Ontem
decretaram o estado de emergência e deixaram para hoje a definição
de quais os direitos e garantias que vamos poder usufruir. Assim:
1.
À hora do costume o meu organismo deu o sinal habitual. Acordei.
Levantado olhei no telemóvel as primeiras páginas dos jornais.
Talvez o DN esteja certo pensei. A minha amiga ao ver-me logo se pôs
em posição para lhe fazer as festas habituais na barriga. Lavei-me
e vesti-me. Fui ao frigorífico buscar a comida do gato Lorde e
saímos procurando habituar-me a abrir a porta do elevador e da rua
com a mão esquerda. Não está fácil mas… Na rua o gato Lorde
esperava pelo seu pequeno almoço para depois ir à sua vida de gato
de rua. Nós seguimos pelo caminho habitual das manhãs. A estrada
nacional e as ruas da urbe ainda mais desertas de movimento que nos
dias anteriores. O povo é sereno como um dia disse um tal almirante.
Junto ao nó rodoviário de comboios e autocarros alguns
trabalhadores de cabeça baixa seguiam para o trabalho. Emigrantes na
sua maioria.
2.
Depois do pequeno almoço em casa ouvi de novo as tristes palavras de
um presidente que mostrou aquilo que na verdade sempre foi. Menino
bonito e inteligente muito admirado nos corredores do poder pelas
tias do Movimento Nacional Feminino e outras; todas tias de missa
dominical e mão no peito por todos os pecados que os inimigos do
velho “botas” e do seu santificado regime, queriam impor ao país,
uns verdadeiros desordeiros, malfeitores que queriam destruir a santa
trilogia de «Deus, Pátria e Família». E, assim o menino
inteligente e tão belo para as santas tias do regime não teve
necessidade de cumprir o serviço militar, que isso era coisa para os
filhos dos pobres e remediados. A ele estavam predestinados outros
voos muito mais nobres do que ter de andar a rastejar na lama, a
sujar-se, a cheirar mal, a comer os enlatados das famosas rações de
combate… a possivelmente ter de ouvir o barulho das espingardas,
que elas só gostavam de filmes românticos nem viam esses filmes de
guerra com aquelas cenas horríveis dos tiros. Por tudo isso e mais o
resto, ontem pareceu nos ecrãs televisivos depois de se ter
ausentado do seu posto de comando sem um ai nem um ui. Apareceu
parecendo querer ressuscitar as «conversas em família» de um seu
amigo de família embora bastante mais velho. Conversas coloridas a
preto e branco de um cinzento mais escuro que o escuro sem futuro.
Falou, falou mas aos costumes disse pouco mais que nada.
3.
Cabe-me
aqui recordar que no que diz respeito a eleições presidenciais. Não
fui votar numa delas, em outra votei útil e nas restantes só estive
com o vencedor em duas para eleger Jorge Sampaio, em todas as outras
restantes
eleições
estive
sempre com os perdedores; nas que elegeram o senhor de
agora estive
com o candidato Henrique Neto que ficou em último ou penúltimo.
Porque entre um político e um empresário sempre escolherei
para presidente o lado que mais contribuiu para a criação de valor
acrescentado da
riqueza do
meu país. Sou por tudo e mais alguma coisa, um desalinhado
consciente e sem possibilidade de reconversão, que prefere
um Estado forte e exemplar na prestação dos serviços públicos à
sua população. Não falo em povo porque não gosto dessa palavra.
Depois de o ouvir de
novo senhor
presidente,
voltei
a ficar irritado, consigo
e com o rebanho
ou a manda
de políticos que lhe fazem a corte para
usufruírem de mais umas mordomias.
4.
Estava
programado ir ao supermercado comprarmos
umas bananas e se por lá houvesse luvas descartáveis comprávamos
algumas.
Chegámos ao supermercado ALDI por volta das nove e quinze. Só
deixavam entrar pessoas que fossem técnicos de saúde, das forças
de segurança ou bombeiros. Achei
uma medida acertada.
Para o publico em geral só às dez da manhã. Como era cedo
decidimos ir ao outro lado da urbe ver como estava o Pingo Doce.
Passámos pelo LIDL, pelo
Continente
e pelo Jumbo e quer num quer noutro vimos pessoas aguardando na rua.
Chegados ao Pingo Doce o mesmo cenário, a bicha ordenada
prolongava-se pelo passeio pois a loja só abre às dez. Enquanto
aguardava na bicha que chegasse a vez de entrarmos
fui escrevendo o que acima ficou dito. As pessoas iam chegando e a
bicha alongando-se.
Tudo ordeiramente sem atropelos ou “xicos espertos”. Três carro
de patrulha da polícia passaram por lá devagar. Ninguém comentou
nada. Eles olhavam para nós e nós olhávamos para eles. Tudo calmo
que o povo é sereno e ordeiro. Fiquei
na dúvida se a passagem das patrulhas era por nossa causa ou se por
causa da loja do AKI estar aberta, pois não sei se a mesma se
enquadra no conceito de imprescindível, embora para quem trabalha na
construção civil o possa ser. Feitas as compras voltámos. Nas
bombas do Jumbo lá estavam os carros a abastecer, passámos devagar
e observei que a quase totalidade eram pessoas com
idade de não trabalharem. Abasteciam talvez com medo que o
combustível lhes falte por não poderem utilizar a viatura que
nestes dias de emergência decretada a circulação fica
condicionada, mas para quem vive obcecado pelo medo tudo faz
sem lógica.
5.
Continuo
à espera de saber quais são os limites que irão vigorar neste
triste estado de emergência que o senhor presidente teve necessidade
de declarar para agradar a alguns dos seus correligionários. As
coisas estavam a andar serenamente a pouco e pouco todos os dias
menos gente na rua encontrava quando dou a volta com a minha amiga
pastora alemã que ainda não entendeu o porque de não fazermos as
nossas caminhadas de quilómetros para ela poder correr e dar largas
à sua enorme energia. Não observei nunca pessoas juntas umas com as
outras. Talvez o que mais estranhava era ver cafés e pastelarias
abertas, mas por outro lado compreendo que mesmo com poucas pessoas a
irem apanhar o comboio sempre poderiam fazer algum negócio para
fazer frente aos elevados custos da energia que têm de suportar,
para não falar no custo e encargos com o pessoal se o negócio não
for familiar. Por mais que queira entender a razão desta declaração
de estado de emergência há sempre curto-circuito nos meus neurónios
que não me deixam ver o porque.
6.
Como afirmei lá atrás sou defensor de um Estado forte mas
democrático que para mim bastaram os vinte e três anos e uns
meses que vivi sob uma ditadura asfixiante e perversa criada pelo
velho “botas” sendo
depois mantida pelo velho “professor”.
Para
termos um Estado forte e democrático temos de ter a economia a
funcionar de modo a que se crie riqueza para com ela alimentarmos as
funções sociais do Estado Social que defendo e que o senhor
presidente sabe tão bem quanto eu, que o actual Estado Social é
devido ao abençoado golpe militar anticonstitucional do 25 de Abril
de 1974. Um golpe de mão certeiro que logo teve o apoio da
população deste país farta de viver na pobreza material e das
ideias . Ambos sabemos senhor presidente que há quem não concorde
com o que acabo de escrever, e muito menos com as liberdades e
direitos democráticos
existentes sufragados por uma Constituição que na data da sua
aprovação era das mais modernas do dito mundo ocidental onde mos
inserimos.
7.
Vivemos os últimos tempos ameaçados por um ainda não conhecido
cientificamente vírus denominado Covid-19. Um vírus diferente de
todos os outros que ao longo dos anos fomos enfrentando. E ele é
diferente porque está a afectar a economia de todos os países do
Planeta como nenhum outro o fez, nem a crise financeira de 2008
provocou tanto mal às pessoas e à economia dos países. Nessa tal
crise de 2008 as instituições financeiras que pautavam a sua
actividade numa especulação vigarista, não ocasionaram que o mundo
das empresas na sua globalidade parasse a sua actividade, como este
pequeno vírus está a causar. Não é difícil afirmar, nem é
preciso ser bruxo para dizermos que o futuro que sempre foi incerto o
é hoje mais incerto que nunca, ou que nada voltará a ser como
dantes nas nossas relações humanas e empresariais. O
Senhor Presidente depois de se ausentar do seu posto de comando
voltou indeciso dando uma
imagem do porque da sua ausência desse mesmo posto. Entre a
declaração do estado de emergência pedidas por políticos e
comentadores mais à direita politicamente horas a fio nos canais
televisivos costumeiros e a posição do líder do Governo que
parecia ter duvidas se era esse o melhor caminho para fazer frente a
pandemia causada pelo vírus, o Senhor Presidente homem inteligente
resolveu a crise decretando esse tal estado de emergência mas
cedendo ao Governo a definição dos limites desse mesmo estado de
emergência, numa
carta branca que aguardamos conhecer.
8.
A saúde é o maior bem que cada um de nós tem individualmente. Não
se discute este tema. O nosso SNS que tão bons serviços tem
prestado aos cidadãos deste país, tem por medidas de política
económica neoliberal sofrido muitos golpes traiçoeiros por forma a
ter de sobreviver continuamente sub orçamentado. Este viver
continuamente sub financiado por via orçamental obedece a
pensamentos políticos que preferem o exercício da medicina privada
alimentada por seguros ao serviço universal. O codiv-19 veio
mostrar à evidência os benefícios e as vantagens de termos o SNS a
funcionar mesmo com muitos dos problemas que são de todos
conhecidos.
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