terça-feira, 8 de março de 2022

22.02.23

Fazer duzentos e cinquenta quilómetros sem pressa. A única pressa era o chegar bem, como aconteceu. Tudo no mesmo lugar. Abriu a porta para o Sol entrar, depois as janelas. Tudo continuava como deixou no mês anterior. Olhou a caixa do correio. Vazia como esperava. A guerra que trava consigo próprio é só dele. Vai-se habituando a viver cada dia mais sozinho. Cada dia é mais um passo em direção ao futuro incerto onde a única certeza é o incerto dia final da sua viagem de vida.


Deita-se cedo. Acorda cedo. Levanta-se, veste-se, deixa a Sacha sair para ela ver o clarear do novo dia. Sentou-se à mesa, colocou a manta por cima das pernas e abriu a caixa onde guarda fotografias, álbuns e algumas outras recordações e comprovativos. Não leu a carta que a filha mais nova um dia lhe escreveu e que guarda no envelope original. Leu a carta que a sua mãe escreveu às netas depois do AVC lhe ter paralisado o lado direito. Olhou as fotos mas não sentiu saudades, apenas um sentimento de pena, porque logo na sua memória se abriu uma outra gaveta que lhe trás constantemente à lembrança outra memória que o vai castigando nestes últimos anos que percorre na sua viagem por esta vida.


Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.