quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Eutanásia


Eutanásia. Um bem ou um mal necessário? Não sei. Tenho muitas dúvidas. Dúvidas minhas que não me impedem de respeitar a vontade do outro.
Dúvidas e medos mais da qualidade da lei que poderá sair de S. Bento do que de outra coisa. Não acredito no saber com qualidade da maioria dos que por lá se sentam às ordens das estruturas partidárias, assim como, dos vários gabinetes de amigalhaços que a pedido elaboram os seus pareceres com a chancela de grandes firmas de advogados, consultores, revisores etc. pagos a preço altamente inflacionado pela chancela curricular de tais amigalhaços.
Várias vezes falava da eutanásia com o meu pai. Ele um defensor convicto. Eu e as minhas dúvidas. Depois quando o visitava vivo-morto naquele quarto do HUC sabendo eu a sua opinião sobre o viver vegetativo questionava-me sobre o porquê de tanto sofrer. Não acreditava naquilo que os médicos me diziam sobre o seu não sofrimento, pois o aperto que a sua mão nos dava dizia-me exactamente o contrário, o seu sofrimento por não o deixarmos partir desta viagem. Felizmente apenas viveu naquele estado vegetativo um mês e quatro dias.
Confundir ou misturar cuidados paliativos com a eutanásia é querer misturar o azeite com o vinagre ou de outro modo, o que é que o cu tem a ver com as calças? Claro que há que melhorar e muito o apoio, o investimento na área dos cuidados, mas no meu fraco entender isso não pode tirar a liberdade a alguém que em consciência um dia pode tomar a decisão de não querer viver sofrendo e fazendo sofrer, alterando a vida a todos aqueles que vivendo à sua volta o amam. A decisão será sempre sua e nunca poderá ser de terceiros, excepto em caso muito mas muito excepcionais, restritos, claros e concisos de pais sobre filhos menores que não tiveram tempo ou saber para a escolha consciente do acto de poder morrer de morte assistida. Uma coisa não invalida a outra.
O referendo não acaba com as minhas dúvidas, aumenta-as. A discussão pública só irá dividir ainda mais o país e as dúvidas, as minhas, aumentam exponencialmente, porque continuamos a ser culturalmente um país de brandos costumes e públicas virtudes, onde o fanatismo crescente cega até os que parecem ter a lucidez necessária para olhar as diversas cores do arco íris sem o ver a preto e branco. A discussão pública irá dar mais voz às religiões quando o facto é mais político de interesse público do que religioso, sabendo eu, que a grande maioria que professam a sua fé num Deus religioso estarão contra a implementação da eutanásia, pois que o fanatismo religioso esquece, não respeita, a liberdade de quem não segue nenhuma religião, de quem vive e não aceita a existência de um Deus religioso, esquecendo eles, os religiosos, que a Inquisição que durou séculos neste país foi oficialmente e definitivamente extinta pelo Marquês de Pombal.
Não há que matar ninguém. A eutanásia não é, nem poderá nunca ser uma forma de morte aleatória. Antes um decisão consciente de alguém sobre a sua própria maneira de viver a sua própria vida doente e sofrida.
Outras dúvidas me assaltam sobre a oportunidade da discussão deste assunto e sobre os custos que isso poderá acarretar ao eterno sub-orçamentado Serviço Nacional de Saúde. Pelas notícias que vamos tendo conhecimento só os muitos ricos têm acesso à morte assistida em clínicas privadas em outros países. Morrer sem dor por opção própria custa muito dinheiro. Que verbas irão ser cativadas no SNS para financiar os casos que possam existir de eutanásia se a mesma for aprovada?
Há ainda tanta coisa para fazer neste país, há ainda tanta coisa para realizar a bem das populações que sofrem quer no litoral quer no interior, o porque deste assunto fraturante da nossa sociedade estar na ordem do dia? só porque alguns políticos vaidosos do seu umbigo e que se acham de esquerda o colocam na ordem por se acharem com mais ideias dos que os seus outros adversários?


Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.