sexta-feira, 3 de abril de 2020

Décimo sexto dia do resto das nossas vidas


Sabemos hoje no décimo sexto dia o que ontem o PR anunciou formalmente mas que já todos os órgãos de comunicação tinham noticiado, ou seja, o estado de emergência é para continuar por mais quinze dias com medidas mais restritivas quanto à circulação de pessoas, em especial nos dias da Páscoa.
Se todos os anos as cidades de Lisboa, Porto e Braga eram invadidas pelos turistas vizinhos de Espanha, este ano por causa de um vírus não haverá nem as celebrações religiosas católicas, nem as romarias dos que deixavam a cidade para irem visitar familiares e amigos no interior do país.
Já perdi o conto aos anos em que deixei de viajar por alturas da Páscoa. Eram as miúdas ainda pequenas, a mãe funcionária bancária eu a trabalhar num laboratório farmacêutico, com os responsáveis quer do banco quer do laboratório a darem a tarde de quinta feira. Tudo preparado para chegar a casa e arrancarmos a fim de irmos passar a Páscoa com os meus pais. Mal entramos na Segunda Circular, por acaso nunca soube onde era a primeira circular, o trânsito compacto num pára arranca nervoso. Antes das portagens em Sacavém saltamos para procurar a Nacional 10, pensando nós tristes saloios que iríamos descobrir de novo o caminho marítimo para a Índia, pois se a auto estrada estava cheia a Nacional 10 abarrotava de carros parados ou andando a passo de caracol doente. Uns apitavam impacientes, outros tiravam a cabeça pela janela para dirigirem palavrões a não sei quem, que naquele tempo nem se sonhava com crises e muito menos com vírus a darem cabo dos nossos sonhos. As miúdas pequenas impacientes no banco de trás do Fiat127 choravam, a mãe ora ralhando com elas, ora opinando a criticar a opção de sairmos da auto estrada que naquele tempo chegava só a Vila Franca de Xira, para depois passarmos a ponte fazendo-se depois a Reta do Cabo em direção à Reta do Infantado. Para acalmar o sistema nervoso lá ia fumando um cigarro Português Suave sem filtro. Ao fim de duas horas terríveis alcançamos a ponte em Vila Franca de Xira, dizendo eu que nunca mais me meteria a viajar na Páscoa. E, assim foi até hoje. Nos anos seguintes aquando do começo das férias da Páscoa o meu pai metia-se na camioneta da carreira para depois vir de comboio buscar as netas que passavam a Páscoa com eles, indo apenas busca-las no final das férias.
A Páscoa é mais um tempo que nada me diz desde que abandonei a religião há muitos anos, depois de ter sido um católico praticante. Respeito os outros e com alguns amigos praticantes sempre lhes coloco a questão do porquê a Páscoa ser a um domingo quando se Jesus morreu numa sexta-feira o terceiro dia pela matemática seria na segunda-feira e não no domingo, como foi durante muitos anos e muitas cidades do interior e vilas ainda seguem a segunda-feira depois de domingo de Páscoa como feriado. E a resposta atrapalhada é que o dia da morte conta como um dia logo. Coisas e dos interesses que se movem à volta das coisas.
Vou procurar ler o decreto que vai oficializar todo este estado de emergência, não em busca de situações dúbias que poderão existir, mas para tentar vislumbrar alguma coisa que me de esperança de depois destes novos quinze dias possa meter-me a caminho sem infringir as regras. Está no tempo de ir passar uns dias ao interior raiano. Sendo o interior tão esquecido pelos poderes centrais, felizmente ainda não há notícias de que o fdp do vírus tenha apanhado alguma boleia para lá, felizmente digo fazendo cruzes de canhoto para afastar o maldito fdp covid-19.
Converso com antigos combatentes da minha companhia e batalhão. Felizmente todos vamos resistindo a não cairmos nestas novas emboscadas que o fdp do covid-19 esta montando silenciosamente para se poder multiplicar à custa do nosso bem estar psíquico e material. Se na outra guerra vivíamos confinados pelo arame farpado, agora temos de nos sujeitar a partilhar o tempo que vamos tendo com as paredes de casa. Talvez pela experiência do que vivemos quando jovens nos custe menos o passar destes dias fechados, do que às gerações mais novas que felizmente nunca conheceram o que era viver confinados ao arame farpado num estado de alerta que quanto mais tempo lá passávamos mais preocupações nos trazia o tempo que parecia que não existia nem nunca mais passava, como que o tempo tivesse parado desde o dia em que na Quinta do Figo Maduro subimos para o avião da Força Aérea.
O Povo é sereno disse um dia o Almirante Pinheiro de Azevedo, mais sereno seria hoje se tivéssemos uma comunicação social televisiva formativa, que nos informasse e educasse a ficarmos em casa transmitindo confiança em vez de usarem os seus papagaios para continuamente espalharem o medo e criarem o pânico e a desconfiança nas autoridades.

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