terça-feira, 22 de março de 2022

22.03.17 Inicio

Ao sentar-se à secretaria, vestiu o roupão, colocou a manta sobre as pernas e olhou pela janela o céu com o dia a clarear. O vento corre forte pela rua da urbe, avisando-o para se preparar para o frio que o vento sempre agudiza. A Isis já subiu para cima da secretária, já se sentou em cima dos livros ficando a olhar para os movimentos que faz no ecrã do telemóvel onde escreve. Hábitos que ela repete quase todas as manhãs, indiferente ao que se passa lá fora no mundo, onde as desgraças da falta de água potável, da fome, do trabalho escravo e infantil, as várias guerras estão em expansão a mando dos senhores sem rosto que decidem no mundo, satisfeitos nos seus palácios com os rendimentos materiais que as mesmas desgraças lhes garantem através das ferramentas criadas e aceites como forma de vivência em sociedade.

Ele para e fica a olhar para a sua gatita que olha fixamente ora para a sua caneta ora para a rua, questiona-se com o que estará ela a pensar, a ver, a observar no seu mundo de gata que desconhece e nem imagina como será. Até o seu próprio pensamento por vezes ele desconhece temporariamente. Olha o relógio. Está na hora de se vestir para o passeio matinal com a sua outra amiga, a Sacha.

O tempo está cinzentão, o vento acalmou. Os da meteorologia anunciam chuva por vezes forte. Faz uma pausa para no próprio telemóvel olhar a previsão. Diz-lhe o mesmo que a previsão de chuva às sete da manhã é de 58%. Lá no seu canto raiano também as previsões dos aguaceiros são animadoras com intervalos para que a terra possa absorver a água abençoada deste início de Primavera. As barragens locais estão com boas reservas, cheias ou quase, para garantir o regadio que intensivo cresce em exponencial, alterando completamente a paisagem e a biodiversidade dos campos que se encontram abastecidos pela barragem Marechal Carmona. Preveem-se milhões de investimento para a manutenção da rede a fim de evitar as enormes perdas de água que a idade da rede com os seus cinquenta anos potencia, também pelo desleixo e incúria que têm existido ao longo dos anos, mas isso não se pode dizer, não é politicamente correto. O correto é pedir subsídios e financiamento versus endividamento para permitir a manutenção da rede e sua adequação aos novos tempos de cultivo super intensivo e intensivo de amendoal e olival em nome da campanha levada a cabo pelo Município de ser uma Bio-Região ou Região-Bio, designação que permite a quem preside aos destinos do Município uma certa visibilidade pessoal e política. Assim se vai cantando e rindo, prometendo-se sol na eira e chuva no nabal. As eiras foram um bem necessário quando no passado as gentes da terra tinham de semear cereais para a própria sobrevivência das suas casas, hoje são lembranças, reminiscências de um passado muito sofrido; já o nabal virou hectares a perder de vista de árvores pequenas plantadas umas em cima das outras como manda o plantio super intensivo do amendoal e olival. Todo esse mar de pequenas árvores em cima uma das outras se traduz em investimento em nome do progresso e do desenvolvimento da região, dizem-nos os senhores que governam.


Depois da volta matinal sem pingo de chuva, embora o céu se apresentasse cinzentão ameaçando chover, do pequeno almoço tomado, procurou no telemóvel mensagem que normalmente o Hospital de Vila Franca de Xira lhe envia a relembrar a marcação de consultas e análises. Não encontrou. Procurou então na pasta de arquivo onde guarda tudo o que diga respeito à sua saúde. Procurou uma e outra vez. Apenas o pedido de consulta que o médico tinha efetuado na consulta de Setembro do ano passado está arquivado.

Procurou no telemóvel o número do hospital e ligou. Do lado de lá a gravação diz-lhe para ligar dentro do horário normal de serviço. Olhou as horas ainda não eram nove. Voltou a verificar todos os documentos. O hospital normalmente nunca lhe falhou, quer com análises quer com a consulta. Passava das nove quando voltou a ligar. Deram-lhe a música habitual e pacientemente aguardou o tempo necessário até que do outro lado ouviu uma voz humana de verdade. Apresentou a razão do seu telefonema. A senhora funcionária do hospital do serviço de marcação de consultas pediu-lhe o nome e a data de nascimento que ele prontamente deu e aguardou, até que a senhora lhe diz que o doutor já não tem vaga até ao final do mês de Maio. Engoliu em seco o murro no estômago respirando fundo, disse à senhora que ficava então a aguardar que lhe dissessem para quando a consulta, já que o que lhe apetecia dizer ela não tinha culpa. Do outro lado a senhora dizia que ia enviar um email aos serviços sobre o seu caso. Desligou. Respirou fundo várias vezes e ligou o computador para também ele enviar um e-mail a solicitar a marcação da consulta. É a primeira vez que tal lhe acontece. Ele que é um defensor acérrimo do SNS universal e público, com consciência das limitações que o mesmo atravessa pelas políticas governamentais que vêm esvaziando ao longo dos anos o SNS em recursos humanos e técnicos, vê agora a diferença do que era a gestão do Grupo Melo Saúde para a gestão pública dos serviços do mesmo hospital. Nunca durante a gestão anterior teve qualquer problema no atendimento do mesmo, quer em consultas normais, quer nas deslocações à urgência, mas quem manda pode e lá saberão o porquê de não renovarem o contrato com o Grupo Melo Saúde. Aquilo que na sua ótica funcionava bem, deixou de funcionar. Diga-se em abono que tem muitas dúvidas sobre a competência da equipa que dirige a Saúde. Ao procurar pela marcação da consulta encontrou as “cartas-cheque” que lhe enviavam para ele escolher uma unidade de saúde privada quando aguardava pela marcação cirúrgica no hospital, onde na segunda carta o prazo de espera de uma das unidades de saúde privadas era superior ao tempo que lhe indicavam ser o do seu hospital público. “Cartas-cheques” a forma como os governantes ( tanto à esquerda como à direita), híbridos nas suas ações, escolheram para em vez de investirem no SNS público, alimentarem desse modo os amigos do negócio privado da saúde. Assim não há estado Social que não empobreça. Quando o exemplo vem do topo passa a coisa pública a ser gerida pela estrutura com falta de profissionalismo e humanismo. O que lhes interessa para a sua carreira pessoal são os rácios que com estes erros se obtém para apresentarem aos amigos liberais de Bruxelas, que indiretamente nos vão governando nas grandes opções de política económica e social.

Já que estava com a mão na massa, depois de enviar educadamente o e-mail ao hospital, enviou outro ao Centro de Saúde solicitando novamente a marcação de uma consulta para a sua médica de família da qual só conhece o nome. Desde o início de 2020 que não mais foi ao Centro de Saúde, senão apenas para levantar a prescrição dos medicamentos que toma regularmente para a pressão arterial. Prescrição que solicita por e-mail e foi num desses pedidos que soube o nome da sua nova médica de família.

Ainda olhou os blogs que segue, preparando-se para ir almoçar com o amigo de infância que ao tempo e no Centro de Saúde a seu pedido, solicitou ao Hospital de Vila Franca de Xira uma consulta de urologia. Consulta que fez toda a diferença na saúde de sua vida.


Da guerra que vai lá pela Ucrânia invadida, apenas fala normalmente com o seu irmão ao telefone, já que para os dois não há apenas um lado mau na origem da mesma, mas essa visão dos factos está quase proibida pela opinião pública que corre na sociedade do pensamento único existente. Para essa maioria de pensamento único, só o filho da puta do Putin com a sua estrutura de apoio são os únicos culpados. Cegos que querem ser, incapazes de olhar para o governo do comediante ucraniano Levinsky, de forma um pouco independente para com essa réstia de independência que ainda possam ter, abrirem a pestana das células cerebrais e verem o apoio que os ditos governos democráticos saídos do golpe da designada revolução laranja na Praça Maidan tem dado às diversas milícias (Batalhão Azov, Setor Direita, Svoboda…) que impunemente ostentam e difundem com orgulho símbolos nazis, a forma como branquearam a figura de execrável nazi Stepan Bandera promovendo-o a herói nacionalista com estátua e tudo. Situação essa que levou o primeiro ministro do governo de Israel a recusar o pedido de Levinsky para que as negociações entre ucranianos e russos se realizassem em território israelita, recomendando ao ucraniano a reposição da verdade histórica sobre os crimes que Stepan Bandera e os seus homens cometeram contra os Judeus nos campos de concentração nazi ao serviço de Hitler, assim como retirar todo o apoio às milícias nazis que estão integradas nas estruturas governamentais. Milícias que matam e violam Judeus ucranianos, russos ucranianos, o povo roma (ciganos), gays e imigrantes. Mas, o realçar das razões apontadas pelo primeiro ministro israelita não passa na censura auto-aceite do pensamento único, que a cegueira do ódio ao ditador filho da puta Putin o confunde com o povo russo colocando todos na mesma bandeja servida pela quase totalidade da comunicação ocidental obediente aos interesses dos falcões americanos e dos súbditos vassalos da UE perante aqueles.


Hoje já estamos a viver o início dos tempos negros que a guerra na Europa oriental nos irá presentear.

 

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