sábado, 29 de outubro de 2022

22.06.08

 

Era quarta-feira véspera de uma "ponte" de feriados na cidade de Lisboa. Por uma conjugação de feriados, com o 9 de Junho Corpo de Deus, o 10 de Junho Dia de Portugal, a antecederem o fim de semana, e, o 13 de Junho Santo António feriado em Lisboa a proceder o mesmo.

Os funcionários do Estado, incluindo médicos obstetras, enfermeiros e muitos trabalhadores, só voltariam ao trabalho na próxima terça-feira, dia 14 de Junho. Foi por isso, aquela quarta-feira, 8 de Junho de 1977, o dia "D" para o jovem casal.

Naquele tempo, a tecnologia ao serviço da saúde, não permitia saber o desenvolvimento do feto, apenas, recorrendo ao milenar saber da classe médica, calculavam o momento previsível do nascimento.

No dia anterior, o jovem casal foi à Maternidade Alfredo da Costa, onde a futura jovem mãe ficou internada. Segundo o parecer médico que acompanhou a gravidez, o tempo para o bebé nascer tinha terminado e iam forçar o seu nascimento.

Naquele tempo, nos hospitais públicos, não era normal o pai assistir ao nascimento. Embora o pudesse ter feito, pois havia a tia Umilta que lá trabalhava. Ele não quis assistir ao parto.

Depois de ter deixado a sua companheira internada foi trabalhar.

Voltou cedo para casa, aguardando que o telefone fixo tocasse para informar do nascimento, e, se era menina ou menino. Não existia ainda a tecnologia dos telefones de bolso ou telemóveis.

Sem notícias da Maternidade, no final da tarde, foi com o amigo Necas festejar o dia de aniversário deste, jantando os dois na Cervejaria Trindade em Lisboa. Já a noite ia alta quando regressaram a casa. Se bem comidos, melhor bebidos, mas conscientes. O amigo dormiu na sua casa. Logo de manhã, ele, levantou-se, tomou banho, deu à ignição do seu "Fiat 127" e foi para a Maternidade em busca de notícias. Não havia notícias. A jovem mãe não fazia dilatação aguardando o parecer da visita do médico da manhã. Por lá ficou aguardando com ansiedade. O tempo andava no seu modo constante, porém, a ausência de notícias era também uma constante. Por volta do meio-dia chamaram-no ao corredor. Lá vinha a tia como uma enfermeira que muito felizes lhe mostravam que era pai de uma menina. Bem quis olhar a carinha do seu bebé, mas elas só lhe mostravam o sexo dizendo que era menina e que a mãe estava a recuperar no recobro pois tinha sido um parto por cesariana.

Quando a levaram para dentro, ele antes de se meter no carro, telefonou de uma cabine pública, aos pais para os informar do nascimento de mais uma neta Catarina. Pouco tempo antes, a 29 de Abril, o seu irmão em Coimbra, também tinha sido pai de uma menina, a Inês.

Meteu-se no carro e foi almoçar a casa dos pais aos Olivais. Os pais todos felizes logo se prepararam para ir ver a nova neta na visita da tarde. Ele ficou a descansar. Só voltaria lá, na visita das sete da tarde, para estando só, poder olhar a sua linda menina e procurar saber do estado de saúde da sua companheira e mãe daquela preciosidade.

Sabia que os seus pais desejavam ter netas pois só lhes nasceram rapazes. Ele sendo o mais novo dos dois rapazes foi desejado menina, mas nasceu menino.

Descansando sozinho na tarde daquele dia, recordou a segunda vez em que veio da guerra em gozo das merecidas férias. Estando em trânsito da guerra do Leste de Angola para a casa de seus pais nos Olivais em Lisboa, ao sair do Hotel Kate Kero, no Largo Serpa Pinto em Luanda, olhou o céu azul e disse para a sua sombra, - se um dia vier a ter uma filha, o nome dela será Catarina.

Ainda nem namorava, mas aquela data sempre o tocou pela simbologia que tinha na luta pela Liberdade, contra o sistema de ditadura fascisante, a que os portugueses tinham estado submetidos. Foi no dia 19 de Maio de 1974 que gravou na sua memória o seu desejo. A 8 de Junho de 1977 pode concretizá-lo já em Liberdade.

Tinha o jovem casal decidido, que se fosse menino era a mãe que escolhia o nome, se fosse menina era ele que escolhia o nome. Nome que ele guardava desde aquela tarde na cidade de Luanda. Ainda tentaram que não fosse apenas e só Catarina, mas a todas as solicitações, fez ouvidos moucos. A sua menina iria chamar-se Catarina Pernes Andrade.

Uma história de vida que hoje celebra os seus quarenta e cinco anos, com foto de uns anos bem atrás.

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