quinta-feira, 11 de outubro de 2018

11 de Outubro de 1923


11 de Outubro de 1923, eis outro dia que permanece na memória viva dos meus neurónios. Hoje é um dos teus dias, nasceste na terra longínqua da Zebreira, tu a primeira dos três filhos que meus avós deram à vida. Mas se na Zebreira nasceste, foste criada em Salvaterra do Extremo e a Segura foste casar até que um dia entre a Zebreira e Castelo Branco quando seguias para mais uma sessão de fisioterapia deixaste esta viagem, e já lá vão quase dezanove anos.
Hoje o dia ainda era escuro quando saí com a nossa amiga para o passeio matinal, sentindo assim que passei a porta da rua que o tempo estava húmido a fazer adivinhar a chuva prometida pelos homens das previsões do tempo, e, a prometida chegou de mansinho ainda não tínhamos andado cem metros com pingos certos sem vento, como que a saudar-nos. Não foram muitos mas deu para lembrar-me de um dia lá longe quando vivíamos no Lugar da Estrada e andávamos na Escola em Peniche no curso comercial. Já deveria ter mudado a hora pois naquela tarde ao acabarem as aulas pelas seis da tarde já era noite. Uma noite cujos céus estavam negros a ameaçarem chuva forte. O mano e outros decidiram ir apanhar a carreira dos Claras que saía de Peniche para os Bolhos às sete, enquanto que eu e o Justo decidimos por-mo-nos ao caminho nas nossas bicicletas. Mal tínhamos passado os portões de Peniche começou a chover uma chuva forte e nós sem oleados lá íamos pedalando um atrás outro à frente, mas a meio do Bairro do Fialho passou por nós uma carrinha de caixa aberta que conheceu o Justo e lhe deu boleia, ficando eu sozinho contra a chuva, só o vento não era de frente, do mal o menos, já que a chuva era tanta que o dínamo que produzia a electricidade para me alumiar a estrada começou a patinar e a deixar de funcionar. Nem a Polícia de Viação e Transito abrigada da chuva no cruzamento para o Casal da Vala se incomodou com o meu pedalar às escuras. Só o conhecer da estrada todos os dias pedalada auxiliado pela luz dos constantes relâmpagos, já que nem viva alma por mim passou, naquele dia noite não me deixaram sair da estrada, até que que chegado casa feito pinto até os ossos estavam molhados, mas logo me aqueceste com teu carinho e amor, mãe. Tantas são as memórias que é impossível esquecer quem tanto nos quis e tanto nos deu. 
Mesmo depois de vocês terem voltado para a Zebreira a tua preocupação em procurares teres sempre uma galinha a chocar ovos, ou uma coelha gravida, para que as netas ao estarem aí nas férias pudessem assistir ao nascimento quer dos pintos ou patos, quer dos coelhinhos e ficarem a saber que na natureza tudo se cria, tua se transforma e não digo que nada se perde, porque agora mãe, há “sapiens” que querem demonstrar que também é possível que tudo se perde.
E para acabar esta carta que te escrevo neste teu dia, digo-te mãe que o telefonema que à meses esperava chegou-me à poucos minutos.
Fica bem onde estiveres, que eu fico com o teu sorriso.

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