sábado, 11 de março de 2023

22.12.16

 

Partiram ontem, 15 de Dezembro, há cinquenta anos. Chegaram hoje, 16 de Dezembro, há cinquenta anos.

Partiram voando da ponta sudoeste do hemisfério Norte. Chegaram depois às extensas anharas e florestas angolanas do planalto central, no hemisfério Sul.

Depois, uma vida de muitos céus correu sobre eles. Uns não aguentaram o sofrimento que a vida lhes ofereceu e partiram antes de serem velhos. Talvez não gostassem de ficar velhos tão madrasta lhes foi a vida. Outros arrumaram esse tempo de há cinquenta anos no caixote das coisas inúteis. Outros há, que recordam esse tempo em que foram mandados e atirados para a guerra como carne para canhão, conhecendo nesse intervalo em que o tempo parou, a sorte da guerra. Na guerra também há sorte. Eles conheceram-na nesse intervalo de vida. Recordam sem amargura ou orgulho esses tempos lá longe, sendo agora uma oposição não silenciosa à forma como a nova classe dominante escreve a história dos anos de vida que carregam aos ombros.

Na flor da idade os senhores da ditadura fascizante do salazarismo e da posterior versão marcelista do mesmo, mandaram-os para longe das suas terras para defenderem os interesses de meia dúzia de famílias senhoriais. Eles foram, e, naquela terra quente de tamanhas riquezas souberam construir um corpo, cuja principal missão, (clandestina é certo), era o regressarem todos sãos e salvos, custasse o que custasse porque todos os meios justificavam o objetivo definido. Voltaram sem vergonha da sua história, do seu passado, não escondem a guerra aos filhos e netos, vivendo agora como há cinquenta anos filhos anónimos do povo, que não reescrevem os factos históricos, como o faz a nova classe dominante que se bamboleia nos corredores do poder em antigos e novos palácios ao serviço de antigas e novas famílias senhoriais que pela mão de políticos de palavras redondas e submissos voltaram a mandar no país.

Se no tempo do livro único da ditadura, na história do país era praticamente omitido o tempo da designada Primeira República, agora os novos agentes da classe dominante praticamente ignoram o passado de treze anos de guerra inútil que o povo anónimo sofreu nas longínquas terras africanas.

Foram à guerra e voltaram. A guerra abriu-lhes os olhos, despertou consciências, abriu horizontes ensinando-lhes que para sobreviver há que lutar, há que estar em alerta constante, para não ser triturado pela “psico” do pensamento difundido a sete ventos pelos agentes da classe política em obediência há tal classe dominante, que nos controla e parametriza a vida. No passado foram usados como carne para canhão, para agora os ainda sobreviventes serem considerados um encargo para os cofres do Estado, sendo que durante os vários céus de vida que carregam aos ombros alimentaram com o pagamento dos seus impostos, pelo trabalho duro realizado os cofres do mesmo Estado.

Os políticos são hoje meros agentes executantes dos interesses liberais e neoliberais dos que pelo dinheiro dominam o mundo.

Tudo a Bem da Nação! Uns poucos vão bem e muitos outros passam mal! Que já não há pão para macacos.



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