domingo, 26 de abril de 2020

Trigésimo nono dia do resto das nossas vidas


Na rua tudo igual. Ruas desertas. Tirando o pessoal que trabalha no lar não vi ninguém. Olhei as redes sociais onde continua o ruído à volta do 25 de Abril. Agora são as análises e comentários aos discursos de ontem na Assembleia da República. Não sou indiferente mas passo adiante. Mais à frente veremos.
Cada dia que passa mais cansado me sinto. Um cansaço que alimenta uma certa revolta. Já não sei se algum dia terei sossego nesta viagem olhando e sentido a vida como a sinto e olho.
Deixando as dúvidas e lamentações no meu arrumario, despachei-me e fui em busca de uma prenda para oferecer. Talvez nos supermercados pudesse encontrar algo interessante ou simplesmente um ramo de flores. Coloquei as luvas no bolso, a máscara no bolso da camisa e dei corda aos sapatos. No primeiro supermercado Continente não havia bicha de pessoas para entrar. Entrei mas logo saí por não encontrar nada que me agradasse. Fui andando, passando por pessoas da minha idade, velhos como eu, que vinham com os seus sacos de comprar na mão. Cheguei ao Jumbo agora Auchan coloquei a máscara pus as luvas e logo entrei porque também não havia bicha de pessoas para entrarem. Tudo ordeiramente cumprindo com as sinalizações. Fui ver a zona dos frescos, das verduras, charcutaria, peixaria… Nada falta nas bancadas. O reabastecimento está normal. Comprei gel desinfetante, luvas e a prenda. No regresso passei pelo take away de um restaurante gaúcho e encomendei a comidinha.
Sentado escrevo olhando o relógio para cumprir com o horário que solicitei.
Familiares e amigos telefonam-me e vejo-os assustados, todos com medo de saírem à rua. Ouço-os e quando começo a falar nas minhas dúvidas noto que já não me dão atenção. O medo está a ganhar esta batalha. As pessoas não querem pensar nos porquês das mortes, nos porquês dos contágios acontecerem. O medo está a tirar capacidades de pensamento e eu sem forças para os fazer pensar e discutirmos um pouco, sobre as causas não do vírus mas do porque dos países de uma forma global decretarem por indicação da OMS o confinamento, a quarentena, o estado de calamidade ou de emergência…
Porque não nos dizem quantos operários e trabalhadores dos que continuam a trabalhar desde meados de Março nos campos, na faina da pesca, nas industrias transformadoras, na construção civil, nos laboratórios de investigação já acusaram positivo, já se deixaram infetar… quantos?
Porque não nos dizem dos lares com problemas quantos desses lares estavam a trabalhar de forma ilegal e quantos não cumpriam com as normas estabelecidas pelas autoridades em número de médicos, enfermeiros e outros. Os lares têm de cumpriam com as leis ou não?Não basta ter um contrato de avença com médico, enfermeiro ou outro técnico de saúde se o mesmo não for cumprido. Quantos lares das misericórdias estavam em incumprimento e porque no caso de os haver? Quantos lares dos que têm problemas decretaram a proibição de visitas a familiares ou amigos? Quantos falaram e formaram os seus funcionários nos cuidados a ter fora do horário de trabalho? Há toda uma série de questões que não são abordadas e que nos poderiam ajudar a compreender melhor as causas próximas de tantos idosos serem dados como mortos por causa do vírus.
Outra informação interessante seria dizerem-nos quantos dos infectados falecerem por terem outras patologias graves na sua saúde?
Estou a falar para o boneco por isso vou ficar por aqui.

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