sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

21.12.17

 

Recebi carta com fatura da água e o habitual cartão de Natal que o senhor Presidente do Município nos envia ano após ano.

Ano após ano os mesmos votos de "Feliz Natal e Próspero Ano Novo". Inicialmente gostei, achei simpático. Depois com o passar dos anos fui deixando de o ler à medida que a minha insatisfação aumentava pela forma como o Município é gerido numa desigualdade de tratamento gritante entre as várias povoações, havendo populações de primeira classe e outras de terceira abandonadas à sorte do tempo.

Porém, este ano li mais do que várias vezes a frente e o verso do cartão que recebi.

Li, porque um Presidente que se apresenta como figura principal do Partido Socialista no Município, que no período pré-eleitoral subscreveu pelo Município um seguro de saúde privado promovendo-o junto dos munícipes recenseados como "complementar" ao SNS na ânsia de poder manter a maioria absoluta que há muitos anos o partido desfruta no Município, podia neste Natal, neste início de novo mandato ter um discurso um pouco diferente. Enganei-me.

As frases são as habituais do marketing político natalício.

A mensagem natalícia ignora os problemas maiores dos cidadãos que residem e resistem no Município, impedindo que muitos outros possam voltar às suas origens, para não falarmos dos que desejam sair das cidades grandes em busca de melhores condições ambientais de vida e que efetivamente a gestão autárquica do Município não oferece por incapacidade política dos seus órgãos na região.

Diz o sr. Presidente no início da sua mensagem que: - "O Natal deve ser vivido com espírito de alegria, esperança e amor" desejando no final: - "... Um ano de 2022 com muita paz e saúde!". Que Esperança podem ter os munícipes de um Município envelhecido onde até o Centro de Saúde da sede de concelho fecha por falta de médicos?

Que Esperança podem ter os aldeões resistentes se nas Extensões de Saúde existentes nas diversas aldeias e freguesias há muito que aguardam a visita de um médico.

Que Esperança… ? Que Saúde sr. Presidente em meios humanos oferece o Município aos que lá residem?

Um Seguro de Saúde Privado em carrinhas utilizando meios públicos e privados locais? Não obrigado, sr. Presidente.

É este modelo de Saúde que o seu Partido defende para os cidadãos do interior raiano? Não acredito, nem quero acreditar, sr. Presidente.

Este ano vou guardar o cartão com a sua mensagem natalícia. Guardo-o não por lhe estar grato, mas sim para memória futura, porque não há mal que sempre dure.

Os meus pais, enquanto funcionário público, sempre viveram o Natal longe da terra onde nasceram e cresceram. Conheço a tradição ancestral do madeiro no largo da Igreja. Mas os nossos Natais familiares, éramos quatro e muitas vezes só três porque o meu pai estava de serviço, a noite da consoada era passado a fazer as filhoses tradicionais que na cidade chamam de coscorões. Enquanto se fritavam no azeite a minha mãe ia cantando as cantigas tradicionais da sua juventude (Zebreira, Salvaterra do Extremo e Segura) ao nascimento do Menino Jesus. Depois, terminada a tarefa de colocar o açúcar com canela nas filhoses, íamos para a cama colocando os sapatos na chaminé para na manhã seguinte recebermos as peças de roupa nova que o dinheiro era curto.

Hoje, já não sou deste Natal consumista de palavras feitas, de árvores e pais natal da Coca-Cola americana. Passo ao lado respeitando o Natal dos outros.

Se no ano passado aqui lembrei palavras do Padre Felicidade Alves, este ano recordo palavras do Bispo Dom Hélder Câmara, - "Se, para o capitalismo, o lucro é o motor essencial do progresso económico, que é que os países subdesenvolvidos podem esperar dos países capitalistas, para além das migalhas que caem das mesas dos banquetes?" in Poemas de Natal, livro que comprei à 24.12.1971 na Livrelco em Lisboa.


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