sexta-feira, 10 de março de 2023

22.12.05

Estava o jovem casal no início do ano de 1980. Tinham uma filha com quase três anos. A filha tinha nascido de cesariana em Junho de 1977. Achou o jovem casal, na sua vida de sonhos e desejos, estar na altura de procurarem ter mais um filho sem pressas nem ansiedades. A jovem mãe no início da gravidez, numa consulta médica é aconselhada a consultar uma especialista porque os pequenas sinais azuis que um dos seus olhos apresentam indiciam um síndroma de nome complicado, que poderia afetar o feto na sua formação óssea. Andou o jovem casal em consultas no Hospital de Santa Maria com uma doutora que se tinha especializado em Inglaterra e que os atendia nas suas consultas noturnas.

Naquele tempo não existia tecnologia para o médico poder seguir o desenvolvimento do feto por meio de imagens. Nem a interrupção voluntária da gravidez estava legislada, sendo que nesses tempos de angústia pelo medo dos efeitos do tal síndroma, a situação de recorrer à interrupção da gravidez não foi admitida pelo casal.

Depois de várias consultas com a gravidez avançando a senhora doutora especializada em Inglaterra disse-lhes o óbvio, isto é, que as probabilidades do bom desenvolvimento do feto era de 50%, agradeceram e não mais voltaram aquelas consultas noturnas.

A jovem mãe sofria mais porque estava continuamente a comparar os sinais que o seu corpo recebia do feto em gestação com os que sentiu aquando da primeira gravidez. É um facto que na primeira gravidez o feto mexia-se, dava os designados pontapés, e, com aquele segundo feto era tudo muito calmo, o que associado a hipótese de tal síndroma criou no casal bastante ansiedade, já que o médico que a seguia considerou a gravidez de risco.

Terminado o tempo de gestação acordaram o dia para nova cesariana.

Na noite do dia 4 deixaram a filha em casa dos avós maternos, para na manhã do dia 5 como combinado a mãe entrar na Maternidade Alfredo da Costa às 8 da manhã. E assim aconteceu. Deixou-a na Maternidade e foi estacionar o seu Fiat127, regressando à sala de espera reservada aos pais ou acompanhantes. As horas passavam, grávidas chegavam acompanhadas e via os novos pais saírem felizes passado pouco tempo. Só para ele não havia notícias com a angústia a tomar conta de si. Já não dava pelo passar das horas, na sua cabeça passavam ideias tristes muito tristes e muitos porquês. Não ouvia o muito ruído falante do que tinha acontecido na noite anterior, na sua mente só a imagem da sua companheira e o medo existiam, não queria saber de que desastre de avião falavam os outros, nada lhe interessava e a ausência de notícias ia-o matando lentamente. Como que derrotado já passava das 7 horas da noite quando sentado sentindo-se vazio de tudo vieram informá-lo de que era pai de uma menina. Não se lembra se respirou fundo ou se os seus olhos se encheram de lágrimas felizes e com o coração aos pulos foi espreitar a sua nova filha que parecia estar a dormir descansadita no seu berçário. A mãe continuava no recobro depois da cesariana. Naquele tempo não deixavam ver as mães que tinham de ser anestesiadas para a realização da cesariana.

Foi buscar a filha mais velha e foram os dois para a sua casa. No dia seguinte, sábado, foram, pai e filha, à hora da visita ver de novo a sua menina e mana para depois estarem com a mãe que já estava numa cama. Estavam felizes. Acompanhou-os nesta visita o seu amigo Necas.

Tinha o jovem casal de novo combinado, se fosse rapaz era a mãe que escolhia o nome (João Nuno), mas se fosse menina era ele, pai, que de novo escolhia o nome, e, assim naquele dia 5 de Dezembro de 1980 nasceu para a vida uma Joana!

Há dias que são marcos na vida de cada um, que não nos lembramos de como se nasce mas não esquecemos o dia em que as filhas ou filhos nascem.

Esta é a história que o avô Carlos te conta neta Maria, para que saibas um pouco de como a tua mãe nasceu.

Hoje felizmente a ciência médica evoluiu e muita coisa mudou porque na vida tudo muda, tudo cambia.

 

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