0711
Eram jovens saídos da puberdade.
Andavam na mesma escola secundária, desde sempre na mesma turma, que
por coincidência era mista nas aulas, com recreios separados por um
muro real e imaginário que uns e outros não podiam pisar nem
ultrapassar.
Ele
olhava para fora da turma, gostava de uma moça lá da sua aldeia.
Mas ele sabia que ela, a sua colega desde o primeiro ano, gostava
dele naquele último ano em que estudaram juntos naquela escola. Ela
era uma excelente aluna, sempre com notas altas, já ele era um bom
aluno com as notas suficientes para passar os anos sem sobressaltos
de maior.
Chegados
ao quinto ano de então, duas alternativas havia, ou começavam a
trabalhar, que naquele tempo não se conhecia esta coisa de
“desemprego” nem de “subsídios”, ou continuavam a estudar.
Quis
o destino que ele e o irmão, filhos de funcionário público,
pudessem continuar a estudar. Ela com o pai ligado às lides do mar
por lá ficou, fazendo o percurso normal dos jovens de então,
trabalhar, casar para constituir nova família.
Ele
continuou os estudos, mas por força das condições económicas de
seus pais voltaram para a cidade grande, de onde tinha saído aos
oito anos. Para trás ficaram alguns amigos, amigas e amores de
juventude. Novos amigos, novos amores com namoro, outros horizontes,
novos mundos, com a vida a ficar suspensa com a mobilização para a
guerra em África. Sobrevivente dessa guerra inglória, logo no
regresso casou constituindo nova família. Os anos passaram, apenas
nas férias a sua família fazia férias na praia de juventude onde
cresceu e aprendeu a conhecer o mar, a ouvir Neptuno e a respeitá-lo.
Um
dia já ele estava divorciado, ao passar numa das ruas da cidade por
onde tantas vezes passou em jovem viu a antiga colega de turma. Os
anos passavam, há mais de cinquenta anos que não se falavam, até
que um ano tomou coragem, entrou na loja, a empregada perguntou-lhe o
que ele desejava, apontando ele que desejava falar com a pessoa que
estava a atender outra pessoa. Esperou uns momentos olhando os
artigos expostos até sentir que as pessoas já tinham saído.
Olharam-se, sorriram e ela diz-lhe o nome completo dele, ao que ele
retorquiu dizendo-lhe o nome completo dela de solteira. Agora, ele
sempre que passa pela rua, entra na loja para a cumprimentar e
desejar-lhe o melhor que a vida tem para dar à sua família.
Eram
jovens e hoje são grisalhos com caminhos distintos.
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