sábado, 11 de abril de 2020

Vigésimo quarto dia do resto das nossas vidas

Tudo igual neste vigésimo quarto dia do resto das nossas vidas. Igual aos dias anteriores deste tempo de pandemia e possivelmente aos dias que se seguem.
Agora na televisão fala uma mãe que ainda não efectuou a actualização do seu chip aos novos tempos e tempos novos que hão-de vir. A seguir lá aparece o Presidente a falar, a comentar e a fazer previsões.
O vírus veio mudar as nossas vidas. Empresas e trabalhadores sem saberem como será o dia seguinte, havendo pais, comentadores, fazedores de opinião que continuam a falar como se tudo isto acabasse amanhã e voltasse tudo a ser como dantes. Não entendo. Estarei enganado… talvez.
Não sou fã nem do Presidente nem do Primeiro Ministro, mas respeito-os e, com o outro presidente e o outro primeiro ministro (letra pequena mesmo) anteriores, não imagino como estaríamos, não sou capaz de imaginar a pandemia tsunami que estaríamos a viver pelas suas opções políticas conservadores neoliberais, de perseguição aos grisalhos que vivem das suas reformas e aposentações sem esquecer os que vivem nas franjas da pobreza. Estou satisfeito com o entendimento existente formalmente entre o actual Presidente e Primeiro Ministro. Que nem tudo foi bem feito, que nem todas as opções foram as melhores, talvez… com a certeza que têm existido erros na gestão da crise pandémica mas, quem é que não comete erros nas suas decisões, quem nunca se engana que levante o braço, que atire a primeira e a segunda pedra.

Claro que não há unanimidade entre nós nas medidas políticas tomadas e a tomar para fazer frente a pandemia. Há sempre aqueles que acham que a culpa disto acontecer é da Directora Geral de Saúde que não previu, da Ministra da Saúde e do Governo que não actuaram preventivamente, havendo mesmo entre os críticos alguns que desde mil novecentos e setenta e quatro só sabem criticar, alguns desses e dos seus legítimos e fieis descendentes pensarão que não tivesse acontecido o 25 de Abril, eles e os outros fiéis seguidores do velho ditador "o botas" com a PIDE a funcionar em pleno, não iriam permitir que o vírus passasse as nossas fronteiras, talvez mesmo o tivessem prendido, torturado e morto quando ele saiu da China comunista-capitalista ou de Itália, para “a salto” sem visto no passaporte passar e infetar a Espanha chegando até nós para nos matar e amedrontar a vida. Pudessem os fiéis discípulos dos velhos "botas" e "cardeal", terem a liberdade que a Democracia lhes tirou nestes dias de emergência, já em romaria teriam enchido a Cova da Iria em Fátima, o Santuário do Bom Jesus em Braga ou de Nossa Senhora dos Remédios em Lamego e tantos outros locais de peregrinação que os nossos antepassados com o trabalho dos plebeus souberam construir em agradecimento ao santo representante de Deus sediado em Roma. Ah... se com tantos terços rezados na Cova da Iria e por todas as igrejas e capelas do país se alcançou a conversão da Rússia comunista ao sistema capitalista onde os amigos ortodoxos puderam voltar a viver o esplendor das suas igrejas e catedrais, usando mesmo o símbolo da sua igreja no último avião de guerra criado por Putin e seus correlegionários. Ah… Se esse milagre da conversão da Rússia foi alcançado com tanta devoção e crença, então mais fácil seria dar cabo deste vírus rezando como antigamente em que o povo crente enchia a Cova da Iria e tantos outros santuários, igrejas e capelas implorando a bênção e a clemência dos seus santos protectores, aos quais se juntava os prestigiosos e leais serviços dos amigos da PIDE com a sua rede de bufos e legionários. Não fossem aqueles militares que fizeram o inconstitucional golpe militar, há muito que o vírus estaria quase derrotado e o povo voltaria a viver a sua vidinha de bons costumes e publicas virtudes, celebrando a sua Páscoa com tradição e crença dos outros tempos, onde nunca existiriam estes desmandos, estas poucas vergonhas, estes vírus subversivos criados pelos comunistas chineses e que o 25 de Abril trouxe infelizmente ao país e às famílias. 


Estava a preparar o almoço e ouvi a conferência de impressa das Sras. Directora Geral e Ministra da Saúde. Ouvi e limito-me a dizer que ouvi, nada tendo acrescentar ao que já disse. É fraquinha a sra. Ministra. Estou solidário com elas mas a sra. Ministra é mais um exemplo de que ser amiga muitas vezes não basta.

«O mundo em que vivo desgosta-me, mas sinto-me solidário com todos os que nele sofrem» Albert Camus em “Crónicas Argelinas”

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