Ao
trigésimo oitavo dia chegamos ao 25 de Abril. Dia de festa para
todos os amantes da Liberdade e da Democracia.
Quarenta
e seis anos já passaram. Muitas das promessas do 25 de Abril de 1974
não se cumpriram. Razões existiram. Umas mais objectivas outras
subjectivas. Os sonhos e as utopias geradas pela Liberdade duraram
pouco mais de ano e meio. Com Novembro de 1975 chegou a ordem
democrática. O pessoal foi deixando de cantar de se manifestar na
rua e passou a regressar a casa, a sentar-se no sofá ingerindo
pílulas televisivas que sem dor moldaram a forma de sonhar de muitos
dos que pensaram que tudo eram cravos e rosas sem espinhos…
Os
políticos da sociedade civil que receberam de mão beijada o poder
lá foram afastando os militares da importância relativa de um
Conselho da Revolução até que ficaram donos e senhores do destino
do país.
Pouco
a pouco voltamos a viver os brandos costumes numa versão mais light
mais moderna e colorida para parecermos também europeus.
Com
promessas que seríamos iguais aos outros povos europeus venderam-nos
a ideia de entrarmos para a então CEE. Fartos do orgulhosamente sós
do passado alinhamos entrar no jogo, embora muitos com um pé atrás
de que quando a fartura é muita o pobre desconfia.
E
assim temos vivido pagando sempre com línguas de palmo as promessas
de que sacrificando-nos chegaremos a entrar no paraíso.
Este
ano saudosistas do passado e outros que não gostam desta Liberdade
Democrática até nos queriam tirar a alegria de festejar o 25 de
Abril. Mas esquecem-se esses arautos do regresso ao passado que
festejar o 25 de Abril não é pertença de nenhuma instituição por
mais democrática que ela seja. Nem a Assembleia da República nem a
manifestação dita unitária que muitos faziam avenida abaixo são
os únicos representantes do 25 de Abril.
O
espírito do 25 de Abril foi pertença de um punhado de militares de
carreira sem outra filiação partidária que não fosse o devolverem
a Liberdade e a Dignidade de sermos gente de corpo inteiro ao Povo.
Espírito que livremente o doaram ao País sem pedirem nada em troca.
E , o espírito é como um ideal, não se pode acorrentar em nenhuma lei, em nenhuma manifestação seja ela na AR ou Avenida.
Há
vários anos que festejo o 25 de Abril à minha maneira, recordando a
incerteza sem futuro do tempo da guerra e a Alegria louca dos anos em
que este era o dia das muitas festas populares onde a utopia era a
rainha suprema.
Passados
estes quarenta e seis anos celebramos o 25 de Abril em plena pandemia
por causa de um vírus que não conhecemos e nos obriga a estarmos em
casa. Com o passar dos dias as minhas dúvidas aumentam. Há qualquer
coisa de estranho neste tempo.
Hoje
mesmo celebrando a Alegria de um dia histórico, vivemos no medo
sofrendo a angústia do futuro. Será que quando isto terminar ainda
seremos os mesmos? É que normalmente os que regressam não são os
mesmos que partiram...
Não
vejo nos discursos dos políticos quer os do Governo quer os da
Oposição ideias e vontade de repensar a sociedade.
Guardo assim os meus sonhos, as minhas utopias de um mundo melhor no meu
arrumario.
Clarice
Lispector disse: “Liberdade é pouco; o que eu quero ainda não tem
nome”.
«A
Luz estava nas trevas e as trevas não a compreenderam» "Genesis"
VIVA
O 25 DE ABRIL!
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