Sabemos
hoje no décimo sexto dia o que ontem o PR anunciou formalmente mas
que já todos os órgãos de comunicação tinham noticiado, ou seja,
o estado de emergência é para continuar por mais quinze dias com
medidas mais restritivas quanto à circulação de pessoas, em
especial nos dias da Páscoa.
Se
todos os anos as cidades de Lisboa, Porto e Braga eram invadidas
pelos turistas vizinhos de Espanha, este ano por causa de um vírus
não haverá nem as celebrações religiosas católicas, nem as
romarias dos que deixavam a cidade para irem visitar familiares e
amigos no interior do país.
Já
perdi o conto aos anos em que deixei de viajar por alturas da Páscoa.
Eram as miúdas ainda pequenas, a mãe funcionária bancária eu a
trabalhar num laboratório farmacêutico, com os responsáveis quer
do banco quer do laboratório a darem a tarde de quinta feira. Tudo
preparado para chegar a casa e arrancarmos a fim de irmos passar a
Páscoa com os meus pais. Mal entramos na Segunda Circular, por acaso
nunca soube onde era a primeira circular, o trânsito compacto num
pára arranca nervoso. Antes das portagens em Sacavém saltamos para
procurar a Nacional 10, pensando nós tristes saloios que iríamos
descobrir de novo o caminho marítimo para a Índia, pois se a auto
estrada estava cheia a Nacional 10 abarrotava de carros parados ou
andando a passo de caracol doente. Uns apitavam impacientes, outros
tiravam a cabeça pela janela para dirigirem palavrões a não sei
quem, que naquele tempo nem se sonhava com crises e muito menos com
vírus a darem cabo dos nossos sonhos. As miúdas pequenas
impacientes no banco de trás do Fiat127 choravam, a mãe ora
ralhando com elas, ora opinando a criticar a opção de sairmos da
auto estrada que naquele tempo chegava só a Vila Franca de Xira,
para depois passarmos a ponte fazendo-se depois a Reta do Cabo em
direção à Reta do Infantado. Para acalmar o sistema nervoso lá ia
fumando um cigarro Português Suave sem filtro. Ao fim de duas horas
terríveis alcançamos a ponte em Vila Franca de Xira, dizendo eu que
nunca mais me meteria a viajar na Páscoa. E, assim foi até hoje.
Nos anos seguintes aquando do começo das férias da Páscoa o meu
pai metia-se na camioneta da carreira para depois vir de comboio
buscar as netas que passavam a Páscoa com eles, indo apenas
busca-las no final das férias.
A
Páscoa é mais um tempo que nada me diz desde que abandonei a
religião há muitos anos, depois de ter sido um católico
praticante. Respeito os outros e com alguns amigos praticantes sempre
lhes coloco a questão do porquê a Páscoa ser a um domingo quando
se Jesus morreu numa sexta-feira o terceiro dia pela matemática
seria na segunda-feira e não no domingo, como foi durante muitos
anos e muitas cidades do interior e vilas ainda seguem a
segunda-feira depois de domingo de Páscoa como feriado. E a resposta
atrapalhada é que o dia da morte conta como um dia logo. Coisas e
dos interesses que se movem à volta das coisas.
Vou
procurar ler o decreto que vai oficializar todo este estado de
emergência, não em busca de situações dúbias que poderão
existir, mas para tentar vislumbrar alguma coisa que me de esperança
de depois destes novos quinze dias possa meter-me a caminho sem
infringir as regras. Está no tempo de ir passar uns dias ao interior
raiano. Sendo o interior tão esquecido pelos poderes centrais,
felizmente ainda não há notícias de que o fdp do vírus tenha
apanhado alguma boleia para lá, felizmente digo fazendo cruzes de
canhoto para afastar o maldito fdp covid-19.
Converso
com antigos combatentes da minha companhia e batalhão. Felizmente
todos vamos resistindo a não cairmos nestas novas emboscadas que o
fdp do covid-19 esta montando silenciosamente para se poder
multiplicar à custa do nosso bem estar psíquico e material. Se na
outra guerra vivíamos confinados pelo arame farpado, agora temos de
nos sujeitar a partilhar o tempo que vamos tendo com as paredes de
casa. Talvez pela experiência do que vivemos quando jovens nos custe
menos o passar destes dias fechados, do que às gerações mais novas
que felizmente nunca conheceram o que era viver confinados ao arame
farpado num estado de alerta que quanto mais tempo lá passávamos
mais preocupações nos trazia o tempo que parecia que não existia
nem nunca mais passava, como que o tempo tivesse parado desde o dia
em que na Quinta do Figo Maduro subimos para o avião da Força
Aérea.
O
Povo é sereno disse um dia o Almirante Pinheiro de Azevedo, mais
sereno seria hoje se tivéssemos uma comunicação social televisiva
formativa, que nos informasse e educasse a ficarmos em casa
transmitindo confiança em vez de usarem os seus papagaios para
continuamente espalharem o medo e criarem o pânico e a desconfiança
nas autoridades.
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