Na
rua tudo igual. Ruas desertas. Tirando o pessoal que trabalha no lar
não vi ninguém. Olhei as redes sociais onde continua o ruído à
volta do 25 de Abril. Agora são as análises e comentários aos
discursos de ontem na Assembleia da República. Não sou indiferente
mas passo adiante. Mais à frente veremos.
Cada
dia que passa mais cansado me sinto. Um cansaço que alimenta uma
certa revolta. Já não sei se algum dia terei sossego nesta viagem
olhando e sentido a vida como a sinto e olho.
Deixando
as dúvidas e lamentações no meu arrumario, despachei-me e fui em
busca de uma prenda para oferecer. Talvez nos supermercados pudesse
encontrar algo interessante ou simplesmente um ramo de flores.
Coloquei as luvas no bolso, a máscara no bolso da camisa e dei corda
aos sapatos. No primeiro supermercado Continente não havia bicha de
pessoas para entrar. Entrei mas logo saí por não encontrar nada que
me agradasse. Fui andando, passando por pessoas da minha idade,
velhos como eu, que vinham com os seus sacos de comprar na mão.
Cheguei ao Jumbo agora Auchan coloquei a máscara pus as luvas e logo
entrei porque também não havia bicha de pessoas para entrarem. Tudo
ordeiramente cumprindo com as sinalizações. Fui ver a zona dos
frescos, das verduras, charcutaria, peixaria… Nada falta nas
bancadas. O reabastecimento está normal. Comprei gel desinfetante,
luvas e a prenda. No regresso passei pelo take away de um restaurante
gaúcho e encomendei a comidinha.
Sentado
escrevo olhando o relógio para cumprir com o horário que solicitei.
Familiares
e amigos telefonam-me e vejo-os assustados, todos com medo de saírem
à rua. Ouço-os e quando começo a falar nas minhas dúvidas noto
que já não me dão atenção. O medo está a ganhar esta batalha.
As pessoas não querem pensar nos porquês das mortes, nos porquês
dos contágios acontecerem. O medo está a tirar capacidades de
pensamento e eu sem forças para os fazer pensar e discutirmos um
pouco, sobre as causas não do vírus mas do porque dos países de
uma forma global decretarem por indicação da OMS o confinamento, a
quarentena, o estado de calamidade ou de emergência…
Porque
não nos dizem quantos operários e trabalhadores dos que continuam a
trabalhar desde meados de Março nos campos, na faina da pesca, nas
industrias transformadoras, na construção civil, nos laboratórios
de investigação já acusaram positivo, já se deixaram infetar…
quantos?
Porque
não nos dizem dos lares com problemas quantos desses lares estavam a
trabalhar de forma ilegal e quantos não cumpriam com as normas
estabelecidas pelas autoridades em número de médicos, enfermeiros e
outros. Os lares têm de cumpriam com as leis ou não?Não basta ter
um contrato de avença com médico, enfermeiro ou outro técnico de
saúde se o mesmo não for cumprido. Quantos lares das misericórdias
estavam em incumprimento e porque no caso de os haver? Quantos lares
dos que têm problemas decretaram a proibição de visitas a
familiares ou amigos? Quantos falaram e formaram os seus funcionários
nos cuidados a ter fora do horário de trabalho? Há toda uma série
de questões que não são abordadas e que nos poderiam ajudar a
compreender melhor as causas próximas de tantos idosos serem dados
como mortos por causa do vírus.
Outra
informação interessante seria dizerem-nos quantos dos infectados
falecerem por terem outras patologias graves na sua saúde?
Estou
a falar para o boneco por isso vou ficar por aqui.
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