domingo, 6 de março de 2022

22.02.10 Lítio

Falou escrevendo. Disse coisas que são verdade. Mas a exploração do lítio a céu aberto não é comparável com as explorações de outros minérios em minas no interior do subsolo. Não se tente tapar o Sol com uma peneira. A engenharia de minas evoluiu muito. Disso ninguém tem dúvidas, mas, as condições ambientais da exploração do lítio a céu aberto continuam a ter implicações gravosas para as populações residentes e para o ecossistema.

Sem referir os efeitos negativos produzidos só pela prospeção na zona de Montalegre - Boticas, que soluções ecológico-ambientais são anunciadas e garantidas quer quanto aos aquíferos existentes nas zonas, quer quanto ao tratamento das águas residuais utilizadas no processamento e respetivas lamas, sem esquecer o tratamento a dar aos resíduos resultantes da exploração que serão impróprios para a agricultura? Serão os resíduos deitados ao mar?

Só depois destes problemas estarem solucionados, sem esquecer as justas indemnizações aos proprietários das terras a explorar é que se deve entrar na questão da obtenção da riqueza que o lítio poderá trazer, isto é, onde vai o minério ser tratado no interior? Se é no interior que presumivelmente ele existe é aí que deve ser processado para ajudar à coesão e desenvolvimento das regiões. Uma grande unidade de processamento ou pequenas unidades para o processamento?

Que garantias tem o interior de que o minério bruto não seja processado no litoral? E porque no litoral? Que custos sociais justificarão o deslocamento do processamento do interior para o litoral?

Por fim, que garantias tem o povo português na sua globalidade, que o lítio processado seja transformado em Portugal (de preferência no interior) nas diversas baterias de lítio "made in Portugal". Que garantias há em como o maior valor acrescentado obtido do lítio é obtido em Portugal?

Irá o pobre e abandonado interior ser esventrado, destruindo-se os ecossistemas existentes, a sua biodiversidade para depois de processado o lítio ser exportado em bruto criando a verdadeira riqueza num outro país?

Terminada a exploração, quem será responsável pela tentativa de repor alguma biodiversidade nas zonas esventradas? O Governo, ou seja o Zé Povinho? Ou os exploradores do minério?

Criam-se tantos organismos públicos que pouco valor acrescentado trazem à economia, porque não se criou uma empresa publica para a exploração, processamento e transformação em baterias do minério lítio, com a responsabilidade publica de repor condições de biodiversidade nas regiões esventradas? É certo que tudo isto já é muito tarde, optando o Governo pela iniciativa privada.

A água existente no interior exige cuidados face aos anos de seca que o país leva. É fundamental a preservação da sua qualidade. Lembrem-se que a água que abastece as cidades do litoral tem na maioria dos casos a sua origem no interior. A barragem de Castelo de Bode é alimentada pelos cursos de água com origem na serra da Estrela, assim com a barragem da Aguieira… se não existir muito cuidado… Imaginem as águas do Dão, do Zêzere e do Mondego poluídas… e pensem, imaginem só o aumento do preço a pagar pelos consumidores para fazer face aos tratamentos que necessários à sua nova despoluição para ser potável e boa para a saúde humana.

Claro que é necessário ser pessimista face ao que a história nos tem ensinado, com privatizações, participações publico privadas… etc. etc. Até porque já está em desenvolvimento o fabrico de baterias à base de sódio, sendo que na Universidade do Minho há uma pesquisadora nesse tema galardoada com um prémio da ciência pelos trabalhos desenvolvido nessa área das baterias à base de sódio. E, para o mineral sódio não é necessário pesquisar a sua existência, pois o nosso litoral tem 943 km de mar, aos quais se podem acrescentar os 667 km de mar existentes no Portugal Insular. Sódio é o que não falta no mar.

Esventrar o interior, matar a biodiversidade, pondo em causa a qualidade dos aquìferos assim como dos rios que abastecem barragens que fornecem as redes publicas de água às cidades, vilas e aldeias, para se obter lítio e concorrer em preço com outros produtores muito mais avançados na exploração do mesmo, quando o sódio está à mão de semear...e já temos conhecimento cientifico na Universidade do Minho para se apoiar e desenvolver… o Futuro corre muito mais depressa que as nossas decisões Governamentais… olhemos e trabalhemos o Futuro já que o lítio é presente apenas e só.


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