E
vamos no sexto dia desta emergência. Ontem à noite ouvi com a
atenção merecida a entrevista ao PM na TVI. Dos entrevistadores,
eram dois, melhor o MST do que o pivot JAC da estação televisiva
que com o passar do tempo vai perdendo qualidade. Goste-se ou não se
goste politicamente do PM foi mais uma demonstração da sua parte de
que quem comanda a situação é ele, ouvindo os pareceres técnicos
e decidindo em conformidade, nem sempre como gostaria a sua opinião
de político. Fiquei depois a ouvir os comentários. Não consegui
aguentar todos.
Ainda
ouvi o Paulinho das feiras e lavoura, agora com tiques de
especialista da indústria e representante dos grandes empresários,
lançar o seu veneno corrosivo com ar de especialista democrático,
repetindo aquilo
que dizem os da sua área ideológica, criticando
o tempo em que as medidas foram e estão a ser tomadas. É sempre
mais fácil criticar a acção do comandante que cai na emboscada
montada por um inimigo invisível sofrendo nela muitas baixas do que
comandar na prática as
acções para evitar o contacto com inimigo, sendo o actual invisível
à vista desarmada.
Critica-se as acções do
governo advogando o que já
se passava em outros cenários, outros países. Lembrei-me
que «Se cá nevasse fazia-se
cá sky»,
mas como nem a chuva cai, só fala assim quem aquando ao comando da
nação se curvou perante forças estrangeiras e baixando
as calças aprovou medidas
anti-populares
e antipatrioticas de lesa Pátria. Ele, o Paulinho agora grande
lobista de empresários e indústria, acabou, levantei-me do sofá e
fui continuar a ler "Se Isto É Um Homem" de Primo Levi.
Pela
janela vejo que o dia renasceu. O silêncio continua a dominar a rua.
Nas janelas dos prédios em frente nem uma luz se vê devem estar
ainda descansando das agruras que é estar fechados em casa.
Voltando
à entrevista, achei por bem que o PM não tivesse respondido à
insinuação de uma reportagem onde se dava conta da falta de
material ou da má qualidade do mesmo dado
para uso a alguns técnicos
da saúde. Se em vez dessa possível verdade o pivot AJC tivesse
questionado o PM porque é que por cá nenhum membro do Governo fez
ou faz o que um governante francês fez nas televisões pedindo aos
seus cidadãos para que quem tenha em casa máscaras as possa ceder
aos técnicos de saúde que estão na frente de combate a procurar
salvar vidas e precisam delas para poderem continuar a lutar por
todos nós. Isso sim seria um bom tema para colocar ao PM em vez das
tristes e necrófogas
notícias com que martelam os mais ouvintes. Ninguém, nenhum país
estava preparado para fazer frente a esta guerra que chegou e nos
invadiu em moldes totalmente novos.
Ontem
esperava ouvir do PM a notícia de que os militares das Forças
Armadas especialistas no combate à guerra biológica já estavam a
trabalhar com a DGS, mas apenas ficou no ar a alusão à reactivação
do Hospital Militar da Ajuda onde antigamente
havia gente especialista
e capaz no combate às
doenças infecto contagiosas, mas que políticas dos
governos do "centrão"
desativaram
em má hora. Desse tempo, dessas
acções e medidas não falou
o Paulinho lobista de
empresários e da indústria.
São
quase sete e está na hora da minha volta matinal.
Volta
mais curta como têm sido as de agora. As ruas apresentam-se quase
desertas, alguns poucos trabalhadores caminham nelas, quase todos de
cabeça baixa. Os autocarros que chegavam ao terminal cheios de
alunos e trabalhadores que corriam de imediato para a estação dos
comboios suburbanos chegam vazias uns,
outras com meia dúzia de
passageiros.
Gente que ainda trabalha nos seus empregos. O comboio suburbano que
chega vindo do Oriente sempre deixava umas centenas de pessoas. Agora
pouco mais do que uma dúzia de trabalhadores. Contudo
pelas estradas da urbe mais carros circulavam em direcção aos seus
presumíveis locais de trabalho. Não é nada
fácil
a tarefa de combater a infeção
contagiosa do covid-19
e ao mesmo tempo procurar que a economia do país não pare
totalmente.
Quando
viajo habituei-me a fazer o restore de algumas partes da minha vida.
Não viajando neste tempo de emergência mas caminhando na manhã
serena deste sexto dia lembrei-me do que foi a loucura aquando da
gripe das aves. Um outro governo de um PM, hoje mal amada por muitos,
uma outra Ministra e um outro Director Geral de Saúde talvez levados
pelo medo dos órgãos de comunicação social e pelo facilitismo com
que procuraram gerir essa crise por forma a que a sua imagem não
saísse desfocada, apressados no tempo gastaram milhões em vacinas
que depois não se utilizaram nem se puderam devolver. Às vezes a
minha cabeça ainda têm os neurónios da memória oleados e
conservados.
A um comandante pede-se sensatez nas suas decisões e
todos sabemos que os actuais governantes são gente de contas certas
nem que tenham de fazer cativações nem sempre populares.
Em tempo de guerra não se limpam armas mas, também não há que gastar munições a dar tiros nos pés.
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