Chegamos
ao 31. E que grande trinta e um o deste tempo que o mais famoso vírus
deste século nos arranjou.
Trigésimo
dia de uma vida de recolhimento caseiro que não trás alegria nem
criatividade, nem condições para se poder ter momentos de meditação
porque o silêncio ao fim de uns dias começa a cansar e a exasperar
até os mais calmos amantes do sossego.
Vou
caminhando pela rua quase deserta. Ao sábado as operárias de uma
empresa de logística não tomam o autocarro da empresa. Só o
autocarro da RL passa à hora habitual para deixar uma senhora que
trabalha aqui no lar e uma jovem trabalhadora do Continente, seguindo depois vazio para o seu destino. O
restante caminho somos só os dois. Eu e ela conhecendo já todo o
caminho de olhos fechados. Não fosse a falta de educação cívica
podíamos fazê-lo. Contudo, temos de ir com eles bem abertos para
não pisarmos os dejectos de outros animais cujos donos mais porcos
que o porco deixam na via publica sem se dignarem apanhar a porcaria
dos seus cães, aos quais se juntam agora em algumas ruas da urbe as
luvas descartáveis à porta de prédios. Que porra de gente esta. O
porco só é porco de nome. De resto é um animal que gosta da furda
limpa. Nunca o porco se deita numa cama suja.
A
malta do campo trabalha nas suas propriedades sejam estufas,
hortícolas, searas e outras. No campo há sempre coisas para fazer,
para arranjar, para resolver que trabalho nunca falta. As culturas
não esperam nem querem saber da existência do covid-19. O mesmo se
passa com todos os trabalhadores e proprietários de gado, sejam
cabras, ovelhas, vacas ou cavalos, sem esquecer os aviários. Os
pescadores saem para o mar todas as tardes, noites e manhãs pois é a sua
vida. Não sabemos porquê nunca nos disseram se os que trabalham no
campo, se os que vão ao mar, também se deixaram infectar pelo vírus
em pleno trabalho em plena faina. Das empresas grandes, médias e
pequenas que continuam a trabalhar no sector da construção quantas
tem operários ou funcionários infectados? A excepção são os emigrantes infectados no Algarve, trabalhadores de exploração agrícola intensiva.
Grandes
empresas subsidiárias de empresas alemãs recomeçam a laborar em
Famalicão e em Braga, seguindo-se a Auto Europa em Palmela. Fazem-no
porque neste tempo de paragem houve quem estivesse a trabalhar na
redefinição de objectivos face às novas normas de segurança no
trabalho impostas pela forma como o vírus se propaga. Estas irão
levar outras empresas suas fornecedoras a funcionarem. Nenhum mal
haverá para a saúde se as novas normas de segurança quer no
trabalho quer fora dele forem cumpridas, se soubermos não só
respeitar o distanciamento do outro, mas também ajustar os
objectivos à nova realidade que o vírus nos impôs.
Neste meu andar
com a minha amiga, penso que o problema dos contágios prende-se muito
mais com a falta de educação cívica do que com o trabalho, desde
que este se processe com normas de segurança efectivas no terreno e
não aquelas que nos habituámos a ver em governantes e altos
responsáveis que falam muito bem a ler os quadros de "power point" que
têm a sua frente. Depois na prática é o que sabemos, «olha para o
que eu digo é não para o que eu faço».
Sem
saúde não há trabalho. Sem trabalho não há SNS para cuidar da nossa saúde. Um porra difícil a
escolha do melhor
caminho
para se poder ter trabalho com saúde e saúde no trabalho e fora dele. Um 31 sem
dúvida.
Se
o "25 de Abril glorioso" nos trouxe a frase «A minha Liberdade acaba
onde começa a Liberdade do outro» porque não o cumprimento de todo
o significado da
frase,
onde tem cabimento “A minha saúde requer o respeito pela saúde do outro”.
Há
que mudar hábitos de vida!
A
sacrossanta lei do mercado na visão liberal e neoliberal do «produzir
– consumir» trouxe-nos até aqui, concluindo que afinal o que a
sacrossanta lei dos neoliberais nos dá é, «Produzir –
Consumir-Morrer». Charles Chaplinno seu filme “Tempos
Modernos” bem nos avisava.
Voltar
ao tempo que se vivia antes do covid-19 nos obrigar a ficarmos em
confinamento e até em cercas sanitárias, é um erro.
Felizmente
o tempo não volta para trás e, como dizíamos nos tempos em que
brincávamos na rua «Para trás mija a burra»
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