
11
de Outubro de 1923, eis outro dia que permanece na memória viva dos
meus neurónios. Hoje é um dos teus dias, nasceste na terra
longínqua da Zebreira, tu a primeira dos três filhos que meus avós
deram à vida. Mas se na Zebreira nasceste, foste criada em
Salvaterra do Extremo e a Segura foste casar até que um dia entre a
Zebreira e Castelo Branco quando seguias para mais uma sessão de
fisioterapia deixaste esta viagem, e já lá vão quase dezanove
anos.
Hoje
o dia ainda era escuro quando saí com a nossa amiga para o passeio
matinal, sentindo assim que passei a porta da rua que o tempo estava
húmido a fazer adivinhar a chuva prometida pelos homens das
previsões do tempo, e, a prometida chegou de mansinho ainda não
tínhamos andado cem metros com pingos certos sem vento, como que a
saudar-nos. Não foram muitos mas deu para lembrar-me de um dia lá
longe quando vivíamos no Lugar da Estrada e andávamos na Escola em
Peniche no curso comercial. Já deveria ter mudado a hora pois
naquela tarde ao acabarem as aulas pelas seis da tarde já era noite.
Uma noite cujos céus estavam negros a ameaçarem chuva forte. O mano
e outros decidiram ir apanhar a carreira dos Claras que saía de
Peniche para os Bolhos às sete, enquanto que eu e o Justo decidimos
por-mo-nos ao caminho nas nossas bicicletas. Mal tínhamos passado os
portões de Peniche começou a chover uma chuva forte e nós sem
oleados lá íamos pedalando um atrás outro à frente, mas a meio do
Bairro do Fialho passou por nós uma carrinha de caixa aberta que
conheceu o Justo e lhe deu boleia, ficando eu sozinho contra a chuva,
só o vento não era de frente, do mal o menos, já que a chuva era
tanta que o dínamo que produzia a electricidade para me alumiar a
estrada começou a patinar e a deixar de funcionar. Nem a Polícia de
Viação e Transito abrigada da chuva no cruzamento para o Casal da
Vala se incomodou com o meu pedalar às escuras. Só o conhecer da
estrada todos os dias pedalada auxiliado pela luz dos constantes
relâmpagos, já que nem viva alma por mim passou, naquele dia noite não me deixaram sair da estrada, até que que chegado casa feito pinto até os ossos estavam molhados,
mas logo me aqueceste com teu carinho e amor, mãe. Tantas são as
memórias que é impossível esquecer quem tanto nos quis e tanto nos
deu.
Mesmo depois de vocês terem voltado para a Zebreira a tua
preocupação em procurares teres sempre uma galinha a chocar ovos,
ou uma coelha gravida, para que as netas ao estarem aí nas férias
pudessem assistir ao nascimento quer dos pintos ou patos, quer dos
coelhinhos e ficarem a saber que na natureza tudo se cria, tua se
transforma e não digo que nada se perde, porque agora mãe, há
“sapiens” que querem demonstrar que também é possível que tudo
se perde.
E
para acabar esta carta que te escrevo neste teu dia, digo-te mãe que
o telefonema que à meses esperava chegou-me à poucos minutos.
Fica
bem onde estiveres, que eu fico com o teu sorriso.
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