segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

22.11.25

 

Dia em que o sonho lindo acabou lá atrás no tempo. Dia em que a "Nova Ordem Democrática" se impôs. O sonho foi só um sonho mais prolongado. Um sonho, uma festa popular de contradições, onde a utopia andava à solta sem vistos de autorização, nem passaporte oficial. O sonho nunca antes imaginado pelos poderosos do mundo, pleno de contradições internas, o sonho era o limite do povo em festa popular.

Com a chegada imposta pela "Nova Ordem Democrática" outros equívocos chegaram, mas a festa já tinha terminado. Agora, os senhores do passado, em cozinhados sem tempero com os senhores estrangeirados chegados aquando da Liberdade em festa, mais a fação militar que não via com bons olhos os limites dos sonhos da festança popular, impuseram-se neste invernoso dia lá atrás no tempo, acabaram com a festança popular nas ruas, avenidas e cidades do país colorido. O poder dos gabinetes da "Nova Ordem Democrática" estabeleceu-se, recuperando para si o poder que os jovens militares tinham dado ao país, quando num glorioso dia sem divisões entre eles, resolveram em incumprimento do RDM a que estavam sujeitos, gritar aos seus superiores; - Alto e para o baile que isto é uma revolução!!.

Jornalistas na rádio ouviram com atenção e entusiasmo o presumível fim da censura ditatorial e de imediato os microfones da rádio transmitiram a notícia há muito sonhada e desejada, o fim dos ditadores estava a chegar. O povo amordaçado, triste, cansado de tanta miséria mal ouviu a notícia na rádio dos movimentos militares em curso, desconhecendo os seus propósitos de imediato saltou da cama invadindo ruas, largos, avenidas e ruelas dando vivas e saudando os valorosos jovens militares, garantindo com a sua enorme adesão a vitória do glorioso 25 de Abril. Só os esbirros assassinos da PIDE fascista ainda deram uns tiros matando um cidadão jovem. Os assassinos fascistas tinham de deixar a sua marca no último estrebuchar.

Mas o 25 Invernoso da "Nova Ordem Democrática" sempre esteve à espreita, mãozinhas invisíveis internas e externas logo começaram a trabalhar fomentando divisões e intrigas entre os militares, acabando por se impor pouco mais de uma ano após a data gloriosa do 25 Primaveril de tamanhas esperanças; a festança popular arrecadou os foguetes e a malta regressou às suas casas, aos seus sofás. Alguém cantou "foi um sonho lindo que acabou".

As casas enchem-se de televisores que se importavam quer nos canais oficiais de comércio, quer na facilidades do contrabando, onde ainda a preto e branco se podia assistir aos calorosos debates ideológicos, que iam ocorrendo quer na Assembleia Constituinte para a aprovação da nova Constituição da República Portuguesa, quer nas primeiras Assembleia Legislativas onde oradores de palavras fortes e fáceis se impunham. De quatro em quatro anos o Zé passou a ter a Liberdade de se levantar do sofá para ir colocar na urna de votos do seu bairro, da sua residência oficial, uns papéis oficiais de voto para colocar neles uma cruz na força política da sua escolha.

A "Nova Ordem Democrática" ia ganhando estatuto com a maioria dos Zés a optarem por partidos políticos híbridos do chamado centrão, fazendo jus ao antigo dito popular que "no centro é que está a virtude". A formatação do antigo, caduco e opressivo Estado Novo passava do seio familiar para a política do país. País que ora se inclina para a esquerda, ora para a direita, mas sempre ao centro porque dizem que é lá que está a virtude. Uma virtude que há muito não existia, mas que em Abril voltou ao imaginário do Zé, rapidamente perdeu brilho e força. Os híbridos do centrão, com as novas oportunidades que o desenvolvimento do sistema financeiro internacional lhes foi facultando meterem os princípios ideológicos das antigas sebentas de filosofia política no fundo das gavetas, alinhando no pragmatismo de uma tal modernidade onde "as novas antenas continuam a difundir velhas asneiras" numa roupagem mais soft adaptada aos novos tempos de um capitalismo designado pelos seus defensores de civilizado, não humanista mas apenas civilizado na sua forma de exploração; os partidos do centro inebriados pelo poder do voto popular continuaram a usar os antigos símbolos como chavões, com o Zé sentado no sofá frente aos televisores de muitos canais, anestesiado por tanta informação, acreditando mais naquilo que ouve do que naquilo que possa pensar por si próprio, tão confusa anda a sua mente que lhe causa dor quando procura pensar por si próprio, quando busca o outro lado das coisas, desistindo e deixando-se ir de ombros caídos junto do rebanho da multidão vivendo de forma fictícia uma vida mais virtual que real. . Na prática a diferença entre eles, mais à direita ou mais à esquerda tende sempre para o cumprimento das ordens vindas do exterior. A forma como impõem as ordem recebidas do exterior é que varia entre eles. Enquanto os da direita-ao-centro enrabam o Zé a frio, os da esquerda-ao-centro enrabam o mesmo Zé utilizando cremes para que estes se iludam com as suas palavras. Contentam-se uns e outros, em repartir a pouca riqueza que o país vai gerando pelos amigos que no partido ou nas suas margens lhes são mais fiéis no beija-mão, no financiamento oculto das suas campanhas eleitorais. Não se diz, porque lhes parece feio, mas apenas mudou a tinta permanente com que se escrevia caída em desuso, é tudo "A Bem da Nação". De um orgulhosamente sós o Zé passou a ser "Um Bom Aluno" dos interesses dum grupo de gente duvidosa que o Zé não conhece, nem se lembra de ter votado para que essa gente duvidosa mandasse assim na sua vida, cada dia mais triste e mais pobre, questionando-se, "será que o tempo voltou para trás" como dizia a canção que o António Mourão cantava?

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