Hoje
não é propriamente a primeira noite. Já lá vão uns anos.
Nessa noite, ignorante como sou nestas coisas de saúde-doença,
estava a ficar maluco com a vontade de urinar e não conseguia. A
minha sorte foi a chegada da “night” da Joana e do Paulo, e
perante o aumento constante das dores, disse-lhes para me levarem ao
Hospital São Francisco Xavier, onde cheguei louco de dores.
Enquanto eles se dirigiram ao guiché para as burocracias da ordem,
entrei por ali adentro em busca do médico. Este olhou para mim e
numa calma incrível diagnosticou uma cólica renal, mandando-me
urinar para um tubo de ensaio e depois ir fazer um raio x, fiquei
louco a olhar para ele até que o enfermeiro me disse para ir e ligar
a torneira do lavatório, eureka la urinei para o tubinho. Naquela
noite nas urgências presenciei cenas que poderiam entrar numa
daquelas séries de médicos e hospitais.
A
partir do momento em que chegaram acidentados de um desastre de
automóvel, alguns com fraturas expostas, médico, enfermeiros e
auxiliares numa azáfama gritando uns e outros, ordens e pedidos, até
que lá do fundo do corredor alguém gritou “coma alcoólico”
saindo o médico disparado para ocorrer à jovem (segundo me disse
depois a minha filha). Enquanto tudo aquilo se passava tinha sofrido
uma segunda crise com uma linda enfermeira a injetar-me na veia o
buscopan. A linda num ápice transformou-se em má e feia pois
perante o pedido de ajuda de uma outra enfermeira para acudir a um
dos acidentados, ela negou-se porque se o fizesse não saía à sua
hora.
O
médico sempre ocorrendo aqui e ali dá-me alta entregando-me os
resultados dos exames, pergunto-lhe eu se podia sair com o cateter na
veia, o homem estava esgotado de tal modo que mal cheguei a casa em
Linda a Velha já ele me ligava para saber se não me tinha dado a
alta e os exames de um outro doente por engano.
Hoje
a noite aqui no HVFX vai ser longa e muito diferente, basta não
estar nas urgências e este ser um hospital de segunda linha. Depois
de ter efectuado à hora certa a confirmação da minha presença,
aguardei que vagasse uma cama. Quis o destino ou a sina que viesse
parar à mesma cama onde aquando da outra intervenção cirúrgica
tinha estado umas horas a aguardar a alta.
O
meu companheiro de quarto mais velho que eu uns anos, está bastante
queixoso, caiu partiu umas costelas e afectou a coluna, estando
sempre na mesma posição o que para os seus 86 anos não é fácil.
Já me serviram o jantar no quarto, como não sou má boca não me
queixo da comida sem sal, já estou habituado a esquecer-me de
temperar a comida com sal, assim não estranhei muito. Pior era o
raio da televisão com aqueles programas muito educativos, mas
felizmente ele já a desligou depois de me perguntar se eu queria
continuar com ela ligada. Agora é deixar o tempo andar até que a
manhã chegue e me levem para o bloco. Pelo caminho irei entregar a
alma ao criador, já que o corpo esse fica à mercê do jovem médico
com quem criei empatia e em quem confio.
(A 16 de Outubro...quis
o destino ou a greve dos enfermeiros do bloco, que tenha de passar
outra noite no hospital a aguardar a cirurgia. Já estou mentalizado
há meses por isso há que ter calma e confiar no Serviço Nacional
de Saúde. Por duas vezes recusei a oferta de poder ser operado em
hospitais privados como me propuseram).
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