domingo, 6 de março de 2022

22.02.15

Nasci na zona mais poluente da cidade de Lisboa dos anos cinquenta, nos Olivais, numa rua cercada por fábricas como a refinaria da Sacor, fábrica do zarcão, outras de têxteis e um pouco mais afastado o matadouro de Lisboa, todas elas produzindo um cocktail de cheiros no ar difíceis de imaginar nos dias de hoje, felizmente. Não pertenço nem sou adepto de nenhuma organização que se auto intitula de ambientalista, de defesa do consumidor ou de qualquer “ong” nestes tempos tão em voga.

Farto do politicamente correto, procuro não ser radical, o que nem sempre é fácil, mas tento para meu descanso.

Se em mil novecentos e sessenta e nove entrei na política em oposição ao regime de ditadura que nos asfixiava os sonhos, hoje caminho na outra margem cada dia mais afastado do status reinante.

Quanto mais ouço e leio sobre o presumível lítio existente no país, mais dúvidas tenho sobre os benefícios que a sua extração e processamento possam trazer, face aos custos irreparáveis que irá provocar no esquecido pobre e abandonado interior se a exploração se concretizar. As presumíveis reservas existentes nunca nos irão dar um lugar de relevo na formação do preço do minério nas bolsas de mercadorias, ficando o país sempre dependente dos interesses especulativos exteriores. Por não ser um radical contra a exploração do minério, só estarei a favor se o lítio extraído e processado alimentar indústria nacional a instalar no interior do país onde presumivelmente o minério existe. Havendo tantos milhões de euros do PRR para a reindustrialização do país, há dinheiro para a criação da indústria de transformação do lítio em baterias, desde que as reservas sejam economicamente sustentáveis, preparando-nos para a sua reciclagem futura que ainda hoje se procura solucionar. Pode é não haver vontade política habituados que estamos a curvarmo-nos perante os interesses liberais, neoliberais e ultra liberais que sopram de Bruxelas, aos quais com paleio de centro-esquerda ou mais ao centro dizemos continuamente "amém" sempre de mão estendida.

A seca é um fenómeno cíclico com uma progressão natural muito lenta mas que os crimes ambientais produzidos a nível global para manter o atual desenvolvimento económico e social têm acelerado produzindo como consequência as designadas alterações climatéricas.

Face à atual situação, leio e ouço com alguma insistência os lobistas do negócio da água apontarem como solução a desmineralização da água do mar. Dão exemplos de Espanha de Israel esquecendo as causas, os erros nos recursos, que levaram à construção dessas fábricas de desmineralização por osmose inversa. Depois a água obtida e tratada quimicamente para poder ser potável para consumo humano, servirá para resolver problemas de abastecimento público no litoral, que no nosso país é onde ainda vai chovendo, com excepção do Algarve. E para o interior a osmose inversa da água do mar será solução?

Não sou hoje um defensor da designada indústria do turismo como alavanca de desenvolvimento e progresso, assim como no passado aquando da chegada dos milhões de euros da CEE nunca acreditei que o desenvolvimento sustentável do país assentasse na indústria do betão paralelamente à destruição da pouca industrialização e abandono dos campos e mar. Não conheço nenhuma sociedade que seja considerada desenvolvida com base na indústria turismo para turistas de classe média, à custa de vender o Sol, praias de águas mornas e campos de golfe em regiões onde a água é escassa. Temos muitas outras riquezas a desenvolver e explorar sempre como ação complementar de desenvolvimento e não como alavanca.

A desmineralização da água do mar é negócio de fuga para a frente que adia soluções criando a par dos lucros chorudos produzidos pelos proprietários privados, outros e novos problemas ambientais com incidência no mar e no preço final da água obtida e tratada. Depois e de novo questiono, a quem vai servir essa água? Ao litoral pelo certo, mas então esquecemos e abandonamos à sorte da morte lenta as gentes que resistem e sobrevivem no interior?

Educação massiva de comportamentos exigindo a par, coragem política para Reciclarmos e Utilizarmos de novo tudo o que causa danos no ambiente, seguindo a Lei de Lavoisier.

Não é só a dívida pública que põe em causa o futuro dos nossos vindouros, tão ou mais grave que o eterno "real calote" público, são as condições ambientais que lhes estamos a deixar. Mudemos hábitos e mudar-se-ão as vontades e as famigeradas alterações climatéricas. 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.