120918
Hoje,
ao ir a Espanha abastecer o carro para voltar à cidade grande, vi
junto à paragem da carreira, duas senhoras com mais uns anitos que
eu, e como seguia devagar deu para olhar para os volumes, sacos de
viagem, que estavam junto a elas e lembrei-me não só de te ir
esperar a Santa Apolónia ao comboio da Beira Baixa, como do numero de volume que trazias comparado com o número de braços disponíveis. Depois, já em plena
auto-estrada relembrei a cena que era nos idos anos cinquenta e
sessenta do século passado o regresso de férias logo a seguir à
festa de Nossa Senhora da Piedade, a guerra para apanhar lugar na
carreira, mas antes a guerra para colocar os volumes todos juntos em
cima da carreira, porque nesse tempo tudo ia para lá para cima, tudo
numa despedida corrida com o avô Chico Capelo sempre com ar de
zangado a fumar o seu cigarro kentucky, tu e a avó com a lágrima ao
canto doolho, eu e o mano meio ensonados e meio perdidos naquela azafama para que não ficássemos em terra sem lugar na carreira; depois outra guerra em Castelo Branco para ir da estação da carreira para a estação do comboio, o arrumar os volumes todos na carruagem de terceira classe onde depois tentavas que um de nós passasse com menos idade do que tínhamos, para assim poderes poupar uns escudos. Comboio a vapor e depois a diesel, que parava em todas as estações e mais algumas, os bancos de madeira ergonómicos e confortáveis de suma-a-pau, as janelas abertas para funcionarem como ar condicionado por onde por vezes entravam a sujidade que a maquina largava, viagens intermináveis essas até chegarmos à estação dos Olivais que hoje já não existe e depois à de Santarém. Na estação salvo erro de Alvega - Ortiga lá estavam as mulheres a venderem as bilhas de barro com água fresquinha sem ser do frigorífico (já que, frigorífico era um bem de luxo nesse tempo de reinado dos “Botas”).
Hoje,
felizmente para a maioria que utiliza os transportes públicos tudo
esta de tal modo melhor que não é justo fazer comparações entre o
antes e o agora.
A
maioria vai e vem de carro, porque o carro é também uma imagem que
se dá, às vezes de uma vida que não se têm, mas é melhor ter e
parecer do que ser, uma regra desta forma de se viver hoje e que
muitos e muitos seguem sem parar para pensar um pouco no porque de
ser assim.
Mas
se na viagem pela A23 falávamos tu e eu dos volumes que trazias para
os teus dois braços, e eu ria-me, olha que ao chegar e começar a
tirar as coisas do carro comecei a contar e perdi o conto sem contar
com as batatas, as uvas e os figos tudo produtos biológicos que
ainda ficaram no carro para agora depois de passear a Sacha os ir
buscar.
Lembranças
e pensamentos de conversas em que só eu falei o tempo todo da
viagem, pois já lá vão quase vinte anos em que partiste sem
carreira nem comboio para outra viagem.
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