O
Banco já não existe.
A
natureza e a malvadez humana foram-no degradando. Hoje são dois os
bancos lá colocados. Também naquele tempo não era necessário a
existência de barreiras de segurança, que hoje existem. Serão os
cidadãos de hoje mais loucos que os de então? Ou, tudo não passa
do medo que as autoridades e políticos têm que alguém se possa
magoar na ribanceira, com os papagaios e pavões da comunicação
social a fazerem do percalço, longas redações maliciosas e
maldosas do acontecido?
A
vida no tempo evolui, nem sempre no bom sentido mas evolui. Se
pudesses voltar a sentares-te naquele lugar notarias algumas
diferenças. O mar parece maior com o areal mais estreito, embora
ainda continue grande e lindo. São as consequências das alterações
climatéricas que alguns dos políticos deste planeta teimam em negar
e, outros empurram o problema com a barriga para a frente, sem
coragem de nos falarem verdade, havendo ainda quem nos políticos e
na sociedade civil, ache que tudo é obra de Deus. “Perdoai-lhes
Senhor que não sabem o que dizem”, diria o padre franciscano
quando íamos à missa aos domingos.
Também
a janela do gabinete onde tantas e tantas sestas dormiste à
secretária depois do almoço, dizia eu que a janela já não é a
mesma, modernizou-se, deixou os caixilhos de madeira para agora ser
de um vidro só em alumínio lacado, para melhor resistir aos ventos
carregados de maresia que sopram de norte e nordeste. Fizeram obras
os Serviços Sociais que tomaram conta do edifício. Não o
privatizaram e cuidaram dele com obras, agora só falta dar-lhe vida
ocupando-o com famílias que gostem e queiram beneficiar dos ares e
dos banhos-de-sol nas rochas na encosta sul.
No
sábado passado, ao olhar, ao sentir o mar de frente naquele banco
vazio, sentei-me ao teu lado como algumas vezes fizemos à espera que
nos desses autorização para podermos ir à praia que estava mesmo
ali em frente aos olhos. Mas só quando as aulas e ou os exames na
escola terminassem é que nos davas a liberdade de podermos pisar a
areia, entrar no mar, até lá tínhamos que nos contentar em
olharmos a praia sentados ao teu lado. Outros tempos onde a vida era
bastante mais difícil em todos os aspectos, excepto talvez no
respeito que os mais novos tinham pelos mais velhos, já que todo o
outro respeito existente era imposto pela lei da mordaça que o
regime repressivo da liberdade impunha.
Fomos
para ali, depois de estares uns anos no Baleal. Pediste a mudança
por motivos da tua asma que voltava a incomodar-te e, porque a
estrada que tínhamos de pedalar para a escola em Peniche era mais
plana e curta em cerca de dois quilómetros. Pensavas em tudo o que
pudesse dar aos teus filhos melhores condições de poderem usufruir
uma vida melhor que aquela que conheceste, quer como jovem agricultor
nas terras raianas de Segura, quer como funcionário público na
Guarda Fiscal.
Eu,
agora vou andando entre o cá é o lá, fazendo estadias na cidade
grande onde a vida parece correr num corre corre sem tempo para olhar
ou cumprimentar todos aqueles que às mesmas horas, todos os dias se
cruzam nas suas rotinas.
O
banco já não existe. Tu também já cá não estas. Tudo nasce e
morre. O banco substituíram-no por outros mais modernos dizem que
mais ergonómicos. Só o mar não muda, ora sobe, ora desce numa
cadência lunar constante.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.