sábado, 15 de fevereiro de 2020

Hipocrisias


Palavras bonitas, elogiosas se ouviram ontem no Parlamento. Até parece que a senhora se dignou ir cumprimentar alguns antigos combatentes. Os partidos todos com palavras reconhecendo os antigos combatentes. Foi uma festa. Todos unidos e interessados nos votos que os antigos combatentes que vão resistindo à passagem do tempo ainda lhes possam dar.
Mas, como era de esperar todo o palavreado usado naquela hora, misturou interesses divergentes. Tão diferentes que por esperteza política saloia misturam antigos combatentes que obrigados pela força de um regime foram combatentes em várias frentes de combate numa "guerra" , com os actuais militares que vão voluntários para "missões de paz" .
Será que "ser obrigado" e "ser voluntário" tem o mesmo significado para aquela gente que anda e vive pelo Parlamento?
Será que aquelas cabeças não sabem distinguir o que foi combater numa guerra onde quase tudo faltava, com as actuais "missões de paz"?
Será que os seus pais e avós nunca lhes contaram o que porventura tenham passado?
Será que a senhora, os assessores e deputados nunca leram nada sobre a guerra colonial?
Então na tal comissão leiam antes de começarem a discutir, leiam por exemplo o livro de Carlos Vale Ferraz "Nó Cego" ou num outro registo “O Muro” de Afonso Valente Batista e, depois antes de falarem pensem e meditem, não misturem alhos com bugalhos. Tenham vergonha.
Que interesses tem aqueles políticos ao misturar coisas tão distintas?
Já quando há uns anos atrás envergonhados deram aos antigos combatentes a esmola anual no máximo de 150€ sujeita a IRS, não tiveram coragem por razões de classe em distinguir aqueles que fizeram a guerra em quartéis-generais dos outros que sofreram a guerra no mato. Ontem, voltam a misturar interesses, organizações e corporações.
Pergunto, o que é que a Liga dos Combatentes fez ao longo destes quarenta e seis anos em defesa da saúde dos antigos combatentes que vieram da guerra sofrendo de stress pós guerra? Que se saiba, NADA!!
Talvez por isso os elogios que recebeu.
Mas pelo menos parece que ninguém se lembrou de elogiar o trabalho meritório e arriscadíssimo que as senhoras do Movimento Nacional Feminino, pondo a sua vida em perigo tiveram naqueles anos de guerra. Valha-nos pelo menos issso.
Não sou "ex-combatente" , sou "antigo combatente" porque andei no mato e sofri as agruras de uma guerra sem sentido, porque, sem solução militar.
Já nada espero do actual regime em relação aos anos de guerra. Aliás nunca reivindiquei nada para mim. A minha revolta é alimentada pela hipocrisia de todos os governos em relação aos antigos combatentes que sofrem doenças mentais por causa da guerra, de políticos que usam os sem abrigo em acções de caridade e nem uma palha mexeram e mexem para minimizar a vida dos sem abrigo antigos combatentes.
Aquilo que o anterior regime de ditadura feroz me tirou, anos da minha juventude, não me pode ser devolvido pelo actual regime democrático medroso por vezes cínico em palavras redondas dos actuais políticos.
Fodam-se! É a palavra que melhor espelha o sentimento meu e de muitos como eu.

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