segunda-feira, 1 de outubro de 2018

120918

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Hoje, ao ir a Espanha abastecer o carro para voltar à cidade grande, vi junto à paragem da carreira, duas senhoras com mais uns anitos que eu, e como seguia devagar deu para olhar para os volumes, sacos de viagem, que estavam junto a elas e lembrei-me não só de te ir esperar a Santa Apolónia ao comboio da Beira Baixa, onde a característica dos mais idosos era o numero de volume que traziam comparado com o número de braços disponíveis. Depois, já em plena auto-estrada relembrei a cena que era nos idos anos cinquenta e sessenta do século passado o regresso de férias logo a 
seguir à festa de Nossa Senhora da Piedade, a guerra para apanhar lugar na carreira, mas antes a guerra para colocar os volumes todos juntos em cima da carreira, porque nesse tempo tudo ia para lá para cima, tudo numa despedida corrida com o avô Chico Capelo sempre com ar de zangado a fumar o seu cigarro kentucky, tu e a avó com a lágrima ao canto do olho, eu e o mano meio ensonados e meio perdidos naquela azafama para que não ficássemos em terra sem lugar na carreira; depois outra guerra em Castelo Branco para ir da estação da carreira para a estação do comboio, o arrumar os volumes todos na carruagem de terceira classe onde depois tentavas que um de nós passasse com menos idade do que tínhamos, para assim poderes poupar uns escudos. Comboio a vapor e depois a diesel, que parava em todas as estações e mais algumas, os bancos de madeira ergonómicos e confortáveis de suma-a-pau, as janelas abertas para funcionarem como ar condicionado por onde por vezes entravam a sujidade que a maquina largava, viagens intermináveis essas até chegarmos à estação dos Olivais que hoje já não existe e depois à de Santarém. Na estação salvo erro de Alvega - Ortiga lá estavam as mulheres a venderem as bilhas de barro com água fresquinha sem ser do frigorífico (já que, frigorífico era um bem de luxo nesse tempo de reinado dos “Botas”).

Hoje, felizmente para a maioria que utiliza os transportes públicos tudo esta de tal modo melhor que não é justo fazer comparações entre o antes e o agora. A maioria vai e vem de carro, porque o carro é também uma imagem que se dá, às vezes de uma vida que não se têm, mas é melhor ter e parecer do que ser, uma regra desta forma de se viver hoje e que muitos e muitos seguem sem parar para pensar um pouco no porque de ser assim.
Mas se na viagem pela A23 falávamos tu e eu dos volumes que trazias para os teus dois braços, e eu ria-me, olha que ao chegar e começar a tirar as coisas do carro comecei a contar e perdi o conto sem contar com as batatas, as uvas e os figos tudo produtos biológicos que ainda ficaram no carro para agora depois de passear a Sacha os ir buscar.
Lembranças e pensamentos de conversas em que só eu falei o tempo todo da viagem, pois já lá vão quase vinte anos em que partiste sem carreira nem comboio para outra viagem.



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