domingo, 19 de março de 2023

06.02.23

 


Mais um dia em que acordou ainda a noite dominava o novo dia. Pela informação obtida no seu aparelho de comunicação o frio continua à solta lá fora. A pequena salamandra aquece a casa que também é pequena só de dimensões.

Casas grandes foram mais uma invenção do sistema. Quando se é jovem gosta-se de casa ampla espaçosa para de ilusão em ilusão o sistema de vida que levamos as encher de móveis atulhando o espaço inicial espaçoso. Depois com a idade a avançar o trabalho de tê-la limpa aumenta sempre mais do que as próprias forças, e, nem todos podem recorrer aos serviços externos de limpeza.

Estava ele com as suas divagações quando caiu em si. Herdou dos pais um pequeno chão de oliveiras. Nas partilhas com o irmão o chão da Horta como o designam nem entrou tão residual é o seu valor. Diz-lhe um amigo que o campo hoje não tem valor porque ninguém compra trabalho e incertezas. Verdade. Contudo, ele que nada entende das coisas do campo, aceitou tomar conta dos dois terrenos que os herdeiros do tio avô Capelo não conseguiram vender, sendo o terreno maior de oliveiras. E não contente acabou por acordar a compra de mais um chão de oliveiras com o seu primo António. A casa, que é o seu canto, foi construída num terreno que pertencia aos seus avós maternos que a herdaram dos pais da sua avó Maria. Quando falava com o seu primo das dificuldades dele vender a casa e o terreno que cá têm, e, como o dito terreno deve ter sido herdado pela irmã da sua avó, logo pertença dos seus bisavós maternos instintivamente acordou ficar com o mesmo, sem se lembrar quer da idade, quer do trabalho para a manutenção das oliveiras. É certo que o amigo Zé o orientava mas com o falecimento da sua mulher não aguentou a solidão dos porquês indo embora para junto da filha mais nova que é diferente. Mas, muito antes o amigo aconselhou-o a deixar o seu vizinho António a colocar as suas ovelhas e cavalos, primeiro no Chão da Horta, depois na Balasca e no chão da Eira do seu tio avô (onde têm semeado e colhido bom feno para os animais), e, agora também no Chão da Horta da Corona. Em troca o António e o genro mantêm os muros de pedra que com a idade por vezes se desmoronam, assim como os limpam das malditas silvas invasoras. No fundo olham pela sua manutenção e não abandono. 

Quando anda pelas quelhas e vê uma velha oliveira coberta de silvas sente tristeza ao olhar a desgraçada.

Ontem o primo António telefonou-lhe para o convidar a participar no almoço familiar anual do arroz de lampreia, na próxima quinta - feira, mas ele ainda por cá andará pelo que não irá comparecer ao pitéu que tanto gosta. Quando voltar irá visitá-lo para acertarem as contas da compra do chão da Horta da Corona, nem sabe como irá fazer pois que acordou pagar o valor que o amigo Zé lhe tinha dado como valor de mercado quando andavam a apanhar a azeitona em dezembro de 2021. O primo propôs-se pagar o material para cercar com rede o terreno, só que tendo ido comprar a rede, os paus e mais arame o valor que pagou é superior ao valor de compra acordado. E, no valor não está a mão-de-obra do genro do António. Mete-se em cada alhada.

Ontem também a sua prima Olga o convidou para ir almoçar com eles a Castelo Branco. Não foi, mas combinaram que durante esta semana ele telefonaria para acordar o dia.

Tem 72 anos, nunca o seu forte foi a força de braços. Os relatórios dos 3 tac's que fez à coluna com todos aqueles nomes não fáceis de entender indicam-lhe que a pobre coluna apresenta os sinais do tempo de vida com algumas preocupações. Coisas de velho, que sem tac's ou ressonâncias vai sentindo as dores por erros que cometeu quando jovem.

Sozinho e mais velho, prepara-se mentalmente que tem de começar a limpar as oliveiras do chão da Horta, não imaginando como se irá desenrascar com tal tarefa.

Já são horas de se vestir e ir passear com a sua amiga.

Não sabe porque escreve estas coisas da sua vida de solitário. Sabe que escrevendo se mantém vivo, não deixando os "porquês" ou os "ses" dominarem o pensamento pois eles nada resolvem e nada ajudam, podendo mesmo abrir portas à solidão, que já por duas vezes andou rondando no quintal, não a deixando aproximar-se da porta quanto mais entrar no seu canto no seu palácio.

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