sábado, 4 de abril de 2020

Décimo sétimo dia do resto das nossas vidas


Neste cansaço de quase ausência de vida num silêncio de ruas desertas que incomoda os tímpanos já de si cansados pelo tempo de vida que levam em trabalho contínuo onde o zumbido permanente de anos já não os incomoda, resolvi neste décimo sétimo dia deste estado anormal de um tempo de emergência que se vai tornando normal, resolvi dizia eu, passar a ponte sobre o caminho de ferro para fugir à rotina destes dias de quase ausência de vida pelas ruas da urbe.
O Sol que reaparecia brilhante a leste dando uma tonalidade de luz diferente refletindo-se nas nuvens compactas que enchiam o céu, a prometer que com sorte poderia registar com o telemóvel alguns momentos deste recomeçar de um novo dia, quando soltasse a minha amiga para ela esticar as pernas, relaxar os músculos gastando a energia que vai acumulando nestes muitos dias de passeios mais curtos.
Andava estranhando o ter deixado de observar o movimento de novos caminhantes, corredores e ciclistas a passarem a ponte nesta semana que está a terminar, pensando eu que talvez essa ausência esse não escutar de vozes se devia à mudança da hora. Engano meu. Ao caminhar pelo Trilho da Estação noto que na pequena ponte depois da ETAR algo existia de estranho. Com o aproximar confirmo a causa da ausência dos caminhantes, corredores e ciclistas de manutenção. A Polícia nas suas patrulhas deve ter tido conhecimento do acréscimo de utilizadores dos Trilhos e colocou as suas fitas de interdição. E, como um dia disse um almirante numa das janelas de Terreiro do Paço "o povo é sereno". Também nós respeitámos a interdição com a minha amiga a inquirir com o seu olhar porque não passávamos para lá das fitas. Deixei-a correr mas do lado de cá já que a ausência de outros seres era a realidade do amanhecer desta manhã de sábado com o Sol a ficar tapado pelas nuvens. Assim como fomos viemos apenas o segurança do centro de empresas que ainda tem movimento de gente a trabalhar andava cá fora a esticar as pernas que o trabalho no dia de hoje será pouco.
Tantas são as coisas que a cada momento nos chegam seja ao telemóvel, seja à caixa do computador que já cansa tanta informação, tanta desinformação, que dão trabalho a eliminá-las. Tenho expectativas e duvidas que calo, nem à minha sombra eu confesso, talvez quando for anunciado o possível termino desta batalha eu possa falar sobre as minhas duvidas. Até lá vou comunicando com familiares e amigos saindo apenas para passear a minha amiga sempre por caminhos e ruas onde a ausência quase de vida é a regra.



Já não vejo o Sol aparecer lá ao fundo na lezíria.
O silêncio apagou o cantar da passarada.
Tudo nesta manhã é dum vazio assustador
Somos sombras do que éramos
Quando o Sol nos aparecia lá ao fundo na lezíria.

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