segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

22.10.30

 

Mudou a hora dos relógios, a hora da organização do trabalho. Com o novo horário procura-se uma poupança nos custos energéticos do país. Não se opõe à mudança, nem tal mexe com a sua vida. À noite deitou-se à meia-noite que hoje serão onze, a sua hora habitual mais quarto menos quarto. Hoje acordou à sua hora ou seja seis horas após ter entrado no mundo do sono e dos sonhos.

Lá atrás no tempo houve um governo já então súbdito e vassalo dos liberais de Bruxelas que não mudou a hora para o horário de verão. Nas férias de Verão estavam na praia mesmo depois das dez da noite com o sol ainda no horizonte. Não gostou da experiência, uma vez que alterou hábitos de vida e goste-se ou não a maioria das pessoas com o avançar da idade sempre vai ficando um pouco mais conservadora nos seus hábitos e rotinas do dia a dia. Até a vida de reformado por vezes cansa por nada ter de fazer entre paredes com responsabilidade.

O tempo continua de céu cinzento compacto ao olhar pela sua janela. Não se importa e até gosta da cor destes dias que lhe fazem recordar outros tempos em que nas casas não havia esse instrumento que veio mudar a vida das comunidades, das famílias, dos vizinhos, aldeias e cidades. Foi e é a televisão um fator de progresso que nas mãos de gente ambiciosa e perigosa como aquela que domina atualmente os órgãos de comunicação social, se tornou numa arma prodigiosa que mudou tudo na forma de se viver, ao alterar hábitos de vivência, ao criar modas e necessidades, ao criar dependências e hábitos fúteis de consumismo. Não gosta e cada vez vê menos, principalmente telejornais e o exército de “paineleiros” que abundam nos canais noticiosos que tudo sabem como ventrículos da voz do patrão.

Logo após ter acabado o seu pequeno almoço o céu ficou limpo de nuvens. Temperou as asas de frango para irem ao forno, fez uma sobremesa das suas utilizando os velhos pudins "boca doce e" e por fim preparou um bolo de cenoura com chocolate preto. Aparou a barba, tomou banho e no fim do almoço voltou a olhar o céu decidindo sair. Não ia ficar sentado em frente do computador ou a ler um dos livros que já começou. Tinha de sair para fora de Alverca. Dirigiu-se à estação dos comboios para depois decidir onde iria descer. Aproveitou o guiché estar a funcionar e renovou o passe gratuitamente por ser "antigo combatente". Apanhou o regional. Admirou-se de haver tanta gente a viajar, não havia lugares sentados, pelo que se acomodou logo à entrada. Na Estação do Oriente o comboio quase ficou vazio, aí decidiu seguir até Santa Apolónia para apanhar o metro mudar de linha na Baixa-Chiado e no Cais do Sodré apanhar o comboio da Linha de Cascais. De novo muitas pessoas jovens num instante encheram as composições. A Linha de Cascais tem troços de viagem à beira Tejo e depois à beira-mar sendo por isso um passeio muito bonito.

Há quanto tempo não fazia aquele percurso de comboio. Não se lembra quando foi a última vez, talvez ainda vivesse na Moita quando trabalhava os anéis para o tratamento físico da água. Deve ter sido nesse tempo quando visitou alguns hotéis em Cascais.

Não gostou do pouco que andou pelas ruas, procurando a rua onde uma antiga colega vive ou terá vivido.

De regresso, vai tomando notas das emoções sentidas nesta tarde do último domingo do mês de Outubro.

Há medos e receios que não consegue vencer. Depois, já não é deste modo de vida, não o entende e como tal não se revê nele. Sentiu-se como se fosse um peixe fora de água. Por onde vai, por onde caminha vai imaginando como poderia ele andar por ali com a sua amiga Sacha. Não se imagina pelo que não se vê, como pode ele um dia ter procurado viver na Linha de Cascais.

O suburbano está quase a partir de Santa Apolónia. Ontem a está hora ainda havia luz solar, hoje já é de noite escura. Coisas da mudança da hora.

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