quinta-feira, 26 de março de 2020

Oitavo dia do resto de nossas vidas


Vamos no oitavo dia desta emergência, deste viver confinado às paredes de casa. O medo e o pavor vão tomando conta de um número crescente de seres humanos.
As televisões e os seus mandantes continuam necrófagos. Repórteres ávidos de mortos, de encontrarem casos que correm mal nesta luta global contra o tempo e o inimigo invisível. Eles correm atrás de tudo o que possa pôr em causa o funcionamento das estruturas do Serviço Nacional de Saúde e colateralmente a acção do Governo. Repórteres que talvez tenham sonhado um dia serem jornalistas, correm em busca do tudo o que possa cheirar a "bota abaixo" aguardando quais hienas por uns momentos de ecrã a fim de justificarem perante os chefes sem rosto as míseros tostões que lhes dão em troca dos famigerados recibos verdes, de promessas de um novo contrato de trabalho temporário se continuarem a cumprir os objectivos dados.
Canais televisivos apoiantes e difusores das medidas neoliberais tomadas há poucos anos por outro Governo, o mais liberal de todos os Governos desta Terceira República, constituem hoje não uma fonte de informação isenta, antes comportam-se como uma frente oposicionista não só ao Governo de centro esquerda como vão mais longe na sua cruzada de falsos cavaleiros do regime democrático. São a força mais amiga do vírus fdp.
Sem a presença expansionista do vírus fdp em todos os minutos de emissão, teriam de ter noticiado com outros tempos de antena, a vitória da política levada a cabo pelo Governo anterior sob a batuta de um Ministro das Finanças, goste-se ou não se goste dele e eu não sou seu fã, o "excedente" nas contas públicas foi alcançado. Um feito histórico na nossa democracia sem diminuição do rendimento disponível das famílias.
Teriam, esses mesmos órgãos, de ir noticiando o seguimento de casos em que dirigentes de instituições desportivas assim como agentes desportivos e presumivelmente os próprios desportistas que estão a ser investigados por presumível fuga de impostos e ou branqueamento de capitais, em vez de enaltecerem como agora o fazem, presumíveis ou possíveis acções de caridade de alguns dos investigados anteriormente em presumíveis acções de maus cidadãos.
Contudo, embora o Governo não o admita, não o reconheça, gostando mais em falar de tsunami, estamos num estado de guerra. Uma guerra diferente de todas as que ocorreram no Planeta até hoje. Aqueles que nas guerras passadas eram a retaguarda de todos os exércitos, ocupam hoje a frente avançada de um exército que parece não ter outras forças para combater este inimigo fdp que não sejam os profissionais e técnicos de saúde.
O ADN histórico do partido que nos governa não lhe permite tomar medidas mais restritivas, dando um murro na mesa aos órgãos de comunicação social televisiva, chamando para a frente de combate com a requisição civil as instalações privadas de saúde, exercendo a intervenção do Estado no sistema bancário, para que o sistema financeiro seja um instrumento no apoio mais efectivo quer aos empresários que não fecham as portas das suas empresas, quer aos trabalhadores. Depois de ganha a batalha, não a guerra, haverá tempo para se fazerem as contas, um novo orçamento rectificativo, o devolver as instalações de saúde privadas aos seus proprietários e accionistas, o sair do sistema bancário devolvendo-o aos seus accionistas e gestores. Nestas duas acções devolveria tudo como encontrou no momento da sua intervenção, suportado por auditorias mistas dos privados e da Inspeção Geral de Finanças. Haverá tempo para mudar de vida de objectivos e de nos prepararmos para a próxima batalha que a guerra vai ser dura e longa.
Cloroquina? quem dos antigos combatentes não se lembra deste velho e conhecido comprimido, quando a febre subia, a cama tremia dos tremores do corpo que suava sem parar perante o olhar solidário de todos os outros combatentes. Às vezes a vida era tão dura que o maldito paludismo era desejado que la estava o comprimido cloroquina e a injecção de quinino para o combater, havendo a esperança que não fosse muito forte, mas sempre eram uns dias de cama sem sair para o mato atrás de um outro inimigo, que não conhecíamos mas sabíamos que eram iguais à nós, nossos irmãos de espécie.
Ponho-me a pensar nestas coisas não dando pelo dia que já renasceu sendo já são horas de ir fazer o passeio matinal com a minha amiga. Todos aqueles que não gostam de ver os velhos a passearem os seus animais, não tenham medo do meu passeio, não estou constipado, uso luvas, só toco no interruptor da luz das escadas do prédio e no botão da porta da rua com a ponta da chave de casa abrindo depois a porta com o pé, cruzo-me com alguns trabalhadores mas não nos tocamos, respeitamos-nos cumprimentando-nos e quando chego a casa ainda muitos de vós estão a dormir por se sentirem cansados de estarem em casa a criticarem os outros e a darem tempo de antena às hienas e mabecos televisivos que não param de vos meter o medo entre os vossos neurónios, fomentando mais o vosso egoísmo do que despertando o vosso esquecido sentimento de solidariedade. Deixem de criticar os outros. Procurem antes ser um exemplo de civismo solidário. Deixem de ouvir com os olhos e de ver com os ouvidos.
A vida vai mudar, está a mudar e muitos querem continuar agarrados a um passado que nos trouxe até há umas semanas ou meses atrás, cegos por uma vida consumista sem valores éticos.
Abram a pestana que o futuro nunca foi tão incerto como agora.

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