sábado, 18 de abril de 2020

Trigésimo primeiro dia do resto das nossas vidas


Chegamos ao 31. E que grande trinta e um o deste tempo que o mais famoso vírus deste século nos arranjou.
Trigésimo dia de uma vida de recolhimento caseiro que não trás alegria nem criatividade, nem condições para se poder ter momentos de meditação porque o silêncio ao fim de uns dias começa a cansar e a exasperar até os mais calmos amantes do sossego.
Vou caminhando pela rua quase deserta. Ao sábado as operárias de uma empresa de logística não tomam o autocarro da empresa. Só o autocarro da RL passa à hora habitual para deixar uma senhora que trabalha aqui no lar e uma jovem trabalhadora do Continente, seguindo depois vazio para o seu destino. O restante caminho somos só os dois. Eu e ela conhecendo já todo o caminho de olhos fechados. Não fosse a falta de educação cívica podíamos fazê-lo. Contudo, temos de ir com eles bem abertos para não pisarmos os dejectos de outros animais cujos donos mais porcos que o porco deixam na via publica sem se dignarem apanhar a porcaria dos seus cães, aos quais se juntam agora em algumas ruas da urbe as luvas descartáveis à porta de prédios. Que porra de gente esta. O porco só é porco de nome. De resto é um animal que gosta da furda limpa. Nunca o porco se deita numa cama suja.
A malta do campo trabalha nas suas propriedades sejam estufas, hortícolas, searas e outras. No campo há sempre coisas para fazer, para arranjar, para resolver que trabalho nunca falta. As culturas não esperam nem querem saber da existência do covid-19. O mesmo se passa com todos os trabalhadores e proprietários de gado, sejam cabras, ovelhas, vacas ou cavalos, sem esquecer os aviários. Os pescadores saem para o mar todas as tardes, noites e manhãs pois é a sua vida. Não sabemos porquê nunca nos disseram se os que trabalham no campo, se os que vão ao mar, também se deixaram infectar pelo vírus em pleno trabalho em plena faina. Das empresas grandes, médias e pequenas que continuam a trabalhar no sector da construção quantas tem operários ou funcionários infectados? A excepção são os emigrantes infectados no Algarve, trabalhadores de exploração agrícola intensiva.

Grandes empresas subsidiárias de empresas alemãs recomeçam a laborar em Famalicão e em Braga, seguindo-se a Auto Europa em Palmela. Fazem-no porque neste tempo de paragem houve quem estivesse a trabalhar na redefinição de objectivos face às novas normas de segurança no trabalho impostas pela forma como o vírus se propaga. Estas irão levar outras empresas suas fornecedoras a funcionarem. Nenhum mal haverá para a saúde se as novas normas de segurança quer no trabalho quer fora dele forem cumpridas, se soubermos não só respeitar o distanciamento do outro, mas também ajustar os objectivos à nova realidade que o vírus nos impôs. 
Neste meu andar com a minha amiga, penso que o problema dos contágios prende-se muito mais com a falta de educação cívica do que com o trabalho, desde que este se processe com normas de segurança efectivas no terreno e não aquelas que nos habituámos a ver em governantes e altos responsáveis que falam muito bem a ler os quadros de "power point" que têm a sua frente. Depois na prática é o que sabemos, «olha para o que eu digo é não para o que eu faço».

Sem saúde não há trabalho. Sem trabalho não há SNS para cuidar da nossa saúde. Um porra difícil a escolha do melhor caminho para se poder ter trabalho com saúde e saúde no trabalho e fora dele. Um 31 sem dúvida.

Se o "25 de Abril glorioso" nos trouxe a frase «A minha Liberdade acaba onde começa a Liberdade do outro» porque não o cumprimento de todo o significado da frase, onde tem cabimento “A minha saúde requer o respeito pela saúde do outro”.

Há que mudar hábitos de vida!

A sacrossanta lei do mercado na visão liberal e neoliberal do «produzir – consumir» trouxe-nos até aqui, concluindo que afinal o que a sacrossanta lei dos neoliberais nos dá é, «Produzir – Consumir-Morrer». Charles Chaplinno seu filme “Tempos Modernos” bem nos avisava.

Voltar ao tempo que se vivia antes do covid-19 nos obrigar a ficarmos em confinamento e até em cercas sanitárias, é um erro.

Felizmente o tempo não volta para trás e, como dizíamos nos tempos em que brincávamos na rua «Para trás mija a burra»

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