segunda-feira, 20 de março de 2023

23.02.23

Nos últimos dias, fora do mundo, tem escrito com esferográficas num caderno, as notas soltas da sua loucura com a ausência, que começou no telemóvel, terminando depois no computador onde as guarda, quer no disco quer numa pen, o que vai escrevendo desde 2015.

Poucas são as notícias televisivas que vê, pois que por vezes ao ver a hipocrisia das mesmas reage e o caldo em casa entorna-se. Desistiu, nada há a fazer quando se emprenha pelos ouvidos e se rejeita liminarmente ouvir o outro lado, ou pensar que talvez as coisas não sejam como nos contam e dizem. Numa guerra há sempre pelo menos dois lados antagónicos, sendo a verdade a primeira a desertar ainda antes de se ouvir o primeiro tiro.

No mundo já não há bons e maus, somos todos mais maus que bons, uns menos e outros mais. Só ouve e lê quem andou em alguma guerra presenciando os crimes que a mesma potência; o ser humano transformado em instrumento de guerra esquece a racionalidade, transforma-se no animal que tudo fará para se salvar vivo daquele inferno. Comentar a tática e a estratégia de uma guerra sem conhecer “a ansiedade do pré-combate”, “os pentelhos do cu a bater palmas” quando as balas ou as bombas sobrevoam a cabeça, é como servir o chá das cinco em serviço da Companhia das Índias num grupo restrito de senhoras acompanhadas dos seus esposos numa reunião com vista a angariar fundos para os inválidos da guerra, inutilidades de gente oca sem medula que se curva e vende ao sistema gerador da própria guerra.

Putin é o que é, de todos conhecido o seu nacionalismo sem olhar aos meios, tudo lhe serve para garantir a sua ambição, mas os outros líderes políticos que em oposição financiam a guerra sem olharem às mortes e desgraças humanas, não são nem melhores nem piores, são quase iguais na ambição de poder, sendo certo que o diabo há muito desertou do convívio com estas lideranças sejam elas mais a leste ou mais a oeste.

Assim, refugia-se no seu casulo, procurando exercitar a escrita à mão para fugir da dependência informática que silenciosamente o dominava.

Com os textos que vai encontrando e selecionando criou um outro capítulo no computador onde os guarda paralelamente. Enquanto o caderno irá para uma gaveta no sótão do seu canto, no computador será impresso, para depois encadernar  a fim de procurar por um ponto na loucura arquivando-a no fundo do subconsciente, em busca da paz e do sossego que procura encontrar para o resto da sua caminhada. 

No final ninguém leva nada desta vida, até as recordações cá ficam esquecidas, quantas vezes perdidas numa lixeira qualquer à espera de serem recicladas. A dúvida existencial prende-se com o que acontece com as boas e as más ações praticadas pelo espírito encarnado quando se dá o fim dessa dualidade. 

 

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