segunda-feira, 2 de maio de 2022

22.04.28

 




Era uma vez uma região que ficava longe, tão longe que muitos não sabiam que naquelas terras vivia gente. Gente, que a exemplo da azinheira, árvore que cresce e resiste mesmo quando parece impossível que consiga sobreviver, têm resistido ao longo dos séculos à vida dura que a pobreza daquelas terras lhes proporciona, e por lá continuam a viver e a trabalhar a terra resistindo ao passar do tempo.

Ainda o Reino não existia, alguns séculos antes da atual era de Cristo, já naquelas terras habitavam seres humanos de várias origens e hábitos.

Quando os primeiros Reis do novíssimo Reino de Portugal se formou, logo pensaram em povoá-las com mais gente, para desse modo se poder garantir aquele território de terras, cujas fronteiras com povos vizinhos de outros reinos, a mãe Natureza se encarregou de criar naturalmente. O repovoamento decretado por ordens reais não teve o êxito desejado pelos Soberanos. Foram aqueles territórios dados a disputados entre nobres Cavaleiros Templários e a Igreja na figura do Bispo da Guarda, até que num golpe de astúcia política, face às intenções do Papa Clemente V ao decretar em 1312 a extinção da Ordem dos Templários, o nosso Rei D. Dinis para não perder toda a riqueza e bens dos Templários, cria a Ordem de Cristo transferindo para esta as terras e bens que constituíam a riqueza dos Templários que desse modo enriqueceram a coroa, não sendo transferidos para o poder papal da Igreja.

Depois entre escaramuças e guerras pela independência do reino de Portugal com os vizinhos de Leão e Castela, foram os nossos Reis fazendo e desfazendo doações e concessões daquelas terras a nobres como agradecimento pelos serviços prestados à Coroa.

Com a fuga dos judeus sefarditas do reino vizinho de Castela deu-se um pequeno aumento populacional naquelas terras de fronteira. Mas, logo o Rei português doido por poder entrar na cama da princesa castelhana para consumar o casamento, cedeu à imposição da princesa e de seus sogros reis de Castela e Aragão ordenando igualmente a conversão e expulsão dos judeus. Os sefarditas tinham de ser expulsos das suas terras ou se convertiam aos mandamentos da lei cristã apostólica romana. As famílias sefarditas que lá se tinham fixado tiveram de fugir de novo ou se converteram em cristãos-novos; algumas acabariam por ficar com o estigma de cristãos-novos, outras acabaram por fugirem não só à fúria assassina da Inquisição como saíram do país, para de novo se reconverterem às suas tradições judaicas, em terras de outros gentios onde a Inquisição não dominava.

Nos últimos anos da Monarquia estavam aquelas terras na posse de Morgados que as tinham registados como sua pertença. Predominavam Famílias importantes, como os Tavares Proença, os Vaz Preto, os Franco Frazão, os Trigueiros de Aragão, os Ordáz Caldeira e os Giraldes, cujo poder era reconhecido tanto que eram normalmente ouvidos e intervenientes nas decisões reais para a Beira Baixa. Estas famílias encontram-se referenciadas nas Casas importantes como a Casa do Salgueiro, a Casa da Graciosa (que foi gerida por um familiar da família Giraldes que pelos serviços prestados, passou de Visconde a Conde e por fim a Marques da Graciosa), a Casa da Lousa e a Casa Conde de Idanha.

Em 1863 por lei, os Morgadios existentes são extintos, mantendo-se a posse fundiária das terras nas famílias e casas que as tinham registado e eram reconhecidas. Procurou o Código Civil de 1867 instituir as partilhas igualitárias em todo o país. Procurou mas por vias diversas a lei continuou a permitir o desenvolvimento de ações que evitavam a divisão patrimonial. Casas com património fundiário com dimensão continuaram indiciando que a partilha igualitária não foi respeitada. Há sempre uma virgula ou um ponto na lei que permitem o dar a volta ao texto. O poder dessas Casas importantes foi-se degradando por opções dos seus herdeiros que como o decorrer dos tempos com outras opções se viraram para outros ramos de atividade como a industria (caso da família Trigueiros de Aragão).

Os tempos iniciais da República com as suas convulsões políticas constantes não deixavam tempo para os que longe na cidade grande governavam o país se preocupassem com o futuro das gentes da Beira Baixa que viviam naquelas terras lutando, trabalhando de sol a sol as terras pobres contra a pobreza reinante na maioria das famílias.

Com o 28 de Maio de 1926 e mais tarde a consolidação do poder absoluto de Salazar, as alterações na estrutura fundiária ir-se-á alterando mais em função das opções dos herdeiros das antigas Casas dos Senhores Morgados do que de alguma política concreta por parte dos governantes. As gentes, trabalhadora e humilde da região, continuaram a sua luta de sol a sol pelo parco rendimento das suas terras, mantendo uma educação de respeito quer aos que continuavam a usar o nomes das antigas famílias importantes, quer ao clero que sempre esteve em união com essas Casas dos Senhores Morgados.

A Revolução de Abril de 1974 trás novos ventos de mudança e esperanças. Ventos, cuja maior transformação que gerou naquelas terras foi uma mais rápida desertificação humana do que nos anos anteriores, mesmo quando os rapazes feitos homens fugindo a salto emigravam para terras de França. Com Abril a emigração deu-se internamente para quer a Grande Lisboa, quer para outras cidades de menor dimensão que os seduziam com trabalho mais bem remunerado que aquele que o amanho ou o trabalho na terra lhes proporcionava. Tudo isso no tempo em que as novas autoridades municipais eleitas em votação livre e democrática implementavam as infraestruturas básicas algumas inexistentes e outras de funcionamento muito irregular como o fornecimento de água e eletricidade a todas as casas, o estabelecimento de rede de esgotos urbanos nas povoações, o alcatroar caminhos importantes, … o estabelecimento de extensões do centro de saúde nas diversas povoações do município, a implementação de políticas de apoio social aos idosos e desfavorecidos da sorte...( é de lembrar que se em 1977 quem quisesse voltar não encontrava casa para alugar como residência, tal era ainda a população residente).

Nos dias que correm, em parte resultante das políticas de desenvolvimento que o país tem seguido desde que aderiu à atual União Europeia e em parte pelas políticas menores seguidas por quem tem governado o Município,povoações onde são mais as casas fechadas e abandonadas do que as pessoas que por lá vivem, em virtude do constante êxodo que ano a ano se vem constatando, embora haja quem fale em números que garantem a inversão do êxodo mas não analisa quer a qualidade quer os porquês da obtenção desses tais números.

De tempos a tempos com a liberdade de expressão dada pela Constituição da Republica somos alertados por jornalista de investigação, sério e competente, para presumíveis atos e fatos que se passam no Município que gere aquela região que nos dias de hoje continua longe e esquecida. Atos e fatos que não são nada transparentes, agradáveis, satisfatórios para quem gosta das coisas claras em política; cumpridoras dos preceitos legais sem virgulas nem pareceres superiores criados a tempo, deixando no ar a dúvida do favor, formulados por conhecidos ou amigos instalados nas estruturas dos poderes existentes na nossa Democracia para que tudo pareça legal, aos olhos do cidadão crente, educado e habituado que esta, na sua humildade, a acreditar no que lhe contam e ouvem dos senhores doutores e engenheiros, que usando as estruturas do Município e da Santa Casa da Misericórdia, prometem e dão emprego aos seus filhos, sobrinhos, netos, afilhados e a algum primo mais afastado.

Eles, os que fazem estas coisas de compras de terrenos públicos avaliados por amigo com passado de gestão duvidosa, partilha e concessão de direitos de uso de terrenos, com destino declarado inicialmente de utilidade publica, para para o bem social dos idosos carenciados, eles sabem que têm nas estruturas do Partido e do Governo amigos com poder para aprovar o que os técnicos do Turismo de Portugal indeferiram várias vezes. E, como eles do poder regional «do quero posso e mando», sabem e jogam com o fato de pertencerem a uma região que fica longe, tão longe que muitos dos que assinam as aprovações de cedência de bens públicos, nem sabem o que naquelas terras se passa de verdade, ou se sabem fecham os olhos e os ouvidos com medo de perderem o lugar que ocupam nas estruturas publicas.

Quando as estruturas do funcionalismo publico dão parecer negativo a um projeto que de início está ferido de ilegalidade pelo não cumprimento do objetivo declarado para a cedência/compra dos terrenos, e o mesmo é aprovado porque o militante do Partido, não só pertence às estruturas dirigentes do PS como obteve o grau de Comendador dado sr. Cavaco Silva e se movimenta muito à vontade nas estruturas governativas, está tudo visto e dito.

Com estes exemplos descritos pelo António José Cerejo no jornal o Publico e não havendo nenhuma esperança de que as coisas mudem radicalmente, quando chegarmos ao fundo do saco dos milhões do PRR o país estará cheio de estruturas vazias para o turismo de qualidade da tal classe média alta tipo 5 e 7 estrelas, os cidadãos em geral mais pobres, o “zé contribuinte” com um saco mais pesado de impostos e taxas às costas pelo endividamento do país aos senhores abutres do capital financeiro.

Esta tudo mal quando um Republicano ao ler pela segunda vez o que vem escrito no Publico e diz para si mesmo: - porrraaaa antes os antigos Morgados que estes novos Comendadores!!!

O que se passou com os grandes partidos políticos tradicionais de França – PSF de François Mitterand, UDF de Valéry Giscard d’Estaing e UMP de Jacques Chirac, vai chegar a Portugal se os chamados Partidos do arco da Governação, PS e PSD, não puserem em cima da mesa os seus princípios ideológicos em oposição aos objetivos do mercado liberal sedento de políticos híbridos que lhes garantam o crescimento constante dos lucros.

Contudo, ignorando o ocaso desses grandes partidos da política há quem entre nós acredite e diga, que o crescimento do Chega se deve às tomadas de posição dos partidos políticos à esquerda do PS. Gente que se recusa a olhar para dentro, sendo mais fácil culpar os outros.



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