sábado, 25 de abril de 2020

Trigésimo oitavo dia do resto das nossas vidas


Ao trigésimo oitavo dia chegamos ao 25 de Abril. Dia de festa para todos os amantes da Liberdade e da Democracia.
Quarenta e seis anos já passaram. Muitas das promessas do 25 de Abril de 1974 não se cumpriram. Razões existiram. Umas mais objectivas outras subjectivas. Os sonhos e as utopias geradas pela Liberdade duraram pouco mais de ano e meio. Com Novembro de 1975 chegou a ordem democrática. O pessoal foi deixando de cantar de se manifestar na rua e passou a regressar a casa, a sentar-se no sofá ingerindo pílulas televisivas que sem dor moldaram a forma de sonhar de muitos dos que pensaram que tudo eram cravos e rosas sem espinhos… 
Os políticos da sociedade civil que receberam de mão beijada o poder lá foram afastando os militares da importância relativa de um Conselho da Revolução até que ficaram donos e senhores do destino do país.
Pouco a pouco voltamos a viver os brandos costumes numa versão mais light mais moderna e colorida para parecermos também europeus.
Com promessas que seríamos iguais aos outros povos europeus venderam-nos a ideia de entrarmos para a então CEE. Fartos do orgulhosamente sós do passado alinhamos entrar no jogo, embora muitos com um pé atrás de que quando a fartura é muita o pobre desconfia.
E assim temos vivido pagando sempre com línguas de palmo as promessas de que sacrificando-nos chegaremos a entrar no paraíso.

Este ano saudosistas do passado e outros que não gostam desta Liberdade Democrática até nos queriam tirar a alegria de festejar o 25 de Abril. Mas esquecem-se esses arautos do regresso ao passado que festejar o 25 de Abril não é pertença de nenhuma instituição por mais democrática que ela seja. Nem a Assembleia da República nem a manifestação dita unitária que muitos faziam avenida abaixo são os únicos representantes do 25 de Abril.
O espírito do 25 de Abril foi pertença de um punhado de militares de carreira sem outra filiação partidária que não fosse o devolverem a Liberdade e a Dignidade de sermos gente de corpo inteiro ao Povo. Espírito que livremente o doaram ao País sem pedirem nada em troca. E , o espírito é como um ideal, não se pode acorrentar em nenhuma lei, em nenhuma manifestação seja ela na AR ou Avenida.
Há vários anos que festejo o 25 de Abril à minha maneira, recordando a incerteza sem futuro do tempo da guerra e a Alegria louca dos anos em que este era o dia das muitas festas populares onde a utopia era a rainha suprema.

Passados estes quarenta e seis anos celebramos o 25 de Abril em plena pandemia por causa de um vírus que não conhecemos e nos obriga a estarmos em casa. Com o passar dos dias as minhas dúvidas aumentam. Há qualquer coisa de estranho neste tempo.
Hoje mesmo celebrando a Alegria de um dia histórico, vivemos no medo sofrendo a angústia do futuro. Será que quando isto terminar ainda seremos os mesmos? É que normalmente os que regressam não são os mesmos que partiram...
Não vejo nos discursos dos políticos quer os do Governo quer os da Oposição ideias e vontade de repensar a sociedade.

Guardo assim os meus sonhos, as minhas utopias de um mundo melhor no meu arrumario.

Clarice Lispector disse: “Liberdade é pouco; o que eu quero ainda não tem nome”.

«A Luz estava nas trevas e as trevas não a compreenderam» "Genesis"

VIVA O 25 DE ABRIL!

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