terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

O banco










O Banco já não existe.
A natureza e a malvadez humana foram-no degradando. Hoje são dois os bancos lá colocados. Também naquele tempo não era necessário a existência de barreiras de segurança, que hoje existem. Serão os cidadãos de hoje mais loucos que os de então? Ou, tudo não passa do medo que as autoridades e políticos têm que alguém se possa magoar na ribanceira, com os papagaios e pavões da comunicação social a fazerem do percalço, longas redações maliciosas e maldosas do acontecido?
A vida no tempo evolui, nem sempre no bom sentido mas evolui. Se pudesses voltar a sentares-te naquele lugar notarias algumas diferenças. O mar parece maior com o areal mais estreito, embora ainda continue grande e lindo. São as consequências das alterações climatéricas que alguns dos políticos deste planeta teimam em negar e, outros empurram o problema com a barriga para a frente, sem coragem de nos falarem verdade, havendo ainda quem nos políticos e na sociedade civil, ache que tudo é obra de Deus. “Perdoai-lhes Senhor que não sabem o que dizem”, diria o padre franciscano quando íamos à missa aos domingos.
Também a janela do gabinete onde tantas e tantas sestas dormiste à secretária depois do almoço, dizia eu que a janela já não é a mesma, modernizou-se, deixou os caixilhos de madeira para agora ser de um vidro só em alumínio lacado, para melhor resistir aos ventos carregados de maresia que sopram de norte e nordeste. Fizeram obras os Serviços Sociais que tomaram conta do edifício. Não o privatizaram e cuidaram dele com obras, agora só falta dar-lhe vida ocupando-o com famílias que gostem e queiram beneficiar dos ares e dos banhos-de-sol nas rochas na encosta sul.
No sábado passado, ao olhar, ao sentir o mar de frente naquele banco vazio, sentei-me ao teu lado como algumas vezes fizemos à espera que nos desses autorização para podermos ir à praia que estava mesmo ali em frente aos olhos. Mas só quando as aulas e ou os exames na escola terminassem é que nos davas a liberdade de podermos pisar a areia, entrar no mar, até lá tínhamos que nos contentar em olharmos a praia sentados ao teu lado. Outros tempos onde a vida era bastante mais difícil em todos os aspectos, excepto talvez no respeito que os mais novos tinham pelos mais velhos, já que todo o outro respeito existente era imposto pela lei da mordaça que o regime repressivo da liberdade impunha.
Fomos para ali, depois de estares uns anos no Baleal. Pediste a mudança por motivos da tua asma que voltava a incomodar-te e, porque a estrada que tínhamos de pedalar para a escola em Peniche era mais plana e curta em cerca de dois quilómetros. Pensavas em tudo o que pudesse dar aos teus filhos melhores condições de poderem usufruir uma vida melhor que aquela que conheceste, quer como jovem agricultor nas terras raianas de Segura, quer como funcionário público na Guarda Fiscal.
Eu, agora vou andando entre o cá é o lá, fazendo estadias na cidade grande onde a vida parece correr num corre corre sem tempo para olhar ou cumprimentar todos aqueles que às mesmas horas, todos os dias se cruzam nas suas rotinas.
O banco já não existe. Tu também já cá não estas. Tudo nasce e morre. O banco substituíram-no por outros mais modernos dizem que mais ergonómicos. Só o mar não muda, ora sobe, ora desce numa cadência lunar constante.


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