Neste
cansaço de quase ausência de vida num silêncio de ruas desertas
que incomoda
os tímpanos já de si
cansados pelo tempo de vida que levam em trabalho contínuo onde o
zumbido permanente de anos já não os incomoda, resolvi neste décimo
sétimo dia deste estado anormal de um tempo de emergência que se
vai tornando normal, resolvi dizia eu, passar a ponte sobre o caminho
de ferro para fugir à rotina destes dias de quase ausência de vida
pelas ruas da urbe.
O
Sol que reaparecia brilhante a leste dando
uma tonalidade de luz diferente refletindo-se nas nuvens compactas
que enchiam o céu, a prometer que com sorte poderia registar com o
telemóvel alguns momentos
deste recomeçar de um novo
dia, quando soltasse a minha
amiga para ela esticar as pernas, relaxar os músculos gastando a
energia que vai acumulando nestes muitos dias de passeios mais
curtos.
Andava
estranhando o ter deixado de observar o movimento de novos
caminhantes, corredores e ciclistas a passarem a ponte nesta semana
que está a terminar, pensando eu que talvez essa ausência esse não
escutar de vozes se devia à mudança da hora. Engano meu. Ao
caminhar pelo Trilho da Estação noto que na pequena ponte depois da
ETAR algo existia de estranho. Com o aproximar confirmo a causa da
ausência dos caminhantes, corredores e ciclistas de manutenção. A
Polícia nas suas patrulhas deve ter tido conhecimento do acréscimo
de utilizadores dos Trilhos e colocou as suas fitas de interdição.
E, como um dia disse um almirante numa das janelas de Terreiro do
Paço "o povo é sereno". Também nós respeitámos a
interdição com a minha amiga a inquirir com o seu olhar porque não
passávamos para lá das fitas. Deixei-a correr mas do lado de cá já
que a ausência de outros seres era a realidade do amanhecer desta
manhã de sábado
com
o Sol a ficar tapado pelas nuvens. Assim
como fomos viemos apenas o segurança do centro de empresas que ainda
tem movimento de gente a trabalhar andava cá fora a esticar as
pernas que o trabalho no
dia de hoje será pouco.
Tantas
são as coisas que a cada momento nos chegam seja ao telemóvel, seja
à caixa do computador que já cansa tanta informação, tanta
desinformação, que dão trabalho a eliminá-las. Tenho expectativas
e duvidas que calo, nem à minha sombra eu confesso, talvez quando
for anunciado o possível termino desta batalha eu possa falar sobre
as minhas duvidas. Até lá vou comunicando com familiares e amigos
saindo apenas para passear a minha amiga sempre por caminhos e ruas
onde a ausência quase de vida é a regra.
Já
não vejo o Sol aparecer lá ao fundo na lezíria.
O
silêncio apagou o cantar da passarada.
Tudo
nesta manhã é dum vazio assustador
Somos
sombras do que éramos
Quando
o Sol nos aparecia lá ao fundo na lezíria.
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