sábado, 10 de novembro de 2018

Produtos de aviário


0711
Não sou adepto dos produtos de aviário, que a sociedade de consumo nos impinge como saudáveis.
Cresci e criei-me com o leite da teta das vacas leiteiras que os vizinhos possuíam e nós comprávamos indo buscá-lo em leiteiras de alumínio.
Os frangos, galo e galinhas eram criados no quintal à solta. Comiam farelo, hortaliças migadas finamente, as cascas das melancias e dos melões eram cortados finamente para juntar ao farelo.
O mesmo para os patos que uma vez por ano a minha mãe aproveitava o choco de uma coquicha e deitava os ovos de pata, atendendo aos quartos de Lua por forma a que nascesse todos sem problemas.
Os coelhos alimentavam-se de ervas que depois das aulas íamos buscar ao campo, após o meu pai ter falado com os donos das terras. Nunca se comia uma coelha sem esta ir visitar o coelho, minha mãe era malandreca e dizia que assim morria sabendo o que é bom, não se comiam virgens.
Perus nunca foram por nós criados. Era coisa para rico comprar no Natal.
As verduras, a batata vinham do campo, da horta, criados sem estes modernos adubos, a que agora chamam de nutrientes. Modernices.
O pão feito com farinha de trigo em fornos de lenha.
A água para beber de uma fonte, que a da rede era demasiado ferrosa.
O vinho e a água-pé de adegas dos vizinhos, que elaboração para consumo próprio.
Recordo-me de um dia num monte alentejano na zona de Castro Verde, onde viviam os pais de um amigo, tudo o que estava na mesa para comermos era feito, elaborado por seus pais e em especial por sua mãe; até o petisco no final da tarde com carne de burro de um monte vizinho estava divino.
Hoje, as multinacionais tomaram conta da nossa alimentação, e na sua busca de mais e mais receitas financeiras criam ideias e mitos sobre o que nos faz bem, o que devemos comer e não comer.
O leite tem de ser em pacote e no supermercado depois de submetido a não sei quantos processos químicos não naturais. Aquela nata de gordura da qual a minha tia fazia um bolo divinal, hoje não é possível, é perigosa para a saúde, dizem-me.
Os frangos, os perus, os patos e os coelhos, nascem e morrem sem comer uma verdura, sem picarem, sem esgravatar a terra na busca de uma larva qualquer. São injectados com hormonas de crescimento rápido e não podem ultrapassar aquele peso que um “especialista da bolsa de valores” calculou como o mais rentável. Rentável não saudável, ficando a função de mistificar essas noções ao cuidado das agências do marketing, especialistas em criar, ideias, mitos e prováveis mas remotas verdades...
Até as carnes ditas vermelhas à venda nos supermercados estão cada dia mais cor-de-rosa claro, quando a verdade é que a carne do gado bovino na pastagem, comendo pasto verde, é de cor vermelha escura.
A gordura animal faz mal, mas as gorduras hidrogenadas serão mais saudáveis do que as de origem animal? Alguma gordura hidrogenada, vulgo margarina, produz mais sabor na confecção de uma refeição do que o azeite ou a banha de porco?
Quem não esquece a campanha publicitária das margarinas, apoiada por um cardiologista famoso da nossa praça, em detrimento da utilização do azeite, sou eu. Uma mentira corroborada por esse senhor que tinha e tem fama de grande cardiologista, um charlatão que com essa campanha televisiva e radiofónica enriqueceu em detrimento do consumo do azeite, a melhor gordura natural. As margarinas eram produzidas por uma multinacional poderosa ainda hoje, mas o dinheiro não tem moral nem ética.
Hoje, os senhores de Bruxelas e os cá do burgo, estão subordinados aos interesses da finança e das grandes multinacionais do agro-alimentar-industrial. Eles controlam as sementes híbridas, os adubos agora nutrientes, os pesticidas para as pragas fomentadas por eles, controlam as ditas condições de higiene, os químicos conservantes, no fundo a alimentação do mundo animal incluindo os humanos. Por fim tem interesses muito fortes na saúde, cercando os políticos com a sua sede de receitas financeiras.
Não é possível viver fora deste cerco, mas podemos infringir regras e normas, é o que faço sempre que posso, não ganho a guerra mas a revolta alimenta-me as forças e os neurónios insubmissos e radicais face à maioria silenciosa e crente dos mitos que lhe são vendidos sem vontade de pensarem nos porquês.

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