terça-feira, 24 de fevereiro de 2015


Quando era jovem, havia trabalho e emprego para os jovens que estudavam, porque não eram muitos os que estudavam e menos os que chegavam ao ensino superior. Os que não podiam ou não queriam estudar esperavam pelo serviço militar para indo ou não à guerra, poderem procurar noutros países o que não conseguiam ter na sua pátria. Os que cá ficavam começavam a deixar os campos e o interior para emigrarem para as grandes cidades onde a construção começava a proletarizar os filhos de camponeses.

Quando era jovem, havia trabalho, a economia crescia a primavera marcelista permitiu-nos cheirar um tudo-nada a Europa do bem-estar social mas o regime político do «orgulhosamente só» continuava a controlar a vida dos cidadãos, «fala baixo que as paredes têm ouvidos». Aos jovens deste país era prometido um futuro controlado pela polícia política e pela ida às guerras de África, se regressasse são e salvo teria oportunidade de poder trabalhar cá ou de emigrar.

Hoje passados quarenta anos, terminadas as guerras de África, integrados na tal Europa do bem estar-social, livres da asquerosa polícia politica temos a Liberdade que os Militares nos deram a 25 de Abril de 1974. Todas ou quase todas as esperanças e os sonhos que nesse dia, nesse tempo cada um de nós criou para o nosso Portugal não existem mais. Resta-nos a Liberdade de falar, de protestar, de chamar nomes feios e bonitos aos políticos sem medo de irmos parar à Rua António Maria Cardoso para interrogatório.

Mas hoje mais do que a Liberdade-de-expressão impera na nossa sociedade a Liberdade-do-Medo e a Liberdade-de-ter-Vergonha!

A malfadada censura actualizou-se. Renasceu das cinzas e é transversal na sociedade portuguesa. Hoje não precisa do lápis azul, passou do estado sólido ao estado gasoso, é um gás inodoro atuando pelo medo,

Medo de perder o emprego, medo de perder o trabalho
Medo de não conseguir encontrar trabalho
Medo de não conseguir pagar os encargos com a casa, com o carro…
Medo do tempo que há-de vir, das pragas, das secas ou das inundações de como pagar o prémio aos ladrões-oficiosos da companhia de seguros
Medo de que o cliente não faça mais encomendas
Medo até de ter medo

Vergonha de pedir aos pais dinheiro para a farmácia, para a creche, para…
Vergonha de pedir à família e amigos, dinheiro que não sabe como irá pagar
Vergonha de não ter como pagar os estudos aos filhos
Vergonha de ter medo
e
Medo de ter vergonha


É o que nos resta? Quase! 
Mas, mesmo na noite mais longa e escura há sempre uma candeia acesa a dizer-nos que existe pelo menos uma solução alternativa… temos que ter Esperança e continuar a lutar por uma vida melhor para todos.

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