O
passeio é o mesmo mais torto mais gasto com o andar do tempo mas o mesmo
passeio. A rua que outrora era movimentada com as pessoas a entrarem e a saírem
dos estabelecimentos esta hoje quase silenciosa. Resistem de porta aberta as
duas pastelarias, as cabeleireiras e a loja de informática, até dois dos três
bancos existentes fecharam portas. À confusão do estacionamento com carros em
segunda fila circula-se hoje sem problema. Podíamos dizer que a qualidade de
vida melhorou mas é engano as pessoas que a pé se cruzam com ele, caminham de
olhar triste e normalmente olhando o chão, ao cumprimento de «bom dia»
respondem com silêncio continuando o seu passo lento e triste. Os anúncios de
«arrenda-se» ou «vende-se» da Remax e da Era vão ocupando lugares sem vida.
Disseram-lhe
que nas TV’s anunciaram a morte das aldeias do interior. Os que por lá vão
habitando são velhos, uns foram ficando, cuidando das suas terras, dos seus
bens, outros regressaram quando se reformaram; aldeias onde não nasce uma
criança faz tempo. Aldeias que com a chegada dos grandes supermercados às
cidades e vilas, até a pequena horta deixou de ser tratada. Aldeões que vão
resistindo até que um dia a morte os leve para outra viagem. Casas de pedra com
muitas histórias vão também elas morrendo sem vida que as anime.
Ele
não vive nessas aldeias do interior, conhece algumas mas vive perto do mar
junto à cidade grande que o viu um dia nascer. Também no litoral nas cidades
dormitórios a vida vai mudando, a vida da pequena urbe quase se limita ao vai
vem de casa-trabalho-casa, os jardins e cafés são ocupados por reformados e
pensionistas que ficaram porque já não têm lugar na aldeia onde nasceram ou tem
vergonha de voltar para lá. Morrer por morrer que seja por aqui que ninguém
conhece o seu passado a história da sua família e assim vão limpando e gastando
os bancos dos jardins, dos passeios sem norte, vivendo perdendo a esperança.
Morrem
as aldeias do interior e vai morrendo a vida no Litoral.
Dizem
que é o progresso mas ele não vê nisso qualquer vantagem. Na era da comunicação,
na era da globalização, na era do chamado bem-estar social, nunca como hoje
existiu tanta solidão, tanto medo nos de maior idade, tantas pessoas novas e de
meia-idade, cuja esperança é o computador ou um smartphone para comunicar com
alguém que esta no outro lado da rua ou do mundo.
Nem
sempre o chamado progresso é coisa boa. Ele sabe-o, procura descrever esse seu
sentimento mas as palavras não lhe saem.