sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Setembro


Setembro, mês de muitos trabalhos nos campos com as colheitas de fim de verão principio de outono. Mês de muitos outros voltarem aos seus trabalhos e empregos, com as cidades a retomarem o bulício normal das gentes que correrem sempre na ânsia de chegarem a casa para poderem descansar a correr sem encontrarem tempo de calmamente olharem o seu interior, pensarem um pouco no papel que pensaram para a sua vida face à correria em que se deixaram envolver.
E porque se vive num tempo onde os que mandam nas nossas vidas gostam de normalizar tudo o que seja objecto e interfira com o normal ganho de lucros especulativos e gananciosos, mudaram eles também o mês de Setembro. Não o alteraram na ordem numérica dos meses do ano, mas mudaram-lhe a configuração. “Doucement” o fizeram a pretexto de a escola começar ao mesmo tempo em todo o território da União. Era o mês de Setembro o último mês de férias grandes para os jovens que andavam na escola, que podiam estudar, pois os outros que tinham de trabalhar para ajudar ao sustento da família não conheciam essa coisa de férias, garantir com trabalho o parco soldo que poderiam receber pelo aluguer da sua força de trabalho era o destino dos felizes filhos do Deus católico, para que a alegria dos pobres reinasse no seio familiar. "Deus quer que seja assim" a frase tantas vezes ouvida em jovem quando os olhos e ouvidos se abriam para outras realidades mais justas e humanas. Hoje Setembro é a loucura das ofertas do regresso às aulas, onde muitos professores adeptos da normalização exigem dos alunos material de marcas específicas sem terem a preocupação de conhecer a realidade familiar dos seus alunos, como se a marca do material seja uma importante ajuda à compreensão dos factos e à evolução do raciocínio nas crianças e jovens.
Deixando o passado, o presente mês de Setembro está a fazer jus ao verão. Enquanto o país sua e arde com calor, aqui à beira mar sopra aquela aragem fresquinha para que os corpos expostos ao sol não se queimem demais. Os deuses do mar parecem hoje mais irrequietos, embora a bandeira verde permita a alegria ingénua das crianças que na rebentação das ondas gritam felizes com os mergulhos ou com o serem arrastadas pelas ondas, enquanto os pais sempre atentos cuidam da sua segurança não vá o diabo fazer das suas.
Pela primeira vez de alguns anos a esta parte não irei passar os anos contigo à nossa casa, para irmos os dois comer o nosso bacalhau à brás às Termas de Monfortinho. Este ano irei estar pela Consolação, onde foste e fomos felizes. Irei procurar sentar-me logo pela manhã no banco quase em frente à janela do teu gabinete onde tantas sestas gozaste. Sentado irei olhar a praia, aguardando que os deuses me possam dar notícias do teu percurso nesse universo desconhecido aos nossos cinco sentidos. Irei procurar almoçar umas sardinhas, como tantas vezes comemos. Já não sou capaz de comer tantas como naquela tarde em que feliz e apressado vim correndo da escola para te comunicar a dispensa à prova oral de cálculo financeiro e dessa forma acabar o ano escolar, podendo a partir desse momento ir à praia. Como prenda, pude juntar-me a ti e aos teus amigos na sardinhada que estavam fazendo, onde bati o meu recorde com 24 sardinhas no pão e muitos copos de vinho. Depois na outra semana, irei então passar uns dias à nossa casa como gosto de fazer todos os meses. E entre o cá é o lá andarei andando que o ano vai ruim.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.