alianças com os outros dois maiores partidos da nossa democracia.
Considera-se, goste-se ou não, vote-se ou não no partido, é um partido do nosso arco democrático e governativo. Assim sendo, mais gravosa é a afirmação da hoje líder do partido. Com a afirmação de que entre um e outro se tivesse de escolher não votaria, ou seja aconselhou à abstenção o que não fica nada bem a quem ainda à pouco tempo em eleições autárquicas dizia lutar contra a abstenção. A senhora teve medo de afrontar a franja do seu partido mais saudosista do fascismo-salazarista e por isso se absteve, pois eu que nunca votei no seu partido, mas se tivesse que escolher entre um Bolsonaro e a Sra. Assunção Cristas, não tinha a menor dúvida de que votaria em si, sem engolir nenhum sapo, mas duvido que a senhora assim como outros políticos nacionais e internacionais entendam o que é melhor para aquilo que vulgarmente se designa por povo.
Se tivesse que votar lá entre um e o outro, engolia um sapo (como já engoli por cá) e votaria no mal menor, porque não considero o PT um verdadeiro partido de esquerda, nem o seu líder está isento de culpas e erros incluindo a actual luta política, mas mesmo assim Haddad é o mal menor que pelo menos garante a Liberdade tão necessária ao desenvolvimento e bem estar de todos os cidadãos.
Cabe aos brasileiros escolherem e aprenderem com os erros. Fomos os aventureiros europeus que um dia lá chegamos por mar, para deixarmos anos mais tarde por decreto-real o país livre para seguir o seu caminho como nação independente. Somos dois povos amigos que tiveram uma pátria comum durante muitos anos, que falam a mesma língua mãe, mas independentes nas suas escolhas políticas.

O homem do poço


2610
O homem do poço escreveu mais um dos seus livros de memórias ressurgindo de novo. Lá no fundo do palácio onde se recolhe ás custas do orçamento de Estado, o homem de tempos a tempos ressurge, com a comunicação social a ajoelhar-se, quais fiéis em peregrinação, ouvindo as suas palavras, sem qualquer visão optimista de futuro, ignorando em absoluto o denso nevoeiro que paira sobre alguns aspectos da sua vida privada transformados em tabus nacionais intocáveis. Arrastando consigo os fiéis costumeiros, para os quais as suas palavras se sobrepõem sempre à verdade com tantas saudades do tempo em que o homem do poço afirmando-se como não político, ocupou os mais altos cargos políticos da nossa democracia, fazendo lembrar em alguns aspectos o “António das botas”.
Deixou como marca das suas políticas mesquinhas aquela medida de largo alcance estratégico que o homem e os seus fiéis de então tiveram ao transformar o poço numa fonte, medida essa de largo alcance económico e bem estar social para o futuro do país. Mas a fonte que era poço continua a manter o aviso aos amantes da democracia, do estado social e dos bens públicos o seguinte, «Fonte de água não potável, imprópria para beber».
Por mim sigo no meu passo, acreditando no estado social, não dando por isso ouvido ao ruído azedo e negativista que o homem gosta de provocar e a comunicação social tanto gosta de difundir.

Depois do HVFX


2610
Desta vez a greve, agora dos funcionários públicos não me apanhou no HVFXira. Depois de passar o dia de terça feira entre o bloco operatório e a sala de recobro, a situação pós operatória evoluiu favoravelmente com o médico responsável a dar-me alta ontem à tarde.
Se nos lembrarmos como eram os internamentos pós operatórios há uns anos atrás com os doentes a permanecerem no hospital vários dias, e o que se passa hoje, onde ao fim de 3 ou 5 dias nos dão alta, temos de agradecer ao SNS, a todos os seus profissionais médicos, enfermeiros e outros, que acompanhando o desenvolvimento tecnológico se adaptam trabalhando para o bem e satisfação de todos os utentes que procuram junto dos Centros de Saúde e Hospitais do SNS a solução para os males e doenças que os apoquentam.
Agradeço a todos os profissionais do Hospital de Vila Franca de Xira desde o médico com a sua equipa de enfermagem no bloco, como depois a todas enfermeiras do piso 5 que cuidaram de mim sem esquecer as auxiliares sempre solicitas ao poucos pedidos que lhes fiz. Bem hajam todos!
Quanto à greve de hoje, vejo pela televisão a análise de que o actual governo já enfrentou mais avisos de greve que o governo anterior onde os troikanos nos iam esfolando de tudo. Algo difícil de entender. Parece que os grandes defensores dos direitos dos funcionários públicos só levantam a voz quando os governantes defendem uma política social mais suave, com os outros que tiraram rendimentos a torto e a direito, baixaram a voz... segundo as estatísticas. Afinal quem ganha com esta situação? Será que há vencedores?

À noite no HVFX


22.10
O SNS é um bem social, um serviço de riqueza social, e como tal sujeito a muitas vicissitudes. Dizer mal do SNS é quase um crime, se não mesmo crime.
Que os mais novos digam mal, não me admiro, pois muitos estão habituados a terem tudo de mão beijada. Criamos-los e habituamos-los a terem tudo o que estava ao nosso alcance, demos-lhes muitas vezes o possível e o impossível. Podem pois, desejar ter mais e melhor.
Agora que os mais velhos acima dos sessenta digam mal, revolta-me os fígados, porque se esquecem do que tínhamos antes, ou seja, uma mão cheia de nada, quem não tivesse bom dinheiro morria, com os vizinhos e familiares a dizerem que “foi um ar que lhe deu”. Onde estariam muitos dos grisalhos e mais velhos sem o SNS? Como seria o índice da Esperança de Vida sem o SNS?
Que o SNS poderia e deveria ser melhor, ninguém ou poucos duvidam, mas isso depende da vontade de quem escolhemos para nos governar. Há partidos políticos que defendem a entrega da gestão do SNS aos interesses privados. Outros partidos políticos defendem que o SNS deveria ser totalmente público. Havendo outros partidos políticos que defendem o público mas aceitam e colaboram com os privados na partilha dos serviços prestados aos cidadãos pelo SNS. É esta última versão aquela que temos hoje no nosso país.
É num desses hospitais que designamos por PPP (Parceria Público Privada) que me encontro. Um hospital novo, de segunda linha na periferia da chamada Grande Lisboa. Não tenho tido razões de queixa. O que me sucedeu a semana passada são acidentes de percurso duma democracia. Sabemos que era melhor não existirem, mas ainda existem, e temos de aceitá-los. Recebi por duas vezes a carta-vale a oferecerem-me a possibilidade de escolher um de três hospitais privados. Por duas vezes rejeitei essa ofertas. Porque? Porque criei empatia com o médico que aqui no HVFX me atendeu quando aqui entrei mandado pelo Centro de Saúde de Alverca. Considero a empatia paciente-médico importante para o sucesso do tratamento, caso vertente cirúrgico. Por último, não tendo andado a ouvir outras opiniões médicas, amiga conhecedora da saúde hospitalar me disse que o Serviço de Urologia do HVFX era um bom serviço.
Agora escrevo, aguardando que o sono chegue, a semana passada vieram dar-lhe metade de um comprimido azul e dormi um sono relaxado e contínuo nas minhas 5 ou 6 horas. Não sei se esta noite também no vem trazer, a ver vamos. Depois a alvorada será cedo. O tomar banho com aquele produto que aqui nos dão, vestir o fato hospitalar e seguir viagem de novo para o bloco operatório a fim de que os médicos com a sua equipa de enfermeiros realizem a sua “obra prima”.

Brasil


2210
Não classifico Bolsonaro, porque nem isso me merece. Possivelmente será o novo Presidente do Brasil, beneficiando do voto anti-PT que o partido de Lula alimentou na sociedade brasileira.
Bolsonaro não é Trump, é bastante pior porque a democracia brasileira não se compara à democracia americana.
O Brasil com Bolsonaro irá voltar a um tempo semelhante ao da ditadura militar, onde a liberdade política estará ameaçada, as assimetrias da sociedade brasileira e regionais irão acentuar-se. No tempo da ditadura militar a corrupção e a violência já faziam parte da sociedade brasileira, só que a comunicação social não tinha a liberdade de falar mal do regime, nem as televisões tinham o peso e o poder que hoje exercem na sociedade, sem esquecer o fanatismo das muitas igrejas evangélicas no apoio a Bolsonaro. Utilizar o nome de Jesus, a ideia de um Deus misericordioso para apoiar Bolsonaro e mais uma prova da mentira que esses fanáticos religiosos pregam arrastando multidões de crentes ingénuos.
Quantos anos e décadas o Brasil se definia como país de futuro sempre à beira do abismo, havendo mesmo um ditador militar que afirmou que estando o Brasil à beira do abismo, com ele como presidente o país daria um passo em frente. Declaração logo censurada cá e lá. Com esta personagem negra o Brasil poderá voltar ao passado voltar para a beira do abismo.
Infelizmente há líderes políticos que se deixam embebedar com o poder, perdendo o discernimento e Lula terá também culpas na eleição do não democrata e perigoso Bolsonaro. Mas quem não teve pejo em fazer alianças com a “iurd” para governar, não admira que não tenha tido a humildade de aconselhar o voto num outro candidato de outro partido que não o seu PT, poupando dessa forma o seu partido da derrota, mas mais importante, poupando o seu país de voltar a ser governado pelas forças escuras da ditadura.