sábado, 7 de maio de 2022

22.05.04

 

Vivia Portugal o início da chamada normalização democrática estabelecida a partir de 25 de Novembro de 1975, quando nas discussões ideológicas acesas que então os parlamentares travavam entre si, no hemiciclo da Assembleia da República, um grande democrata e humanista do Partido Socialista, de sua graça, António Arnaut, apresentou de novo, como deputado e não já como governante, a proposta de Lei que criava o Serviço Nacional de Saúde universal a todos os cidadãos deste país situado à beira-mar na ponta sudoeste do designado continente europeu.

Uniram-se os deputados ideologicamente à esquerda e votaram favoravelmente a criação do nosso SNS universal, contra os votos da direita ideológica (PSD e CDS) que sendo o PSD Governo perderam votando contra a criação do SNS universal.

Dava-se com a criação do SNS universal, como que, uma revolução dentro da outra revolução maior. A par com a Liberdade que os jovens capitães nos deram no 25 de Abril de 1794, foi sem dúvida a maior riqueza que a Democracia então gerada proporcionou aos portugueses, a criação do seu SNS.

Com a implementação do SNS criaram-se condições para o desenvolvimento da prestação de cuidados de saúde inexistentes e até aí ignorados por muitos dos portugueses que viviam mais afastados das cidades. Os jovens médicos saindo das suas zonas de conforto foram pelo país fora, com maior incidência para o interior, prestar assistência às populações. Criaram-se novos hospitais, novos Centro de Saúde com as suas pequenas extensões pelas aldeias envelhecidas do velho Portugal.

A esperança de vida dos portugueses ia aumentando, muito pelo apoio que os médicos do SNS prestavam às populações em assistência e aconselhamento. A tão triste mortalidade infantil existente no país até ao 25 de Abril, começou a cair a pique para números felizmente quase insignificantes, com o investimento efetuado no SNS.


Porém, a política é a força invisível, mas presente e atuante, que comanda a nossa vida coletiva em sociedade, gostemos ou não.

Se no início da implementação do SNS os fundos comunitários que inundaram os cofres do Estado ajudaram não só à implementação das infraestruturas no SNS público, como também ao apetrechamento humano dos serviços inerentes com pessoal médico, de enfermagem, técnicos e auxiliares, com o progressivo desaparecimento de políticos com dimensão e sentido europeu em Bruxelas, como Jacques Delors, François Mitterand, Helmut Kohl e outros, a política comunitária mudou de rumo e de sentido.

A filosofia inerente à criação do Estado Social Europeu, foi perdendo peso, arquivada e combatida sendo substituída pelas imposições das orientações do "mercado". Aquilo que durante os anos da guerra fria distinguia os países da Comunidade de Estados Europeus dos dois blocos imperialistas - americano e soviético -, entrou em lenta insolvência por ação dos políticos que sem a dimensão dos políticos fundadores, assim como dos políticos atrás enunciados, vão passando pelos vários poderes de Bruxelas, sem ideias que não sejam a subjugação e eliminação progressiva da política social às tendências do seu deus o "mercado livre".

Políticos maioritariamente de direita (PPE Partido Popular Europeu), coadjuvados por um exército poderoso de burocratas que ocuparam os corredores do poder, são uns e outros híbridos amantes das leis liberais do mercado, como força dinamizadora do crescimento económico da própria União Europeia. Crescimento económico que nem sempre é sinónimo de bem estar social. Passou assim a U.E. a impor medidas de economia política que visam sobrepor as leis liberais do mercado às políticas sociais humanistas anteriormente seguidas.

É no cumprimento cego das imposições bruxelianas, que os nossos governantes, sejam eles de direita ou de esquerda-ao-centro, foram e vão com promessas redondas, lentamente desinvestindo em meios humanos e técnicos do nosso SNS, coadjuvados por uma comunicação social inimiga e opositora dos benefícios que resistindo a todos os ataques o nosso SNS presta a todos os cidadãos que a ele recorram.

E, quando nas propostas de orçamento nos apresentam milhões de acréscimo com as despesas de saúde, analisados os números finais da aplicação orçamental constata-se que a grande grande fatia do aumento do orçamento da Saúde serviu para financiar muito mais os diversas unidades privadas da saúde do que o próprio SNS que, mesmo assim por mérito meramente exclusivo dos seus profissionais que não o abandonam, nos ajudou a ganharmos a guerra do maldito vírus sars-cov2.

Muito sofre o SNS. Muito sofre quem nele trabalha em dedicação e amor à causa.

Com a contínua submissão dos nossos governos às políticas cada vez mais liberais e menos humanistas de Bruxelas, somos metralhados pelo marketing comunicacional, inimigo dos benefícios que o SNS nos deu e continua a dar, defensor que são dos hipotéticos benefícios das unidades privadas de saúde em comunhão com os seguros privados. Comunicação social que esconde e ignora a desumanização de algumas dessas unidades privadas de saúde. Casos não faltam. O que importa é moldar mentalidades para o ataque, destruidor da maior riqueza que a Liberdade e a Democracia que o 25 de Abril gerou, trouxe ao povo português, o seu SNS.

Neste ataque prolongado vale tudo. Noticiam exacerbadamente os órgãos de comunicação social casos que correram mal no SNS, esquecendo ignorando, a publicitação das virtudes e as excelências alcançadas pelo nosso SNS universal público que de forma graciosa trata o cidadão-utente.

Que os órgãos de comunicação privada o façam, é natural. Os seus donos defendem as leis bíblicas do mercado livre com a anulação da intervenção do próprio Estado na economia. É com essa finalidade que vivem, pela ideologia que os sustenta e defendem.

Que os partidos políticos que ideologicamente pugnam por menor intervenção do Estado na economia, defendendo quer a saúde privada das clínicas e unidades hospitalares privadas, quer a própria segurança social privada, quando esses partido políticos na sua ação governativa procedem ao desinvestimento no SNS em meios humanos, técnicos e infraestruturas, promovendo a existência de seguros privados de saúde e de reforma estão a ser coerentes com os seus fins políticos – mais mercado e menos Estado.

O que não é natural, nem coerente é que um partido político como o PS que tem sido governo há mais tempo na nossa democracia dizendo-se defensor do SNS, embora na prática as dúvidas persistam, que militantes das suas estruturas autárquicas de Idanha-a-Nova, onde governam há mais de 20 anos, promovam com a utilização de dinheiros públicos a venda de um seguro de saúde privado aos seus cidadãos residentes, cujo custo inicial por concurso publico para o primeiro ano foi superior a 500.000€. Andando com uma carrinha do Estado de povoação em povoação primeiro a angariar subscritores de um cartão que suporta a tal apólice de seguro privado, depois com o pessoal médico e de enfermagem da companhia de seguros em consultas e apoio médico sem condições ao frio, à chuva e ao sol, utilizando pelo menos numa das povoações a electricidade de uma IPSS.

Tudo isto quando as extensões de saúde existentes nas povoações continuam sem médico alocado ou se um dia por mês há um médico especialista em saúde publica afeto ao SNS que vai umas horas de manhã ou de tarde a essas extensões de saúde existentes ou não há administrativo, ou não há computador para que o infeliz médico possa consultar a ficha dos doentes que nessas curtas horas consegue atender.

A oposição política democrática existente no Município de Idanha-a-Nova sob a sigla MOVIMENTO PARA TODOS, atenta que está aos problemas das populações do concelho face ao número insuficiente de médicos, especialistas em saúde publica, existentes no Centro de Saúde de Idanha que garantam a assistência condigna e organizada às populações das diversas freguesias e uniões de freguesia, apresentou na defesa e no reforço do SNS no Município proposta alternativa à renovação da apólice de seguro privado que o senhor Presidente apoiado pela estrutura do Partido Socialista na Assembleia Municipal logo reprovaram com voto contra, preparando-se o Partido Socialista pela sua estrutura de Idanha-a-Nova em renovar com dinheiros públicos uma apólice de seguro privada. Talvez pela fraca anuência obtida (cerca de 3000 subscritores da apólice escondida num “Cartão Raiano Saúde 0-114”, num Município com mais de 8000 cidadãos residentes) obriga o senhor Presidente a prometer que na renovação com a Companhia de Seguros Privada serão consideradas novas valências. Novas valências mais dinheiro publico para a Seguradora… e, lá se irão os 625.836€ do orçamento para a Saúde.

Faz o Partido Socialista em Idanha-a-Nova com a subscrição e presumível renovação de um seguro de saúde privado, um ataque ao SNS que é o sonho de todos os neoliberais deste país e que nenhum governo PSD e PSD-CDS conseguiu fazer.

Afirma O PS local na proposta de orçamento e grandes opções do plano para 2022 que “o concelho de Idanha-a-Nova está cada vez mais atrativo e competitivo», defendendo junto da Administração Central todas as condições para o fornecimento dos serviços públicos essenciais à população.

Com estas e outras afirmações constantes da proposta de orçamento para 2022, fico a pensar ou o PS de Idanha-a-Nova já declarou a sua autonomia face ao PS cuja sede central se situa no Largo do rato em Lisboa e que governa o país afirmando na sua política para o país o reforço do SNS, ou a porca não bate com a perdigota, andando alguém a vender gato por lebre.

Como Idanha-a-Nova esta muito longe do poder central e embora seja um Município grande em extensão mas de fraca densidade populacional, pouco interessante no computo geral da política, talvez por isso ninguém olha com olhos de ver para o que se vai passando lá. Constava na página 103 da proposta de orçamento e agora consta na página 104 do orçamento e grandes opções do plano, o Balanço Previsional em que como não poderia deixar de ser apresenta o total do Ativo igual ao total do Património Liquido mais Passivo. Contudo, não sendo já um expert na matéria pelos anos que levo afastado da pratica contabilística com os novos sistemas do SNC Sistema Nacional de Contas, sou do tempo em que na escola Comercial e depois no velho Cortiço à Rua das Chagas em Lisboa aprendíamos Contabilidade e nos diplomávamos em Contabilistas. Muitas alterações ocorreram desde os anos das “Despesas Gerais” até ao novo Sistema Nacional de Contas, mas o princípio das partidas dobradas de Frei Luca Pacioli, assim como as regras dos movimentos de contas de Jean Dumarchey devem continuar ativas. Ao olhar para as diversas rubricas do Balanço Previsional, no Passivo Corrente aparece a rubrica “Financiamento Obtidos” com o valor negativo (-81.153,39)… será que reembolsaram em excesso a entidade que em tempo financiou o Município? Coisa estranha e por aqui me calo.



segunda-feira, 2 de maio de 2022

22.05.01

 Hoje é o dia que na nossa juventude se celebrava a 8 de Dezembro. 

É pois hoje o dia em que se comemora o dia daquela que nos deu vida, gerando no seu ventre para depois de nos parir nos tratar com todo o amor que só ela sabe ter e dar. A mãe.

Mães e Trabalhadores de todo o Mundo, hoje é o vosso dia. Dia que se repete em todos os outros dias do ano.



22.04.28

 




Era uma vez uma região que ficava longe, tão longe que muitos não sabiam que naquelas terras vivia gente. Gente, que a exemplo da azinheira, árvore que cresce e resiste mesmo quando parece impossível que consiga sobreviver, têm resistido ao longo dos séculos à vida dura que a pobreza daquelas terras lhes proporciona, e por lá continuam a viver e a trabalhar a terra resistindo ao passar do tempo.

Ainda o Reino não existia, alguns séculos antes da atual era de Cristo, já naquelas terras habitavam seres humanos de várias origens e hábitos.

Quando os primeiros Reis do novíssimo Reino de Portugal se formou, logo pensaram em povoá-las com mais gente, para desse modo se poder garantir aquele território de terras, cujas fronteiras com povos vizinhos de outros reinos, a mãe Natureza se encarregou de criar naturalmente. O repovoamento decretado por ordens reais não teve o êxito desejado pelos Soberanos. Foram aqueles territórios dados a disputados entre nobres Cavaleiros Templários e a Igreja na figura do Bispo da Guarda, até que num golpe de astúcia política, face às intenções do Papa Clemente V ao decretar em 1312 a extinção da Ordem dos Templários, o nosso Rei D. Dinis para não perder toda a riqueza e bens dos Templários, cria a Ordem de Cristo transferindo para esta as terras e bens que constituíam a riqueza dos Templários que desse modo enriqueceram a coroa, não sendo transferidos para o poder papal da Igreja.

Depois entre escaramuças e guerras pela independência do reino de Portugal com os vizinhos de Leão e Castela, foram os nossos Reis fazendo e desfazendo doações e concessões daquelas terras a nobres como agradecimento pelos serviços prestados à Coroa.

Com a fuga dos judeus sefarditas do reino vizinho de Castela deu-se um pequeno aumento populacional naquelas terras de fronteira. Mas, logo o Rei português doido por poder entrar na cama da princesa castelhana para consumar o casamento, cedeu à imposição da princesa e de seus sogros reis de Castela e Aragão ordenando igualmente a conversão e expulsão dos judeus. Os sefarditas tinham de ser expulsos das suas terras ou se convertiam aos mandamentos da lei cristã apostólica romana. As famílias sefarditas que lá se tinham fixado tiveram de fugir de novo ou se converteram em cristãos-novos; algumas acabariam por ficar com o estigma de cristãos-novos, outras acabaram por fugirem não só à fúria assassina da Inquisição como saíram do país, para de novo se reconverterem às suas tradições judaicas, em terras de outros gentios onde a Inquisição não dominava.

Nos últimos anos da Monarquia estavam aquelas terras na posse de Morgados que as tinham registados como sua pertença. Predominavam Famílias importantes, como os Tavares Proença, os Vaz Preto, os Franco Frazão, os Trigueiros de Aragão, os Ordáz Caldeira e os Giraldes, cujo poder era reconhecido tanto que eram normalmente ouvidos e intervenientes nas decisões reais para a Beira Baixa. Estas famílias encontram-se referenciadas nas Casas importantes como a Casa do Salgueiro, a Casa da Graciosa (que foi gerida por um familiar da família Giraldes que pelos serviços prestados, passou de Visconde a Conde e por fim a Marques da Graciosa), a Casa da Lousa e a Casa Conde de Idanha.

Em 1863 por lei, os Morgadios existentes são extintos, mantendo-se a posse fundiária das terras nas famílias e casas que as tinham registado e eram reconhecidas. Procurou o Código Civil de 1867 instituir as partilhas igualitárias em todo o país. Procurou mas por vias diversas a lei continuou a permitir o desenvolvimento de ações que evitavam a divisão patrimonial. Casas com património fundiário com dimensão continuaram indiciando que a partilha igualitária não foi respeitada. Há sempre uma virgula ou um ponto na lei que permitem o dar a volta ao texto. O poder dessas Casas importantes foi-se degradando por opções dos seus herdeiros que como o decorrer dos tempos com outras opções se viraram para outros ramos de atividade como a industria (caso da família Trigueiros de Aragão).

Os tempos iniciais da República com as suas convulsões políticas constantes não deixavam tempo para os que longe na cidade grande governavam o país se preocupassem com o futuro das gentes da Beira Baixa que viviam naquelas terras lutando, trabalhando de sol a sol as terras pobres contra a pobreza reinante na maioria das famílias.

Com o 28 de Maio de 1926 e mais tarde a consolidação do poder absoluto de Salazar, as alterações na estrutura fundiária ir-se-á alterando mais em função das opções dos herdeiros das antigas Casas dos Senhores Morgados do que de alguma política concreta por parte dos governantes. As gentes, trabalhadora e humilde da região, continuaram a sua luta de sol a sol pelo parco rendimento das suas terras, mantendo uma educação de respeito quer aos que continuavam a usar o nomes das antigas famílias importantes, quer ao clero que sempre esteve em união com essas Casas dos Senhores Morgados.

A Revolução de Abril de 1974 trás novos ventos de mudança e esperanças. Ventos, cuja maior transformação que gerou naquelas terras foi uma mais rápida desertificação humana do que nos anos anteriores, mesmo quando os rapazes feitos homens fugindo a salto emigravam para terras de França. Com Abril a emigração deu-se internamente para quer a Grande Lisboa, quer para outras cidades de menor dimensão que os seduziam com trabalho mais bem remunerado que aquele que o amanho ou o trabalho na terra lhes proporcionava. Tudo isso no tempo em que as novas autoridades municipais eleitas em votação livre e democrática implementavam as infraestruturas básicas algumas inexistentes e outras de funcionamento muito irregular como o fornecimento de água e eletricidade a todas as casas, o estabelecimento de rede de esgotos urbanos nas povoações, o alcatroar caminhos importantes, … o estabelecimento de extensões do centro de saúde nas diversas povoações do município, a implementação de políticas de apoio social aos idosos e desfavorecidos da sorte...( é de lembrar que se em 1977 quem quisesse voltar não encontrava casa para alugar como residência, tal era ainda a população residente).

Nos dias que correm, em parte resultante das políticas de desenvolvimento que o país tem seguido desde que aderiu à atual União Europeia e em parte pelas políticas menores seguidas por quem tem governado o Município,povoações onde são mais as casas fechadas e abandonadas do que as pessoas que por lá vivem, em virtude do constante êxodo que ano a ano se vem constatando, embora haja quem fale em números que garantem a inversão do êxodo mas não analisa quer a qualidade quer os porquês da obtenção desses tais números.

De tempos a tempos com a liberdade de expressão dada pela Constituição da Republica somos alertados por jornalista de investigação, sério e competente, para presumíveis atos e fatos que se passam no Município que gere aquela região que nos dias de hoje continua longe e esquecida. Atos e fatos que não são nada transparentes, agradáveis, satisfatórios para quem gosta das coisas claras em política; cumpridoras dos preceitos legais sem virgulas nem pareceres superiores criados a tempo, deixando no ar a dúvida do favor, formulados por conhecidos ou amigos instalados nas estruturas dos poderes existentes na nossa Democracia para que tudo pareça legal, aos olhos do cidadão crente, educado e habituado que esta, na sua humildade, a acreditar no que lhe contam e ouvem dos senhores doutores e engenheiros, que usando as estruturas do Município e da Santa Casa da Misericórdia, prometem e dão emprego aos seus filhos, sobrinhos, netos, afilhados e a algum primo mais afastado.

Eles, os que fazem estas coisas de compras de terrenos públicos avaliados por amigo com passado de gestão duvidosa, partilha e concessão de direitos de uso de terrenos, com destino declarado inicialmente de utilidade publica, para para o bem social dos idosos carenciados, eles sabem que têm nas estruturas do Partido e do Governo amigos com poder para aprovar o que os técnicos do Turismo de Portugal indeferiram várias vezes. E, como eles do poder regional «do quero posso e mando», sabem e jogam com o fato de pertencerem a uma região que fica longe, tão longe que muitos dos que assinam as aprovações de cedência de bens públicos, nem sabem o que naquelas terras se passa de verdade, ou se sabem fecham os olhos e os ouvidos com medo de perderem o lugar que ocupam nas estruturas publicas.

Quando as estruturas do funcionalismo publico dão parecer negativo a um projeto que de início está ferido de ilegalidade pelo não cumprimento do objetivo declarado para a cedência/compra dos terrenos, e o mesmo é aprovado porque o militante do Partido, não só pertence às estruturas dirigentes do PS como obteve o grau de Comendador dado sr. Cavaco Silva e se movimenta muito à vontade nas estruturas governativas, está tudo visto e dito.

Com estes exemplos descritos pelo António José Cerejo no jornal o Publico e não havendo nenhuma esperança de que as coisas mudem radicalmente, quando chegarmos ao fundo do saco dos milhões do PRR o país estará cheio de estruturas vazias para o turismo de qualidade da tal classe média alta tipo 5 e 7 estrelas, os cidadãos em geral mais pobres, o “zé contribuinte” com um saco mais pesado de impostos e taxas às costas pelo endividamento do país aos senhores abutres do capital financeiro.

Esta tudo mal quando um Republicano ao ler pela segunda vez o que vem escrito no Publico e diz para si mesmo: - porrraaaa antes os antigos Morgados que estes novos Comendadores!!!

O que se passou com os grandes partidos políticos tradicionais de França – PSF de François Mitterand, UDF de Valéry Giscard d’Estaing e UMP de Jacques Chirac, vai chegar a Portugal se os chamados Partidos do arco da Governação, PS e PSD, não puserem em cima da mesa os seus princípios ideológicos em oposição aos objetivos do mercado liberal sedento de políticos híbridos que lhes garantam o crescimento constante dos lucros.

Contudo, ignorando o ocaso desses grandes partidos da política há quem entre nós acredite e diga, que o crescimento do Chega se deve às tomadas de posição dos partidos políticos à esquerda do PS. Gente que se recusa a olhar para dentro, sendo mais fácil culpar os outros.



22.04.26


As festas, os dizeres, os slogan habituais, as manifestações de rua com as suas palavras de ordem. Tudo se passou ontem numa rotina em que o 25 de Abril se transformou.

Desde 1979 que fica em casa. Já não se lembra qual foi o último ano em que ouviu com atenção os discursos da praxe que os políticos partidários declamam. Olha as imagens fugazes que as televisões lhe dão. Elas, televisões, não gostam do 25 de Abril naif de 1974. Aceitam os capitães de Abril que vão resistindo à passagem do tempo e ignoram-nos de imediato, assim que terminam as comemorações oficiais nas Cortes em S. Bento.

Nas imagens das celebrações oficiais viu políticos com cara de envergonhados usando o cravo encarnado na lapela, símbolo que ficou de uma revolução que pôs um ponto de ordem à República mudando-lhe a agulha para uma nova vivência de tantas Esperanças. Viu um Presidente de cravo na mão no seu já habitual cinismo, leva o cravo mas não na lapela para o no discurso oficial não o apresentar. Outros políticos, em crescendo, recusaram o uso do cravo vermelho. É um direito que lhes assiste. Alguns vomitam ódio à Democracia, outros são rebentos novos ou os novos rebentos dos políticos que no Estado Novo militavam na Ação Nacional Popular de Marcelo Caetano (antiga União Nacional de Salazar) até ao 24 de Abril de 1974. Todos nesta Democracia têm direito à existência política. Todos, nesta Democracia, devem essa Liberdade de opção, ao coletivo de militares que arriscando as suas vidas futuras realizaram a revolução naif do 25 de Abril de 1974.

Novos tempos vivemos onde nuvens carregadas de ódio e não de amor ao próximo andam pelos céus.

Hoje é dia 26 de Abril. O dia em que há 48 anos chegou ao arame farpado do Mumbué a confirmação da concretização e sucesso de mais um golpe militar no Puto. Que futuro aguardaria aqueles jovens militares a partir desse dia, que entre operações de reconhecimento palmilhando quilómetros sem fim, de participação em bases táticas longe da companhia e dos poucos dias que lhes eram permitidos para retemperar forças dentro do arame farpado, cumpriam o dever de lutar pela integridade da Pátria do Minho até Timor, segundo os governantes e seus apoiantes até ao dia da antevéspera? Que futuro seria o dele e dos seus homens tão jovens quanto ele? Dúvidas só dúvidas pairavam naqueles jovens colocados à margem do mundo, onde a companhia mais fiel que conheciam era a sua G3.

As altas patentes militares, aguardadas para a cerimónia de entrega de casas novas aos dois grupos de GE's adstritos à Companhia, tardavam em chegar. Pelo ar não se ouvia o barulho de qualquer aeronave. Chegaram outras patentes pela estrada asfaltada. Os discursos rápidos da ordem, a entrega das chaves e ala que se fazia tarde. Assim como chegaram partiram. Nem uma palavra de esperança lhes deram sobre o que se passava lá longe no Puto. Eram «carne para canhão» para o sistema, não tinhas outro direito que não fosse o cumprimento das ordens e disciplina militar. Dúvidas sobre o futuro não lhes pertenciam.


Como há 48 anos, hoje dia 26, são mais dúvidas que as esperanças. Esperanças ainda há algumas. Com o passar dos anos, com avançar da idade, o desgaste da vida, o 25 de Abril é a cada ano um dia relembrado a 25 e guardado na gaveta pelas Cortes em S. Bento a 26, que os senhores do poder económico têm outros valores mais urgentes nos seus “offshores” amigos, perante a complacência de governantes democráticos cordiais, submissos aos interesses dos senhores com poderes na economia.

Existe por outro lado uma ascensão de conservadorismo na hipócrita classe média. Antigos revolucionários oriundos da pequena e média burguesia de então, cujos ideais gritados em todas as avenidas, ruas e esquinas da cidade, com as suas bandeiras desfraldadas ao vento, depressa deitaram no caixote do lixo as suas paixões, os seus amores exacerbados pelo maoísmo, pelo marxismo-leninismo, pela popular anarquia, pelo trotskismo, por forma a que pudessem ser reciclados. Uma vez reciclados e apagados dos seus currículos esses desvarios de juventude, depressa se converteram à boa vida que a máquina do Estado Social saído da Revolução de Abril lhes proporcionou com segurança. São hoje uma classe social de cultura acima da média, adeptos defensores com unhas e dentes conservadores, do liberalismo mais ou menos liberal "made in Bruxelas''. Para eles o futuro do país está mais em Bruxelas do que em Portugal. Fazem-lhe lembrar os tempos que não viveu de 1580 em que para a então nobreza e clero ortodoxo da Inquisição o futuro do país estava também mais em Castela e Aragão do que em Portugal.

Sentem muitos desses antigos revolucionários maoístas, marxistas-leninistas, trotskistas e da revolução popular anárquica, alergia à «Revolução Naif dos Cravos Vermelhos» protagonizada por jovens capitães do quadro, que fazendo a guerra viram, tomaram conhecimento da realidade e pensaram, que o futuro das suas gentes, dos seus soldados não tinha outra solução se não o mudar a agulha nos carris da vida que o país levava.

Hoje, muitos desses antigos revolucionários convertidos ao bom conservadorismo burguês, intelectuais que são e seus seguidores, limitam-se a enaltecer algumas figuras individuais como heróis de uma revolução, quando esta foi obra de um coletivo militar, não de um ou outro militar. Militares que conversando e discutindo entre si souberam ultrapassar pequenas divergências individuais, para em coletivo olharem e pensarem mais longe do que a «brigada de reumático» que os comandava a partir dos corredores palacianos do poder, longe da realidade da vida e da guerra.

«Brigada de reumático» que não só os comandava como era sustentáculo dos governantes de um “Portugal orgulhosamente só”, e, ao mesmo tempo segurança e garantia da ditadura que arrastava há muito o país para uma pobreza de anemia crónica.

Pobreza que agradava a uma parte considerável da sociedade portuguesa. Era normal que uma parte da sociedade de então, não visse com bons olhos a Revolução; habituados e complacentes com a vida de 48 anos de ditadura a ferro e fogo, que agradava aos seus interesses individuais.

Desse trabalho coletivo de militares arriscando as suas vidas nasceu o Naif 25 de Abril de 1974 de que alguns se querem aproveitar como sendo deles também o conhecimento, a influência e a decisão.

Hoje, republicano e pequeno burguês que é, caminha na outra margem da vida onde não existe mais o arame farpado limitativo dos seus desejos que ainda alimenta em si, mais do que dos seus sonhos de juventude