sábado, 20 de outubro de 2018

Penamacor


Ingleses em idade activa compram casas e quintas em Penamacor e já representam quase 10% da população do concelho mais envelhecidos país”.
Estava eu tomando o pequeno almoço quando a palavra Penamacor me redobrou a atenção porque faz parte da zona raiana da Beira Baixa.
Porque será que os cidadãos das Ilhas Britânicas compram aquilo que os portugueses têm mas não querem ou se interessam por neles viverem? Não estamos a falar de cidadãos reformados ou aposentados como os que se vão instalando no reino do Algarve, os que estão a chegar a Penamacor são mulheres e homens em idade activa, que como a reportagem mostrou, trabalham, exercem uma actividade ao mesmo tempo que querem ter uma vida simples que lhes traga a calma e a felicidade que ali encontram.
Coisas que vão acontecendo e quase não damos por elas, tão inebriados andamos com as histórias à volta do pontapé na bola, com a prisão de foragidos, com os detalhes do assassinato do triatleta, com as presumíveis falhas político-militares de e em Tancos, e por fim com a forma como alguns tentam azedar a proposta doce do O.E. para o próximo ano.
Que todos os cidadãos estrangeiros ou nacionais que trocam a vida do chamado mundo moderno pela vida calma e simples nas terras raianas de Penamacor e Idanha a Nova, possam ter ou continuarem a ter êxito na sua vida activa, para que sejam um exemplo para todos os que vivem frustrados com o corre corre da vida nas cidades do tal mundo dito moderno.

Política


Apetece-me falar de política, embora todos os nossos actos e omissões sejam sinais políticos, mesmo quando nos mantemos calados e em silêncio. Com o desenvolvimento económico e social do capitalismo, as relações humanas entre os que empreendem e gerem, e, os que trabalham sob a hierarquia dos detentores ou representantes do capital, foram encontrando modos de coabitação social, não deixando de haver pensamentos políticos de direita, de esquerda e outros mais moderados (a maioria) penso eu de quê...
Olhando para a Proposta de Orçamento de Estado como seria de esperar, tem também como objectivo o “adoçar da cama” ao cidadão eleitor, já que no próximo ano haverá eleições. Normalíssimo em política.
Conjuga a proposta de orçamento dois ou três objectivos, o eleitoral sem perder de vista o controle do deficit e o crescimento da economia.
Dizem os opositores que o crescimento previsto é anémico e em divergência com os países mais desenvolvidos da União Europeia, mas não apresentam ideias ou medidas alternativas de como obter um maior crescimento económico, com o controle do deficit em conjugação com o aumento do rendimento disponível das famílias.
Viram-se os opositores para a Dívida Publica que vai continuar para lá dos limites razoáveis, recusando-se eles e os que governam a entenderem-se como controlar a divida publica, pois esta é o resultado da soma algébrica de todas as outras medidas políticas tomadas, e enquanto gastarmos mais do que produzimos teremos de ter Divida Publica. O problema não é ter Divida Publica, porque essa sempre existiu desde que há memória de Contas Publicas. O problema consiste em como contorna-la e traze-la para níveis aceitáveis de independência face aos tornados e furacões que possam ocorrer na economia do Planeta.
Resta aos opositores a questão das reformas, agarrando-se a cenários de que um cidadão com 60 anos de idade e 40 de descontos se possa reformar sem o tal factor de penalização existente, e que se depois um trabalhador tiver 63 anos de idade e 42 anos de descontos já não poderá reformar-se e terá de trabalhar até aos 66 e 5 meses, criando-se desse modo cidadãos de primeira e segunda face à lei. Pegam nestas coisas para fazer ruído, esquecendo que o principal objectivo é ter uma Segurança Social que seja sustentável face às expectativas futuras “trabalhador activo” versus “esperança de vida”. Esquecem-se alguns daqueles que fazem ruído com este tema, que ao fim destes anos de Geringonça, as reformas foram sendo ajustadas com pequenos aumentos é certo, mas que se não existisse a Geringonça os “oposicionistas troikanos” tinham como medida de ajuste para o deficit orçamental um corte nas pensões de 600 milhões a ser suportado pelos que nestes últimos anos viram o seu rendimento descongelado e aumentado.
Há pois formas diferentes de gerir a economia do País, consoante o pensamento político se possa considerar mais à direita, mais ao centro ou mais à esquerda.
Pode-se gostar ou não desta forma Governativa, pode-se gostar ou não da figura do Ministro das Finanças (de que alguns iluminados troikanos tanto riram no início), mas pensemos um pouco, há quantos anos não somos metralhados com Orçamentos Retificativos, há quantos anos o deficit estimado é alcançado com pequenas divergências justificadas e justificáveis? Eu que sou um critico à forma como o Ministério das Finanças gera as cativações, tenho que reconhecer os méritos e tirar-lhes o chapéu.
Que as políticas podiam ser diferentes, claro que sim. Cada um de nós pensa de acordo com as suas ideias e desejos, mas face ao colectivo do país que somos e da União Europeia a que pertencemos, há que respeitar os homens que decidem, estejamos ou não em sintonia com os seus princípios políticos. Resta-nos o voto para expressarmos o nosso sentimento de apoio, recusa ou indiferença.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

A noite de 15 Outubro


Hoje não é propriamente a primeira noite. Já lá vão uns anos. Nessa noite, ignorante como sou nestas coisas de saúde-doença, estava a ficar maluco com a vontade de urinar e não conseguia. A minha sorte foi a chegada da “night” da Joana e do Paulo, e perante o aumento constante das dores, disse-lhes para me levarem ao Hospital São Francisco Xavier, onde cheguei louco de dores. Enquanto eles se dirigiram ao guiché para as burocracias da ordem, entrei por ali adentro em busca do médico. Este olhou para mim e numa calma incrível diagnosticou uma cólica renal, mandando-me urinar para um tubo de ensaio e depois ir fazer um raio x, fiquei louco a olhar para ele até que o enfermeiro me disse para ir e ligar a torneira do lavatório, eureka la urinei para o tubinho. Naquela noite nas urgências presenciei cenas que poderiam entrar numa daquelas séries de médicos e hospitais.
A partir do momento em que chegaram acidentados de um desastre de automóvel, alguns com fraturas expostas, médico, enfermeiros e auxiliares numa azáfama gritando uns e outros, ordens e pedidos, até que lá do fundo do corredor alguém gritou “coma alcoólico” saindo o médico disparado para ocorrer à jovem (segundo me disse depois a minha filha). Enquanto tudo aquilo se passava tinha sofrido uma segunda crise com uma linda enfermeira a injetar-me na veia o buscopan. A linda num ápice transformou-se em má e feia pois perante o pedido de ajuda de uma outra enfermeira para acudir a um dos acidentados, ela negou-se porque se o fizesse não saía à sua hora.
O médico sempre ocorrendo aqui e ali dá-me alta entregando-me os resultados dos exames, pergunto-lhe eu se podia sair com o cateter na veia, o homem estava esgotado de tal modo que mal cheguei a casa em Linda a Velha já ele me ligava para saber se não me tinha dado a alta e os exames de um outro doente por engano.
Hoje a noite aqui no HVFX vai ser longa e muito diferente, basta não estar nas urgências e este ser um hospital de segunda linha. Depois de ter efectuado à hora certa a confirmação da minha presença, aguardei que vagasse uma cama. Quis o destino ou a sina que viesse parar à mesma cama onde aquando da outra intervenção cirúrgica tinha estado umas horas a aguardar a alta.
O meu companheiro de quarto mais velho que eu uns anos, está bastante queixoso, caiu partiu umas costelas e afectou a coluna, estando sempre na mesma posição o que para os seus 86 anos não é fácil. Já me serviram o jantar no quarto, como não sou má boca não me queixo da comida sem sal, já estou habituado a esquecer-me de temperar a comida com sal, assim não estranhei muito. Pior era o raio da televisão com aqueles programas muito educativos, mas felizmente ele já a desligou depois de me perguntar se eu queria continuar com ela ligada. Agora é deixar o tempo andar até que a manhã chegue e me levem para o bloco. Pelo caminho irei entregar a alma ao criador, já que o corpo esse fica à mercê do jovem médico com quem criei empatia e em quem confio.
(A 16 de Outubro...quis o destino ou a greve dos enfermeiros do bloco, que tenha de passar outra noite no hospital a aguardar a cirurgia. Já estou mentalizado há meses por isso há que ter calma e confiar no Serviço Nacional de Saúde. Por duas vezes recusei a oferta de poder ser operado em hospitais privados como me propuseram).

Ponte de Segura


 O senhor Ministro não saberá, nem tão pouco o seu Chefe de Gabinete saberá, que esta ponte existe como fronteira entre Portugal e Espanha, que ela foi inicialmente construída pelos Romanos quando estes viveram na Península Ibérica, fazendo talvez parte da estrada que ligava Mérida a Santiago de Compostela. Por aqui entraram tropas de Junot na primeira invasão francesa, e outras de Castela nas guerras peninsulares, saiba pois senhor Ministro a importância que estas pedras guardam em si.

Foi fronteira desde sempre pois aquando da fundação deste nosso País por D. Afonso Henriques e seus filhos, nossos reis, já Segura existia integrando a antiga Egitânia. Se o senhor Ministro não percebe do que estou falando pergunte à sua colega que saiba de História, talvez possa compreender um pouco das minhas palavras.
Mas, não se incomode nem preocupe senhor Ministro porque não é o primeiro ministro a desconhecer as necessidades desta ponte histórica, antes de si já outros Ministros nada fizeram para que esta ponte recebesse as obras de manutenção de que necessita. Hoje ainda passam nela veículos automóveis, já que esta interdita a veículos pesados, mas mesmo assim o acordo com Espanha para a sua manutenção impõe-se.
Eu sei que o assunto não é directamente consigo senhor Ministro, que a responsabilidade de manutenção da rede viária e ferroviária é da empresa publica Infraestruturas de Portugal EP, mas como já o vi várias vezes a anunciar a recuperação do troço de linha férrea entre a Covilhã e a Guarda, talvez possa também mandar olhar para esta ponte centenária e histórica, pedindo ao seu colega a disponibilidade efetiva das verbas necessárias.

O Tempo


 O tempo, esta medida que um dia foi imaginada e aceite como verdade por todos os “sapiens” onde nos incluímos, não nos perdoa o nosso próprio desenvolvimento fazendo-nos crescer, amadurecer, e por mais que não nos seja simpático aceitar, envelhecer. 
Com o envelhecimento chegam novos medos, novas preocupações, parecendo que o tempo voa mais rápido do que na verdade acontece. Ele é uma constante quase invariável, que um povo de nome sumérios entre os anos 3500 e 3000 a.C. nos legou com a divisão do dia em 24 horas. Nós é que o imaginamos correndo com medo inconsciente de chegarmos ao fim desta nossa viagem.
Com os conceitos que ao longo da existência histórica os “sapiens” foram criando e tomando como verdades absolutas a respeitar, chegamos a esta etapa da vida em que, sem sabermos bem o porque nos classificamos e aceitamos de grisalhos.
No alto da duna frente ao mar ou na planície raiana da antiga terra dos “zebros”, olhando para trás para o tempo vivido tenho saudades do futuro. Saudades a cada dia mais apreensivas, mas não deixo de ter uma réstia de esperança de que as nuvens negras que pairam sobre a nossa civilização sejam apenas nuvens de passagem e não tempestades permanentes.
O que nós andamos para aqui chegarmos, não pode, não deve ter marcha a trás, as conquistas sociais sobre a igualdade de género, o bem estar social e a paz alcançada desde a fundação do que é hoje a União Europeia, são um Património Colectivo deste designado Velho Continente, que têm de forçosamente serem salvaguardados, para o bem dos nossos netos, bisnetos e vindouros.


quinta-feira, 11 de outubro de 2018

11 de Outubro de 1923


11 de Outubro de 1923, eis outro dia que permanece na memória viva dos meus neurónios. Hoje é um dos teus dias, nasceste na terra longínqua da Zebreira, tu a primeira dos três filhos que meus avós deram à vida. Mas se na Zebreira nasceste, foste criada em Salvaterra do Extremo e a Segura foste casar até que um dia entre a Zebreira e Castelo Branco quando seguias para mais uma sessão de fisioterapia deixaste esta viagem, e já lá vão quase dezanove anos.
Hoje o dia ainda era escuro quando saí com a nossa amiga para o passeio matinal, sentindo assim que passei a porta da rua que o tempo estava húmido a fazer adivinhar a chuva prometida pelos homens das previsões do tempo, e, a prometida chegou de mansinho ainda não tínhamos andado cem metros com pingos certos sem vento, como que a saudar-nos. Não foram muitos mas deu para lembrar-me de um dia lá longe quando vivíamos no Lugar da Estrada e andávamos na Escola em Peniche no curso comercial. Já deveria ter mudado a hora pois naquela tarde ao acabarem as aulas pelas seis da tarde já era noite. Uma noite cujos céus estavam negros a ameaçarem chuva forte. O mano e outros decidiram ir apanhar a carreira dos Claras que saía de Peniche para os Bolhos às sete, enquanto que eu e o Justo decidimos por-mo-nos ao caminho nas nossas bicicletas. Mal tínhamos passado os portões de Peniche começou a chover uma chuva forte e nós sem oleados lá íamos pedalando um atrás outro à frente, mas a meio do Bairro do Fialho passou por nós uma carrinha de caixa aberta que conheceu o Justo e lhe deu boleia, ficando eu sozinho contra a chuva, só o vento não era de frente, do mal o menos, já que a chuva era tanta que o dínamo que produzia a electricidade para me alumiar a estrada começou a patinar e a deixar de funcionar. Nem a Polícia de Viação e Transito abrigada da chuva no cruzamento para o Casal da Vala se incomodou com o meu pedalar às escuras. Só o conhecer da estrada todos os dias pedalada auxiliado pela luz dos constantes relâmpagos, já que nem viva alma por mim passou, naquele dia noite não me deixaram sair da estrada, até que que chegado casa feito pinto até os ossos estavam molhados, mas logo me aqueceste com teu carinho e amor, mãe. Tantas são as memórias que é impossível esquecer quem tanto nos quis e tanto nos deu. 
Mesmo depois de vocês terem voltado para a Zebreira a tua preocupação em procurares teres sempre uma galinha a chocar ovos, ou uma coelha gravida, para que as netas ao estarem aí nas férias pudessem assistir ao nascimento quer dos pintos ou patos, quer dos coelhinhos e ficarem a saber que na natureza tudo se cria, tua se transforma e não digo que nada se perde, porque agora mãe, há “sapiens” que querem demonstrar que também é possível que tudo se perde.
E para acabar esta carta que te escrevo neste teu dia, digo-te mãe que o telefonema que à meses esperava chegou-me à poucos minutos.
Fica bem onde estiveres, que eu fico com o teu sorriso.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

8 e Outubro de 1899


8 e Outubro de 1899, um dia importante na minha vida. Sim, importante, mais do que muitos outros que ao longo da minha existência foram celebrados por isto ou por aquilo. Há muitos anos, no quase final do século dezanove nasceste e sobreviveste nas terras raianas de Idanha a Nova, para mais tarde dares à luz e procriares teus três filhos com amor e paciência.
Muitas vezes me questionei avó, como é que tu uma mulher tão bonita aos meus olhos, foste gostar de um homem que não era bonito e sempre o conheci azedo. Também gostava dele, mas o gostar de ti era diferente de todos os outros gostares, via-te sempre bonita e eras uma mulher grande tão grande que quando vi a tua altura no teu bilhete de identidade, que agora guardo religiosamente, nem queria acreditar, pois de certeza quase absoluta o teu 1,55m eram uma outra medida de comprimento, e não a que conheço hoje.
Depois, com o passar dos anos, do cair e do levantar face às curvas, subidas, descidas e falhas na vida, aprendi que o amor acontece, e quando tal se dá pouco nos importa se o outro tem uma cicatriz na face, se é alto ou baixo, magro ou gordo, talvez porque o amor seja cego, surdo e mudo exigindo dos amantes o culto vitalício da paciência, o que nem sempre está ao alcance de todos.
Por isso ao olhar que dia era hoje, vi a razão porque me sentia especial neste dia. Não te escrevo em papel de carta, como fazíamos antigamente, que isso hoje já quase que não se usa, já quase que não há carteiros, depois também não saberia escrever a tua morada no envelope porque tu vives num além presente na minha memória, na minha saudade, e moras guardada no meu ADN, no sangue que me corre nas veias bombeado pelo coração irrigando e conservando o cérebro onde tens imagem vitalícia. 
Sem saber para onde enviar-te estas notas de saudade, de recordações, vou guardar-las numa destas nuvens modernas, para que um dia quem sabe a possamos procurar nos céus, e sentados nela, possamos observar como irá a vida terrena, ao mesmo tempo que outros possam ler e lembrarem-se também do amor que aqueles que já partiram desta viagem um dia lhes deram.


sábado, 6 de outubro de 2018

Num sábado à tarde


Não sei se o Ronaldo é culpado ou não, mas sei que não direi uma palavra em seu desabono, já que tenho as minhas duvidas sobre esta deriva justiceira à volta do sexo e ainda mais destes movimentos tipo MeToo, às quais acrescento o azedume de vingança madrileno.
Assim como, também ano após ano passo ao lado dos laureados com o prémio Nobel. São tantos os jogos de bastidores e o dinheiro que anda à volta do prémio, que ano após ano passo ao lado.
Na guerra, em todas as guerras que os “Sapiens” promoveram entre si, sempre houve e vai continuar a haver violência sexual sobre os vencidos e populações indefesas. Só quem nunca esteve num campo de batalha pode pensar que essa violência vai deixar de existir, porque numa qualquer cidade em paz há manifestações contra a violência na guerra empunhando cartazes “Make Love Not War”...
Numa guerra, mata-se para não ser morto, vence-se para não ser vencido, valendo tudo incluindo o tirar olhos ao inimigo. Os teóricos, os que vivem as guerras em salões, os que nunca sentiram os pintelhos do cu a bater palmas, podem fazer ilustres discursos, nos salões do poder, nas televisões amigas, mas lá onde a adrenalina corre nas veias a mil, onde a pressão arterial é hiper ou hipo, os que combatem não os ouvem e fazem o que nunca imaginaram fazer.
Vejo jovens portuguesas e portugueses falarem dos abusos que se cometem nas frentes de batalha de uma qualquer guerra, e fico a pensar se por acaso eles tem a consciência do que os seus pais ou avós passaram e fizeram um dia nas guerras em África. Tenho a certeza que muitos deles teriam outra conversa, já que o grande problema a resolver é o porque da necessidade da guerra entre seres humanos, já que depois a violência fica à solta... 
 Não sou contra as greves que se vão realizando pelas corporações que vivem à volta das saias do Estado. Não sou contra mas também não as percebo. Gostava de ver esses movimentos de massas em luta por um melhor ensino, por uma melhor prestação de serviços na saúde, na segurança e nos transportes, sem envolverem vantagens pecuniárias directas ou indirectas. Gostava de ter ouvido o líder do maior partido da oposição dizer na sua entrevista que os quadros superiores do Estado deveriam ter não só melhor remuneração, mas também exclusividade a 100% não podendo exercer outra actividade paralela ou complementar com as suas funções no Estado, mas ficou-se só pelo que lhe pode dar mais uns votos.
Não entendo os políticos. Cada vez me sinto mais longe dos seus comportamentos. O exemplo do Ministro Jorge Coelho foi caso único. Com a sua demissão defendeu o Governo de então e não sendo ele o culpado directo da queda da ponte deu um exemplo que hoje penso, as águas revoltas do Douro levaram para bem longe. Tão longe que raro foi o político que lhe seguiu o exemplo. Assim, preferem deixar-se cozinhar em lume brando pelos especialistas justiceiros da comunicação social que temos, do que libertarem a equipa governativa de que fazem parte, do incomodo e ruído continuo, de modo a que a Justiça possa fazer o seu trabalho sem ruído nem especulações.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Tancos uma história triste


Duvido que os militares responsáveis da PJM tenha agido por conta própria, sem terem recebido ordens ou não terem comunicado superiormente os planos de acção face à triste, vergonhosa e desprestigiante defesa de um paiol em Tancos. Tenho a liberdade de duvidar!
Assim como o poder civil desde a extinção do Conselho da Revolução, nunca foi capaz de olhar para os antigos combatentes que necessitavam de ajuda psicológica face aos traumas sofridos nas guerras em África a defenderem o então conceito de Pátria do Minho até Timor, foi o mesmo poder civil, independente das filosofias políticas, governando e controlando as Forças Armadas por forma a que as mesmas voltassem a serem fieis, submissas e ordeiras face ao poder civil de Belém a S. Bento, como antes do desvio revolucionário de alguns capitães que estiveram na origem do 25 de Abril.
Paulatinamente a nova “Brigada de Reumático” foi-se instalando, ficando os ainda resistentes de Abril confinados a irem a S. Bento ao Parlamento uma vez por ano, homenagearem a Democracia detida pelo poder da sociedade civil.
Tudo isto pelas imagens constantes que passam em alguns canais televisivos, representativos da sociedade civil em azia crónica à tal “Geringonça” (que não governa mas mantêm o actual Governo) sobre o caso de Tancos e o ênfase dado à prisão preventiva dos militares da PJM julgando-os, enxovalhando-os na praça publica das suas audiências, antes de ser conhecida a acusação do MP e do julgamento dos próprios nos Tribunais se tal se verificar, é triste e cheira-me a mofo nauseabundo de velhos saudosistas para os quais não basta a actual “Brigada de Generais” submissos e curvados às suas mordomias, querem sempre mais os “eunucos”...
Esta aliança dos inquisidores do MP e da PJ, com alguns dos meios de comunicação com mais audiências contra a própria PJM será mais uma etapa que no curto médio prazo visa o apagar de uma página histórica do nosso passado recente a exemplo daquilo que os burocratas liberais e populares de Bruxelas querem fazer com a história dos descobrimentos pelos nossos antepassados.
(Quando militar na guerra em Angola fui sem nomeação oficial o alferes miliciano da minha companhia com a função de PJM experiência que não me serviu de nada quando um dia ainda procurei entrar na PJ sem sucesso).
https://www.youtube.com/watch?v=3kvcRBn9HOQ

Passado e Futuro

Não nasci por aqui, e antes de aqui chegar ainda andei uns anos por Ferrel - Baleal. Foi contudo por aqui Lugar da Estrada – Consolação que estive mais anos enquanto jovem. Depois as voltas da vida levaram-me por outros lados, outras paragens, outras voltas.
Nas voltas da vida quis um ano que deixasse as férias no Algarve da Ria Formosa e aqui voltasse. Foi como que o renascer de raízes e já lá vão trinta e quatro anos. Sempre que posso é por aqui que gosto de espraiar a vista, largar o pensamento no horizonte infinito, sentir o vento norte entrar-me pelas narinas e pelos ouvidos como que a querer dizer-me coisas que não entendo.
Mas se o mar me chama com o bater nas rochas e na areia, também gosto de estar no outro lado da fronteira na zona raiana de Idanha a Nova junto à Extremadura Espanhola, onde tenho outras raízes e o mar se transforma em planícies de campos ora verdes ora alourados de secura, o vento é outro, ora quente e seco para depois se transformar em frio gelado, onde as oliveiras, azinheiras, sobreiros, giestas e estevas nos fazem companhia, num ambiente muito diferente do ambiente moderado penicheiro.
De um lado ao outro das duas fronteiras vivo, pelo meio as cidades que a cada dia me vão dizendo menos a ponto de não saber se nelas vivo ou sobrevivo, nem o vento que nelas sopra comunica comigo, nem o frio ou o calor quando chegam são sentidos como amigos.

É entre estes dois mundos tão perto um do outro e tão diferentes, que um dia quando esta viagem acabar e me transformar em cinzas irei repousar, com uma parte a ser entregue ao mar na maré vazante no Porto Batel (sem pagamentos de taxas oficiais), e, a outra metade a ser colocada junto a uma das oliveiras dos meus antepassados na Zebreira.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

120918

 120918
Hoje, ao ir a Espanha abastecer o carro para voltar à cidade grande, vi junto à paragem da carreira, duas senhoras com mais uns anitos que eu, e como seguia devagar deu para olhar para os volumes, sacos de viagem, que estavam junto a elas e lembrei-me não só de te ir esperar a Santa Apolónia ao comboio da Beira Baixa, onde a característica dos mais idosos era o numero de volume que traziam comparado com o número de braços disponíveis. Depois, já em plena auto-estrada relembrei a cena que era nos idos anos cinquenta e sessenta do século passado o regresso de férias logo a 
seguir à festa de Nossa Senhora da Piedade, a guerra para apanhar lugar na carreira, mas antes a guerra para colocar os volumes todos juntos em cima da carreira, porque nesse tempo tudo ia para lá para cima, tudo numa despedida corrida com o avô Chico Capelo sempre com ar de zangado a fumar o seu cigarro kentucky, tu e a avó com a lágrima ao canto do olho, eu e o mano meio ensonados e meio perdidos naquela azafama para que não ficássemos em terra sem lugar na carreira; depois outra guerra em Castelo Branco para ir da estação da carreira para a estação do comboio, o arrumar os volumes todos na carruagem de terceira classe onde depois tentavas que um de nós passasse com menos idade do que tínhamos, para assim poderes poupar uns escudos. Comboio a vapor e depois a diesel, que parava em todas as estações e mais algumas, os bancos de madeira ergonómicos e confortáveis de suma-a-pau, as janelas abertas para funcionarem como ar condicionado por onde por vezes entravam a sujidade que a maquina largava, viagens intermináveis essas até chegarmos à estação dos Olivais que hoje já não existe e depois à de Santarém. Na estação salvo erro de Alvega - Ortiga lá estavam as mulheres a venderem as bilhas de barro com água fresquinha sem ser do frigorífico (já que, frigorífico era um bem de luxo nesse tempo de reinado dos “Botas”).

Hoje, felizmente para a maioria que utiliza os transportes públicos tudo esta de tal modo melhor que não é justo fazer comparações entre o antes e o agora. A maioria vai e vem de carro, porque o carro é também uma imagem que se dá, às vezes de uma vida que não se têm, mas é melhor ter e parecer do que ser, uma regra desta forma de se viver hoje e que muitos e muitos seguem sem parar para pensar um pouco no porque de ser assim.
Mas se na viagem pela A23 falávamos tu e eu dos volumes que trazias para os teus dois braços, e eu ria-me, olha que ao chegar e começar a tirar as coisas do carro comecei a contar e perdi o conto sem contar com as batatas, as uvas e os figos tudo produtos biológicos que ainda ficaram no carro para agora depois de passear a Sacha os ir buscar.
Lembranças e pensamentos de conversas em que só eu falei o tempo todo da viagem, pois já lá vão quase vinte anos em que partiste sem carreira nem comboio para outra viagem.



Os ricos


Diziam-se ricos e patriotas, apoiavam de preferência políticos que pudessem reverter a história do 25 de Abril, ou vestidos de democratas pudessem levar o País no caminho do liberalismo mais liberal, embora admitissem que esses políticos pudessem vestir a capa de sociais democratas ou de democratas cristãos. Sonhavam e trabalhavam para um Portugal onde o Estado pudesse ser o garante dos seus negócios gananciosos e pouco mais. Estado esse, a ser suportado pelos descontos de preferência dos trabalhadores por conta de outrem, profissionais independentes, assim como de empresários de pequenas e médias empresas.
Uns atrás de outros, os ditos ricos foram-se vendendo ao capital estrangeiro, apoiados numa comunicação social que nos enche os ouvidos de que para sermos um País desenvolvido precisamos como pão para a boca de capital estrangeiro, porque os nossos capitalistas preferem ter o seu dinheirinho bem guardado no estrangeiro, não vá o diabo tece-las.
Eles os ricos empresários e gestores ficaram com os anéis, mas muitos deles nem esses anéis eles souberam gerir, criando buracos financeiros e patrimoniais maiores que o fundo do Atlântico entre a Berlenga e os Açores.
O País foi ficando mais pobre mas com os dedos das mãos, só que muitos dos novos donos do capital dão mostras de não estarem interessados nas mãos dos dedos cujos antepassados lá longe sem capital estrangeiro no Reino deram novos mundo ao mundo, até que a "puta" da Santa Inquisição inquinou o Reino e o País.


Cansado


270918
Cansado, acordei cansado e mais fiquei ao chegar a casa e ver as notícias nos canais televisivos. Mas se aquelas eram cansativas ao abrir o computador e entrar aqui, ainda mais cansado fiquei.
Mais um grande dito empresário e gestor de última geração, um grande apoiante de políticos e políticas seguidas por Durão Barroso e seu mestre Aníbal, que gozando com os brandos costumes deste estado dito de direito pede perdão de sessenta e muitos milhões porque se sente falido, coitado nunca passou de um palhaço rico de baixa cotação. Fico a ver se os canais televisivos nos dizem se o sujeito já vendeu os bens e com a família se foi inscrever no centro de emprego da sua área de residência, ou talvez o tio Aníbal o possa contratar para a limpeza lá no palácio onde passa os dias a pensar no veneno que dirá na próxima intervenção publica.
Cansado das histórias à volta da ainda e da futura Procuradora, mas nestas histórias ainda sou capaz de sorrir. Vejo muitos quase todos os que há poucos tempo beijavam o cú pelos seus méritos, ao hoje presumível vigarista Salgado, andarem por todo o lado com cartazes numa campanha a enaltecerem os méritos da gestão que a ainda procuradora terá levado a cabo no seu mandato único de seis anos, compreendo-os. Também eu e com certeza muitos como eu, cidadãos anónimos, queremos que os processos em curso onde políticos e ex-primeiro ministro, banqueiros, alta finança, dirigentes desportivos e outros sejam investigados e julgados de acordo com a letra da lei, mas mais, que a senhora futura procuradora tenha a coragem de não só continuar os processos em curso como possa abrir, reabrir e mandar investigar outros processos novos, pendentes e arquivados de políticos que hoje em dia se passeiam nos corredores do poder ou gozam chorudas aposentações nas suas quintas e palácios, sem esquecer claro as equipas dirigentes dos clubes de futebol, os gestores de empresas que abrem falências de milhões, etc….
Mas não podemos ficar apenas e só pelas investigações, há muito trabalho melindroso a fazer na Justiça, porque hoje assistimos a sentenças e acórdãos que nos dão cabo dos fígados, e é preciso enquanto é tempo cuidar deste assunto antes que a cirrose nos tire a Esperança.