Eutanásia.
Um bem ou um mal necessário? Não sei. Tenho muitas dúvidas.
Dúvidas minhas que não me impedem de respeitar a vontade do outro.
Dúvidas
e medos mais da qualidade da lei que poderá sair de S.
Bento do que de outra coisa. Não acredito no saber com qualidade da
maioria dos que por lá se sentam às ordens das estruturas
partidárias, assim como, dos vários gabinetes de amigalhaços que a
pedido elaboram os seus pareceres com a chancela de grandes firmas de
advogados, consultores, revisores etc. pagos a preço altamente
inflacionado pela chancela curricular de tais amigalhaços.
Várias
vezes falava da eutanásia com o meu pai. Ele um defensor convicto.
Eu e as minhas dúvidas. Depois quando o visitava vivo-morto naquele
quarto do HUC sabendo eu a sua opinião sobre o viver vegetativo
questionava-me sobre o porquê de tanto sofrer. Não acreditava
naquilo que os médicos me diziam sobre o seu não sofrimento, pois o
aperto que a sua mão nos dava dizia-me exactamente o contrário, o
seu sofrimento por não o deixarmos partir desta viagem. Felizmente
apenas viveu naquele estado vegetativo um mês e quatro dias.
Confundir
ou misturar cuidados paliativos com a eutanásia é querer misturar o
azeite com o vinagre ou de outro modo, o que é que o cu tem a ver
com as calças? Claro que há que melhorar e muito o apoio, o
investimento na área dos cuidados, mas no meu fraco entender isso
não pode tirar a liberdade a alguém que em consciência um dia pode
tomar a decisão de não querer viver sofrendo e fazendo sofrer,
alterando a vida a todos aqueles que vivendo à sua volta o amam. A
decisão será sempre sua e nunca poderá ser de terceiros, excepto
em caso muito mas muito excepcionais, restritos, claros e concisos de
pais sobre filhos menores que não tiveram tempo ou saber para a
escolha consciente do acto de poder morrer de morte assistida. Uma
coisa não invalida a outra.
O
referendo não acaba com as minhas dúvidas, aumenta-as. A discussão
pública só irá dividir ainda mais o país e as dúvidas, as
minhas, aumentam exponencialmente, porque continuamos a ser
culturalmente um país de brandos costumes e públicas virtudes, onde
o fanatismo crescente cega até os que parecem ter a lucidez
necessária para olhar as diversas cores do arco íris sem o ver a
preto e branco. A discussão pública irá dar mais voz às religiões
quando o facto é mais político de interesse público do que
religioso, sabendo eu, que a grande maioria que professam a sua fé
num Deus religioso estarão contra a implementação da eutanásia,
pois que o fanatismo religioso esquece, não respeita, a liberdade de
quem não segue nenhuma religião, de quem vive e não aceita a
existência de um Deus religioso, esquecendo eles, os religiosos, que
a Inquisição que durou séculos neste país foi oficialmente e
definitivamente extinta pelo Marquês de Pombal.
Não
há que matar ninguém. A eutanásia não é, nem poderá nunca ser
uma forma de morte aleatória. Antes um decisão consciente de alguém
sobre a sua própria maneira de viver a sua própria vida doente e
sofrida.
Outras
dúvidas me assaltam sobre a oportunidade da discussão deste assunto
e sobre os custos que isso poderá acarretar ao eterno
sub-orçamentado Serviço Nacional de Saúde. Pelas notícias que
vamos tendo conhecimento só os muitos ricos têm acesso à morte
assistida em clínicas privadas em outros países. Morrer sem dor por
opção própria custa muito dinheiro. Que verbas irão ser cativadas
no SNS para financiar os casos que possam existir de eutanásia se a
mesma for aprovada?
Há
ainda tanta coisa para fazer neste país, há ainda tanta coisa para
realizar a bem das populações que sofrem quer no litoral quer no
interior, o porque deste assunto fraturante da nossa sociedade estar
na ordem do dia? só porque alguns políticos vaidosos do seu umbigo e
que se acham de esquerda o colocam na ordem por se
acharem com mais ideias dos que os seus outros adversários?
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