0111
É
assim este meu caminhar indiferente às bruxas, aos santos e finados.
Desta
altura do ano recordo num passado já distante o “Pão por Deus”
que depois da missa os jovens do Lugar da Estrada fazíamos pelas
casas e adegas da aldeia, em busca de pevides, tremoços e agua-pé
sendo que algumas vezes esta tinha de ser bebida em canecas de barro
das Caldas com o respectivo símbolo no fundo da caneca. Para que
conste foi num dia assim de “Pão por Deus” a primeira bebedeira
com 13 ou 14 anos de idade.
O
tempo passa e nas grandes cidades tudo se dilui, até o negócio das
flores junto dos cemitérios deixou o dia de finados e transferiu-se
a custo zero para o dia de todos os santos. Os finados continuarão a
sua caminhada em busca, uns da luz e outros de atormentarem os sonhos
de alguns que por cá ainda viajam.
Santos,
que este ano aos poupados nas férias dão mais uma boa “ponte”
para viajarem e fugirem do stress citadino. As igrejas enchem-se dos
visitantes mas os santos na sua maioria vão continuar sozinhos no
imaginário dos crentes com fé na sua existência.
Quanto
às bruxas e bruxos, há muitas e muitos, invisíveis e visíveis,
todos os dias e não só quando os senhores da sociedade de consumo
querem. Das visíveis com certificado e acções, lembro-me da
“Merreca” em Ferrel, vivíamos na mesma rua. Contudo, as piores
são aquelas que visíveis, não apresentam certificado como ela, mas
nos tramam a vida. Destas há muitas por todo o lado, algumas até
apresentadas como “santinhas”. Quando as sinto logo a mão entra
no bolso fazendo figas, como minha mãe me ensinou um dia. Quanto às
bruxas e bruxos invisíveis ainda não me cruzei com elas e eles, por
isso que continuem as suas danças no pinhal do rei que não me
incomodam de todo.
Vou-me
calar não vá alguma bruxa zangar-se e dar-me um puxão na algália,
logo hoje que a terra voltou a tremer, fazendo os agoireiros saírem
dos seus casulos e nos encherem de notícias sobre as desgraças do
terramoto de há 263 anos atrás, que estará de novo para acontecer,
já que os grandes terramotos que Lisboa conheceu no passado tinham
um intervalo de mais ou menos 200 anos.
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