Palavras
bonitas, elogiosas se ouviram ontem no Parlamento. Até parece que a
senhora se dignou ir cumprimentar alguns antigos combatentes. Os
partidos todos com palavras reconhecendo os antigos combatentes. Foi
uma festa. Todos unidos e interessados nos votos que os antigos
combatentes que vão resistindo à passagem do tempo ainda lhes
possam dar.
Mas,
como era de esperar todo o palavreado usado naquela hora, misturou
interesses divergentes. Tão diferentes que por esperteza política
saloia misturam antigos combatentes que obrigados pela força de um
regime foram combatentes em várias frentes de combate numa "guerra"
, com os actuais militares que vão voluntários para "missões
de paz" .
Será
que "ser obrigado" e "ser voluntário" tem o
mesmo significado para aquela gente que anda e vive pelo Parlamento?
Será
que aquelas cabeças não sabem distinguir o que foi combater numa
guerra onde quase tudo faltava, com as actuais "missões de
paz"?
Será
que os seus pais e avós nunca lhes contaram o que porventura tenham
passado?
Será
que a senhora, os assessores e deputados nunca leram nada sobre a
guerra colonial?
Então
na tal comissão leiam antes de começarem a discutir, leiam por
exemplo o livro de Carlos Vale Ferraz "Nó Cego" ou num
outro registo “O Muro” de Afonso Valente Batista e, depois antes
de falarem pensem e meditem, não misturem alhos com bugalhos. Tenham
vergonha.
Que
interesses tem aqueles políticos ao misturar coisas tão distintas?
Já
quando há uns anos atrás envergonhados deram aos antigos
combatentes a esmola anual no máximo de 150€ sujeita a IRS, não
tiveram coragem por razões de classe em distinguir aqueles que
fizeram a guerra em quartéis-generais dos outros que sofreram a
guerra no mato. Ontem, voltam a misturar interesses, organizações e
corporações.
Pergunto,
o que é que a Liga dos Combatentes fez ao longo destes quarenta e
seis anos em defesa da saúde dos antigos combatentes que vieram da
guerra sofrendo de stress pós guerra? Que se saiba, NADA!!
Talvez
por isso os elogios que recebeu.
Mas
pelo menos parece que ninguém se lembrou de elogiar o trabalho
meritório e arriscadíssimo que as senhoras do Movimento Nacional
Feminino, pondo a sua vida em perigo tiveram naqueles anos de guerra. Valha-nos pelo menos issso.
Não
sou "ex-combatente" , sou "antigo combatente"
porque andei no mato e sofri as agruras de uma guerra sem sentido,
porque, sem solução militar.
Já
nada espero do actual regime em relação aos anos de guerra. Aliás
nunca reivindiquei nada para mim. A minha revolta é alimentada pela
hipocrisia de todos os governos em relação aos antigos combatentes
que sofrem doenças mentais por causa da guerra, de políticos que
usam os sem abrigo em acções de caridade e nem uma palha mexeram e
mexem para minimizar a vida dos sem abrigo antigos combatentes.
Aquilo
que o anterior regime de ditadura feroz me tirou, anos da minha
juventude, não me pode ser devolvido pelo actual regime democrático
medroso por vezes cínico em palavras redondas dos actuais políticos.
Fodam-se!
É a palavra que melhor espelha o sentimento meu e de muitos como eu.
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