Não
sou contra a lei da greve. Não sou contra a lei do aborto. Não sou
contra a lei do casamento homossexual. Procuro, às vezes com
sacrifício, não me tornar fanático nestas e em outras questões.
Nunca fiz greve, nunca provoquei um aborto, nunca fui a um casamento
de homossexuais.
Eram
seis da manhã quando me levantei para me preparar e antes de sair
para a rua, colocar a minha amiga a andar na passadeira de modo a que
ela possa queimar alguma da sua energia, fazendo depois um passeio
mais calmo. Enquanto ela caminhava, a televisão ia dando as notícias
que passavam da greve dos guardas prisionais, à greve dos
funcionários judiciais, davam um salto à greve dos técnicos
diagnóstico terapêuticos, seguindo depois para o tempo de antena do
quase eterno líder dos professores afectos à fenprof a ameaçar
novas formas de luta, e voltada a página, o anúncio da greve na CP
para amanhã, continuando com a greve dos enfermeiros e as ameaças
dos estivadores… sem esquecermos a dos juízes (classe que não
depende sendo independente do Governo)
Isto
é, parece que neste Natal ou neste fim de ano a moda é o «fazer
greve». Nestas greves algumas poderão ter as suas razões de
lógica, mas outras são puro oportunismo político dos lideres
sindicais e de quem esta por detrás dos mesmos. Nem todos os
sindicatos seguem a lógica doutrinária afecta ao pensamento da
esquerda enquanto luta de classes, havendo sindicatos afectos a
outros pensamentos políticos. Os sindicatos sempre foram, também,
uma arma de arremesso político. Não há nem almoços grátis nem
anjinhos, nestas andanças sindicais.
Não
sendo eu fanático a defender o Governo, fico a pensar no porque em
algumas delas o mesmo Governo não pede ou decreta a «requisição
civil». Que interesses se juntam na saúde para a Ministra não
recorrer à mão forte da requisição civil? Estará ela e o seu
Governo preocupados com os milhões que investidores privados e
ocultos, investiram e investem na saúde privada? Não compete ao
Ministério da Saúde a defesa intransigente do Serviço Nacional de
Saúde Publico?
Porque
não o decretar serviços mínimos em todas as outras situações?
Tenho
duvidas e não são boas.
E
nesta época grevista fico pasmado com a defesa dos direitos dos
presos efectuadas em todos os canais televisivos. Não entendo. Não
me lixem com os direitos humanos dos presos. Os presos devem e tem de
ser tratados com a civilidade que eles não tiveram enquanto cidadãos
livres. Mas daí ao reivindicarem direitos e condições, com os
canais televisivos a darem-lhes tempo de antena, não é o meu
futebol e causa-me uma certa revolta.
Para
quando os sindicatos envolvidos neste folclore, se apresentam a
ameaçar fazer greve pela defesa de um melhor Serviço Nacional de
Saúde, de melhores condições, de melhores equipamentos nos
hospitais e em alguns centros de saúde; os professores a exigirem
melhor ensino, com curriculum que vise o futuro cada vez mais
tecnológico, exigindo a sua participação na elaboração das
matérias dadas, com menos peso nas mochilas e mais saber dos
próprios professores; as outras classes profissionais envolvidas a
fazerem greve por melhores condições de trabalho, mais
profissionais nos serviços etc…. Isso não ouço, só ouço é
pedir revisão do plano de carreiras e mais euros para o final do
mês.
Tudo
isto cansa, revolta e abre o campo político ao regresso do D.
Sebastião para repor a ordem já que a Democracia parece estar em
causa nestas manhãs de nevoeiro.
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