terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

22.02.05

O lítio e a falta de confiança que a história nos tem ensinado.

O fácil é ser a favor ou ser do contra. O difícil é procurar o ponto de equilíbrio que no caso não é de todo fácil.

Deixando os impactos ambientais causados na paisagem de lado, porque na minha modesta opinião não são o maior problema para as regiões dadas como potencialmente ricas no minério. Não sou radical contra a prospeção do minério salvaguardadas que sejam os interesses, primeiro das populações que resistindo ao abandono vivem nessas zonas, depois que sejam salvaguardados os interesses do país e nunca dos governantes e, nunca dos governantes, repito.

A memória é curta e os que defendem cegamente a exploração do lítio já não se recordam do que se passou e ainda se passa na Urgeiriça com a mina do urânio, os seus resíduos e lamas. Urânio que há época foi anunciado com pompa e circunstância como estão fazendo hoje com o lítio.

Somos um país pobre de uma pobreza que pouco têm a ver com as riquezas naturais existentes nos nossos solos e águas marítimas. Não será o lítio que nos irá colocar no pelotão dos ditos países ricos, porque a nossa pobreza têm outras raízes bem mais profundas, que os sucessivos Governos não têm resolvido.

Pensa-se muito com o umbigo. Embandeiram-se as vantagens que dizem o lítio trazer às regiões do interior pobre, abandonado e esquecido e esquecem os recursos naturais que a exploração de minério a céu aberto irá requer. Quantas toneladas de granito, feldspato, mica, xisto e outros será necessário remover para a obtenção de uns quilos de minério? Quantas toneladas de resíduos impróprios para a exploração agrícola serão produzidos nessa exploração? E, onde serão depois colocados esses resíduos?

Diz o senhor ministro de letra pequena que o minério vai ser processado no país. Claro que vai. Mas quantos milhares metros cúbicos de água serão necessários para a obtenção do minério?

Água que é um bem a cada ano mais escasso no pobre e esquecido interior. Anunciou há poucos meses o senhor ministro de letra pequena a possível construção de um túnel do rio Zêzere para regularização do caudal do rio Tejo. Hoje, todos sabemos o que alguns dos sobreviventes habitantes do interior já previam, que a seca que o país enfrentam há anos consecutivos iria ter as suas consequências nas reservas de água das Barragens do Cabril e Castelo de Bode ambas alimentadas pelo nosso Zêzere. Mas o senhor ministro de letra pequena e os seus adjuntos e consultores desconheciam, vindo a correr anunciar a redução da produção de energia elétrica quando acordaram para o problema da falta de água nos rios que alimentam as barragens. Falta água nos rios e não apenas nas barragens.

Pensa-se na riqueza imediata que a exploração do lítio pode proporcionar mas omitem-se os impactos de pobreza futura que a exploração irá ter nos pobres ribeiros, rios e águas subterrâneas com as águas e lamas residuais altamente poluídas derivadas da exploração do minério. Não sou radical contra a exploração mas tenho as maiores duvidas de que a riqueza obtida seja superior a pobreza futura deixada pela exploração e não me refiro à paisagem porque depois nesses terrenos esventrados sempre haverá um ministro da agricultura que a mando de Bruxelas crie uma linha de financiamento bancário com alguns subsídios como engodo para plantar floresta, ou seja, mais eucalipto e com eles criar a imagem do verde tão a gosto de alguns turistas de fim-de-semana.

Não acredito que os senhores que nos governam tenham capacidade para impor ao “explorador do minério” condições altamente seguras para o tratamento quer dos resíduos sólidos quer das águas residuais e respetivas lamas. Não acredito, porque para existir condições de segurança cem por cem seguras os custos desta inviabilizam o negócio da exploração que alguns governantes (incluindo os dos pequenos poderes autárquicos) tão desejosos alguns parecem estar.

A maior riqueza da exploração e consequente processo não esta na obtenção da matéria-prima lítio, mas sim na cadeia de transformação do minério aquando da criação das diferentes baterias. É aí que está o valor acrescentado que designa a maior fatia de riqueza criada pela cadeia de exploração do lítio, e, essa o senhor ministro de letra pequena e seus pares não garantem que seja transformada no nosso território, preferencialmente no interior onde o minério existe em condições de previsível exploração. Autoestradas no interior existem. Linha férrea também por lá existe.

O Saber fazer essa transformação existe no nosso país. Mas será que há vontade política e “tomates no sítio” para impor em Bruxelas o investimento publico necessário à transformação do lítio em baterias “made in Portugal”?

Como observação é de assinalar o silêncio das senhoras ministras da agricultura e da tal coesão do território dando a imagem que só o senhor ministro de letra pequena do ambiente é que sabe opinar sobre os interesses em jogo à volta do lítio.

Para acabar este longo desabafo. A zona de Segura de onde um dia os meus progenitores saíram, e onde vou praticamente todos os meses, ficou fora do estudo de prospeção o que não me impede de ser solidário com alguns dos que em outras zonas contestam o processo “lítio”, até porque leio que poderá haver alterações nos limites da área designada como Tejo Internacional e gato escaldado de água fria tem medo.

 

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