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Não sou adepto dos produtos de
aviário, que a sociedade de consumo nos impinge como saudáveis.
Cresci
e criei-me com o leite da teta das vacas leiteiras que os vizinhos
possuíam e nós comprávamos indo buscá-lo em leiteiras de
alumínio.
Os
frangos, galo e galinhas eram criados no quintal à solta. Comiam
farelo, hortaliças migadas finamente, as cascas das melancias e dos
melões eram cortados finamente para juntar ao farelo.
O
mesmo para os patos que uma vez por ano a minha mãe aproveitava o
choco de uma coquicha e deitava os ovos de pata, atendendo aos
quartos de Lua por forma a que nascesse todos sem problemas.
Os
coelhos alimentavam-se de ervas que depois das aulas íamos buscar ao
campo, após o meu pai ter falado com os donos das terras. Nunca se
comia uma coelha sem esta ir visitar o coelho, minha mãe era
malandreca e dizia que assim morria sabendo o que é bom, não se
comiam virgens.
Perus
nunca foram por nós criados. Era coisa para rico comprar no Natal.
As
verduras, a batata vinham do campo, da horta, criados sem estes
modernos adubos, a que agora chamam de nutrientes. Modernices.
O
pão feito com farinha de trigo em fornos de lenha.
A
água para beber de uma fonte, que a da rede era demasiado ferrosa.
O
vinho e a água-pé de adegas dos vizinhos, que elaboração para
consumo próprio.
Recordo-me
de um dia num monte alentejano na zona de Castro Verde, onde viviam
os pais de um amigo, tudo o que estava na mesa para comermos era
feito, elaborado por seus pais e em especial por sua mãe; até o
petisco no final da tarde com carne de burro de um monte vizinho
estava divino.
Hoje,
as multinacionais tomaram conta da nossa alimentação, e na sua
busca de mais e mais receitas financeiras criam ideias e mitos sobre
o que nos faz bem, o que devemos comer e não comer.
O
leite tem de ser em pacote e no supermercado depois de submetido a
não sei quantos processos químicos não naturais. Aquela nata de
gordura da qual a minha tia fazia um bolo divinal, hoje não é
possível, é perigosa para a saúde, dizem-me.
Os
frangos, os perus, os patos e os coelhos, nascem e morrem sem comer
uma verdura, sem picarem, sem esgravatar a terra na busca de uma
larva qualquer. São injectados com hormonas de crescimento rápido e
não podem ultrapassar aquele peso que um “especialista da bolsa de
valores” calculou como o mais rentável. Rentável não saudável,
ficando a função de mistificar essas noções ao cuidado das
agências do marketing, especialistas em criar, ideias, mitos e
prováveis mas remotas verdades...
Até
as carnes ditas vermelhas à venda nos supermercados estão cada dia
mais cor-de-rosa claro, quando a verdade é que a carne do gado
bovino na pastagem, comendo pasto verde, é de cor vermelha escura.
A
gordura animal faz mal, mas as gorduras hidrogenadas serão mais
saudáveis do que as de origem animal? Alguma gordura hidrogenada,
vulgo margarina, produz mais sabor na confecção de uma refeição
do que o azeite ou a banha de porco?
Quem
não esquece a campanha publicitária das margarinas, apoiada por um
cardiologista famoso da nossa praça, em detrimento da utilização
do azeite, sou eu. Uma mentira corroborada por esse senhor que tinha
e tem fama de grande cardiologista, um charlatão que com essa
campanha televisiva e radiofónica enriqueceu em detrimento do
consumo do azeite, a melhor gordura natural. As margarinas eram
produzidas por uma multinacional poderosa ainda hoje, mas o dinheiro
não tem moral nem ética.
Hoje,
os senhores de Bruxelas e os cá do burgo, estão subordinados aos
interesses da finança e das grandes multinacionais do
agro-alimentar-industrial. Eles controlam as sementes híbridas, os
adubos agora nutrientes, os pesticidas para as pragas fomentadas por
eles, controlam as ditas condições de higiene, os químicos
conservantes, no fundo a alimentação do mundo animal incluindo os
humanos. Por fim tem interesses muito fortes na saúde, cercando os
políticos com a sua sede de receitas financeiras.
Não
é possível viver fora deste cerco, mas podemos infringir regras e
normas, é o que faço sempre que posso, não ganho a guerra mas a
revolta alimenta-me as forças e os neurónios insubmissos e radicais
face à maioria silenciosa e crente dos mitos que lhe são vendidos
sem vontade de pensarem nos
porquês.
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