quarta-feira, 22 de abril de 2020

Trigésimo quinto dia do resto das nossas vidas


Nesta manhã do trigésimo quinto dia do que nos dizem ser um estado de emergência na minha volta matinal tudo igual aos dias anteriores. Pouco movimento de veículos a caminho da cidade grande. O cruzar com os habituais trabalhadores que, indiferentes ao pânico que as televisões com os seus arautos do diabo difundem 24 sobre 24 horas, caminham para os seus locais de trabalho, uns com máscaras outros não. Passo pela obra de construção ou reconstrução numa escola secundária. Obra parada uma série de anos já que foi projectada na época da loucura que antecedeu a crise que nos trouxe a Troika para nos asfixiar querendo fazer-nos acreditar que o nosso Estado Social estava falido. Neste tempo de emergência nunca os operários deixaram de aparecer. Talvez sejam menos para que os trabalhos se processem com outras normas e condições, já que pelas carrinhas onde chegam se nota que devem trabalhar como subempreiteiros.

Tudo o que vejo à minha volta me deixa confuso. As dúvidas bailando em mim, o sentir da revolta no peito por não acreditar nem em uns nem nos outros. Continuo a seguir as orientações da DG Saúde procurando ler com atenção o que se diz nas entrelinhas.
No campo trabalha-se. As culturas não conhecem o que é este estado de emergência. Nos supermercados e mercearias não faltam as verduras que os agricultores produzem e os intermediários abastecem com as suas viaturas conduzidas por motoristas humanos. Os pescadores continuam a sair para o mar em busca do seu sustento. Há empresas da indústria transformadora a funcionarem fabricando os seus produtos a um ritmo mais baixo. Umas inovam. Outras reestruturam-se para poderem ajudar o Estado com o fornecimento do material que não tinha sido aprovisionado em condições para fazer frente ao evoluir do contágio pelo covid-19 (o que foi uma situação normal porque ninguém previa esta situação), sendo agora a tal lei da oferta e da procura no mercado internacional a lei da selva tão do agrado dos neoliberais. Centros tecnológicos ligados às universidades e politécnicos trabalham pesquisando, inovando, concretizando soluções alternativas. As empresas de manutenção e de limpeza dos hospitais trabalham. Os bancos continuam a ter as agências a funcionarem. Não tenho conhecimento que as indústrias que utilizem na sua produção os altos fornos tenham parado já que a paragem dos mesmos acarreta riscos de investimento futuros muito elevados para a retoma da sua actividade.

Tudo isto cria dúvidas que bailam e me atormentam. Atormentam porque não vejo ninguém do Governo com ideias inovadoras. Alguns ministros é melhor nem aparecerem nas conferências de imprensa, já que os Secretários de Estado desempenham melhor essa função. O Primeiro Ministro ao querer agradar a gregos e a troianos desvia-se do seu papel principal que é o colocar o país a funcionar em novos moldes, dar o salto qualitativo para entrarmos de corpo inteiro numa quarta revolução industrial em curso mais amiga da Natureza, com preocupações sociais esquecidas pelas políticas económicas dos liberais e neoliberais até ao início da pandemia. Perde o Primeiro Ministro tempo e dinheiro a dar entrevistas aos que desejam que o Governo seja obrigado a tomar medidas chamadas de austeridade. Qualquer cidadão de boa fé compreenderá já que vamos ter de passar por novos sacrifícios com perda de rendimento familiar, mas os arautos do diabo são espertos e já estão a semear o terreno para o ataque. Os eunucos não dormem e os vampiros andam cheios de sede.
O Ministro da Economia, simpático, afável, educado, bom falante anda meio perdido com os números do lay off simplificado, das empresas que fecharam, com os prejuízos no turismo e não me parece ser capaz de dar um murro na mesa quanto mais impor soluções alternativas inovadoras.
O Ministro das Finanças, homem de boas contas públicas, que gosta de contas certas, andará a fazer contas e mais contas com a sua equipa de como financiar as despesas que não param de aumentar, querendo estimar o fundo ao poço para imaginar como sair, como subir de novo do fundo do poço à superfície. Devem andar a trabalhar mais de 24 horas por dia porque para além do problema nacional tem em mãos as políticas e as divisões existente no Eurogrupo.
Já a Ministra do Trabalho e Segurança Social é uma lufada de ar fresco não só comparativamente ao seu antecessor cinzentão do anterior governo como pela maneira convencida que enfrenta as câmaras e os jornalistas.

Há qualquer coisa que deveria acontecer...

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