Nesta
manhã do trigésimo quinto dia do que nos dizem ser um estado de
emergência na minha volta matinal tudo igual aos dias anteriores.
Pouco movimento de veículos a caminho da cidade grande. O cruzar com
os habituais trabalhadores que, indiferentes ao pânico que as
televisões com os seus arautos do diabo difundem 24 sobre 24 horas,
caminham para os seus locais de trabalho, uns com máscaras outros
não. Passo pela obra de construção ou reconstrução numa escola
secundária. Obra parada uma série de anos já que foi projectada na
época da loucura que antecedeu a crise que nos trouxe a Troika para
nos asfixiar querendo fazer-nos acreditar que o nosso Estado Social
estava falido. Neste tempo de emergência nunca os operários
deixaram de aparecer. Talvez sejam menos para que os trabalhos se
processem com outras normas e condições, já que pelas carrinhas
onde chegam se nota que devem trabalhar como subempreiteiros.
Tudo
o que vejo à minha volta me deixa confuso. As dúvidas bailando em
mim, o sentir da revolta no peito por não acreditar nem em uns nem
nos outros. Continuo a seguir as orientações da DG Saúde
procurando ler com atenção o que se diz nas entrelinhas.
No
campo trabalha-se. As culturas não conhecem o que é este estado de
emergência. Nos supermercados e mercearias não faltam as verduras
que os agricultores produzem e os intermediários abastecem com as
suas viaturas conduzidas por motoristas humanos. Os pescadores
continuam a sair para o mar em busca do seu sustento. Há empresas da
indústria transformadora a funcionarem fabricando os seus produtos a
um ritmo mais baixo. Umas inovam. Outras reestruturam-se para poderem
ajudar o Estado com o fornecimento do material que não tinha sido
aprovisionado em condições para fazer frente ao evoluir do contágio
pelo covid-19 (o que foi uma situação normal porque ninguém previa
esta situação), sendo agora a tal lei da oferta e da procura no
mercado internacional a lei da selva tão do agrado dos neoliberais.
Centros tecnológicos ligados às universidades e politécnicos
trabalham pesquisando, inovando, concretizando soluções
alternativas. As empresas de manutenção e de limpeza dos hospitais
trabalham. Os bancos continuam a ter as agências a funcionarem. Não
tenho conhecimento que as indústrias que utilizem na sua produção
os altos fornos tenham parado já que a paragem dos mesmos acarreta
riscos de investimento futuros muito elevados para a retoma da sua
actividade.
Tudo
isto cria dúvidas que bailam e me atormentam. Atormentam porque não
vejo ninguém do Governo com ideias inovadoras. Alguns ministros é
melhor nem aparecerem nas conferências de imprensa, já que os
Secretários de Estado desempenham melhor essa função. O Primeiro
Ministro ao querer agradar a gregos e a troianos desvia-se do seu
papel principal que é o colocar o país a funcionar em novos moldes,
dar o salto qualitativo para entrarmos de corpo inteiro numa
quarta revolução industrial em
curso mais
amiga da Natureza, com preocupações sociais esquecidas pelas
políticas económicas dos liberais e neoliberais até ao início da
pandemia. Perde o
Primeiro Ministro tempo
e dinheiro a dar entrevistas aos que desejam que o Governo seja
obrigado a tomar medidas chamadas de austeridade. Qualquer cidadão
de boa fé compreenderá já
que vamos ter de
passar por novos sacrifícios com perda de rendimento familiar, mas
os arautos do diabo são espertos e já estão a semear o terreno
para o ataque. Os eunucos não dormem e os vampiros andam cheios de
sede.
O
Ministro da Economia, simpático, afável, educado, bom falante anda
meio perdido com os números do lay off simplificado, das empresas
que fecharam, com os prejuízos no turismo e não me parece ser capaz
de dar um murro na mesa quanto mais impor soluções alternativas
inovadoras.
O
Ministro das Finanças, homem de boas contas públicas, que gosta de
contas certas, andará a fazer contas e mais contas com a sua equipa
de como financiar as despesas que não param de aumentar, querendo
estimar o fundo ao poço para imaginar como sair, como subir de novo
do fundo do poço à superfície. Devem andar a trabalhar mais de 24
horas por dia porque para além do problema nacional tem em mãos as
políticas e as divisões existente no Eurogrupo.
Já
a Ministra do Trabalho e Segurança Social é uma lufada de ar fresco
não só comparativamente ao seu antecessor cinzentão do anterior
governo como pela maneira convencida que enfrenta as câmaras e os
jornalistas.
Há
qualquer coisa que deveria acontecer...
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