terça-feira, 31 de março de 2020

Décimo terceiro dia do resto das nossas vidas


Décimo terceiro dia. Eu que na guerra nunca tive calendário, nunca elaborei nenhum quadro onde assentasse os dias passados ou que faltavam para a promessa do regresso, conto agora metodicamente os dias desta emergência, desta luta passiva contra um monstro tão perigoso que nem se vê nem se nota a sua invasão inicial no nosso complicado organismo, podendo por via do seu silêncio metódico multiplicar-se indistintamente, lançando o pânico em todos os familiares, companheiros de trabalho, amigos ou simplesmente conhecidos do infetado que por algum motivo, em algum momento com ele conviveram ou simplesmente tocaram em sítios, instrumentos infectados levando posteriormente por vício, descuido ou inadvertidamente a mão à boca ou ao nariz ou aos olhos ou ainda simplesmente estavam com ele quando chegou um inesperado e vulgar espirro.
Um grande e grave problema de saúde pública, que é também uma guerra global da humanidade contra esse monstro invisível que ataca os seres humanos indistintamente da cor, do país ou do status económico e social. Os críticos que tudo sabem, opinam sobre tudo criticando medidas, tomadas de posição, políticas e políticos porque deveriam os do Governo ou da DGS fazer assim daquele outro modo segundo os seus interesses ocultos, ou mais cedo do que fizeram porque já outros o fizeram… como é fácil opinar quando não se está na boca do vulcão… por isso e mais outras coisas e atitudes já não tenho paciência para ouvir uns e outros. O contraditório tão necessário em democracia perdeu substância e cor, pelo que me basta ouvir os papagaios noticiosos dos telejornais, falarem dos números de infetados e mortos. Chegam-me os comentários para sentir a dor dos familiares e amigos dos que acabam a sua viagem porque de algum modo o fdp do vírus os infetou e eles não conseguiram resistir aos danos que o mesmo causa principalmente quando somos doentes de outras patologias.
Todas as manhãs madrugadoras ao colocar os pés no chão tomo consciência e agradeço o estar vivo de saúde, lembrando a dor, mais do que o medo, de todos os que padecem em UTI's ou dos familiares dos que já faleceram e nem se despediram deles como é tradição deste povo.
Com tanta técnica ao serviço da humanidade e de alguns todo-poderosos, com tanta inteligência artificial desenvolvida, com tantos arsenais de armas militares ultra modernas de curto, médio e longo alcance, com tantas pílulas da química farmacêutica de última geração no combate a tantas doenças e suas enfermidades, não tem afinal a humanidade outro remédio, outra método, outra arma para combater este monstro minúsculo que não seja ficarmos em casa sossegados a ver o tempo passar em frente aos nossos olhos que cegos tentam ver como será o "day after" , para que os da governança e os profissionais de saúde possam cuidar dos infectados sem que chegue o aplicar do estado de guerra, isto é, procuram-se salvar os que apresentam mais hipóteses de sobreviverem. É duro mas é a realidade de todas as guerras. Sempre foi assim e assim será se a humanidade não respeitar o recolher caseiro e permitir-se o contágio indiscriminado que esgote a capacidade das estruturas hospitalares afectas à luta contra o fdp do monstro covid-19, porque não podemos esquecer todos os outros doentes de outras patologias que existem e exigem cuidados e tratamentos. A minha avó paterna morreu nova porque sofrendo do coração o comprimido que naquele tempo lhe garantia o ir vivendo era importado da Alemanha. Esgotou aquando da II Grande Guerra começou.

Há no planeta outros vírus que são bem maiores que o covid-19, tão maiores e grandes eles são que até foram eleitos para lideres pelos cidadãos dos seus países. Lideres que fazendo ouvidos de mercadores aos conselhos da OMS arrastam os seus cidadãos como presumíveis aliados do monstro fdp covid-19 infetando e matando inocentes, sem que possamos fazer mais nada do que sermos revoltados solidários em nossas casas com esses povos, em especial com todos os que sofrem por causa de vírus-humanos sádicos, vigaristas que se escondem na economia apoiados por seitas evangélicas radicais e cegas, plenas de ódio a todos os que não acreditam ou perfilham as mentiras, as leituras absurdas dos seus líderes armados em pastores bem falantes que trocaram o pau ou bastão pela vida fácil de ostentação que a exploração do dízimo lhes concede.

Na minha outra guerra de juventude tudo foi diferente, nada se assemelha a esta. O inimigo era conhecido, seres humanos como nós que perfilhavam ideias independentistas para os seus territórios de nascença. As armas que eles possuíam não eram muito diferentes das nossas. Tratava-se duma guerra de guerrilha, eles com os meus manuais e mentalização para a conquista da terra que viu nascer seus antepassados, nós com as nossas ideias. Militares à força mandados para a guerra, tínhamos muitos de nós que andamos nas frentes operacionais um objectivo, um princípio que não nos era ensinado pelas altas patentes do reino. Esse princípio era, «Tínhamos de voltar sãos e salvos custasse o que custasse» o morrer pela Pátria não era o principal objectivo, para tal, teríamos de matar antes que nos matassem a nós, e, se ouvíssemos um segundo disparo nunca poderíamos estar onde ouvimos o primeiro. Cumprido com êxito o objectivo, regressámos sãos e salvos embora muitos trouxessem consigo aquela guerra dorida, aquele buraco negro que nos roubaram da nossa juventude. Agora já idosos de cabelos e barbas brancas assistimos impotentes a esta outra guerra, embora não reconhecida oficialmente, onde o inimigo que nos ataca silenciosamente não têm a forma humana, não é da nossa espécie, criado ou não em laboratório ele, o fdp do vírus covid-19, esta a querer derrotar-nos matando-nos e fazendo-nos sofrer sem necessidade de tiros nem de bombas nucleares que nada servem aos países, aos poderosos que as detêm.
Ri-se de nós o fdp do covid-19 quando nos vê ficarmos exaustos, cansados, deprimidos por não podermos, não devermos andar na rua a partilhar uns com os outros, a riqueza que um dia conquistámos mas que muitos se esqueceram dela deixando-se embalar por outras ideias contrárias ao uso do direito de Liberdade que a Democracia nos concedeu e concede exigindo neste momento difícil de nossas vidas que apenas respeitemos e sejamos solidários com todos os outros semelhantes a nós.
FICAR EM CASA NÃO É UM CASTIGO, NÃO REPRESENTA O CERCEAREM-NOS A LIBERDADE, ANTES É A NOSSA ARMA NUCLEAR SILENCIOSA CONTRA O FILHO DA PUTA DO VÍRUS TENHA ELE A FORMA QUE TIVER.

segunda-feira, 30 de março de 2020

Décimo segundo dia do resto das nossas vidas


Ao décimo segundo dia tudo parece igual no meu circuito matinal, que hoje ocorreu cerca de meia hora mais tarde do que é habitual. A calma predomina. Os centros logísticos registam a sua actividade normal deste estado anormal de emergência. O comboio rápido também chamado de Intercidades que antes seguia para a Guarda passou rápido e ao passar apenas com três composições pareceu-me que apenas levava o maquinista e algum possível revisor.
As nuvens hoje mais baixas dão a esperança que alguma chuva possa cair para além dos pingos que a espaço caem desamparados nos relvados abandonados secos e ávidos de água.
Chegado a casa ao pequeno almoço vejo na televisão a cena do controle policial em Pina Manique à entrada de Lisboa mas com posteriores saídas quer para a Ponte 25 de Abril, para a Ponte Vasco da Gama e A1 Auto-Estrada do Norte ou A8 Auto-Estrada do Oeste. Ao ver algumas caras de automobilistas fico a pensar se haverá ainda tanta gente, tantos casais a trabalharem na cidade ou quantos seriam os “xicos espertos” da distinta classe média a tentar iludir a vigilância policial para poderem ir cumprir a tradição de passarem a Páscoa na santa terrinha. Dúvidas e apenas isso.
Ouvindo na Antena1 "O amor É..." Como eu gosto de os ouvir e me tocam tantas vezes as palavras que o professor Júlio Machado Vaz diz. Impressionante é verdade. Eu que continuo a ter muitas e mais dúvidas com o avançar da idade.
Influenciado pelas imagens da nossa classe média na Ponte 25 de Abril e, por há muito não me identificar como mais um elemento-cidadão integrante desse grande rebanho, dessa grande manada e não menos grande alcateia, prefiro continuar a ser na minha condição de navegar e andar pela outra margem simplesmente um pequeno burguês que gosta apesar de tudo de viver e ir observando e vivendo as coisas boas que se podem degustar nesta caminhada. Influenciado por tais imagens de “xicos espertos” juntei aos livros que ando a ler em simultâneo a obra adquirida em mais um antigo aniversário (1977) e de seu título "O Conde D'Abranhos" do nosso enorme Eça de Queiroz. Depois de almoçarmos iremos ao cinema vendo e revendo os dvd's que estavam guardados e esquecidos. Ler, ver filmes em dvd ou não, é uma das boas maneiras de não dar tempo de antena aos trogloditas e necrófagos televisivos que tanto se excitam com as desgraças e mortes provocadas pelo monstro invisível do fdp covid-19.
Felizmente Há Luar”, escreveu Luís de Sstau Monteiro, devendo existir uma gravação da peça de teatro nos arquivos da RTP que poderiam retransmitir mas, também a estação pública tem lá gente que gosta de seguir a moda dos canais privados e ignora o papel de serviço público de estação pública de televisão, no aconselhamento positivo dos seus ouvintes telespectadores.
É o País que temos e... o estado ao que o Estado chegou.
Vamos ter calma que a Vitória É Certa.

domingo, 29 de março de 2020

Décimo primeiro dia do resto das nossas vidas


No décimo primeiro dia. Tudo continua igual. Por onde andarás? Será que estás com medo do vírus?
Eu não tenho medo.
Nem do vírus nem da morte. Sabes, deixei todo o medo que tinha quando me roubaram dois anos da minha juventude.
Nem mesmo quando um outro mal se instalou dentro de mim silenciosamente, sem dor e sem dar sinal da sua existência ia progredindo, senti medo ao ouvir o diagnóstico da biopsia ou depois quando me levaram para a sala de operações.
Mas não deixo de ter outros medos, outros receios, até me dizem que sou pessimista. Quando tal acontece calo-me, fecho-me sobre mim mesmo tipo caracol.
Estou cansado. Saturado de ouvir tanta falta de senso comum, tanta falta de humanismo. Tantos mascarados que ao usarem as máscaras da moda por causa do medo que outros a todas as horas e minutos estão espalhando, se desmascaram e ficam nus perante o meu olhar. Um nu diferente mas nem por ser diferente deixa de ser um nu.
Como é possível representantes de associações, de federações que se dizem de pais e de educação, assim como haver professores e responsáveis de educação falarem que há alunos que continuam a estudar a ter aulas… Como é que essa gente vive sem pensar nos outros alunos cujos pais não lhes podem dar um computador ou Internet  em casa. Não serão essas crianças e jovens filhos iguais deste País? O que é que essa gente pretende? Que objectivos têm?
Sentado na varanda olho a cidade grande lá ao fundo.
No outro tempo quando a Paz podre do consumismo reinava, os céus que nos separam enchiam-se de pássaros metálicos voadores uns que vinham e outros que iam para a cidade grande numa cadência de segurança calculada.
Era um tempo com outra dimensão. Um tempo de corridas loucas sem outro objectivo que não fosse o correr e dar nas vistas. Tempos de exaltação dos pequenos podres de um viver consumista onde todos correm para a morte sem se aperceberem que nesse instante todas as ostentação, toda a soberba, o todo do todo fica cá e quantas vezes abandonado. Um tempo de muitos enganos, de muitas promessas sem conteúdo, de felicidades escondidas. Agora com o medo que o bichinho e os poderosos sem rosto espalharam e espalham o céu que me separa da cidade grande está cheio de pequenas nuvens, de pequenos sonhos. Os pássaros metálicos já só voam em acções humanitárias.
Vou continuar a olhar a cidade grande lá ao fundo… vou continuar a sonhar

sábado, 28 de março de 2020

Décimo dia do resto de nossas vidas


Chegamos ao décimo dia. O número de infetados pelo covid-19 e o número de mortes a ele associadas continua a aumentar. As notícias boas também as há mas são tantas coisas que nos dizem, que nos martelam pelas televisões e redes sociais que fica difícil distinguir as pequenas verdades no turbilhão de notícias falsas que andam no ar pior que as nuvens negras da poluição.
Ao jantar continuo a ouvir os papagaios televisivos e necrófagos apresentarem gráficos, comentarem curvas continuarem a falar em crescimento exponencial e, ao olhar a curva duvido. De qualquer modo é assustadora a forma de contágio do fdp do vírus.
Quem me conhece sabe que não sou fã do PM, não gosto da MS por razões técnicas, mas são eles os que estão a comandar a nossa Nau Catrineta. Confio neles porque por outro lado acredito na capacidade, na competência e seriedade da Directora Geral de Saúde, sem ela no comando da táctica para a navegação da nossa Nau Catrineta não sei em que estado estaria a população, quantos seriam os rombos sofridos neste navegar lutando em alto mar com tantos ventos adversos, entre vagas medonhas, contra um monstro tão pequenino que só os stressados cientistas conhecem a sua imagem de tanto o estudarem na procura dos seus pontos fracos para se poder produzir uma arma química que anule o seu poder biológico devastador. São eles, os stressados cientistas, a única força que temos na rectaguarda, que trabalham sem cessar num estado de ansiedade positiva, se é que existe, para encontrarem a solução, a nova arma eficaz para que os profissionais e todos os agentes de saúde que estão na frente de combate a caminho do esgotamento possam ter um momento e... respirar de alívio.
Exceptuando os trabalhadores que ainda trabalham nos campos, no mar, nas fábricas e nos serviços fundamentais, também eles dignos do nosso louvor, do nosso bem haja, que dia a dia fugindo ao fdp do covid-19, com a sua coragem, com o seu trabalho permitem que a nossa economia não colapse de vez, permitindo que a Nau Catrineta possa voltar a aproximar-se da costa em busca de porto seguro. Dizia eu que exceptuando todos os que atrás foram lembrados aos restantes trabalhadores que seguem em teletrabalho, aos reformados e pensionistas, aos jovens crianças e seus pais, assim como a todos os que estão em quarentena preventiva de piores males só nós resta mantermos-nos no porão desta Nau sem muitos movimentos para não se destabilizar o equilíbrio necessário aos governantes que têm de manter o sangue frio nas constantes definições de estratégias e tácticas por forma a que nada falte aos que tudo arriscam na frente de combate.
Sempre irão existir pontos fracos aqui e ali, erros de avaliação pontuais, avanços e recuos, porque ninguém nem o mais vidente de todos os videntes estava preparado para esta guerra biológica. Sangue frio e caldos de galinha é o que se pede a todos, que o medo, o pânico, o pavor difundido por necrófogas figuras sem rosto só nos irão encaminhar para o abismo da nossa falência colectiva. Já passamos por muitas e tantas tormentas, muitos e tantos sacrifícios de suor sangue e lágrimas nestes quase 900 anos de vida colectiva que não é agora que não iremos encontrar o bom porto de águas calmas se nos mantivermos unidos com as necessárias distâncias, ajudando os remadores a compasso porque UNIDOS VENCEREMOS!

Ontem ficamos a saber, se dúvidas ainda existissem, que a União Europeia já foi uma união quando eram apenas seis países e cujos líderes de então, lá longe no século vinte, procuraram com essa união do aço e do carvão o evitar de mais guerras fratricidas entre os seus povos, promovendo com essa União a criação do modelo de Estado Social Europeu. Alcançaram o bem estar social e económico dos cidadãos, criando a ideia nos outros povos que ali estava o chamado "Primeiro Mundo".
Mas os grandes líderes desses longínquos tempos ou apagaram-se ou morreram sem que os outros novos líderes tivessem, ganhassem a dimensão de líderes agregadores dos diferentes povos e países, que obedecendo a razões de política e de crescimento económico iam entrando sempre pelas portas laterais. A pouco e pouco a corte dos nobres e seus mordomos em Bruxelas deixou de se interessar efectivamente pelo bem estar social dos povos europeus integrados na União. A pouco e pouco com paleio modernista só o crescimento económico é o seu interesse primário e secundário, o social ficou esquecido nas muitas gavetas que por lá existem nos palácios de Bruxelas e Estrasburgo. Os mais fracos, os mais pobres, que se avenham, se não tem pedalada para acompanhar os da frente, os mais ricos, que se desenrasquem. Só não vê quem não quer, seja por razões ideológicas ou porque acreditam cegamente nos seus lideres que ainda sonham com a utopia de que a União de hoje possa fomentar a Fraternidade e Solidariedade entre todos os povos que a integram.
Ao fim de tantos anos integrados nesta Europa que se designa agora de U. E., ouvimos ontem pela primeira vez o nosso representante maior, o PM, levantar a voz e dar um murro na mesa. Eu na outra margem onde caminho, tiro-lhe a minha boina em sinal de agradecimento e aplauso. Já era mais que tempo de alguém levantar a voz sem baixar as calças, sem se curvar em agradecimentos pelas “filhas de putice” que ao longo dos anos nos tem feito a troco de dinheiros que se esbanzalharam em pagamentos de favorecimentos aos novos barões do betão, às antigas famílias da nobreza fundiária e insolvente, em favorecimentos a amigos e vigaristas financeiros sem que tenhamos tido grande proveito social e económico sustentável com esses rios de dinheiro com que nos cegaram.
Quanto mais dinheiro nos deram mais a corda do endividamento nos foi apertando o pescoço quase nos asfixiando.
Há que levantar a voz, falar grosso, não ter medo de ser mal educado face à normas diplomáticas… Mas não esquecer que se os rios de dinheiro que chegaram e ainda chegam fossem aplicados de forma transparente em beneficio do país e não de barões e nobres insolventes outro galo cantaria.

sexta-feira, 27 de março de 2020

Nono dia do resto das nossas vidas


Como consequência do movimento de rotação do planeta o nono dia chegou como todos os dias anteriores e os seguintes hão-de vir.
Ainda há animais que ao mesmo tempo são seres humanos se fazem passar por crentes ou líderes religiosos que afirmam ser o Planeta plano em vez de redondo achatado nos polos. A essas bestas ignorantes e mal formadas com diria o padre Felicidade Alves "Deus na sua transcendência a todos quer bem" ou como outros disseram "perdoai-lhes Senhor que não sabem o que dizem."
Deixando estas questões religiosas para os especialistas nesses assuntos, voltemos ao nono dia da emergência declarada para fazer frente ao espalhar do vírus fdp.
Ao andar pelo meu circuito normal de todas as manhãs constato que hoje não é o meu dia. Devo ter acordado com os pés de fora pois sinto a raiva tomar conta de mim. Estado de espírito que nada tem a ver com os novos caminhantes e atletas que encontro dirigindo-se para os trilhos da beira rio. Seguem todos espaçados, poucos são os que seguem a par. A boa forma física e psíquica também é importante para se fazer frente ao vírus e como os ginásios estão todos fechados os trilhos da beira rio são a alternativa. Eu próprio sentia-me melhor quando fazia os 6 e 7 km pela manhã do que agora nesta volta dos 2 km mal medidos. Não foi e não é isso que me tira do sério abrindo janelas ao entrar da raiva. Não sou nenhum santinho mas porra não ando a correr do supermercado, para a farmácia e desta para a drogaria na esperança que esta possa estar aberta podendo comprar caso tenham lá, mais máscaras, mais álcool e mais o ressuscitado sabão azul, que tão mal fazia à pele de alguns para agora ser tão abençoado. Estou irritado com a quantidade de luvas usadas e abandonadas no chão, da quantidade de pequenos montes de merda que os lulus e outras amostras de cães fazem na via pública e nos secos relvados que vão existindo, sem que os porcos dos donos os apanhem e os coloquem depois do saquinho fechado nos contentores do lixo indiferenciado. Esgotaram o papel higiénico, sem que eu seja capaz de entender o porquê mas, não compram os saquinhos para apanharem a merda que os seus animais ditos de estimação fazem na via pública. Vou-me calar procurar mandar a raiva embora. Ouvir o FMI do Zé Mario acalma-me. Mas ando cansado de ouvir e ver tanto disparate, tanta falta de senso comum estando a maioria cagados de medo.
E hoje ao nono dia por aqui me fico.

quinta-feira, 26 de março de 2020

Oitavo dia do resto de nossas vidas


Vamos no oitavo dia desta emergência, deste viver confinado às paredes de casa. O medo e o pavor vão tomando conta de um número crescente de seres humanos.
As televisões e os seus mandantes continuam necrófagos. Repórteres ávidos de mortos, de encontrarem casos que correm mal nesta luta global contra o tempo e o inimigo invisível. Eles correm atrás de tudo o que possa pôr em causa o funcionamento das estruturas do Serviço Nacional de Saúde e colateralmente a acção do Governo. Repórteres que talvez tenham sonhado um dia serem jornalistas, correm em busca do tudo o que possa cheirar a "bota abaixo" aguardando quais hienas por uns momentos de ecrã a fim de justificarem perante os chefes sem rosto as míseros tostões que lhes dão em troca dos famigerados recibos verdes, de promessas de um novo contrato de trabalho temporário se continuarem a cumprir os objectivos dados.
Canais televisivos apoiantes e difusores das medidas neoliberais tomadas há poucos anos por outro Governo, o mais liberal de todos os Governos desta Terceira República, constituem hoje não uma fonte de informação isenta, antes comportam-se como uma frente oposicionista não só ao Governo de centro esquerda como vão mais longe na sua cruzada de falsos cavaleiros do regime democrático. São a força mais amiga do vírus fdp.
Sem a presença expansionista do vírus fdp em todos os minutos de emissão, teriam de ter noticiado com outros tempos de antena, a vitória da política levada a cabo pelo Governo anterior sob a batuta de um Ministro das Finanças, goste-se ou não se goste dele e eu não sou seu fã, o "excedente" nas contas públicas foi alcançado. Um feito histórico na nossa democracia sem diminuição do rendimento disponível das famílias.
Teriam, esses mesmos órgãos, de ir noticiando o seguimento de casos em que dirigentes de instituições desportivas assim como agentes desportivos e presumivelmente os próprios desportistas que estão a ser investigados por presumível fuga de impostos e ou branqueamento de capitais, em vez de enaltecerem como agora o fazem, presumíveis ou possíveis acções de caridade de alguns dos investigados anteriormente em presumíveis acções de maus cidadãos.
Contudo, embora o Governo não o admita, não o reconheça, gostando mais em falar de tsunami, estamos num estado de guerra. Uma guerra diferente de todas as que ocorreram no Planeta até hoje. Aqueles que nas guerras passadas eram a retaguarda de todos os exércitos, ocupam hoje a frente avançada de um exército que parece não ter outras forças para combater este inimigo fdp que não sejam os profissionais e técnicos de saúde.
O ADN histórico do partido que nos governa não lhe permite tomar medidas mais restritivas, dando um murro na mesa aos órgãos de comunicação social televisiva, chamando para a frente de combate com a requisição civil as instalações privadas de saúde, exercendo a intervenção do Estado no sistema bancário, para que o sistema financeiro seja um instrumento no apoio mais efectivo quer aos empresários que não fecham as portas das suas empresas, quer aos trabalhadores. Depois de ganha a batalha, não a guerra, haverá tempo para se fazerem as contas, um novo orçamento rectificativo, o devolver as instalações de saúde privadas aos seus proprietários e accionistas, o sair do sistema bancário devolvendo-o aos seus accionistas e gestores. Nestas duas acções devolveria tudo como encontrou no momento da sua intervenção, suportado por auditorias mistas dos privados e da Inspeção Geral de Finanças. Haverá tempo para mudar de vida de objectivos e de nos prepararmos para a próxima batalha que a guerra vai ser dura e longa.
Cloroquina? quem dos antigos combatentes não se lembra deste velho e conhecido comprimido, quando a febre subia, a cama tremia dos tremores do corpo que suava sem parar perante o olhar solidário de todos os outros combatentes. Às vezes a vida era tão dura que o maldito paludismo era desejado que la estava o comprimido cloroquina e a injecção de quinino para o combater, havendo a esperança que não fosse muito forte, mas sempre eram uns dias de cama sem sair para o mato atrás de um outro inimigo, que não conhecíamos mas sabíamos que eram iguais à nós, nossos irmãos de espécie.
Ponho-me a pensar nestas coisas não dando pelo dia que já renasceu sendo já são horas de ir fazer o passeio matinal com a minha amiga. Todos aqueles que não gostam de ver os velhos a passearem os seus animais, não tenham medo do meu passeio, não estou constipado, uso luvas, só toco no interruptor da luz das escadas do prédio e no botão da porta da rua com a ponta da chave de casa abrindo depois a porta com o pé, cruzo-me com alguns trabalhadores mas não nos tocamos, respeitamos-nos cumprimentando-nos e quando chego a casa ainda muitos de vós estão a dormir por se sentirem cansados de estarem em casa a criticarem os outros e a darem tempo de antena às hienas e mabecos televisivos que não param de vos meter o medo entre os vossos neurónios, fomentando mais o vosso egoísmo do que despertando o vosso esquecido sentimento de solidariedade. Deixem de criticar os outros. Procurem antes ser um exemplo de civismo solidário. Deixem de ouvir com os olhos e de ver com os ouvidos.
A vida vai mudar, está a mudar e muitos querem continuar agarrados a um passado que nos trouxe até há umas semanas ou meses atrás, cegos por uma vida consumista sem valores éticos.
Abram a pestana que o futuro nunca foi tão incerto como agora.

quarta-feira, 25 de março de 2020

Sétimo dia do resto das nossas vidas


E ao sétimo dia não chegou nenhuma mensagem, nenhum email ou qualquer outro sinal de que o Deus misericordioso está atento ao sofrimento que se espalha entre os humanos do seu rebanho terrestre. Apenas o Papa Francisco na sua solidão de homem só vai avisando e pedindo pelos mais fracos e desprotegidos, os trabalhadores.


Nem Cristo, nem Buda, Brahma, Vishnu, Shiva ou Maomé dão sinais de terem descido de novo à Terra para salvar os seus fiéis seguidores das garras do vírus, aconselhando-os a ficarem em casa reservando as saídas às estritamente necessárias sem nunca cumprimentar fisicamente familiares, amigos ou conhecidos.
Dirão outros que Deus nos deu o livre arbítrio para podermos ter as nossas opções de vida.
Indiferente às religiões, às crenças, aos fanatismos, aos especialistas da palavra, o vírus continua a sua vida seguindo o princípio bíblico de "crescei e multiplicai-vos", criando pânico em muitas famílias que ou sofrem a dor de perder os seus familiares os seus amigos e até conhecidos ou vivem aterrorizados com medo de serem infectados.
Contudo, porque tudo se desenrola à volta do vírus os políticos governantes seguem as opiniões e pareceres dos senhores da OMS, evitando assumir que estamos perante um problema grave de saúde pública como de igual modo envolvidos numa guerra biológica, devendo como tal chamar para a frente de batalha os militares formados e especialistas nas guerras biológicas.
Mas, no nosso reino desde que os militares revoltosos de Abril e Novembro entregaram de mão beijada o poder político executivo à sociedade civil, que os governantes desde então parecem ignorar ou ter medo da instituição militar, não só pelo desinvestimento contínuo, como pelo desprestígio com que a olham e tratam, não admirando pois o abandono a que antigos combatentes que sofrem do stress pós-traumático foram deixados, pelos governantes da democracia que sempre tomam posse jurando sobre a Constituição, para quase de imediato esquecerem o juramento. Alguns políticos deste reino fazem-me lembrar antigos combatentes valentões na palavra de que se apanhassem algum "turra" faziam e aconteciam, para ao caírem na primeira emboscada meterem a cabeça atrás de um árvore e a tremerem descarregarem o carregador sem olhar para onde.
Mas é o que temos e é com estes políticos governantes que temos de seguir lutando contra o evoluir do avanço do vírus.
Não entendo porque não se faz a requisição civil de alguns hospitais ou clínicas privadas para a realização dos testes que não provando tudo ajudariam a ter outra noção do problema bicudo cuja solução ainda nem no horizonte se vislumbra. Mas o partido que nos governa sempre gostou de encher os bolsos a alguns grupos empresariais privados da saúde e não só. Sempre preferiu o capital ao trabalho. Mexer nos interesses de capitalistas privados mesmo que em alturas de crise sempre foi, o partido, historicamente contra, sempre se inclinou mais em defender os interesses dessas famílias capitalistas do que propriamente do país, com a máquina da comunicação social privada e pública unida no meterem-nos medo com possíveis recessões económicas, com a fuga dos investidores estrangeiros etc. etc. Lembremos-nos como estamos a pagar com língua de palmo a não nacionalização dos bens da SLN dona dos bens criados pelo tsunami de vigarices dolosas escondidas que levaram à nacionalização do BPN e, agora mais recentemente a não nacionalização do NB-BES. O meter o passado histórico do partido na gaveta para acordar com os dois partidos da esquerda mais esquerda um acordo parlamentar foi apenas por ambição política do PM, não representando esse momento histórico uma viragem política no seu ADN partidário.
30 mil testes parece e é um número insuficiente a levantar-me dúvidas sobre a qualidade técnica do grupo ou conselho de técnicos que aconselham o PM. Espero que já estejam a chegar muitos mais testes que a guerra vai ser longa e dura. Tão dura que ninguém sabe nem imagina como será a vida na Terra no pós primeira guerra biológica mundial.
Amanhã, espero continuar a sair de manhã pelas sete para dar a minha volta com a minha amiga. Hoje passei a ponte para andar nos trilhos da beira rio. Encontrei não só antigos caminhantes e corredores madrugadores como várias caras novas de gente que estando retidos a trabalhar ou a estudar em casa aproveitam o renascer do dia para exercitarem o físico e a mente.
Amanhã será outro dia e logo se verá… sendo certo que o Sol irá nascer a leste...

terça-feira, 24 de março de 2020

Sexto dia do resto das nossas vidas


E vamos no sexto dia desta emergência. Ontem à noite ouvi com a atenção merecida a entrevista ao PM na TVI. Dos entrevistadores, eram dois, melhor o MST do que o pivot JAC da estação televisiva que com o passar do tempo vai perdendo qualidade. Goste-se ou não se goste politicamente do PM foi mais uma demonstração da sua parte de que quem comanda a situação é ele, ouvindo os pareceres técnicos e decidindo em conformidade, nem sempre como gostaria a sua opinião de político. Fiquei depois a ouvir os comentários. Não consegui aguentar todos. Ainda ouvi o Paulinho das feiras e lavoura, agora com tiques de especialista da indústria e representante dos grandes empresários, lançar o seu veneno corrosivo com ar de especialista democrático, repetindo aquilo que dizem os da sua área ideológica, criticando o tempo em que as medidas foram e estão a ser tomadas. É sempre mais fácil criticar a acção do comandante que cai na emboscada montada por um inimigo invisível sofrendo nela muitas baixas do que comandar na prática as acções para evitar o contacto com inimigo, sendo o actual invisível à vista desarmada. Critica-se as acções do governo advogando o que já se passava em outros cenários, outros países. Lembrei-me que «Se cá nevasse fazia-se cá sky», mas como nem a chuva cai, só fala assim quem aquando ao comando da nação se curvou perante forças estrangeiras e baixando as calças aprovou medidas anti-populares e antipatrioticas de lesa Pátria. Ele, o Paulinho agora grande lobista de empresários e indústria, acabou, levantei-me do sofá e fui continuar a ler "Se Isto É Um Homem" de Primo Levi.
Pela janela vejo que o dia renasceu. O silêncio continua a dominar a rua. Nas janelas dos prédios em frente nem uma luz se vê devem estar ainda descansando das agruras que é estar fechados em casa.
Voltando à entrevista, achei por bem que o PM não tivesse respondido à insinuação de uma reportagem onde se dava conta da falta de material ou da má qualidade do mesmo dado para uso a alguns técnicos da saúde. Se em vez dessa possível verdade o pivot AJC tivesse questionado o PM porque é que por cá nenhum membro do Governo fez ou faz o que um governante francês fez nas televisões pedindo aos seus cidadãos para que quem tenha em casa máscaras as possa ceder aos técnicos de saúde que estão na frente de combate a procurar salvar vidas e precisam delas para poderem continuar a lutar por todos nós. Isso sim seria um bom tema para colocar ao PM em vez das tristes e necrófogas notícias com que martelam os mais ouvintes. Ninguém, nenhum país estava preparado para fazer frente a esta guerra que chegou e nos invadiu em moldes totalmente novos.
Ontem esperava ouvir do PM a notícia de que os militares das Forças Armadas especialistas no combate à guerra biológica já estavam a trabalhar com a DGS, mas apenas ficou no ar a alusão à reactivação do Hospital Militar da Ajuda onde antigamente havia gente especialista e capaz no combate às doenças infecto contagiosas, mas que políticas dos governos do "centrão" desativaram em má hora. Desse tempo, dessas acções e medidas não falou o Paulinho lobista de empresários e da indústria.
São quase sete e está na hora da minha volta matinal.
Volta mais curta como têm sido as de agora. As ruas apresentam-se quase desertas, alguns poucos trabalhadores caminham nelas, quase todos de cabeça baixa. Os autocarros que chegavam ao terminal cheios de alunos e trabalhadores que corriam de imediato para a estação dos comboios suburbanos chegam vazias uns, outras com meia dúzia de passageiros. Gente que ainda trabalha nos seus empregos. O comboio suburbano que chega vindo do Oriente sempre deixava umas centenas de pessoas. Agora pouco mais do que uma dúzia de trabalhadores. Contudo pelas estradas da urbe mais carros circulavam em direcção aos seus presumíveis locais de trabalho. Não é nada fácil a tarefa de combater a infeção contagiosa do covid-19 e ao mesmo tempo procurar que a economia do país não pare totalmente.
Quando viajo habituei-me a fazer o restore de algumas partes da minha vida. Não viajando neste tempo de emergência mas caminhando na manhã serena deste sexto dia lembrei-me do que foi a loucura aquando da gripe das aves. Um outro governo de um PM, hoje mal amada por muitos, uma outra Ministra e um outro Director Geral de Saúde talvez levados pelo medo dos órgãos de comunicação social e pelo facilitismo com que procuraram gerir essa crise por forma a que a sua imagem não saísse desfocada, apressados no tempo gastaram milhões em vacinas que depois não se utilizaram nem se puderam devolver. Às vezes a minha cabeça ainda têm os neurónios da memória oleados e conservados. 
A um comandante pede-se sensatez nas suas decisões e todos sabemos que os actuais governantes são gente de contas certas nem que tenham de fazer cativações nem sempre populares.
Em tempo de guerra não se limpam armas mas, também não há que gastar munições a dar tiros nos pés.

segunda-feira, 23 de março de 2020

Quinto dia dos resto das nossas vidas


Estamos no quinto dia. Já não posso ouvir falar do vírus, dos infectados mais dos que infelizmente não resistem. Só mesmo em tempo de guerra se morre e ninguém da família e amigos se despede na hora de descer à cova ou ao entrar no crematório. Não tenho o culto da morte e nem imagino o sofrimento de quem vê os seus acabarem esta viagem desta forma. Não gosto de ver as estatísticas dos que já faleceram por intervalos de idade. Sei que estou nos intervalos críticos. Os 69 não deixam grande margem. Procuro ter sorte e continuar a minha fuga quer ao vírus quer à morte. Agora nem desço ou subo pelo elevador, vamos pelas escadas. É só um terceiro andar e o subir até faz bem à saúde embora seja mais fácil desce-las.
Hoje na rua pelas sete da manhã com um pouco mais de movimento quer de viaturas, quer de possíveis trabalhadores a caminho dos seus trabalhos. Continuo muito apreensivo ao que se se irá passar com a economia. Não sou daqueles que pensam que à economia o que é da economia e à política o que é da política. Não, para mim todas as medidas que se tomam em termos económicos refletem uma imagem um pensamento político. Economia e Política são dois gémeos siameses que vivem sempre unidos, não se podem separar.
Depois do pequeno almoço tomado a ouvir as tristes e esperadas notícias sobre a situação quer no país quer na Europa e Mundo comecei a mexer nas plantas a limpa-las,algumas a mudar de vaso e por fim a limpar as folhas e caules combatendo a porcaria da cochonilha que é uma praga em algumas das plantas.
Apreensivo mas não em pânico nem borrado de medo.

domingo, 22 de março de 2020

Quarto dia do resto das nossas vidas


E ao quarto dia chegamos a domingo. Um dia normalmente mais calmo mesmo nos tempos de paz. Neste tempo de guerra ao invisível vírus a rua apresentava-se ainda mais deserta do que nos dias anteriores. Há mesma hora de todos os dias, tirando um autocarro de onde desceram duas trabalhadoras do lar de idosos que existe aqui na rua, nem um carro circulava na estrada nacional número dez. O silêncio que reina começa a cansar. Seguimos sem passar a ponte para o outro lado já que vi várias pessoas vestidos a preceito a atravessá-la para irem caminhar e ou correr pelos trilhos. Pensei que chegando ao parque de estacionamento que existe entre a estação do comboio, as paragens dos autocarros e as duas escolas de ensino a podia libertar. Enganei-me. Andava por lá um velho conhecido dos trilhos que gosta de fazer corrida de manutenção para a sua forma física. Regressamos a casa no nosso passo de pastora alemã.
Observo nas redes sociais gente nova falar mal dos mais velhos como eu que andam na rua a passear os seus animais ou simplesmente vão dar o seu passeio higiénico diário. Não os entendo. Saio para a rua pela manhã quando muitos ainda dormem. Ando com umas luvas daquelas usadas nos trabalhos domésticos de limpezas. Fora de casa apenas toco na porta do prédio dos dois lados porque a tenho de abrir quando saio e quando entro. Não uso máscara porque não as tenho e nunca gostei de mascarados, não sendo obrigado não as uso. Quando abro a porta de casa tenho o frasco do álcool à entrada que vai dando para desinfectar as luvas, às vezes até as lavo com sabão antes de passar o álcool. Aqueles que tão mal falam dos velhos que andam a passear os seus animais não sabem, não imaginam o que eles pensam e sentem em relação ao medo da morte, do sofrimento, do mal fadado vírus, que veio por em causa todo o modelo de sociedade onde uma minoria vivia como nababos enquanto a grande maioria iludida-se num viver de faz de conta, muitos deles vegetando para alimentar a esperança de poderem dar e ter um outro modo de vida. Gente que da vida pouco sabem, pouco conhecem pelas facilidades que os mais velhos com suor sangue e lágrimas foram construindo ao longo da história. Gente que na sua possível maioria os mais velhos progenitores lhes facultaram felizmente um crescimento de muitas facilidades pelo que agora quanto ao respeito pelos outros só conhecem "os seus direitos". 
Os mais velhos morrem mais nesta guerra biológica porque pela idade vão-se perdendo as forças da imunidade, pelo próprio passar dos dias vão ficando mais sedentários, mais imobilizados, mais fracos para poderem resistir ao ataque traiçoeiro que o vírus lhes prega.
Eu não tenho medo do vírus, não tenho medo da morte, tenho medo é dos humanos, desses eu tenho medo um medo crescente face à geração de papagaios jornaleiros necrófagos que invadiram os órgãos de comunicação social televisiva. Desses mabecos, dessas hienas falantes vou ficando com medo e, como já não tenho a minha ex-companheira G3 para lhes dar um tiro entre as pernas, irrito-me, chamo-lhes todos os nomes feios do meu íntimo vocabulário de seguida chateado corto-lhes o pio ou levanto-me e vou para outra divisão da casa onde eles não entram. Sim, corto-lhes o pio. Eles não falam, eles e elas piam como os corvos e os grifos, guicham como as hienas quando se babam para degustar um outro animal moribundo.
Mas, voltando ao meu andar pelas ruas desertas ia eu pensando mais uma vez na educação, na vida futura das minhas netas e do meu neto. Como irá ser o futuro deles. Como estará o aprender da minha neta mais velha no sétimo ano e em casa forçada pelo vírus fdp. Não duvido que ela estará estudando e fazendo os seus exercícios. O que me preocupa mais são todos os alunos, bons, médios, sofríveis e maus, em causa sem aulas e muitos deles sem computador ou internet que lhes permita poder estar em contacto com os professores. Pior me sinto quando ouço que há professores que em casa não usam o computador. Depois mal ou bem penso no que ao longo destes anos todos desde Abril74 se fez de errado na educação dos jovens. Desde o se ter acabado com as Escolas Técnicas da Industria e do Comércio porque num devaneio libertador acreditamos que éramos todos iguais e deveriam andar todos a estudar sob a mesma designação de ensino. Que as designações de Liceus e Escolas eram segregações de classe do fascismo-salazarento. Um erro o acabar com as Escolas Técnicas que nenhum político quis assumir. Acabaram com as Escolas ou seja acabaram com a formação de operários especializados para a industria e para os serviços. Mudaram diversas vezes os nomes aos estabelecimentos de ensino, mas isso não deixou de produzir saberes mais teórico do que prático num facilitismo sempre crescente. Durante anos o Estado desenvolveu um método de ensino à distancia porque nem todas as vilas tinham estabelecimentos de ensino oficial de ensino secundário. Durante anos jovens de aldeias e lugares mais isolados aprenderam através da Telescola ou seja um método de ensino onde a televisão funcionava como fonte de explicação. Contudo os partidos que nos têm governado ao longo de todos estes anos e que tantas reformas já fizeram para a Educação, sem grande êxito diga-se, acabaram com a Telescola como forma de ensinar à distancia. Hoje face à situação de guerra contra o vírus professores e alunos vivem uma indefinição do que irá ser o futuro próximo. Se houvesse ainda Telescola todos os alunos iriam continuar a ter a sua matéria para estudar sem esta questão de uns terem acesso à professora por computador e outros não. É que televisão em casa todos têm quase de certeza.
Fico-me por aqui. Amanhã será uma novo dia para ser vivido com esperanças redobradas.

sábado, 21 de março de 2020

Terceiro dia do resto das nossas vidas



Acordei a pensar. Se aquando do aparecimento e conhecimento do desgraçado vírus do HIV "Sida" existissem estes papagaios televisivos que tudo sabem sobre tudo, que hoje nos massacram 24h por dia com as desgraças que o fdp do codiv-19 vai produzindo, será que ainda hoje estaríamos vivos e a combater mais um desgraçado vírus do qual nunca saberemos a verdade sobre a sua origem? Pela vontade dos seus mandantes ocultos talvez já não tivesse direito à vida, tão entusiasmados falam das mortes que o fdp do codiv-19 provoca.
Tenho que sair para a rua que me está a faltar o ar ao pensar nestas coisas que nem eu nem ninguém imaginou que um dia estaríamos a viver. Há que ter paciência e deixá-lo pousar, a fim de que os especialistas sérios que trabalham em stress na rectaguarda do actual combate, possam encontrar a combinação química que lhe possa fazer frente de modo a parar a mortandade que está causando e, o medo que está a paralisar os neurónios a milhões de seres humanos. A sorte deles, papagaios televisivos, é só os ouvir quando estou às refeições. Se fosse obrigado a ouvi-los os aparelhos onde nos massacram já tinham voado.
Vou-me é despachar que tenho mais que fazer. O Lorde já lá deve estar a aguardar o seu pequeno almoço de hoje.
A rua não está totalmente deserta porque está cheia de carros estacionados. Nem viva alma se vê a não ser a minha e a da Sacha. O céu nublado a prometer a chuva que não cai. Terá a chuva medo do vírus? Ou está respeitando o estado de emergência? Grito-lhe para que caia mas não me liga nenhuma. Agora é mais seguro atravessar as estradas nas passadeiras para os peões quer pela quase ausência de trânsito, quer até porque quem circula para e me faz sinal para passarmos. Coisas.
Chegados ao sítio onde ou seguimos pelas ruas da urbe ou atravessamos a ponte para o outro lado da via férrea, hoje ao olhar-me nos olhos logo saltou o separador para podermos fazer a ponte e entrarmos no Trilho da Estação para andarmos. Havia algumas pessoas a andar por lá. Andando para a frente e para trás aguardei que quer os que correm quer os que caminham se afastassem de nós para dar a liberdade total à minha amiga. Correu, saltou, ladrou de satisfação e assim hoje fizemos a primeira ida até aos designados trilhos da beira rio.
Ontem ao ouvir o Primeiro Ministro não desgostei. É o político mais esperto da actual geração de políticos. Goste-se ou não se goste dele, o homem sabe conduzir a sua ambição. Viu-se quando perdeu as eleições e ao ouvir a abertura de outro líder à sua esquerda para uma possível maioria parlamentar, logo mandou o passado histórico do seu partido às urtigas e num golpe político de grande esperteza conquistou o poder que tinha perdido nas urnas, governando os anos do mandato em minoria mas com maioria parlamentar com os outros partidos à sua esquerda. Foi de novo a votos nas urnas e agora ganhou mas sem maioria. Na sua estratégia e ambição não necessita de novos acordos parlamentares. A tal "geringonça" é passado. Governando com minoria parlamentar em forma de concertina viu o novo primeiro orçamento aprovado prometendo alcançar pela primeira vez em democracia um excedente, isto é, as receitas superiores às despesas do Estado. A euforia positiva sempre necessária aos que têm a estrelinha da sorte seguia em pleno com resultados económicos mensais positivos. Mas, como não há bem que sempre dure um desgraçado vírus que começou no oriente está invadindo o Planeta e não só provocando a morte aos mais idosos como paralisou a economia de todos os países. Lá se foi a esperança de podermos alcançar o tal recorde económico nacional. Ontem sobressaiu a vitória do jogo de cintura que terá tido com o Presidente da República e o desejado estado de emergência para muitos dos seus opositores políticos que esperavam ver o país ser gerido a partir de Belém. Equivocaram-se. O Presidente decretou o estado de emergência cedendo em carta branca todos os poderes ao Primeiro Ministro que assim vai gerindo a crise com a música da sua concertina afinada a preceito ontem mais do agrado à esquerda deixando os seus adversários e inimigos políticos a falarem e a uivarem enquanto ele vai gerindo prudentemente as expectativas e a crise sem se comprometer com resultados. Estes só no final.
A Saúde dos cidadãos é fundamental ser defendida. Mas sem economia como se poderá alimentar o Estado Social para se poder defender a Saúde dos cidadãos?

sexta-feira, 20 de março de 2020

Segundo dia do resto de nossas vidas


Vou sair daqui a pouco para cumprir a rotina diária do passeio matinal com a minha amiga, sem esquecer de levar o pequeno almoço ao gato Lorde que já deve lá estar em baixo. De madrugada ao acordar fiquei atento ao silêncio não dando conta do barulho que os veículos fazem ao passarem na estrada nacional. O silêncio parece assustador.
Vou levar luvas e papel das mãos para abrir as portas do elevador e do prédio com a minha mão esquerda. Tenho que disciplinar-me a usar mais esta mão.
Está difícil habituar-me a usar luvas. Não gosto mas…
Tudo fechado. Poucas pessoas nos transportes, alguns emigrantes a caminho do trabalho que não querem perder custe o que custar. Caminham de cabeça baixa, mãos nos bolsos e máscaras de vários formas e tecidos. Enquanto caminhamos pelas ruas quase desertas de vida dou comigo a pensar que União Europeia é esta que na sequência talvez da crise financeira de 2008 e embora com erros próprios dos países do Sul, nos apertou os gasganetes fazendo-nos viver com falta de ar contínua e, quase estrangulou os gregos, para agora perante a ameaça grave do vírus fdp não ter ainda apresentado uma ideia para combate conjunto, colectivo de todos os países ao mesmo codiv-19 fdp, deixando cada país entregues às suas próprias políticas e capacidades. Ignoram fechando os olhos ao que se passa com Itália e os italianos, mais interessados em preocuparem-se ou batendo palmas aos orgasmos neuróticos da velha-trafulha que escolheram para dirigir o Banco Central Europeu. A U.E. qual lacrau preparando-se para o golpe final quando se vê cercado pelo fogo?

Sigo pensando que com tanto medo do vírus codiv-19 vai-se dar cabo do fraco tecido empresarial das médias, pequenas e micro empresas, para no final os promotores do estado de emergência esfregando as mãos nos virem convencer da necessidade de termos um novo-velho professor de finanças públicas para meter os cofres do país na ordem. Os eunucos não desistem e não é por se trem enganado com o anterior professor de finanças que vão desistir de «chupar o sangue fresco da manada» .

Chego a casa e vejo na televisão os porcos sujos e maus jornalistas da televisão anunciarem o começo da Primavera com mau tempo porque poderá chegar a abençoada água da chuva que tanta falta está a fazer aos campos, rios e nascentes. São maus porcos e sujos. 

Quero fugir mas estou confinado às paredes de casa. Encontro no ler os livros o caminho para fugir daquela gente tão venenosa.