segunda-feira, 8 de outubro de 2018

8 e Outubro de 1899


8 e Outubro de 1899, um dia importante na minha vida. Sim, importante, mais do que muitos outros que ao longo da minha existência foram celebrados por isto ou por aquilo. Há muitos anos, no quase final do século dezanove nasceste e sobreviveste nas terras raianas de Idanha a Nova, para mais tarde dares à luz e procriares teus três filhos com amor e paciência.
Muitas vezes me questionei avó, como é que tu uma mulher tão bonita aos meus olhos, foste gostar de um homem que não era bonito e sempre o conheci azedo. Também gostava dele, mas o gostar de ti era diferente de todos os outros gostares, via-te sempre bonita e eras uma mulher grande tão grande que quando vi a tua altura no teu bilhete de identidade, que agora guardo religiosamente, nem queria acreditar, pois de certeza quase absoluta o teu 1,55m eram uma outra medida de comprimento, e não a que conheço hoje.
Depois, com o passar dos anos, do cair e do levantar face às curvas, subidas, descidas e falhas na vida, aprendi que o amor acontece, e quando tal se dá pouco nos importa se o outro tem uma cicatriz na face, se é alto ou baixo, magro ou gordo, talvez porque o amor seja cego, surdo e mudo exigindo dos amantes o culto vitalício da paciência, o que nem sempre está ao alcance de todos.
Por isso ao olhar que dia era hoje, vi a razão porque me sentia especial neste dia. Não te escrevo em papel de carta, como fazíamos antigamente, que isso hoje já quase que não se usa, já quase que não há carteiros, depois também não saberia escrever a tua morada no envelope porque tu vives num além presente na minha memória, na minha saudade, e moras guardada no meu ADN, no sangue que me corre nas veias bombeado pelo coração irrigando e conservando o cérebro onde tens imagem vitalícia. 
Sem saber para onde enviar-te estas notas de saudade, de recordações, vou guardar-las numa destas nuvens modernas, para que um dia quem sabe a possamos procurar nos céus, e sentados nela, possamos observar como irá a vida terrena, ao mesmo tempo que outros possam ler e lembrarem-se também do amor que aqueles que já partiram desta viagem um dia lhes deram.


Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.