quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

22-08.25

 

A guerra na Ucrânia, os incêndios, a falta de médicos no SNS, as eleições em Angola independente, o país está a banhos com anúncios de aumento do gás. É o receituário prescrito diariamente, hora a hora, por jornalistas a soldo dos objetivos de quem lhes paga o ordenado; em vez de notícias que comprovem o caminho do país para o prometido bem estar económico e social do paraíso eternamente adiado, só nos servem a guerra, os incêndios, a falta de médicos no SNS e as eleições em Angola. Que caminho tão longo e espinhoso este que carregamos…

Nada se pode criticar, porque não há melhor que a democracia à moda do ocidente, dizem-nos. Pouco mais resta nesta democracia que a liberdade de expressão, de se poder dizer todas as asneiras e mais algumas alarvices sem medo de ser preso por se por em causa a segurança e os bons costumes e publicas virtudes do Estado, todo o resto vai sendo parametrizado não só por leis, decretos, portarias e até despachos de uma qualquer subdiretora das finanças, como também por uma comunicação social de pensamento único e servil aos interesses ocultos que definem quem são os bons e quem são os maus, sem lugar ao contraditório.

Se falas contra a guerra que ocorre na Ucrânia, és putinista. Tu que na tua juventude te manifestavas contra a existência dos blocos militares, contra a Nato e contra o Pacto de Varsóvia (felizmente extinto), não podes agora estar contra a existência do braço armado do imperialismo americano, sob a sigla de Nato. Se o fizeres logo aparece que tem designe de putinista, te mande ir viver para a Rússia, como se tu não conhecesses o que é viver sob uma ditadura feroz asfixiante durante quase vinte e quatro anos da tua juventude.

Se críticas o modelo do capitalismo consumista, que tantas desigualdades gera, tanta fome espalha e tantas duvidas levanta sobre o ambiente, és um perigoso elemento de esquerda radical ortodoxa fazendo o jogo da extrema direita.

Não te seguem com uns sabujos de gabardina, chapéu e óculos escuros como os que se mostravam antigamente na Rotunda do Batista Russo quando jovem ias apanhar o comboio ao apeadeiro de Cabo Ruivo, ou como quando um dia faltaste às aulas e foste ao cinema Império ver a última sessão do “O Homem de Kiev” e ele lá estava por detrás dos reposteiros o sabujo de gabardina, chapéu e óculos escuros a barra-te a entrada para lhe depositares na mão o teu bilhete de identidade. Hoje não precisam de se mostrarem de gabardina, chapéu e óculos escuros, hoje andam ocultos pelas redes sociais por vezes disfarçados de algoritmos, outras nem tanto. Seguem-te nas redes sociais, não vá o sistema de vigilância, o grande «big brother», que regista os teus passos com câmaras de filmar em todas as esquinas das cidades, em todos os controles de via verde nas auto estradas, nas faturas da bica ou do papel higiénico que pedes na pastelaria ou no minimercado da tua rua, esquecerem-se de seguir os teus pensamentos, os teus gostos que sem medo expões seja pelo computador seja pelo pequeno aparelho de comunicação que usas. Tu sabes e eles sabem pois tudo fica gravado e guardado nas nuvens tecnológicas que os poderosos criaram. Eles vigiam, eles sabem, eles estão atentos, eles se julgam a si próprios os únicos defensores da vida em democracia e dos valores(?) do ocidente, muito mais do que aqueles que se recusam a ver a vida a preto e branco, que como tu se recusam a alinhar com a multidão sentados em bons sofás a ouvirem e verem televisão como fonte da única verdade recusando-se a lerem livros e jornais em papel, a ouvirem outras vozes discordantes do pensamento único.

Serenamente, de ilusão em ilusão os homens da "nova ordem democrática" parametrizam-te a vida. Eles pouco se importam que tu cidadão anónimo passas passar fome ou frio, se o dinheiro do ordenado ou da pensão te chega apenas até ao dia quinze ou ao dia vinte, se os teus filhos gostam e querem estudar mais do que aquilo que o teu parco rendimento pode suportar, que tenhas ou não assistência na saúde como está consignado na Constituição e na lei do Serviço Nacional de Saúde. Eles falam mas pouco se importam. Lembram-se de ti de quatro em quatro anos ou quando por desavenças políticas nos fazem ir votar de novo nas mesmas escolhas políticas para nos governarem nos mesmos moldes, sendo que uns vaidosos mais neoliberais violam-te sem vaselina, enquanto que os outros vaidosos liberais vaidosos ao centro com tiques de esquerda, ao violarem-te usam cremes mais consentâneos com os as ordens que recebem dos burocratas de Bruxelas. Uns e outros depois de nos prometerem crescimento económico, de maiores oportunidades para todos, de nos quererem convencer que serão eles os únicos que nos podem levar pelo caminho do peregrino em direção ao paraíso, assim que cumpres o teu dever cívico do voto, quase de imediato te apresentam novas e espinhosas faturas a pagar, a suportar, para que possas continuar a ter esperança que um dia chegará para os teus vindouros possam viver no prometido paraíso que te parece não existir.

Foi assim com as privatizações de bens que foram nacionalizados após a tentativa de golpe de estado dos direitistas extremistas spinolistas. Prometeram-nos que privatizando bens públicos então nacionalizados, alguns essenciais à independência económica do país, iríamos não só amortizar a divida publica e ao mesmo tempo ter melhores preços e serviços. Promessas leva-as o vento, sempre os mais velhos nos ensinavam. A divida publica não para de aumentar, pois é necessário aos governantes manterem-nos na ilusão do modelo de vida consumista instituído, recorrendo para tal aos constantes empréstimos junto dos vampiros-abutres financeiros; quanto ao tão prometido mercado concorrencial que as privatizações iriam criar, a única constatação que conhecemos é que não há concorrência no nosso pobre país. Os gestores das grandes empresas que existem no mercado nacional fazem o que querem, perante o poder político que se tem mostrado não só com medo de atuar, como se mostra ineficaz, constituído que é por políticos submissos aos interesses do grande capital.

Mal vai o país quando se vem a publico anunciar que as faturas da energia de um operador qualquer passam a ser visadas por um qualquer secretário de estado. Como se não houvesse funcionários públicos com chefia e direção leais e competentes para conferirem faturas de energia. Que melhor prova de ignorância, de entendimento do que deve ser a gestão. Como se sentirão os funcionários públicos que antes da comunicação ao país exerciam o trabalho serio e competente de conferência das faturas da energia? Enquanto a maioria bate palmas a tão excelente ideia, caminha na outra margem sempre um pouco mais desiludido.

Se tiveres ainda memória poderás recordar que o país chegou a contrair empréstimo para comprar aviões para a sua Força Aérea adaptar no combate aos incêndios que logo depois de Abril começaram a ocorrer. Apodreceram os tais equipamentos suportados na sua compra por divida publica na base aérea do Montijo. Alguém da “nova era democrática” decidiu que o combate aos fogos florestais tinha de ser realizado por operadores privados e não pelo próprio Estado. Num tempo mais à frente após reunião de altos pensadores em Bruxelas alguém chega ao país trazendo a encomenda que era preciso diminuir o número e o peso do pessoal no Estado. Políticos competentes em fazerem os trabalhos de casa ditados por Bruxelas logo descobriram que se podiam extinguir as funções dos antigos funcionários públicos, de cantoneiros, de guardas florestais e de guarda-rios, diminuindo o número de funcionários para agradar aos amigos liberais em Bruxelas. Cantoneiros, pessoas que limpavam as bermas das estradas, cuidavam da saúde das muitas árvores que existiam ao longo das mesmas; guardas florestais que guardavam os pinhais, vivendo alguns em casas do Estado nos próprios pinhais. Pessoas que conheciam e cuidavam das florestas, conhecendo os donos de todos os terrenos circundantes aos próprios pinhais e eucaliptais; os guarda-rios olhavam pela boa manutenção dos cursos de água, conhecendo não só os proprietários dos terrenos como quem não cuidava convenientemente dos mesmos. Gente simples, de pouca formação literária mas com muito saber sobre a sua profissão e que custariam tostões ao Estado. Profissões que ao serem extintas deixaram ao deus dará as bermas das estadas, os pinhais e eucaliptais assim como os cursos de água existentes. Diminui o número de funcionários e subiu astronomicamente os gastos do Estado na contratação de empresas para a manutenção das bermas das estradas, ficando a floresta e os cursos de água entregues à bicharada. De tal modo assim é que governante após governante sempre depois da porta arrombada com mais uns grandes incêndios, vem falar em impor o cadastro atualizado de todos os terrenos, sendo que os não reivindicados reverterão para uma bolsa de terrenos públicos. E, como bons liberais que são, propõem-se vender os mesmos, em vez de fazerem como em alguns países da Europa se faz, o arrendamento dos terrenos públicos por noventa ou cem anos a quem esteja interessado e os explore.

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