domingo, 30 de janeiro de 2022

22.01.28

Nunca foi de grandes festas e ainda amenos de festejar dias disto e daquilo. Não foi e não será.

Viveu, cresceu em Peniche no tempo em que naquele forte se prendiam e torturavam pessoas cujos crimes, sem direito à presunção de inocência, era apenas o sonharem de forma diferente com o estabelecido pelo regime do velho tirano "o Botas" na santa aliança com o amigo cardeal "o Cerejas".

As portas do velho forte abriram-se à Liberdade com o 25 de Abril. Sucederam-se governos provisórios e definitivos saídos do 25 Invernoso e o forte quase abandonado sem perceber qual o seu futuro lá resiste sentindo a erosão do mar e dos ventos marítimos que o castigam nas suas “artroses” continuamente indiferentes ao desleixo governativo dos muitos governos sem cultura que lhe valha.

As obras para um futuro disto e daquilo e por último do museu da resistência são anunciadas mas tardam sempre.

Nunca lá entrou para ver o interior onde as barbáries eram cometidas por zelosos funcionários do regime. Não entrou nem entrará. Foram, são e serão locais de baixas energias vibracionais, de tristes recordações a exigirem políticas governativas que impeçam o seu regresso, que infelizmente tardam em acontecer.

O tempo não pára, nem permite voltar atrás, é uma constante em movimento de sentido único, pelo que, nesse constante movimento o mundo mudou e muda sub-repticiamente constantemente, pensando ele que a história não absolverá quem tanto mal, tanta dor e desgraça causou aos seus iguais, seres humanos. Mas o ser humano com as suas coisas continua na sua luta gananciosa, destruidora e cega pelo "ter" não olhando ao como, não olhando ao próprio "ser".

Por isso ao ler o que se diz no tal dia que dizem comemorar o genocídio que foi o holocausto, abre-se uma das suas gavetinhas de memória e pergunta-se a si próprio o porquê de haver todos estes dias e nunca os senhores que criam estas coisas destes dias se lembrarem de criarem um dia para as vítimas da Santa Inquisição que tanto mal, tanta desgraça, tanta miséria causou. Fechou a gaveta. Ele não é nem será dessas coisas de festejos disto e daquilo. Não se deixa ir no rebanho, prefere outras ondas, outros trilhos na outra margem da vida.

É assim que volta a Peniche não só ao forte mas a toda a muralha que a envolve construída em tempos históricos para defesa dos seus cidadãos e que hoje até aos olhos mais míopes se vai degradando sem dó por falta de manutenção. Manutenção que exige trabalhos técnicos com alguma complexidade, como tal verbas avultadas, imagina no seu pensar. Peniche não está situado no esquecido e abandonado interior, antes pelo contrário está bem no litoral continental a menos de cem quilómetros a norte de Lisboa. Contudo, sofre da mesma doença que o seu interior raiano de Idanha-a-Nova. O abandono, o esquecimento, o serem ambos ignorados nos corredores dos palácios em Lisboa onde se decidem as políticas governativas.

A sempre anunciada descentralização dos serviços do Estado é uma falsa mentira que governo após governo nos impingem como sendo para bem das regiões e das suas populações. Não há descentralização quando apenas se cedem aos «pequenos poderes autárquicos» serviços e responsabilidades e não se reforma, não se clarifica de forma cristalina por via a simplificar a teia de dependências ministeriais criada ao longo dos anos por Secretários de Estado e Ministros sem visão na gestão política dos bens e serviços que o poder central transfere para os «pequenos poderes autárquicos».

Tem consciência que a sua luta contra o sistema é inglória no curto e no médio prazo. Quando Peniche voltar a ser ilha, quando o mar começar a galgar inundando as zonas baixas do litoral e das cidades, os que andarão pelos corredores do poder nos palácios Lisboetas ir-se-ão lembrar que há um interior esquecido há muitos e longos anos. Nessa altura farão as malas tão apressados como um dia a Corte do Reino fugiu para o Brasil abandonado o povo português à sua sorte.


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