sábado, 1 de junho de 2013



Conversas íntimas

No caminho entre a casa e o comboio os seus dois “eu” vão dialogando ora com harmonia ora em diálogo mais ríspido  Pudesse e soubesse ele armazenar os dados processados entre os dois enquanto caminhava na distância entre a casa e o comboio e escreveria um livro, soubesse ele...
A “Sombra” é sempre mais crítica no falar e nas acções do “Eu”, funcionando como sombra crítica, como a voz da consciência em auto-critica.
Os dois (estará bem dito?) coabitam, nasceram no mesmo momento, no final de uma noite longa de inverno quando o dia receberia os primeiros raios de luz. Cresceram e desenvolveram-se e quando tomaram consciência das coisas da astrologia viveram de mãos dadas pensando enquadrarem-se no signo Capricórnio, não dando muita importância assumiam-se como tal. No início da curva descendente da vida ficaram a saber que tal não era assim, afinal eram do signo de Sagitário, zangaram-se e vivem os dois, quando o “Eu” é Sagitário a “Sombra” é Capricórnio, quando o “Eu” está Capricórnio a “Sombra” procura estar em Sagitário. Imagem dos conflitos internos que protagonizam entre o viver o correr dos dias e os momentos de reflexão ou de meditação quando com o Master vagueia pelas ruas e campos da Moita.
Ambos têm consciência dos conflitos que vivem, ambos têm consciência que são inseparáveis enquanto durar esta viagem. O passado os moldou, o presente é dos dois, o futuro por enquanto não existe. Às vezes a “Sombra” vai na frente, noutras ocasiões deixa-se ficar para trás mas entram juntos no comboio. Se o “Eu” é emocional a “Sombra” é o racional e vice-versa. Se o “Eu” é o intuitivo a “Sombra” é conclusão e vice-versa. Pelo modelo ocidental ou são um ou são o outro e quase nunca os dois. Se o “Eu” é o positivo a “Sombra será o negativo ou o neutro. Os dois “Eu” e “Sombra” são o orgânico.
Quem comanda a escrita  o “Eu” ou a “Sombra”? Não sei! Mas os dois estão de acordo com o que ele vai escrevendo no papel.

Ao passar em trabalho na zona de Cascais Sintra queria-se lembrar do nome do director financeiro daquela empresa de telecomunicações, que um dia ajudou em Mafra a passar aos serviços auxiliares quando estavam no serviço militar e o Sistema queria todos os jovens aptos para o combate da soberania em África, mesmo quando tais jovens eram doentes de asma como era o caso. Era difícil sair de Mafra para a consulta externa no Hospital Militar Principal ali para os lados da Estrela em Lisboa, mas ele conseguiu que o amigo saísse embora nunca mais se tivessem visto enquanto militares, ajudou-o e o outro nunca mais o procurou para pelo menos lhe dar um abraço de agradecimento. Agora sentado ao lado do condutor procurava na memória armazenada o nome dele e não o encontrava nos arquivos, quanto mais se esforçava mais vazia sentia a memória, olhava o azul do mar na estrada do Guincho e enervava-se. Na manhã seguinte ainda era noite quando debaixo do chuveiro o nome que tanto buscava no dia anterior como que saiu das moléculas de água quente que lhe batiam na pele do rosto e se postou ali em frente com todas as letras J R (João Ribeiro). E de novo outra questão se lhe colocou. Quem encontro o J R no arquivo morto da memória, o “Eu” ou a “Sombra”?

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