Quando era jovem, havia trabalho e emprego para os jovens
que estudavam, porque não eram muitos os que estudavam e menos os que chegavam
ao ensino superior. Os que não podiam ou não queriam estudar esperavam pelo
serviço militar para indo ou não à guerra, poderem procurar noutros países o
que não conseguiam ter na sua pátria. Os que cá ficavam começavam a deixar os
campos e o interior para emigrarem para as grandes cidades onde a construção
começava a proletarizar os filhos de camponeses.
Quando era jovem, havia trabalho, a economia crescia a
primavera marcelista permitiu-nos cheirar um tudo-nada a Europa do bem-estar
social mas o regime político do «orgulhosamente só» continuava a controlar a
vida dos cidadãos, «fala baixo que as paredes têm ouvidos». Aos jovens deste
país era prometido um futuro controlado pela polícia política e pela ida às
guerras de África, se regressasse são e salvo teria oportunidade de poder
trabalhar cá ou de emigrar.
Hoje passados quarenta anos, terminadas as guerras de
África, integrados na tal Europa do bem estar-social, livres da asquerosa polícia
politica temos a Liberdade que os Militares nos deram a 25 de Abril de 1974.
Todas ou quase todas as esperanças e os sonhos que nesse dia, nesse tempo cada
um de nós criou para o nosso Portugal não existem mais. Resta-nos a Liberdade
de falar, de protestar, de chamar nomes feios e bonitos aos políticos sem medo
de irmos parar à Rua António Maria Cardoso para interrogatório.
Mas hoje mais do que a Liberdade-de-expressão impera na nossa
sociedade a Liberdade-do-Medo e a Liberdade-de-ter-Vergonha!
A malfadada censura actualizou-se. Renasceu das cinzas e é
transversal na sociedade portuguesa. Hoje não precisa do lápis azul, passou do
estado sólido ao estado gasoso, é um gás inodoro atuando pelo medo,
Medo de perder o emprego, medo de perder o trabalho
Medo de não conseguir encontrar trabalho
Medo de não conseguir pagar os encargos com a casa, com o
carro…
Medo do tempo que há-de vir, das pragas, das secas ou das
inundações de como pagar o prémio aos ladrões-oficiosos da companhia de seguros
Medo de que o cliente não faça mais encomendas
Medo até de ter medo
Vergonha de pedir aos pais dinheiro para a farmácia, para a
creche, para…
Vergonha de pedir à família e amigos, dinheiro que não sabe
como irá pagar
Vergonha de não ter como pagar os estudos aos filhos
Vergonha de ter medo
e
Medo de ter vergonha
É o que nos resta? Quase!
Mas, mesmo na noite mais longa e escura há sempre uma candeia acesa a dizer-nos que existe pelo menos uma solução alternativa… temos que ter Esperança e continuar a lutar por uma vida melhor para todos.
Mas, mesmo na noite mais longa e escura há sempre uma candeia acesa a dizer-nos que existe pelo menos uma solução alternativa… temos que ter Esperança e continuar a lutar por uma vida melhor para todos.
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