segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Eutanásia 2


Ao longo da história da humanidade "Homo Sapiens" existiram muitas guerras, muitas lutas de poder. As guerras foram e são um mal terrível mas contribuíram para o avanço da ciência. O livro "O Físico" de Noah Gordon, é apenas um dos muitos livros que relatam guerras sanguinárias mas também da guerra que ocorreu sempre ao longo da história com os religiosos perseguindo, sem apelo nem agravo, todos aqueles que procuravam o evoluir do saber, dos conhecimentos, no fundo da ciência.
Foi, é e será uma luta de pólos quase sempre divergentes. Uns porque pensam através da ciência mostrar a inexistência de um ser divino que designamos por Deus. Os outros, os das religiões, quase sempre com medo de que o seu poder possa ser questionável, as suas verdades absolutas postas em causa, procuram fechar as mentes dos seus seguidores, servindo-se para tal do maior produto imaterial que ao longo da história lhes deu o poder, ou seja, "o medo do pecado" .
Mesmo assim chegamos aqui depois de Nicolau Copérnico, de Galileu Galilei, de Charles. Darwin e de tantos outros cientistas, filósofos e livres pensadores serem perseguidos e condenados só porque cometiam o «pecado» de verem, estudarem e concluírem saberes, que os religiosos no seu poder quase absoluto de então, negavam apavorados, escondendo o medo que eles próprios sentiam por esses avanços do conhecimento lhes poder tirar status e poder.
No passado da nossa história o clímax do fanatismo medroso da Igreja foi a Inquisição com o famigerado tribunal de assassinos designado por Santo Ofício. Os Autos de Fé o maior exemplo da piedade que os ditos religiosos tinham sobre o conceito do sofrimento e da vida humana, foi exercido, levado a cabo em nome do seu piedoso deus.

Tenho as minhas dúvidas e a minha ideia sobre a eutanásia, não vou criticar uns e aplaudir outros nem sequer tecer armas sobre as minhas dúvidas e a minha certeza de estar em perfeito juízo para poder decidir. Ao referendo digo não. Não! porque irá dar largas aos fanáticos, ao ódio que cega as mentes, aos oportunistas retrógrado, aos "beatos" que nem sequer frequentam a missa dominical das religiões mas que agora batem com a mão no peito num «ai Deus que nos acuda e nos livre das garras de satanás» que nos querem matar.
A eutanásia não é o fim da picada e muito menos o fim do mundo. A eutanásia não é matar os velhos. A eutanásia não só é fraturante na sociedade como no íntimo de muitos, dos que estão a favor e dos que estão contra a sua promulgação. É porventura uma das decisões mais difíceis, senão mesmo a mais difícil, que o ser humano poderá ter após o nascimento.
Para terminar. A ciência e a medicina desenvolveram-se graças à luta de muitos homens do saber contra os preceitos, as verdades absolutas das Igrejas. Dizer que a ciências médicas se desenvolveram para defender a vida é apenas meia mentira escondendo o Sol com uma peneira, porque lhe falta o elemento fundamental, o ser humano, o tal "Homo Sapiens" de que todos fazemos parte. Todo o desenvolvimento do conhecimento científico ao longo dos séculos na área da saúde tem como objectivo o bem estar do ser humano, porque é este o seu principal elemento. Por mais que os defensores do "não" possam gritar e propagar por todos os meios ao seu dispor, de que é a "vida" no seu conceito mais conservador-religioso e abstrato, não é verdade. A ciência que hoje chamamos de Medicina desenvolveu-se e desenvolve-se na procura de melhorar o bem estar do ser humano.
Em última análise será o ser humano consciente, na posse de todas as suas valências psíquicas que caberá a dificílima decisão sobre o que fazer à sua vida ao seu sofrer sem solução, caso a lei que autoriza a eutanásia venha a ser promulgada. Ao técnico de saúde restará a obrigação de exercer a sua profissão de acordo com a legislação em vigor porque na eutanásia não se mata ninguém, acaba-se com o sofrimento de alguém que teve capacidade de escolha.

A eutanásia é como o "aborto" sempre existiram na sociedade, de forma clandestina mas existiram. Torná-la não clandestina será o fim da picada? Duvido. Eu e as minhas dúvidas.

Lembro o slogan que um dia encontrei nas ruas da cidade de Luanda depois de Abril 74, " A minha Liberdade acaba onde começa a Liberdade do outro".

Parafraseando o padre Felicidade Alves "Deus na sua transcendência a todos os Homens quer bem".

Acabo, esperando não voltar a falar deste assunto que só ao ser humano na sua intima unidade diz respeito desde que tenha Liberdade de escolha.

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