sábado, 1 de maio de 2021

21.05.01

 

Chegamos ao mês de Maio. Um Maio diferente de muitos outros onde as lutas se estendem ao direito que todos têm em ser vacinados contra o vírus invisível que nos tem atormentado. Os mais velhos recordar-se-ão do verdadeiro 1 de Maio que se celebrou em Liberdade. Quantos porém se lembrarão do 1 de Maio de 1973 e 1972? E, que saberão os mais novos desses 1 de Maio?

Onde estariam nesses anos obscuros da ditadura salazarista-caetanista sob o controle ferreo dos ultra ortodoxos à volta do "corta fitas", muitos dos políticos mais velhos que ocupam lugares na Assembleia da Republica? Lembrar-se-ão desses 1 de Maio antes de Abril e das lutas travadas para homenagear a luta dos trabalhadores?


No 1 de Maio de 1974 estava longe, no quartel do Mumbué, sem conhecermos qual seria o desfecho do nosso futuro imediato. Foram tempos de grande indefinição, onde foi difícil mas necessário manter a atenção e a disciplina porque a guerrilha continuava.

Naquela quarta feira, pela primeira vez Feriado Nacional, depois de almoço saí do quartel e fui andando pela picada que nos levava quer a igreja quer à missão católica levando comigo o rádio portátil crown na mão, ouvindo em ondas curtas o que a Emissora Nacional transmitia da alegria que emanava das manifestações que ocorriam no "Puto" (Portugal). Andava eu sózinho pela pista de aviação de rádio colado ao ouvido de olhos chorosos de alegria quando reparei numa nuvem enorme de abelhas que voavam na minha direcção. Desatei a correr ouvindo o barulho do enorme enxame cada vez mais perto. Não ia conseguir chegar ao rio que estava longe. O medo foi o combustível que alimentou a velocidade da corrida mas o barulho do voo delas cada vez mais perto, se me apanhassem estava feito. Na correria louca quando estavam a alcançar-me mergulhei no pequeno capim que ladeava a pista e a nuvem passou por mim continuando o seu voo na direcção do rio. Deitado com o corpo colado à terra, respiração ofegante, o coração a bater desordenadamente, sem saber se chorava pela alegria que as ondas de rádio transmitiam ou se chorava por me ter safado na hora certa daquele enxame de abelhas, ali fiquei deitado colado ao chão aguardando que o bater do coração acalmasse. De rádio desligado voltei ao quartel para beber uma Nocal e fumar um cigarro Português Suave sem filtro que dias antes tinha recebido mandado pela minha querida mãe. No quartel tudo corria normalmente naquela vida fingida que éramos obrigados a levar, onde apenas a Esperança de voltarmos para a nossa terra estava mais presente, que aquilo não era vida para ninguém.

Depois vivi todos os outros 1 de Maio até 1979, ano em que me afastei da política activa sem contudo deixar de gostar da arte que a política encerra em si mesmo; os políticos é que podem não ter a arte do pensar, da palavra e da honestidade que a política lhes deveria merecer.

Celebrar o 1 de Maio é dever e obrigação de todos os amantes da Democracia e da Liberdade, embora na minha modesta opinião celebrar o 1 de Maio não deverá ser nenhuma festa ou arraial, mas antes, o recordar e o honrar do que a sociedade em geral e os trabalhadores em particular tiveram de andar para podermos estar aqui, porque a luta por melhores condições de vida e não só de trabalho é uma constante histórica tal como a luta entre o bem e o mal.




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